Duas semanas depois, estamos aqui com a segunda versão do Boom Bap Jams. Gostei das dicas do pessoal do primeiro post, espero mais coisas boas desta vez, ok? Pois bem, aqui vai a minha lista de mais tocadas para este fim de semana acima de 40 graus no Rio de Janeiro. Coloque-as no seu MP4/iPod e corra para a praia.
* 4th Disciple & ShoGun Assason - Tha Fall
Joia rara, encontrada numa compilação obscura de um dos principais produtores do mundo Wu. O 4th Disciple inclusive já contribuiu com beats para alguns dos principais trabalhos do Wu. Nesta faixa, que é de uma coletânea dele, chamada "The Best of 740", com leftovers da carreira, a marca wu-tangclaniana é evidente: batidão pesado, caixas matadoras e um sample sensacional do Star Wars. O Shogun é mais um entre os milhares de emcees afiliados ao Wu, mas não faz feio; a letra é um misto de referências a filosofia 5 Percenter, islamismo, revolução, battle rap e guerra.
* Public Enemy - He Got Game
Depois de assistir ao filme homônimo, do Spike Lee, com Ray Allen e Denzel Washington, imediatamente a faixa título entrou no MP3. Embora tenha sido lançado bem depois dos áureos tempos do PE, Chuck D e companhia continuam contundentes. A batida, que sampleia de forma simples o rock "For What It's Worth", da banda Buffalo Springfield, em nada lembra a anarquia de samples dos primeiros álbuns, mas ainda assim funciona perfeitamente para as rimas sempre cheias de força de mister Chuck. O primeiro verso, então, é espetacular. "Minha caminhada fez o meu traseiro se perguntar / onde está Cristo em meio a esta crise / odiando Satã, nunca soube o quão isso é legal".
* Royce da 5'9'' - Hood Love feat. Bun B & Joell Ortiz
Ainda não ouvi o disco novo do Royce com a devida atenção, mas esta faixa não passou despercebida por mim. "Hood Love" é mais uma para o catálogo de contribuições entre o emcee de Detroit e o lendário DJ Premier. Já dá para saber que o beat é imaculado, né? Pois bem, aqueles samples picotados de forma bem visível e a bateria pulsante continuam lá, só faltou o refrão com scratches. Parece que o Primo está investindo mais em strings, e, assim como o "Ain't Nuttin Changed", do Blaq Poet, o sample principal aqui também está nas cordas. Tudo para Royce e seus parceiros rimarem sobre seus hobbies quando estão na comunidade. Royce entra em modo introspectivo, Bun B fala sobre as particularidades do bairro dele e o Ortiz segue pelo mesmo caminho, mas faz jus a seus quilos a mais e gasta umas boas linhas falando sobre churrasco e outras comidas.
* Wale - Mama Told Me
Mais um álbum que ainda não ouvi direito, e mais uma faixa que, mesmo assim, já capturei. A batida é do promissor Best Kept Secret e é o ponto alto da canção, embora meio que me lembre os beats que saem quando acionam a fórmula de imitar o 9th Wonder - leia-se samples soul e caixas marcantes. Confesso que nem prestei muita atenção no Wale, o instrumental é realmente bom.
* CunninLynguists - Love Ain't feat. Tonedeff
Depois de resenhar o disco novo, acabei revisitando os trabalhos antigos, e achei esta pérola, do disco "Southernunderground". O Tonedeff é um dos caras mais completos do rap, e pouca gente reconhece ele, quase não se fala nele. Aqui, ele ataca novamente com a levada mais rápida do mundo; mas não é só isso: a escrita do cara é sensacional, tanto em termos de mensagem quanto tecnicamente. Ouça e fique doido pensando que ele está repetindo as palavras, quando na verdade é uma montanha de rimas multissilábicas entregues em alta velocidade. O beat do Kno segue aquele estilo dele. O efeito de deixar o Tone rimando a capela para só depois vir a pancada é sensacional.
* Tonedeff - Disappointed
Falando em Tonedeff, chegamos ao primeiro single do último disco do cara, "Archetype". Mais uma vez, as habilidades do cara estão no auge: batida de autoria própria que casa perfeitamente com o tema, que é basicamente o desapontamento do Tone depois que ele consegue sair com a garota dos sonhos e descobre que ela não é tudo aquilo que ele imaginava. A levada é mais lenta, mas o tom de ironia e a capacidade de rimar como se fosse a coisa mais fácil do mundo contam pontos a favor. "Eu usualmente só saio com pilotos femininas, porque elas tem os melhores cockpits"; sendo cock = gíria para pênis; pit = buraco. Pegaram? Hã, hã? Mas a melhor punchline é essa: "Os caras, revoltados, a chamam de puta, eu peço a Deus para que seja verdade / porque uma puta dá para todo mundo, já a vadia dá para todo mundo, menos para você".
* GZA - Cold World
Direto de um dos melhores álbuns de todo tempo, o senhor GZA The Genius nos traz um relato sombrio sobre seu bairro com um storytelling impecável. E então chega Inspectah Deck, mais descritivo do que narrativo, mas ainda em alto nível. O refrão é meio enjoativo, mas a batida turva de RZA compensa qualquer coisa, com minimalismo e obscuridade. É do Rebel INS a melhor linha; depois de falar sobre assassinatos e intrigas do crime, ele arrebata: "Você testemunha a saga, as casualidades e o drama / a vida é um roteiro, eu não sou ator, e sim o autor desta ópera dos dias modernos / onde o protagonista é o papel presidencial, o fator dominante".
* Tech N9ne - Red Nose
Dica do Paulo, que já havia me pedido há um tempo um post sobre essa música, mas, como eu sou vacilão, não tinha atendido ainda. Tech N9ne é um dos caras mais singulares do rap, um estilo completamente diferente do que vemos por aí, seja underground ou mainstream. Na verdade, Tecca N9na é um caso raro de underground bem sucedido financeiramente;ele já vendeu mais de um milhão de discos. Em "Red Nose", ele fala sobre tudo isso numa letra bem pessoal: a desconfiança das pessoas por ele ser tão diferente, algo que ocorre desde sua infância. O flow é sensacional, uma mistura entre levada rápida e cantoria, no melhor estilo Bone Thugs, mas bem mais lírico. O sentimento deste emcee singular é resumido ainda no primeiro verso: "Mano, acredite / nada é pior do que você saber que é bonito / mas ser tratado como um pato feio".
* 4th Disciple & ShoGun Assason - Tha Fall
Joia rara, encontrada numa compilação obscura de um dos principais produtores do mundo Wu. O 4th Disciple inclusive já contribuiu com beats para alguns dos principais trabalhos do Wu. Nesta faixa, que é de uma coletânea dele, chamada "The Best of 740", com leftovers da carreira, a marca wu-tangclaniana é evidente: batidão pesado, caixas matadoras e um sample sensacional do Star Wars. O Shogun é mais um entre os milhares de emcees afiliados ao Wu, mas não faz feio; a letra é um misto de referências a filosofia 5 Percenter, islamismo, revolução, battle rap e guerra.
* Public Enemy - He Got Game
Depois de assistir ao filme homônimo, do Spike Lee, com Ray Allen e Denzel Washington, imediatamente a faixa título entrou no MP3. Embora tenha sido lançado bem depois dos áureos tempos do PE, Chuck D e companhia continuam contundentes. A batida, que sampleia de forma simples o rock "For What It's Worth", da banda Buffalo Springfield, em nada lembra a anarquia de samples dos primeiros álbuns, mas ainda assim funciona perfeitamente para as rimas sempre cheias de força de mister Chuck. O primeiro verso, então, é espetacular. "Minha caminhada fez o meu traseiro se perguntar / onde está Cristo em meio a esta crise / odiando Satã, nunca soube o quão isso é legal".
* Royce da 5'9'' - Hood Love feat. Bun B & Joell Ortiz
Ainda não ouvi o disco novo do Royce com a devida atenção, mas esta faixa não passou despercebida por mim. "Hood Love" é mais uma para o catálogo de contribuições entre o emcee de Detroit e o lendário DJ Premier. Já dá para saber que o beat é imaculado, né? Pois bem, aqueles samples picotados de forma bem visível e a bateria pulsante continuam lá, só faltou o refrão com scratches. Parece que o Primo está investindo mais em strings, e, assim como o "Ain't Nuttin Changed", do Blaq Poet, o sample principal aqui também está nas cordas. Tudo para Royce e seus parceiros rimarem sobre seus hobbies quando estão na comunidade. Royce entra em modo introspectivo, Bun B fala sobre as particularidades do bairro dele e o Ortiz segue pelo mesmo caminho, mas faz jus a seus quilos a mais e gasta umas boas linhas falando sobre churrasco e outras comidas.
* Wale - Mama Told Me
Mais um álbum que ainda não ouvi direito, e mais uma faixa que, mesmo assim, já capturei. A batida é do promissor Best Kept Secret e é o ponto alto da canção, embora meio que me lembre os beats que saem quando acionam a fórmula de imitar o 9th Wonder - leia-se samples soul e caixas marcantes. Confesso que nem prestei muita atenção no Wale, o instrumental é realmente bom.
* CunninLynguists - Love Ain't feat. Tonedeff
Depois de resenhar o disco novo, acabei revisitando os trabalhos antigos, e achei esta pérola, do disco "Southernunderground". O Tonedeff é um dos caras mais completos do rap, e pouca gente reconhece ele, quase não se fala nele. Aqui, ele ataca novamente com a levada mais rápida do mundo; mas não é só isso: a escrita do cara é sensacional, tanto em termos de mensagem quanto tecnicamente. Ouça e fique doido pensando que ele está repetindo as palavras, quando na verdade é uma montanha de rimas multissilábicas entregues em alta velocidade. O beat do Kno segue aquele estilo dele. O efeito de deixar o Tone rimando a capela para só depois vir a pancada é sensacional.
* Tonedeff - Disappointed
Falando em Tonedeff, chegamos ao primeiro single do último disco do cara, "Archetype". Mais uma vez, as habilidades do cara estão no auge: batida de autoria própria que casa perfeitamente com o tema, que é basicamente o desapontamento do Tone depois que ele consegue sair com a garota dos sonhos e descobre que ela não é tudo aquilo que ele imaginava. A levada é mais lenta, mas o tom de ironia e a capacidade de rimar como se fosse a coisa mais fácil do mundo contam pontos a favor. "Eu usualmente só saio com pilotos femininas, porque elas tem os melhores cockpits"; sendo cock = gíria para pênis; pit = buraco. Pegaram? Hã, hã? Mas a melhor punchline é essa: "Os caras, revoltados, a chamam de puta, eu peço a Deus para que seja verdade / porque uma puta dá para todo mundo, já a vadia dá para todo mundo, menos para você".
* GZA - Cold World
Direto de um dos melhores álbuns de todo tempo, o senhor GZA The Genius nos traz um relato sombrio sobre seu bairro com um storytelling impecável. E então chega Inspectah Deck, mais descritivo do que narrativo, mas ainda em alto nível. O refrão é meio enjoativo, mas a batida turva de RZA compensa qualquer coisa, com minimalismo e obscuridade. É do Rebel INS a melhor linha; depois de falar sobre assassinatos e intrigas do crime, ele arrebata: "Você testemunha a saga, as casualidades e o drama / a vida é um roteiro, eu não sou ator, e sim o autor desta ópera dos dias modernos / onde o protagonista é o papel presidencial, o fator dominante".
* Tech N9ne - Red Nose
Dica do Paulo, que já havia me pedido há um tempo um post sobre essa música, mas, como eu sou vacilão, não tinha atendido ainda. Tech N9ne é um dos caras mais singulares do rap, um estilo completamente diferente do que vemos por aí, seja underground ou mainstream. Na verdade, Tecca N9na é um caso raro de underground bem sucedido financeiramente;ele já vendeu mais de um milhão de discos. Em "Red Nose", ele fala sobre tudo isso numa letra bem pessoal: a desconfiança das pessoas por ele ser tão diferente, algo que ocorre desde sua infância. O flow é sensacional, uma mistura entre levada rápida e cantoria, no melhor estilo Bone Thugs, mas bem mais lírico. O sentimento deste emcee singular é resumido ainda no primeiro verso: "Mano, acredite / nada é pior do que você saber que é bonito / mas ser tratado como um pato feio".