Ano: 2009
Gravadora: One Records
Produtor: Exile (todas as faixas)
Participações: Aloe Blacc (faixas 3 e 4), DeVoya Mayo (3), J. Mitchell (5), Evidence (7), Blu (9), Co$$ (11), Mistah F.A.B. (11), Exile (12).
Acho que o blog nunca ficou tanto tempo sem atualizações como nas últimas semanas. Culpem a faculdade, o trabalho e o feriado pelo fenômeno. É que, no auge dos meus 21 anos, um turbilhão de coisas acontece ao mesmo tempo. É uma fase meio que crucial para a transição de um jovem vagabundo para alguém com responsabilidades. É tipo o momento em que o menino encontra o mundo. Sim, eu usei minhas desculpas costumeiras e esfarrapadas para introduzi-los a "Boy Meets World", o disco de estreia do Fashawn, um jovem emcee californiano, de apenas 20 anos. O projeto foi todo produzido pelo Exile, que já virou craque em fornecer beats para moleques da costa oeste criarem clássicos.
Ops, eu disse clássico? Pois é. Mas é preciso fazer uma ressalva: "Boy Meets World" é um clássico contemporâneo, longe dos trabalhos hors-concours da golden age norte-americana. Em suma, é um discaço, mas para os padrões atuais. Não bastasse os instrumentais impecáveis de Exile, Fashawn é um rapper bastante talentoso e dinâmico. A fórmula para o álbum é um pouco parecida com a utilizada por Blu no igualmente clássico pós-era de ouro e igualmente beats-cortesia-de-Exile "Below The Heavens": rimas bastante pessoais, capazes de fazer o jovem comum se identificar facilmente.
Bom, esqueçamos Blu de lado, porque as comparações com John Barnes, embora meio que inevitáveis, já se tornaram repetitivas. Fashawn tem todas as características para fazer seu nome sem estar à sombra de ninguém: carisma, bom flow, letras com temas diversos e ótimo ouvido para beats. E, acima de tudo, sinceridade. É bastante elogiável como ele planejou seu disco todo em torno do conceito do jovem que vira adulto, do moleque que sai dos tempos de escola e precisa trabalhar, a hora da verdade, que separa os homens dos meninos. E "Boy Meets World" é um testamento dessa fase. Mais do que isso: é um manifesto para todos que estão passando atualmente por isso, ou mesmo os que já passaram. É claro, com todas as particularidades inerentes a um jovem vindo da classe baixa.
"Life as a shorty", o primeiro single, reflete bem esta ideia. Embora o título seja uma homenagem à clássica linha de Inspectah Deck em "C.R.E.A.M.", não há o previsível sample do Rebel INS. Em vez disso, um refrão cantado por J. Mitchell e rimas autobiográficas por parte de Fashawn, que mostra sua sinceridade: admite que seu primeiro amor o traía, diz que teve um monte de "pais" durante a infância, revela que seus amigos não se interessavam "por literatura, não eram bons ouvintes e não prestavam atenção, por isso andavam comigo". Mas não é só lamentação. As últimas palavras do moleque mostram outro ponto de vista: "Eu amei minha infância, apesar dos tiros / eu era bastante feliz crescendo na favela / não foi tão ruim, tive alguns pais / a única que eu não gostei foi não ter dinheiro".
Essa capacidade de relatar as desventuras dos garotos encontrando o mundo não fica só nas dificuldades. "Lupita" é uma faixa com toque latino em homenagem à menina que batiza a canção. "Samsonite Man" junta Fashawn a Blu para ambos trocarem impressões sobre suas viagens e discutir como é ficar fora de casa por tanto tempo quando se leva a vida de shows, gravações e encontros de um rapper. "Bo Jackson" traz Exile no microfone, com tanto produtor quanto emcee trocando versos de forma descontraída sobre um beat igualmente leve. "Sunny CA" é o hino à área de Fashawn, junto com os conterrâneos Coss e Mistah Fab.
Mas é quando o jovem emcee toca em aspectos mais sérios que sua estrela brilha mais. E o melhor de tudo é que o conteúdo equilibra-se de forma satisfatória com a forma. "Freedom" é um bom exemplo: não bastasse o sample de Talib Kweli no refrão, Fashawn transborda habilidade lírica nos versos, o primeiro sendo uma aula de como abusar de rimas internas e multissilábicas sem prejudicar a mensagem. "Hey Young World" é a faixa mais jazzy do álbum, quase que um resumo do conceito do álbum. O poder de "Why", seus strings melancólicos e o sample vocal ainda mais doce é resumido em uma das primeiras frases de Fashawn: "É hora de pararmos de sermos baby daddys (nota: uma gíria para pais ausentes) para sermos pais de verdade". E não esqueça a potentíssima "Boy Meets World", uma biografia mais completa do emcee.
Depois de três parágrafos longos falando sobre as proezas de Fashawn, é justo dedicar pelo menos um para o arquiteto do disco. O trabalho de Exile no álbum mostra o beatmaker ainda masi impecáveis no soul-hop tão característico dele, mas já aponta novos horizontes no trabalho do californiano. O violão latino de "Lupita" é uma das pistas que ele deixa, assim como a sombria "When She Calls", que encaixa perfeitamente no clima do storytelling de Fashawn. Aliás, o entrosamento entre emcee e produtor é evidente. Faixas como "Boy Meets World" e "Stars" mostram como Fashawn fica confortável e sabe interagir sobre os beats de Exile.
As coincidências com "Below The Heavens" são muitas: mesmo produtor, estética parecida, emcee jovem rimando sobre sua vida. Mas Fashawn mostra que não é uma cópia de Blu, e sim um artista com todas as condições para estar na linha de frente do Hip-Hop nos próximos anos. O mais interessante é que o moleque não se destaca só pelas letras, ou pelos beats: as canções, como um todo, têm qualidade, o que é bem mais difícil de se conseguir do que apenas rimas complexas ou beats matadores. Talvez o denominador comum entre os dois álbuns esteja numa simples palavra: clássico. Contemporâneo, mas ainda assim um clássico. E fortíssimo candidato a melhor disco do ano.
Fashawn - Boy Meets WorldGravadora: One Records
Produtor: Exile (todas as faixas)
Participações: Aloe Blacc (faixas 3 e 4), DeVoya Mayo (3), J. Mitchell (5), Evidence (7), Blu (9), Co$$ (11), Mistah F.A.B. (11), Exile (12).
Acho que o blog nunca ficou tanto tempo sem atualizações como nas últimas semanas. Culpem a faculdade, o trabalho e o feriado pelo fenômeno. É que, no auge dos meus 21 anos, um turbilhão de coisas acontece ao mesmo tempo. É uma fase meio que crucial para a transição de um jovem vagabundo para alguém com responsabilidades. É tipo o momento em que o menino encontra o mundo. Sim, eu usei minhas desculpas costumeiras e esfarrapadas para introduzi-los a "Boy Meets World", o disco de estreia do Fashawn, um jovem emcee californiano, de apenas 20 anos. O projeto foi todo produzido pelo Exile, que já virou craque em fornecer beats para moleques da costa oeste criarem clássicos.
Ops, eu disse clássico? Pois é. Mas é preciso fazer uma ressalva: "Boy Meets World" é um clássico contemporâneo, longe dos trabalhos hors-concours da golden age norte-americana. Em suma, é um discaço, mas para os padrões atuais. Não bastasse os instrumentais impecáveis de Exile, Fashawn é um rapper bastante talentoso e dinâmico. A fórmula para o álbum é um pouco parecida com a utilizada por Blu no igualmente clássico pós-era de ouro e igualmente beats-cortesia-de-Exile "Below The Heavens": rimas bastante pessoais, capazes de fazer o jovem comum se identificar facilmente.
Bom, esqueçamos Blu de lado, porque as comparações com John Barnes, embora meio que inevitáveis, já se tornaram repetitivas. Fashawn tem todas as características para fazer seu nome sem estar à sombra de ninguém: carisma, bom flow, letras com temas diversos e ótimo ouvido para beats. E, acima de tudo, sinceridade. É bastante elogiável como ele planejou seu disco todo em torno do conceito do jovem que vira adulto, do moleque que sai dos tempos de escola e precisa trabalhar, a hora da verdade, que separa os homens dos meninos. E "Boy Meets World" é um testamento dessa fase. Mais do que isso: é um manifesto para todos que estão passando atualmente por isso, ou mesmo os que já passaram. É claro, com todas as particularidades inerentes a um jovem vindo da classe baixa.
"Life as a shorty", o primeiro single, reflete bem esta ideia. Embora o título seja uma homenagem à clássica linha de Inspectah Deck em "C.R.E.A.M.", não há o previsível sample do Rebel INS. Em vez disso, um refrão cantado por J. Mitchell e rimas autobiográficas por parte de Fashawn, que mostra sua sinceridade: admite que seu primeiro amor o traía, diz que teve um monte de "pais" durante a infância, revela que seus amigos não se interessavam "por literatura, não eram bons ouvintes e não prestavam atenção, por isso andavam comigo". Mas não é só lamentação. As últimas palavras do moleque mostram outro ponto de vista: "Eu amei minha infância, apesar dos tiros / eu era bastante feliz crescendo na favela / não foi tão ruim, tive alguns pais / a única que eu não gostei foi não ter dinheiro".
Essa capacidade de relatar as desventuras dos garotos encontrando o mundo não fica só nas dificuldades. "Lupita" é uma faixa com toque latino em homenagem à menina que batiza a canção. "Samsonite Man" junta Fashawn a Blu para ambos trocarem impressões sobre suas viagens e discutir como é ficar fora de casa por tanto tempo quando se leva a vida de shows, gravações e encontros de um rapper. "Bo Jackson" traz Exile no microfone, com tanto produtor quanto emcee trocando versos de forma descontraída sobre um beat igualmente leve. "Sunny CA" é o hino à área de Fashawn, junto com os conterrâneos Coss e Mistah Fab.
Mas é quando o jovem emcee toca em aspectos mais sérios que sua estrela brilha mais. E o melhor de tudo é que o conteúdo equilibra-se de forma satisfatória com a forma. "Freedom" é um bom exemplo: não bastasse o sample de Talib Kweli no refrão, Fashawn transborda habilidade lírica nos versos, o primeiro sendo uma aula de como abusar de rimas internas e multissilábicas sem prejudicar a mensagem. "Hey Young World" é a faixa mais jazzy do álbum, quase que um resumo do conceito do álbum. O poder de "Why", seus strings melancólicos e o sample vocal ainda mais doce é resumido em uma das primeiras frases de Fashawn: "É hora de pararmos de sermos baby daddys (nota: uma gíria para pais ausentes) para sermos pais de verdade". E não esqueça a potentíssima "Boy Meets World", uma biografia mais completa do emcee.
Depois de três parágrafos longos falando sobre as proezas de Fashawn, é justo dedicar pelo menos um para o arquiteto do disco. O trabalho de Exile no álbum mostra o beatmaker ainda masi impecáveis no soul-hop tão característico dele, mas já aponta novos horizontes no trabalho do californiano. O violão latino de "Lupita" é uma das pistas que ele deixa, assim como a sombria "When She Calls", que encaixa perfeitamente no clima do storytelling de Fashawn. Aliás, o entrosamento entre emcee e produtor é evidente. Faixas como "Boy Meets World" e "Stars" mostram como Fashawn fica confortável e sabe interagir sobre os beats de Exile.
As coincidências com "Below The Heavens" são muitas: mesmo produtor, estética parecida, emcee jovem rimando sobre sua vida. Mas Fashawn mostra que não é uma cópia de Blu, e sim um artista com todas as condições para estar na linha de frente do Hip-Hop nos próximos anos. O mais interessante é que o moleque não se destaca só pelas letras, ou pelos beats: as canções, como um todo, têm qualidade, o que é bem mais difícil de se conseguir do que apenas rimas complexas ou beats matadores. Talvez o denominador comum entre os dois álbuns esteja numa simples palavra: clássico. Contemporâneo, mas ainda assim um clássico. E fortíssimo candidato a melhor disco do ano.
01 Intro
02 Freedom
03 Hey Young World
04 Stars
05 Life As a Shorty
06 The Ecology
07 Our Way
08 Why
09 Samsonite Man
10 Father
11 Sunny CA
12 Bo Jackson
13 Lupita
14 When She Calls
15 Boy Meets World
Vídeo de "Life As A Shorty":
6 comentários:
Ótima resenha pra variar... só que no encarte do CD nao aparece que o Blu participa do álbum... fiquei na dúvida...
Abraços
Olá, trabalho na Secretaria de Estado da Cultura e gostaria de solicitar o mailing de contato de vocês para enviar release e sugestões de pautas sobre programas, projetos e instituições ligadas a Secretaria. Caso tenham interesse, favor entrar em contato. Estarei à disposição para eventuais esclarecimentos e desde já agradeço a atenção!
É um ótimo álbum, candidato a melhor do ano sim, mas tantos álbuns ótimos foram deixados pra trás pelo blog... Vai ser uma eleição sem candidatos a altura.
fico com a faixa 4!
Eu particularmente curti mais esse disco do Fashawn que os do BLU. Sei lá, gosto é gosto. rsrsrs
ECOLOGY, OUR WAY e SUNNY CA são bem boas.
Ótima resenha guri...
só que pra mim acho que "Below the Heavens" vai ser dificil de ser batido tão cedo.... no contexto geral é um álbum quase que vivo...Fashawn é um bom emcee, mas o Blu ainda ganha disparado, sem dúvida.
abraazzz!!
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