sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Illa J: Yancey Boys

Geralmente, irmãos seguem duas linhas dicotômicas: ou são muito parecidos, ou não têm nada a ver um com o outro. Mais forte do que isso, porém, há uma ligação entre os dois quase mística, algo diferente de tudo. Irmãos são produtos, na maioria dos casos, do mesmo casal, vivem juntos durante quase 20 anos e são a família um do outro na fase adulta e na terceira idade. Irmãos brigam muito, é claro, mas não vivem sem o outro. No caso de Illa J e J Dilla, acredito que a dicotomia do início do parágrafo é clara: eles são muito parecidos, num ponto crucial: vivem para o rap. Dilla, inclusive, morreu pelo rap. Mas seu irmão mais novo está aí para carregar a tocha de seu legado. A primeira providência foi o lançamento de Yancey Boys, com todos os beats provenientes diretamente de algum arquivo de beats empoeirado de Dilla.

Illa J não é uma sumidade como emcee - seu irmão também não o era - mas acerta em cheio ao focar seu disco nos petardos produzidos por Dilla, adaptando-se a eles. Em sua maioria, os beats usados aqui são simples, minimalistas, com samples esparsos, dando um clima meio "aéreo" ao álbum. O primeiro acerto de Illa é manter uma coerência na escolha dos instrumentais, sem criar uma salada de estilos desnecessária, conseguindo assim coesão, além de dar o clima espiritual necessário para um encontro entre irmãos dessa natureza. Faixas como Everytime e Timeless são um bom exemplo desta espiritualidade nos beats: a primeira contém os tais samples espaçados, enquanto a segunda é guiada por um belo piano loopado.

Além de rimar, Illa J também mostra suas habilidades cantando. Na supracitada Timeless, ele mostra bem esse lado, e se sai bem. Nas rimas, ele também mostra ter talento, variando bastante de temas, sem deixar a saudade do irmão afetar o disco. Assim, ele consegue escapar da tendência natural de criar um tributo a Dilla, ou um álbum baseado apenas na figura dele. O que se vê é um emcee jovem, mesclando conceitos interessantes como os signos zodiacais nas caixas pesadas de Air Signs a temas mais tradicionais, como os relacionamentos na relax Sounds Like Love ou os percalços de um iniciante no rap em Strugglin. Outros destaques são o loop jazzy preguiçoso - num bom sentido - de All Good e a emocionante Alien Family, na qual Frank Nitty, conhecido da família Yancey, fala um pouco sobre os irmãos sobre mais um beat relax.

No fim, Yancey Boys tem grande êxito, porque consegue mostrar bem os dois irmãos. Os beats de J-Dilla neste trabalho mostram por que ele é um dos maiores beatmakers de todos os tempos, enquanto o caçula Illa J mostra grande potencial e uma sensibilidade incrível ao lidar com o material póstumo do irmão. Nada de grandes dramas ou músicas lamentando a morte de Dilla: a homenagem aqui é da forma que ele com certeza preferiria: rimas, beats e paixão, muita paixão pelo rap.

Illa J - Yancey Boys
01. Timeless
02. We Here
03. R U Listenin’? (feat. Guilty Simpson)
04. Alien Family (By Frank Nitty)
05. Strugglin’
06. Showtime
07. Swagger
08. Mr. Shakes (a.k.a. Affion Crockett) (Skit)
09. DFTF (feat. Affion Crockett)
10. All Good
11. Souds Like Love (feat. Debi Nova)
12. Everytime
13. Illasoul
14. Air Signs

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Single: Jedi Mind Tricks - Godflesh

Com data de lançamento marcada para 11 de novembro, o álbum History of Violence, do Jedi Mind Tricks, terá como segundo single Godflesh, uma faixa com participação de King Magnetic, além dos vocais de Vinnie Paz e Jus Allah.

Ao contrário do primeiro single, Monolith, esta nova faixa segue mais o estilo do grupo, se levarmos em consideração o tom agressivo do beat. Como era de se esperar, Stoupe faz outro belíssimo trabalho, com mais um instrumental cuidadosamente programado, com vários samples se intercalando e uma bateria redonda. Tem ainda aquele tom meio latino, meio música clássica, já presente nos outros trabalhos dele. No microfone, King Magnetic rouba o show com um verso de abertura estonteante. Vinnie Paz vem correto, mas Jus Allah meio que destoa, com um flow meio bagunçado, que não casou bem com a faixa. Outro destaque da faixa é o refrão - que eu ainda não descobri quem canta -, bastante simples, mas ainda assim marcante.

Enfim, outro single bastante consistente. History of Violence promete bastante.

PS: A imagem que eu postei é a capa inicial do disco. Depois eles mudaram para aquela que vocês podem ver no post do primeiro single. Eu achei as duas muito bonitas, não consigo escolher a melhor.

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Atualização: Saiu também a tracklist do álbum, que o Campagnoli, visitante do blog, fez o favor de passar. Aqui vai:

1. Intro
2. Deathbed Doctrine
3. Deadly Melody (Feat. Block McCloud and Demoz)
4. Monolith
5. Those With No Eyes (interlude)
6. Trail Of Lies
7. Heavy Artillery
8. Séance Of Shamans (Feat. Outerspace and Doap Nixon)
9. Geometry In Static (interlude)
10. Godflesh (Feat. King Magnetic and Block McCloud)
11. Terror (Feat. Demoz)
12. Butcher Knife Bloodbath
13. The Sixth Gate Shines No More (interlude)
14. Death Messiah

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Q-Tip: The Renaissance

Principal artista de um dos maiores grupos de rap da história. Responsável pela produção de uma faixa em Illmatic. Um dos pioneiros na mistura entre jazz e rap. Fundador do coletivo Soulquarians. Q-Tip realmente tem um currículo que o dá credibilidade suficiente para tentar promover o renascimento do rap. É isso que ele tenta em The Renaissance, seu novo disco solo, após anos sem lançar nada.

Mas não se empolgue: o renascimento afirmado por Tip não diz respeito a uma nova direção na música rap, e sim a um retorno às origens. O álbum é permeado por influências do funk e do R&B, mais até do que o típico jazz que marcou a época do A Tribe Called Quest. Gettin Up, o primeiro single e que surpreendentemente estourou inclusive no mainstream americano, é um bom exemplo: produzida pelo falecido J Dilla, a faixa é metade relax, metade dançante, graças ao flow perfeito de Tip e a um loop bastante consistente.

Outra aposta do The Abstract está nos refrões. Em quatro músicas, cantores talentosos marcam presença, acrescentando bastante. Em We Fight/Love, Raphael Saadiq traz de volta o clima dos anos 60, enquanto Tip conta a história de um casal separado pela guerra do Iraque. Já a revelação Amanda Diva aparece na epítome funky do disco, Manwomanboogie, uma faixa totalmente dominada pela poderosa linha de baixo. No fim do disco, Norah Jones aparece para dar o pequeno tempero jazzy em Life Is Better, uma ode a alguns dos nomes mais famosos do rap. Para completar, D'Angelo entrega um refrão viciante em Believe, sobre uma bateria forte e uma combinação letal entre guitarras incisivas e samples esparsos, enquanto Tip explora o tema sob várias perspectivas.

O resultado final de The Renaissance acaba alcançando as expectativas. Ao contrário do último disco solo lançado por Q-Tip - Amplified, mais dançante - , este novo trabalho é mais focado, mais emocionante, mostrando uma clara maturação, tanto nos beats quanto na própria voz do emcee. No final, Tip sai com uma voz menos enjoativa, um disco consistente e de grande valor, além de um hit. Nada mal.

Q-Tip - The Renaissance
01. Johnny is Dead
02. Won’t Trade
03. Gettin’ Up
04. Offishal
05. You
06. Fight/Love (featuring Raphael Saadiq)
07. ManWomanBoogie (featuring Amanda Diva)
08. Move
09. Dance on Glass
10. Life is Betta (featuring Norah Jones)
11. Believe (featuring D’Angelo)
12. Shaka

Vídeo da faixa Gettin' Up:


Vídeo da faixa Move:

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Black Milk: Tronic

Depois de lançar um álbum em parceria com o amigo Fat Ray no começo do ano e produzir um dos melhores discos do ano para Elzhi, finalmente chegou a hora de Black Milk brilhar sozinho. Tronic, seu segundo álbum solo, mostra a versatilidade do produtor de Detroit, que, além de, obviamente, produzir os instrumentais, ainda encontra tempo para cuspir algumas rimas. Segundo Milk, este disco mostra uma evolução no seu trabalho, com maior uso de instrumentos e busca por um som mais futurista.

Na verdade, o que podemos constatar em Tronic é um misto entre evolução e respeito ao próprio som. Sem dúvida, existem sons com toques mais futuristas, mas ainda estão lá as caixas fortes e bumbos marcantes que caracterizam os beats de Milk. Além disso, ele explora uma infinitude de samples, além da já citada instrumentação. Outro ponto favorável é a consistência do álbum: tente achar uma única batida ruim e você não conseguirá. Enfim, a idéia de trazer um elemento futurista conseguiu somar ainda mais ao catálogo de Milk, que pôde criar sons mais experimentais com isso. A viajante Hell Yeah, cheia de barulhos eletrônicos e com uma bateria quebrada, é um dos melhores resultados desta experimentação, além das guitarras progressivas de Overdose, a suingada Hold It Down e, por fim, The Matrix, que poderia até tocar em alguma rádio se o refrão de scratches de Premier fosse substituído por algum vocal meloso, graças ao loop futurista contagiante.

Na parte lírica do álbum, Milk prova ser tão talentoso quanto no beatmaking. Ele foca principalmente em battle raps e temas mais cotidianos, embora sua força esteja mesmo no flow tranqüilo e sem esforço. Para ajudá-lo nas rimas, ele tem ainda a ajuda de caras como Sean Price, Pharoahe Monch e Royce Da 5'9. Este último, por sinal, prova estar em grande fase, ao roubar o show - assim como fez com Elzhi - em Losing Out, um beat mais tradicional, com um sample vocal muito bem sacado que se integra às rimas. Outros destaques do álbum são a ode aos bateristas, em Give The Drummer Sum, que, não por acaso, tem uma sessão de bateria espetacular, além da faixa de abertura, Long Story Short, com strings meio futuristas e, novamente, uma bateria impecável, pulsante, acelerada, uma espécie de upgrade do clássico break Synthetic Substitution. Nesta faixa, Milk dá o segredo dos seus beats: "Ouvindo Pete Rock, Premo e Dilla direto / tentando deixar meu som tão bom quanto o deles".

A influência das três lendas acaba tornando-se evidente no disco. De Pete Rock, a atenção especial às caixas, além do expediente de usar pequenas batidas para introduzir/concluir alguma faixa; de Dilla, a elegância nos beats e, de Premier, além da experimentação, a presença do próprio fazendo scratches em The Matrix. É assim, combinando velha escola com nova escola, experimentando, buscando novos sons, que o moleque lança mais um trabalho de grande qualidade e consolida-se definitivamente no rol dos grandes beatmakers da cena atual.

Black Milk - Tronic
1. Long Story Short2. Bounce
3. Give the Drummer Sum
4. Without U ft. Colin Munroe
5. Hold it Down
6. Losing Out ft. Royce 5'9
7. Hell Yeah
8. Overdose
9. Reppin for U ft. AB
10. The Matrix ft. Pharoahe Monch, Sean Price, Dj Premier
11. Try
12. Tronic Summer
13. Bond 4 Life (Music) ft. Melanie Rutherford
14. Elec (Outro)

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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Now On: Tomorrow Already

Parem de ficar olhando para a capa do álbum e prestem atenção no texto! Now On é um grupo de Detroit, membro da crew Athletic Mic League e formado pelos emcees IX Lives e Jackson Perry, além do DJ Haircut, também membro do coletivo de produtores Lab Techs, responsáveis não só pela produção deste álbum dos caras, o Tomorrow Already, como também dos dois discos do Buff1 já postados aqui. Ou seja, se vocês gostaram dos álbuns do Buff1, provavelmente vão apreciar este trabalho do Now On.

Como o time de produtores é o mesmo, a sonoridade é bem parecida, mas o Now On tem algumas particularidades, como o gosto por refrões cantados e temas mais futuristas. Assim como o parceiro Buff1, os caras conseguiram criar um som suingado, eletrônico, mas sem apelar para clichês comerciais, além de prezarem pelo conteúdo nas letras. Por outro lado, ao mesmo tempo em que criam um som dançante, os Lab Techs sabem dar um quê de downtempo e boom-bap nos beats, o que os torna equilibrados e coesos. Em suma, o álbum conta com instrumentais com alto potencial radiofônico, mas ainda assim sem perder a essência - um disco ideal para o mainstream, mas sendo lançado no underground.

Outro ponto a ser ressaltado é o entrosamento dos dois emcees, que mostram bom entendimento durante o disco inteiro. Suas vozes casam perfeitamente com o clima dos beats, e eles parecem bastante confortáveis trocando versos. A única "reclamação" é o excesso de vocais cantados durante o projeto, alguns refrões com scratches ou explorando o entrosamento de IX Lives e Perry seriam bem-vindos. No fim das contas, os destaques ficam para The Answer, guiada por um naipe de metais e um dos melhores refrões do disco; This Way, que tem um loop de teclado ininterrupto, além de um quê eletrônico; The A, com participação espetacular de Buff1 e um bumbo certeiro; e Touch, com Aloe Blacc, num clima mais nostálgico, meio futurista, um beat bem complexo.

Se seguir lançando álbuns dessa qualidade, é bem provável que a Athletic Mic League torne-se ainda mais proeminente no cenário underground. Apostando num som diferente de todos os outros encontrados nos confins do rap, caras como Now On, Buff1 e os Lab Techs mostram que é possível criar um som grooveado, sem se render às fórmulas do mainstream. Para quem busca um rap mais palatável, mais suingado, Tomorrow Already é a pedida ideal. Mas tudo bem, eu sei que vocês não leram nada do que escrevi. Ainda estão olhando a capa do disco...

Now On - Tomorrow Already
1.Here
2.The Answer
3.All You Ever Knew
4.This Way
5.Unwind
6.The A (feat. Buff1)
7.The Willows
8.Tomorrow Already
9.Marbles
10.Catapults
11.Touch (feat. Aloe Blacc)
12.Reprise
13.The Return

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Vídeo da faixa The Willows:


PS: Querem ver as outras duas capas do disco? Então cliquem aqui e aqui

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Especial 1 ano de Boom Bap: The Notorious B.I.G.

Há exato um ano atrás, eu começava este humilde blog com um post de apresentação e prometendo a resenha do Illmatic. O começo foi meio complicado, poucas visitas, muitas parcerias, milhares de spams no Orkut para divulgar o blog, etc. A proposta do blog, a princípio, era dar vazão a uma vontade minha de resenhar álbuns que eu gostasse - mania de estudante de Jornalismo -, acompanhar os lançamentos, enfim, passar informações para o público do rap. Aos poucos, fui achando o estilo certo para escrever no blog, mas acho que há muito mais para crescer, como, por exempo, dar mais espaço para artistas nacionais. De qualquer forma, queria agradecer a todos que visitam o blog diariamente, que indicam para amigos, que comentam, que procuram ajudar o blog, além dos outros blogueiros que deram bastante força durante esse um ano, principalmente os caras do Soumzaun - Casé e Alemão - que me ajudaram muito no começo. Tem vários outros caras que ajudaram, mas por questão de medo de esquecer alguém, não citarei nomes.

Agora, passado o momento retrospectiva, vamos ao que interessa. No melhor estilo Casas Bahia "eu faço aniversário e quem ganha presente é o cliente", o Boom Bap preparou um especial sobre um dos maiores emcees a pegar num microfone: The Notorious B.I.G. Para isso, temos um arquivo com todas as letras traduzidas do álbum Ready to Die, uma resenha do mesmo, além de dois downloads obrigatórios: a versão com as músicas em seu formato O.G., além de remixes, e a versão com TODOS os samples usados para criar este álbum clássico. Por fim, estreando uma seção que espero fazer mais vezes, temos a desconstrução do single Juicy, que consiste basicamente em tentar dissecar a letra, todos os seus significados implícitos, procurar entender a técnica do emcee ao escrever as rimas, etc.

Enfim, aproveitem o especial. Espero que gostem. E comentem, né? O Boom Bap merece...

Download - Ready To Die (Letras traduzidas)
Senha: www.boombap-rap.blogspot.com

Resenha: Notorious BIG - Ready To Die


1994 foi um bom ano para o rap. Álbuns que mais tarde se tornariam clássicos indiscutíveis foram lançados aos baldes. Entre eles, um disco cuja capa mostrando uma criança negra e a frase "Pronto para morrer" foi o que teve mais êxito, tanto entre os críticos quanto entre o público. Christopher Wallace, The Notorious B.I.G., Biggie Smalls, Frank White, whatever, foi o cara responsável por essa obra-prima.

Vindo diretamente das ruas do Brooklyn e assessorado por um jovem Puff Daddy, o então moleque obeso iniciou a gravação do disco tentando trazer os holofotes do rap de volta para Nova Iorque, uma vez que o gangsta rap de Los Angeles dominava a cena na época. Não por acaso, as primeiras faixas gravadas são todas um retrato do jovem Biggie: cruas, urgentes, agressivas. Imagine a cena: um cara que veio do nada tendo sua grande chance de melhorar de vida e não precisar voltar para as ruas - daí podemos entender a ferocidade com que Biggie escrevia suas rimas. Infelizmente, graças a problemas com a gravadora, Puff Daddy foi demitido, o projeto do álbum foi engavetado e Big voltou para as ruas. Um tempo depois, Puff fundou sua própria gravadora e retomou o disco de um BIG agora mais concentrado e focado em não só fazer música de qualidade, mas também ganhar dinheiro com ela. Era o início da influência do pop no rap.

Entretanto, até para fazer hits para boates Biggie tinha um estilo. Big Poppa e One More Chance foram eternizadas graças a loops cativantes e um emcee extremamente eficiente, com flow perfeito e controle de respiração impecável. Tudo isso sem perder a técnica, as complexas estruturas de rima e as metáforas. Sua outra qualidade, a versatilidade, ficaria mais evidente no restante do disco. Biggie teve uma visão certeira em direcionar música para os vários públicos do rap. Criou um buzz com os gangstas em faixas como a funky Warning, um diálogo com um amigo que o previne que invejosos querem roubá-lo, e Things Done Changed, um relato vivo sobre as ruas.

Os puristas ligado aos raps de batalha e às rimas sem compromisso também foram satisfeitos: The What é um dueto com Method Man, onde os dois trocam as mais carismáticas rimas de auto-exaltação da história; Ready To Die tem um Biggie agressivo, o máximo de estilo foda-se que uma faixa com tal título pode alcançar; a picotada-pelo-Premier Unbelievable também segue o mesmo estilo. Entretanto, são algumas faixas chaves que acabam por dar a consistência necessária para que o álbum seja coerente com seu título.

Antes de tudo, Ready to Die é quase uma obra autobiográfica sobre um jovem do gueto pronto para subir na vida de qualquer maneira, nem que para isso precise morrer cedo. É um retrato da desesperança presente na juventude negra, uma forma de retratar estes jovens perspectiva de futuro. Juicy, outro single do disco, é a faixa que dá o exemplo de que ainda há saída, quando Biggie conta sua própria história de vida e mostra como conseguiu sair do "negativo para o positivo". Everyday Struggle, por sua vez, mostra o outro lado: os vários problemas enfrentados no dia-a-dia, desde a morte de amigos a problemas financeiros - é, talvez, a faixa mais subestimada do disco, um beat sensacional, com um loop jazzy no fundo, metais pontuais e uma bateria quebrada sensacional.

Respect segue a linha autobiográfica, com Biggie rimando algumas de suas frases mais memoráveis sobre um instrumental com fortes influências do reggae, inclusive no refrão meio rasta. Por último, duas das faixas mais criativas do rap: Gimme the Loot, um retrato perfeito da mentalidade de alguns jovens, no qual Biggie interpreta dois bandidos que estão à procura de potenciais vítimas, sobre beat minimalista, mas bastante efetivo; e Suicidal Thoughts, que fecha o disco com chave de ouro, e tem Biggie ligando para um amigo, lamentando sua vida e, por fim, se matando. O que mais chama a atenção são os versos extremamente sinceros e duros de Biggie, que vai desde "minha mãe desejava ter tido um aborto" até "minha mina me beijou, mas está feliz que eu morri / ela sabia que eu tinha um caso com a irmã dela".

Enfim, Ready to Die conseguiu uma proeza até hoje pouco alcançada no rap: aliou sucesso de vendas, de crítica e de público, graças a uma bem pensada e bem executada organização das faixas, que contemplou desde hits para rádio até músicas polêmicas que falavam sobre roubar grávidas. Todas impecavelmente produzidas, repletas de samples pesados e sujos, além de rimas extremamente bem escritas, tanto na parte de conceitos quanto na técnica. Junte tudo isso a um emcee carismático e pronto para tomar a cena de assalto, e temos um dos melhores discos da história do rap.

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Vídeo da faixa Big Poppa:


Vídeo da faixa Juicy:


Vídeo da faixa One More Chance remix:


Vídeo da faixa Warning:


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Extras: Versão O.G. e Samples

Mixtape com as versões originais das faixas, além de outras remixadas por caras como Pete Rock e DJ Premier. Muito bom, embora algumas músicas não tenham muita diferença...

Ready To Die - OG Edition
01. 03:08 Intro (Original Version With Uncleared Samples)
02. 03:50 Things Done Changed (Original Version)
03. 04:58 Gimme The Loot (Never Before Heard Uncensored Version)
04. 03:20 Machine Gun Funk (DJ Premier’s Version)
05. 03:37 Warning (Original Version)
06. 03:45 Ready To Die (Original Version With Different Beat)
07. 04:53 One More Chance (Original Version With Uncleared Sample)
08. 01:29 Fuck Me (Interlude)
09. 03:52 The What (feat. Method Man) (Original Version With Unheard Lyrics)
10. 04:35 Juicy (Pete Rock’s Version)
11. 05:13 Everyday Struggle (Original Demo Mix)
12. 03:38 Me & My Bitch (Original Version With Different Beat)
13. 05:37 Respect (Original Extended Edition)
14. 03:23 Friend Of Mine (Original Demo Version)
15. 03:34 Whatchu Want (Unreleased Original Version)
16. 02:51 Suicidal Thoughts (Pete Rock’s Version)
17. 04:57 Come On (feat. Sadat X) (Unreleased Original Version)
18. 01:10 Who Shot Ya? (Original Demo Mix)
19. 03:24 For The Macs & Dons (Unreleased Track)
20. 01:13 Pepsi Freestyle (Unreleased Track)
21. 03:53 Biggie Got The Hype Shit (Unreleased 1991 Demo Track)

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Esta é uma compilação de um blog gringo, e tem todas as músicas que foram sampleadas para o disco. Tem muito funk, soul e jazz, da melhor qualidade. Vale muito a pena baixar, principalmente para beatmakers entenderem melhor como foi criado este clássico.

DISC ONE:

  1. ‘Superfly’ by Curtis Mayfield
    • Sampled for ‘Intro’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen
  2. ‘Rapper’s Delight’ by Sugarhill Gang
    • Sampled for ‘Intro’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen
  3. ‘Top Billin” by Audio Two
    • Sampled for ‘Intro’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen
  4. ‘Tha Shiznit’ by Snoop Doggy Dogg
    • Sampled for ‘Intro’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen
  5. ‘Summer Breeze’ by The Main Ingredient
    • Sampled for ‘Things Done Changed’
    • Produced by Dominic Owens & Kevin Scott
  6. ‘California My Way’ by The Main Ingredient
    • Sampled for ‘Things Done Changed’
    • Produced by Dominic Owens & Kevin Scott
  7. ‘Lil’ Ghetto Boy’ by Dr. Dre
    • Sampled for ‘Things Done Changed’
    • Produced by Dominic Owens & Kevin Scott
  8. ‘Coldblooded’ by James Brown
    • Sampled for ‘Gimme the Loot’
    • Produced by Easy Mo Bee
  9. ‘Throw Ya Gunz’ by Onyx
    • Sampled for ‘Gimme the Loot’
    • Produced by Easy Mo Bee
  10. ‘What They Hittin’ Foe?’ by Ice Cube
    • Sampled for ‘Gimme the Loot’
    • Produced by Easy Mo Bee
  11. ‘Just to Get A Rep’ by Gang Starr
    • Sampled for ‘Gimme the Loot’
    • Produced by Easy Mo Bee
  12. ‘Scenario (Remix)’ by A Tribe Called Quest
    • Sampled for ‘Gimme the Loot’
    • Produced by Easy Mo Bee
  13. ‘Something Extra’ by Black Heat
    • Sampled for ‘Machine Gun Funk’
    • Produced by Easy Mo Bee
  14. ‘Up for the Down Stroke’ by Fred Wesley & The Horny Horns
    • Sampled for ‘Machine Gun Funk’
    • Produced by Easy Mo Bee
  15. ‘Chief Rocka’ by Lords of the Underground
    • Sampled for ‘Machine Gun Funk’
    • Produced by Easy Mo Bee

DISC TWO:

  1. ‘Walk On By’ by Isaac Hayes
    • Sampled for ‘Warning’
    • Produced by Easy Mo Bee
  2. ‘Singing in the Morning’ by Ohio Players
    • Sampled for ‘Ready to Die’
    • Produced by Easy Mo Bee
  3. ‘Impeach the President’ by The Honey Drippers
    • Sampled for ‘Ready to Die’ & ‘Unbelievable’
    • Produced by Easy Mo Bee
  4. ‘Hospital Prelude of Love Theme’ by Willie Hutch
    • Sampled for ‘Ready to Die’
    • Produced by Easy Mo Bee
  5. ‘Ain’t No Half Steppin” by Big Daddy Kane
    • Sampled for ‘Ready to Die’
    • Produced by Easy Mo Bee
  6. ‘Two to the Head’ by Kool G Rap & DJ Polo
    • Sampled for ‘Ready to Die’
    • Produced by Easy Mo Bee
  7. ‘Hydra’ by Grover Washington Jr.
    • Sampled for ‘One More Chance’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs, Chucky Thompson for The Hitmen & The Bluez Brothers
  8. ‘Who’s Makin’ Love?’ by Lou Donaldson
    • Sampled for ‘One More Chance’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs, Chucky Thompson for The Hitmen & The Bluez Brothers
  9. ‘Juicy Fruit’ by Mtume
    • Sampled for ‘Juicy Fruit’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen & Poke
  10. ‘Either Way’ by Dave Grusin
    • Sampled for ‘Everyday Struggle’
    • Produced by The Bluez Brothers
  11. ‘Computer Love’ by Zapp
    • Sampled for ‘Me & My Bitch’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs, Chucky Thompson for The Hitmen & The Bluez Brothers
  12. ‘Between the Sheets’ by The Isley Brothers
    • Sampled for ‘Big Poppa’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs & Chucky Thompson for The Hitmen
  13. ‘I Get Lifted’ by George McCrae
    • Sampled for ‘Respect’
    • Produced by Sean “Puffy” Combs for The Hitmen & Poke

DISC THREE:

  1. ‘Vicious’ by Black Mamba
    • Sampled for ‘Friend of Mine’
    • Produced by Easy Mo Bee
  2. ‘Seventh Heaven’ by Gwen Guthrie
    • Sampled for ‘Friend of Mine’
    • Produced by Easy Mo Bee
  3. ‘The Jam’ by Graham Central Station
    • Sampled for ‘Friend of Mine’
    • Produced by Easy Mo Bee
  4. ‘Spirit of the Boogie’ by Kool & The Gang
    • Sampled for ‘Friend of Mine’
    • Produced by Easy Mo Bee
  5. ‘Remind Me’ by Patrice Rushen
    • Sampled for ‘Unbelievable’
    • Produced by DJ Premier
  6. ‘The What’ by The Notorious B.I.G. (feat. Method Man)
    • Sampled for ‘Unbelievable’
    • Produced by DJ Premier
  7. ‘Your Body’s Callin” by R. Kelly
    • Sampled for ‘Unbelievable’
    • Produced by DJ Premier
  8. ‘Lonely Fire’ by Miles Davis
    • Sampled for ‘Suicidal Thoughts’
    • Produced by Lord Finesse
  9. ‘I’m Afraid the Masquerade Is Over’ by David Porter
    • Sampled for ‘Who Shot Ya?’ [Extended Version Bonus Track]
    • Produced by Sean “Puffy” Combs & Nashiem Myrick for The Hitmen
  10. ‘Blues & Pants’ by James Brown
    • Sampled for ‘Just Playing (Dreams)’ [Extended Version Bonus Track]
    • Produced by Rashad Smith
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Download em três partes: 01 02 03

Desconstrução: The Notorious BIG - Juicy


Big Poppa foi o hit que tocou nas rádios exaustivamente.Warning agradou diretamente ao público gangsta da época. The What teve a participação da estrela Method Man. O remix One More Chance também estourou em boates e rádios. Mas foi Juicy a primeira música a chamar atenção para um jovem rimador de Nova Iorque louco para mostrar seu valor.

Produzida por Puff Daddy, junto com Poke, dos Trackmasters - há também um remix sensacional feito por Pete Rock -, Juicy foi o primeiro sucesso de Biggie e foi responsável por alavancar a carreira do emcee. Na letra, nada de recados para vadias ou ameaças de morte para inimigos. Apenas uma autobiografia sincera, desde os tempos em que Biggie era apenas um fã obeso de rap até os dias de glória. Pode-se dizer que Notorious, o filme que contará a história de B.I.G., poderia ter seu roteiro inspirado só por essa música. Vamos à desconstrução:

Antes de tudo, como explicado na resenha, o álbum foi gravado em duas épocas diferentes. A primeira tinha um Biggie mais duro, e deu à luz as faixas mais hardcore do disco. A segunda, após um momento de recaída no crime, foi responsável pelos hits, entre eles Juicy.

Introdução:
Yeah, este álbum é dedicado para todos os professores que me disseram que eu nunca teria nada, para todas as pessoas que viviam nos prédios onde eu traficava em frente, e que ficavam chamando a polícia, quando eu só estava tentando ganhar um dinheiro para alimentar minhas filhas, e para todos os manos na batalha, entende?

Só a introdução da faixa já mostra o seu teor. Impossível não se sensibilizar com os problemas de infância de Biggie e relacionar isso à sua juventude no crime. Imagine uma criança sendo “desenganada” por seus professores...De qualquer forma, pelo tom usado, já dá pra ver que os tempos difíceis ficaram para trás.

Verso I:
Era tudo um sonho
eu costumava ler a revista Word Up
Salt'n'Pepa e Heavy D dentro de uma limusine
pendurando fotos na parede
todo sábado tinha Rap Attack, Mr. Magic, Marley Marl
eu deixava minha fita tocar até não poder mais
fumando uma erva, bebendo Private Stock(licor)
antigamente, quando eu tinha uma jaqueta vermelha e preta
e um chapéu pra combinar
lembra de Rappin' Duke, du-ha, duh-ha
você nunca pensou que o Hip Hop iria tão longe


Aqui está a descrição de um Biggie jovem, entusiasmado com o surgimento do rap, de toda a sonoridade diferente, do estilo diferente etc. É fácil de se identificar com ele, é só nós lembrarmos da primeira vez que ouvimos rap e como aquilo ficou dentro de nós. Na parte técnica, dá para ver as várias rimas multi-silábicas: “I let my tape rock 'til my tape popped / Smokin' weed and bamboo, sippin' on private stock”. Além de tudo, a última frase é bastante emblemática e representa como o rap era visto em seus primórdios.

“agora eu estou nos holofotes, porque rimo bem

hora de ganhar dinheiro, explodir como o World Trade
um pecador nato, o oposto de um vencedor
lembro de quando eu costumava comer sardinhas no jantar
paz para Ron G, Brucey B, Kid Capri
Funkmaster Flex, Lovebug Starsky
eu estou explodidno na música como vocês pensaram que eu faria
venha aqui em casa, mesmo número, mesmo bairro
tá tudo bem”


Passada a fase de fã, Biggie conquistou seu espaço no rap. Entretanto, ele não esquece suas raízes, quando lembra dos tempos difíceis em que precisava “comer sardinhas no jantar” ou quando homenageia ícones da old school, como Funkmaster Flex e outros. Além disso, ainda mostra que não esqueceu dos amigos quando os convida para visitá-lo, no mesmo número e no mesmo bairro. Esta é uma forma de Biggie mostrar que continue humilde, verdadeiro, ou, na linguagem hip-hop, ele ainda “keep it real”. Por fim, há ainda a metáfora com o World Trade. Na época em que a música foi lançada, as Torres Gêmeas já tinham sido alvo de um atentado terrorista – e é a essa explosão que Biggie faz menção. Não deixa de ser curioso reparar que anos
depois aconteceria novamente.

Verso 2:
“Eu fiz a transformação de um ladrão comum
para um amigo pessoal de Robin Leach
e to longe de ser barato, eu fumo uns baseados com meus amigos todo dia
espalhando amor, este é o jeito do Brooklyn
o Moet e o Alize me deixam chato
as mulheres costumavam falar mal de mim
agora elas escrevem cartas porque sentem minha falta
eu nunca pensei que esse negócio de rap poderia acontecer
eu estava muito acostumado em atirar e tal
agora as minas ficam perto de mim, como manteiga e torrada
desde o Mississipi até a costa leste
camisinhas no Queens, ervas por semanas
todos os ingressos vendidos para ver Biggie Smalls
vivendo a vida sem ter medo
colocando vários jóias na minha mina
lanches, lanches, entrevistas para revistas
considerado um tolo porque eu nem terminei o ensino médio
estereótipos de um homem negro incompreendido
mas ainda assim, tudo bem”

Neste segundo verso, Biggie concentra-se em mostrar o que mudou em sua vida depois que ele alcançou o estrelato. Robin Leach, citado na segunda linha, é um apresentador de televisão que apresentava um programa no qual ele visitava a casa de famosos para mostrar seus pertences materiais, algo muito parecido com alguns programas brasileiros. Com esta referência, Biggie resume sua mudança – de um ladrão comum para uma estrela que tem sua casa visitada por Leach. Depois, ele lista as mudanças: mulheres que antes o desprezavam agora querem sair com ele, entrevistas para revistas famosas, shows lotados etc. Ainda assim, ele parece descrente de sua condição, quando diz que não esperava que o rap pudesse levá-lo a tal status. Tal desconfiança é explicada pelas últimas duas frases: ele nem terminara o ensino médio e, como um homem negro estereotipado, era taxado ao fracasso – como disse a professora a quem ele se referiu na introdução da faixa.

Verso 3:
Super Nintendo, Sega Genesis
quando eu tava falido, mano, eu nem podia imaginar isso
tevês de 50 polegadas, sofá de couro
tenho dois carros, uma limusine e um chofer
conta de telefone cerca de 2 mil dólares
não precisa se preocupar, minha conta suporta isso
e toda a minha crew esta relaxando
celebrando todo dia, sem mais morar em casas do governo
pensando no meu muquifo de um quarto
agora minha mãe tem um carrão e um monte de abeiro junto
e ela adora me mostrar, é claro
sorri toda vez que meu rosto está na capa da The Source


O Começo do terceiro verso segue a lista de mudanças na vida de Biggie. O interessante na letra é que ele mostra tudo o que conquistou, mas sem soar como se estivesse se gabando, e sim com a intenção sincera de mostrar como alguém pode subir de vida com o rap. Então ele fala que agora tem videogames, o que antes ele nunca imaginaria ter. Carros, chofer, conta de telefone astronômica, enfim, tudo o que ele nunca esperava. Entretanto, ele não deixa de compartilhar isso com seus amigos de batalha, quando diz que estão todos curtindo, sem precisar morar no gueto – o que dá pra pressupor que foi Biggie que os ajudou. Como eu disse acima, ele fala de suas conquistas sem parecer exibicionista porque sempre intercala duas linhas de descrição com outra em que ele volta aos tempos ruins. Por exemplo: “celebrando todo dia, sem mais morar em casas do governo / pensando no meu muquifo de um quarto”. Ou seja, em uma frase ele fala que agora está bem, mas logo depois se lembra das dificuldades. É como se os tempos tivessem sido tão ruins que ele levaria essas lembranças para sempre com ele, como forma de não perder a cabeça diante da nova vida. Por fim, uma frase bem marcante, que é quando ele diz que sua mãe sorri quando o vê na capa da The Source. Toda mãe quer ver o filho bem, fazendo sucesso, e aqui ele resume isso com uma simplicidade impressionante. Esta frase também funciona como um gancho para o fim do verso, no qual ele volta de vez aos tempos difíceis:

nós costumávamos discutir quando o proprietário da casa nos humilhava
sem aquecimento, se perguntando por que Papai Noel esqueceu de nós
os aniversários eram os piores dias
agora nós bebemos champagne quando estamos com sede
uh, certo, eu gosto da vida que eu levo
porque eu fui do negativo para o positivo
e tá tudo...


A parte mais marcante é aquela em que ele se lembra da infância: “se perguntando por que Papai Noel se esqueceu de nós”. É um retrato claro da pobreza da família na época, quando a mãe não podia dar nem um brinquedo para o filho no Natal. Biggie cria uma imagem forte, uma frase de impacto, que resume bem seus problemas de outrora. Quando ele fala que os aniversários eram os piores dias, também se refere a isso. A essa altura, o ouvinte já entendeu bem o exemplo de Biggie, e fica até feliz por ele ter saído daquela situação usando sua arte, entendendo também a sua época criminosa. Para finalizar tudo, ele diz que saiu “do negativo para o positivo”. Parabéns, Biggie, parabéns...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Dela: Changes of Atmosphere


Dela é um produtor francês, relativamente desconhecido, mas responsável por mais um ótimo lançamento de 2008. Misturando jazz ao rap de forma bastante agradável, o cara acabou "atraindo" para o seu disco nomes fortes como J-Live, Talib Kweli, Blu, Naledge e Large Professor. Este é mais um daqueles álbuns em que o produtor faz os beats e chama convidados para rimar, algo que vem se tornando cada vez mais comum e acaba revelando grandes talentos, como Dela.

Como dito acima, Changes of Atmosphere é jazz-rap no seu melhor, mas aqui a influência dos samples de jazz é bem predominante. Desde a primeira até a última faixa, você é bombardeado com centenas de excertos de pianos, saxofones, baixos, todos bem construídos, de forma a criar aquele clima relax típico - são poucas as faixas aceleradas. Outro fator que chama a atenção é a consistência de Dela nos beats: não há um instrumental mais ou menos. Todos são sensacionais, simples em sua essência, mas ainda assim complexos em sua construção.

Com tanto talento, não é de se espantar que grandes emcees apareçam no disco. Talib Kweli é responsável pela melhor faixa do disco, Long Life, que prova o que foi dito no parágrafo acima acerca dos beats: a essência é simples e coesa, mas são vários os samples usados - um saxofone suave, um teclado discreto, vocais ao fundo no refrão etc. Já o novato Blu estrela a faixa Vibrate, um boom-bap composto basicamente por um uma espécie de guitarra encharcada de efeito wah-wah e um piano para completar. The City, com J-Live e Surreal, tem caixas mais fortes, além de outra batida complexa, com vários samples se intercalando. Já Chill, com a lenda Large Professor, tem ótimo refrão cantado e metais tomando a frente no mix.

Este álbum acabou por ser uma surpresa, pois nunca tinha ouvido falar de Dela, e ele provou ser um ótimo produtor, com muito bom gosto no uso de samples e bastante eficiente na construção de seus beats. O álbum é coeso, tem uma atmosfera definida, e ainda conta com grandes emcees para abrilhantar ainda mais. Mais uma vez, a mistura entre jazz e rap prova ser extremamente prolífica, com um sem número de artistas apostando nesta vertente, sempre com sucessos. Que o francês Dela, agora, possa capitalizar em cima deste disco espetacular, e continue lançando bons trabalhos.

Dela - Changes of Atmosphere
1 Changes Of Atmosphere (Intro) feat. Liza Garza
2 I Say Peace feat. J-Live
3 Live The Life feat. J. Sands
4 The City feat. J-Live & Surreal
5 Won’t Do feat. Miles Bonny
6 Stress feat. Queens Connex & Termanology
7 Long Life feat. Talib Kweli
8 Veuillez Veiller Sur Vos Reves feat. Les Nubians & John Banzai
9 Vibrate feat. Blu
10 How To Fish feat. Reach
11 The Plan feat. Dynas & Lucian
12 It Is What It Is feat. Naledge
13 Chill feat. Large Professor & Meemee Nelzy
14 Changes Of Atmosphere feat. Supastition
15 Live The Life (Original Mix) feat. J. Sands
16 Chill (Lark Chillout Mix) feat. Large Professor

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Incise: Nobody's Story

Incise é um produtor canadense, responsável pela produção do álbum I Miss 1994, do Prince Ali, já postado aqui no blog. Desta vez, ele segue a tendência dos beatmakers novatos e lança um álbum com suas produções e emcees convidados para rimar sobre elas. Ao contrário do disco do Dela, entretanto, não há nomes muito famosos, mas ainda assim o emceeing fica a par da qualidade dos beats.

Apostando num som mais tranqüilo, Incise apela também para o jazz como fonte principal de samples. O clima do disco é bem sutil, fluido, com músicas que dificilmente tocariam nas rádios, mas têm lugar garantido nos fones de ouvido de qualquer fã de rap. Explica-se: os beats são todos bem feitos, ainda que simples, e os emcees também são competentes. Inclusive, Nobody's Story acaba revelando alguns caras bem talentosos, como Need Not Worry, que tem uma voz bastante original, e brilha na nostálgica Scorpion Tail, ajudado também pelo loop de piano bastante efetivo.

Poems é a estrela da uptempo So Beautiful, aquela com mais cara de single do álbum. O beat é mais acelerado, tem um naipe de metais que segue na mesma toada, e um refrão bem marcante. Voltando ao lado mais relax do disco, Tock é talvez aquela com o elemento jazzy mais forte, graças a um saxofone bem dramático usado como sample principal. Mas é Quite Like It, com Muneshine, a faixa mais forte do álbum. Sob mais um beat bem relaxante, com samples esparsos e bela linha de baixo, o emcee rima sobre os tempos dourados do rap na perspectiva de um fã que cresceu ouvindo o gênero. As colagens com alguns clássicos do rap só tornam a faixa mais especial.

Assim como o álbum do francês Dela, Nobody's Story é outra ótima opção para quem gosta de um jazz-rap, com beats mais tranqüilos, ideais para serem apreciados no fone de ouvido ou com uma boa companhia. Além de tudo, é mais um beatmaker buscando seu espaço na cena e, a julgar por este álbum, com totais condições de ter uma carreira sólida no underground norte-americano. Fica também uma dica para os emcees em busca de batidas: neste álbum há quatro belíssimos instrumentais, pedindo para que alguém cuspa rimas de igual qualidade sobre eles.

Incise - Nobody's Story
01 Intro
02 In Love With Two Women Ft. The 49ers
03 Move Rhymes Ft. The 49ers
04 Scorpion Tail Ft. Need Not Worry
05 Tock Ft. The Stereotypes
06 Nothing To Do
07 So Beautiful Ft. Poems
08 Quite Like It Ft. Muneshine
09 Intermission
10 Magic Ft. Nieve
11 Your Soul Ft. Skyrise (Don Cerino & Shaunise)
12 True Greatness Ft. Tunji Of Inverse
13 Tock (Remix) Ft. The Stereotypes
14 Strife Ft. Hydroponikz & Anika
15 Outro
16 Scorpion Tail Remix Ft. Need Not Worry

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terça-feira, 7 de outubro de 2008

The Foreign Exchange: Leave It All Behind

Este é o novo disco da dupla formada pelo produtor holandês Nicolay e o emcee Phonte, do grupo Little Brother. O surgimento do Foreign Exchange é bastante curioso: os caras se conhecerem pela internet e produziram todo o seu primeiro disco - o aclamado Connected - trocando idéias pela grande rede. Daí veio o nome do grupo, bem sugestivo - Troca Estrangeira.

Leave It All Behind é o segundo disco da dupla, que, desde o lançamento do álbum de estréia, tem feito trabalhos bastante aclamados pela cena. Neste segundo trabalho, há uma grande diferença em relação ao primeiro: em vez de levadas e versos certeiros, Phonte ataca de cantor, dando vazão ao seu alter-ego Percy Miracles, mostrando grande versatilidade sobre os beats complexos de Nicolay. Auxiliado por outros intérpretes talentosos vindos diretamente da nova geração do soul, como Darien Brockington e Yahzarah, 'Te solta a voz, mostrando um estilo mais suave e introspectivo de cantar, sem muitas firulas ou grandes arrombos de emoção. Para os saudosos dos versos dele, ele faz uma concessão em All or Nothing, e cospe seu único verso no álbum inteiro.

Voltando ao estilo suave de Phonte, essa abordagem casa perfeitamente com os beats construídos por Nicolay. Abusando de baterias discretas e um clima mais downtempo e relaxado, o produtor holandês cria instrumentais atmosféricos, delicados, cujo requisito principal para serem bem apreciados é um fone de ouvido de qualidade. Os pormenores são vários, e é muito agradável ir percebendo a construção cuidadosa de cada beat. Daykeeper, o primeiro single do disco, resume bem o clima "aéreo" do trabalho, com Phonte e a cantora Muhsinah num dueto bem entrosado. Outros destaques são a relax All or Nothing, com teclados onipresentes e um clima de tarde de verão irresistível; o R&B clássico de I Wanna Know, com caixas mais presentes e um piano discreto no fundo; e If She Breaks Your Heart, cover de uma música de Stevie Wonder, com um clima totalmente tranqüilo, um bela linha de baixo e um piano esparso, além de grande participação de Yahzarah.

Enfim, quem esperava um disco de rap acabou se deparando com um álbum bem diferente. Num clima soturno e ao mesmo tempo relax, Leave It All Behind cruza as fronteiras do rap, flertando com o soul moderno e o R&B, com onze canções prontas para serem tocadas em momentos bem específicos e especiais. Mas, apesar da boa performance de Phonte, com certeza os fãs do seu lado emcee gostariam de mais alguns versos nas músicas. Não custava nada...

The Foreign Exchange - Leave It All Behind
01. Daykeeper feat. Muhsinah
02. Take Off The Blues feat. Darien Brockington
03. All Or Nothing/Coming Home To You feat. Darien Brockington
04. I Wanna Know
05. House Of Cards feat. Muhsinah
06. Sweeter Than You
07. Valediction
08. If She Breaks Your Heart feat. Yahzarah
09. If This Is Love feat. Yahzarah
10. Something To Behold feat. Darien Brockington & Muhsinah
11. Leave It All Behind

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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vídeo: Common Market - Trouble Is

Vídeo do primeiro single do álbum Tobacco Road, ambientado na mesma cidade sulina que serve de palco para a história contada no disco. Trouble Is é a música mais radiofônica no disco, um beat acelerado, com um bom refrão e RA Scion alternando seu flow.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Single: Jedi Mind Tricks - Monolith

Um dos grupos mais aclamados do underground americano está prestes a lançar seu novo álbum. O produtor Stoupe e o emcee Vinnie Paz uniram-se novamente ao também emcee Jus Allah, que já tinha feito parte do grupo nos primeiros trabalhos, e devem lançar ainda em outubro History of Violence, que só pelo nome já mostra que a pegada do grupo continuará a mesma.

Neste primeiro single, intitulado Monolith, algumas marcas registradas do grupo podem ser rapidamente percebidas: o beat complexo de Stoupe, que aliou um sample vocal bem original, diferente daqueles geralmente usados: em resumo, é uma voz feminina cantando calmamente - parece até ser em espanhol - e de forma que complementa bem o instrumental. A bateria é simples, não tão pesada, mas ainda assim efetiva. A outra característica do grupo, o vocal agressivo de Vinnie Paz também está bem evidente, uma vez que ele novamente faz uso de suas letras cheias de referências políticas, com imagens violentas, escritas em uma complexa estrutura de rima, cheia de rimas multi-silábicas e internas. Jus Allah, por sua vez, não tem uma performance muito destacada, embora só sua presença já dê ao grupo a química dos primeiros álbuns.

Enfim, este primeiro single, a princípio, causa algum estranhamento, talvez pelo estilo mais calmo da faixa, mas depois de um tempo já fica perceptível que seguirá a história de lançamentos de qualidade do grupo, sempre mantendo seu estilo. O único senão da faixa é uma pequena "propaganda" no meio da música. Infelizmente, uma versão limpa da faixa ainda não caiu na internet. Assim que aparecer, eu substituo o link aqui. Por enquanto, fiquem com esta prévia de mais um album bastante promissor do Jedi Mind Tricks.

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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Single: MC BGame - Eu Tô No Jogo

Mais um emcee aqui do Rio procurando seu espaço. Segue o release de MC BGame:

MC pioneiro em sua cidade, e um dos poucos da região Sul Fluminense, inicia sua caminhada no mundo do rap no ano de 2007, onde fez muitas gravações e composições,que mostram sua genialidade na composição e versatilidade nas rimas. Agora lança seu novo single "Eu To No Jogo", com produção do beat maker da banca Klasse Korreria, Green Alien. É só esperar e MC Bgame vai invadir a cena de assalto.

5 de setembro,tarde de calor, um mic,uma voz,um produtor, de tudo isso sai o resultado,o novo single "Eu To No Jogo" do MC Bgame, com beat produzido por Green Alien.
Vale a pena conferir!

Download de "Eu Tô No Jogo"

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