sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

5º: Wu-Tang Clan - 8 Diagrams


Produtores: RZA(todas as faixas), Easy Mo Bee(co-produziu a faixa 2).
Participações: Dexter Wiggle, Erykah Badu, Gerald Alston, Dhani Harrison, John Frusciante, George Clinton, Sunny Valentino e Tashmahogany.

Alguns álbums têm a singular característica de crescerem aos poucos. Só depois de ouvi-los por algum tempo é que conseguimos perceber o quanto são bons. Este é o caso do novo álbum do lendário super grupo da costa leste, o Wu-Tang Clan. Embora muitos fãs se decepcionaram com a direção tomada pelo grupo, longe da obra prima Enter The Wu-Tang, é inegável o talento e a química que os emcees de Shaolin possuem juntos, apesar das brigas internas.

Embora não faça nenhuma grande inovação nem expanda os limites da música rap, RZA está bastante criativo aqui e inova em relação à sonoridade que o fez famoso no meio da década de 90. O ponto chave para entender(e apreciar) o novo álbum do Wu é se desvencilhar das expectativas acerca do antigo som do grupo, e encarar o novo estilo sem preconceitos. Feito isso, podemos reconhecer em 8 Diagrams um dos melhores álbuns do ano.

Liricamente, os emcees do grupo continuam tão bons e consistentes quanto sempre foram quando estão juntos. Method Man, porém, se destaca pela ferocidade com que ataca o microfone a cada vez que sua presença é requisitada.É dele o primeiro verso do disco, e ali percebemos que Tical está de volta:

"Acelerando pela auto-estrada, apenas me siga enquanto eu inovo
muitos tentam e imitam, medalhões do tamanho de um prato de comida
vacile e veja sua comida sumir, casaco de pele para o inverno, espere
eu estou tentando trazer a sensualidade de volta(Sexy Back) que nem Timbaland e Timberlake
rimando como uma metralhadora de uma vadia de Cali
diga praquela comediante para dar tiros naquele Denali(carro)
RZA você sabe como a gente faz, como que nós andamos
eu não como morangos, mas comeria um morango como a Halle(Halle Berry, atriz)
o criminoso do jogo, minhas damas têm o pé para dentro
mas eu continuo o mesmo maluco de antes
uh, a criança que cresceu sozinha, que ainda tem um flow cabuloso
eu sou tipo Barry Bonds em qualquer coisa que o RZA faça"

Os temas são os mesmos que consagraram o grupo: battle rap e auto-exaltação com metáforas baseadas em kung fu, xadrez e cultura popular ainda predominam, mas as coisas continuam interessantes quando os emcees contam histórias do gueto em "The Heart Gently Weeps", a trajetória do lixo ao luxo em "Stick Me For My Riches" e falam sobre relacionamentos(!) em "Starter", e religião em "Sunlight", faixa-solo de RZA. Mas é em "Life Changes" que eles brilham, ao homenagearem o falecido Ol Dirty Bastard, na melhor música do álbum.

Agora, a produção, o pivô de toda a confusão que envolveu o grupo nos últimos meses, com alguns integrantes discordando do novo som do grupo. É óbvio que todo fã do grupo espera sempre beats no estilo do álbum de estréia do grupo, mas é igualmente óbvio que as pessoas evoluem, e conseqüentemente, o som que elas fazem também. RZA é um claro exemplo disso.

Ainda assim, o produtor ainda traz aquele velho som do Wu em vários momentos do álbum, atualizando-o: "Campfire" tem inclusive os famosos samples de kung fu; "Take It Back" é um beat minimalista com um linha de baixo simples para Ghostface Killah quebrar tudo; "Rushing Elephants" tem um sample de metais reminiscente do álbum Wu-Forever; "Weak Spot" possui um break já famoso, com violinos e efeitos sonoros sensacionais; a própria "Life Changes" é bem minimalista, com um piano esparso dando o toque fúnebre à faixa.

RZA tem tempo ainda para aumentar seu leque de beats, e usa o sample dos Beatles muito bem em "The Heart Gently Weeps", o símbolo maior de como um som diferente tradicional não é necessariamente ruim. "Wolves", uma faixa bem no estilo de "Gravel Pit", funciona muito bem também e tem tudo para tocar em rádios, com o sample vocal genial do fundo e o beat acelerado. "Stick Me For My Riches" tem um minuto de cantoria, Inspectah Deck resfriado e com voz irreconhecível, e hi-hats aceleradas no melhor(ou pior) estilo Dirty South; mas ainda assim tem RZA e Method Man cuspindo fogo e a cantoria, quando você presta atenção, até que funciona no final das contas, principalmente quando se junta aos emcees nas linhas que antecedem o refrão.

Enfim, comparar 8 Diagrams com os dois primeiros álbuns do grupo soa até como uma covardia com o álbum. Assim como é uma covardia comparar o Wu com artistas como Soulja Boy, Lil'Jon, Jim Jones, Lil'Wayne etc. Este pode não ser o melhor álbum que o grupo pode criar, mas ainda assim está muito acima do nível atual do rap. Até porque não é qualquer grupo que põe samples de kung fu e mantras chineses em suas músicas...

Wu-Tang Clan - 8 Diagrams
  1. Campfire
  2. Take It Back
  3. Get Them Out Ya Way Pa
  4. Rushing Elephants
  5. Unpredictable feat. Dexter Wiggle
  6. The Heart Gently Weeps feat. Erykah Badu, Dhani Harrison & John Frusciante
  7. Wolves feat. George Clinton
  8. Gun Will Go feat. Sunny Valentine
  9. Sunlight
  10. Stick Me For My Riches feat Gerald Alston
  11. Starter feat. Sunny Valentine & Tashmahogany
  12. Windmill
  13. Weak Spot
  14. Life Changes
  15. Tar Pit
  16. 16th Chamber [O.D.B Special]
Download

Veja aqui a tradução da música "Life Changes"

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

6º: Sean Price - Jesus Price Supastar


Produtores: 9th Wonder(faixas 3,6,12 e 14), Khrysis(5,10,11,13,15), Masse(16), PF Cuttin(1), 10 for the Triad(2 e 7), Illmind(4), Moss(8), Tommy Tee(9).
Participações: Rock, Buckshot, Ruste Juxx, Flood, Sadat X, Steele, Loudmouf Choir, Skyzoo, Phonte, Chaudon, Block McCloud.

Na época de ouro do rap de Nova Iorque, em meados dos anos 90, dois grandes coletivos faziam sucesso na cidade. Wu-Tang Clan e Boot Camp Click seguiam uma receita parecida: um grande número de emcees, vários lançamentos solos, rimas afiadas e beats pesados providos por produtores geniais. Hoje em dia, estes dois lendários coletivos parecem compartilhar a mesma situação: ambos ainda têm uma enorme base de fãs, mas não estão mais em evidência como no seu auge. Também nas carreiras solos de seus membros eles estão iguais: do lado de Shaolin, Ghostface Killah assumiu a dianteira com trabalhos consistentes e aclamação da crítica. Do lado dos generais do rap, Sean Price, antes conhecido como Ruck, tem estado na linha de frente da batalha.

Depois de ressurgir das cinzas com Monkey Barz, apresentando um flow marcante, com letras bem escritas e bem humoradas, Sean Price lançou no começo de 2007 "Jesus Price Supastar", uma clara evolução do seu álbum de estréia. Estreitando suas ligações com um coletivo que hoje está no seu auge, a Justus League, de 9th Wonder e companhia, Price garantiu um time estelar na produção do álbum. Tudo o que restava era manter o nível elevado das letras do último trabalho. Isso era fácil para o rapper mais falido que você conhece.

Não espere letras inteligentes e críticas aqui. Apesar de extremamente bem escritas, elas tomam outra direção: o humor e a auto-exaltação/auto-difamação. Em uma indústria em que 90% dos emcees clamam ser ricos, Price toma o caminho contrário, se declarando o mais falido de todos. Isso imediatamente o destaca e garante a ele a atenção necessária. O fato de contar fatos reais de sua vida quando estava na pior conquista ainda mais o ouvinte e torna Sean Price um emcee único no jogo atual do rap.

"Mess You Made"(baixe a tradução completa da letra aqui) é o grande exemplo desta estratégia, com Price contando sobre seus tempos de vacas magras, quando vendia crack depois do próprio show, trabalhou na construção civil e até tentou se matar. O bom humor do emcee também permeia toda o álbum, com rimas divertidas sendo cuspidas a toda hora. Price mostra que seu repertório é repleto: aliterações em "King Kong" e "P-Body", rimas internas e multi-silábicas em "Intro(Jesus Price)" e "Stop".

As participações especiais também constituem um dos pontos altos do álbum. Phonte foi tão bem em "Let It Be Known" que Price disse que teve de reescrever sua parte depois de ouvir o emcee do Little Brother. Chaudon mostra um flow sensacional em "Hearing Aid". O parceiro de Price no Heltah Skeltah, Rock, também aparece cantando o refrão de "P-Body" e "King Kong" e rimando em "Church".

Já nas produções, 9th Wonder e Khrysis produzem a maioria do álbum, e fazem um bom trabalho. 9th abusa dos seus já tradicionais samples vocais em beats como "P-Body" e "Violent". Khrysys oferece beats mais pesados, como "King Kong" e "Hearing Aid". No geral, os instrumentais seguem uma linha definida, bem no estilo de Wonder. "Church" é talvez a que mais foge dessa linha e, embora seja um bom beat produzido por Tommy Tee, parece fora de lugar no álbum.

Enfim, mais um ótimo álbum de 2007. Sean Price é um emcee diferente, bastante carismático e divertido, que, embora suas letras não sejam tão profundas, são bem escritas e com um toque de humor sensacional. O casamento entre Boot Camp Clik e Justus League funcionou perfeitamente, como ocorrera na parceria Buckshot e 9th Wonder.

Sean Prince - Jesus Price Supastar
1 Intro (Jesus Price)
2 Like You
3 P-Body feat Rock
4 Cardiac feat Buckshot, Ruste Juxx & Flood
5 Stop
6 Violent
7 Da God feat Sadat X & Buckshot
8 Oops Upside Your Head feat Steele
9 Church feat Rock & Loudmouf Choir
10 King Kong feat Rock
11 One
12 You Already Know feat Skyzoo
13 Directors Cut
14 Let It Be Known feat Phonte
15 Hearing Aid feat Chaudon
16 Mess You Made feat Block McCloud

Download

Download da tradução da música "Mess You Made"

Vídeo da música "King Kong":


Vídeo da música "One":



Vídeo da música "Mess You Made":

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

7º: Killah Priest - The Offering


Produtores: Godz Wrath(faixas 1,6,9,11 e 13), Arythmetic(2), Kount Fif(3), Shakim Allah(5,16), Sane 720(7), 4th Disciple(8), Chuckie Madness(10), Sam Sneed(17).
Participações: Nas, Hell Razah, Ras Kass, Canibus, Kurupt, Bloodsport, Immortal Technique, Zariya e Stori James.

Killah Priest sempre foi um dos mais respeitados emcees afiliados ao Wu-Tang Clan. Aclamado pela crítica como um dos melhores letristas do jogo, o cara teve vários altos e baixos na carreira, inclusive cortando e depois reatando lanços com o Wu. Sua escrita, porém, continuou impecável durante todo esse tempo. Com The Offering, Priest volta a chamar a atenção de um maior número de fãs e não desaponta.

O grande carro-chefe do álbum reside nas letras complexas, cheias de referências históricas e bíblicas, com um toque profético e ainda assim bastante relacionado às ruas. A técnica de Priest é tão apurada que você nem percebe o quão complexa é a sua escrita. Junte isso a um flow agressivo e ouvir Killah Priest é como se ele abrisse sua cabeça e despejasse seus versos lá dentro.

Em The Offering, podemos perceber um emcee fiel ao seu estilo, sem muitas tentativas de expandir seus temas. As metáforas com fundo bíblico misturadas à auto-exaltação permeiam todo o álbum, mas são ainda mais evidentes em "Uprising" e "Salvation". Priest também tem um repertório mais político e mostra isso em "Standstill" e "Gun for Gun", com participações de dois pesos pesados: Immortal Technique e Nas, respectivamente. Em "Ghetto Jezus" e "Osirus Eyes", Priest vai ainda mais fundo nos temas religiosos.

Porém, é nos (poucos) novos territórios explorados que o emcee tem mais sucesso. "Essential" é uma música mais abstrata, analisando o que é essencial às nossas vidas. "Happy"(baixe a tradução completa aqui) é outra música bastante pessoal, com Priest contando a história de sua vó e depois de uma mãe em coma e seu filho. "How Many" é um desabafo de Priest, que diz não entender o porquê de não ser tão reconhecido quanto outros rappers, e no refrão resume tudo:

"Quantos emcees eu preciso derrotar?
Em quantas rimas eu vou precisar mostrar minha técnica?
Quantas mais metáforas?
Quantas mais cartas?
Quantas vezes eu vou precisar mostrar que sou melhor do que vocês todos?"

Em "Truth B Told", Priest segue a linha "contra-emcees-de-plástico" e desabafa sobre como é incompreendido pela indústria:

"Espere um pouco, me deixe explicar uma coisa
eu assinei meu primeiro contrato com a Geffen Records
eu disse àqueles otários que eu não era um passo em falso
na época do meu lançamento, aqueles bastardos estavam tipo:
'legal, nós vamos te dispensar, nosso diretor está procurando outro'
eu disse que iria processá-los, eles disseram: 'tudo bem, preto
nos leve ao tribunal junto com seu advogado Larry Stud Nicky
e nós vamos acabar com ele também", eu quase me senti arruinado
e no meio da confusão eles comentavam entre eles,
'nós não entendemos a música dele
, como nós vamos comercializar isso?
ele fica falando sobre religião
e profecia'
eu disse, "porra, mas isso ainda é rua, é verdadeiro, as pessoas podem se identificar'
em resposta, eles disseram: 'Priest, jogue essa merda no lixo'
apesar de caras como Nas, Jadakiss e Pun me falarem que eu era bom
quase no nível de Kool G Rap e o KRS-One
e GZA me disse que toda essa merda iria acontecer, pra eu continuar rimando
eu disse "pode até ser mano, mas eu não sou otário"
e ainda que essas gravadoras tentem me ferrar, este é Priest
Volume Um, mano, essa merda tá prestes a fica feia"

Mas não é só nas letras que o álbum se destaca. Os beats são bem consistentes, sem um ponto alto nem baixo, e surpreendem por não trazerem o tradicional som do Wu. Outro ponto curioso é que o álbum quase inteiro é produzido por nomes desconhecidos, à exceção de 4th Disciple. "Uprising" é composto por um sample vocal, bem no estilo que fez Kanye West famoso. O beat à la DJ Premier, mas bem menos acelerado, com strings em "Melodic Pt.2" também é um dos pontos altos. Nota-se também uma tendência para instrumentais mais sombrios, como no piano de "Ghetto Jezus" e na sensacional "Til Thee Angels Come". Em alguns momentos, beats mais tranquilos também aparecem, dando um equilíbrio interessante: é o caso de "Happy" e "PJS". Para finalizar a bem sucedida mistura, músicas como "Gun For Gun" e "How Many" são bem mais aceleradas e agressivas, exatamente como as letras e o flow de Priest.

Depois de alguns anos sumido no radar dos fãs de rap, Killah Priest voltou com um álbum bem feito e bastante consistente, com poucas decepções e fazendo algo do qual outros artistas inexplicavelmente abdicam: procurando manter seu estilo e agradar seus fãs, sem prejudicar a busca por inovações. Letras inteligentes e complexas, beats coerentes com cada música e um emcee extremamente agressivo. Esta é a oferta de Priest.

Killah Priest - The Offering
01. The Offering (Intro)
02. Salvation
03. Gun For Gun (feat. Nas)
04. How Many
05. Uprising
06. Melodic Pt. 2 (feat. Hell Razah)
07. Priesthood
08. Inner G (feat. Ras Kass, Canibus & Kurupt)
09. Ghetto Jezus
10. The Offering
11. Truth B Told
12. Osirus Eyes
13. Standstill (feat. Bloodsport & Immortal Technique)
14. PJS (feat. Zariya)
15. Happy (feat Stori James)
16. Essential
17. Til Thee Angels Come (feat. Blackmarket)

Download

Download da tradução da música "Happy"

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

8º: Percee P - Perseverance

Participações: Madlib, Vinnie Paz, Guilty Simpson, Diamond D, Chali 2na, Prince Po, Aesop Rock
Produtor: Madlib

O povo brasileiro, talvez melhor do que qualquer outro, sabe muito bem o significado de perseverança: não desistir do sonho, lutar bastante, até conseguir atingir o que deseja. No posto mais alto da política nacional, está um grande exemplo. Também no underground do rap norte-americano, temos um ótimo exemplo. Porém, o veterano Percee P, ao contrário do nosso presidente da república, não decepcionou quando finalmente atingiu seu objetivo. Tampouco mudou seus ideais para conseguir chegar onde queria. Sorte nossa.

Há quase 20 anos rimando e batalhando todo e qualquer emcee que aparecesse na frente, Percee P finalmente lançou seu álbum de estréia, Perseverance, e mostrou o resultado de duas décadas afiando suas rimas e seu flow. Percee entrou facilmente no seleto grupo de grandes letristas do rap, mostrando em cada faixa uma técnica brilhante e impecável, com toneladas de rimas internas e multi-silábicas em cada verso que ele cospe. Músicas como "Legendary Lyricist", "Throwback Rap Attack" e "The Hand That Leads You" mostram bem isso. Junte isso a participações do calibre de Vinnie Paz, Chali 2na, Prince Po(ex-Organized Konfusion), Aesop Rock, entre outro, e temos um álbum quase perfeito liricamente.

Esse quase reside no fato de que essa habilidade lírica poderia ser melhor aproveitada se Percee expandisse os temas abordados no álbum. Ao contrário, as rimas de batalha e de auto-exaltação(ou bragadoccio, como dizem nos EUA) dominam o álbum, mostrando perfeitamente a fúria que o emcee exala a cada música. Talvez essa seja a explicação para a aposta nos battle raps. Outra possibilidade se baseia justamente no perfil de Percee. Depois de tantos anos devorando emcees em batalhas e construindo sua reputação em cima disso, nada mais justo do que dar aos fãs aquilo que ele sabe fazer melhor. O consenso é que Percee é um emcee muito acima da média e com uma escrita bem complexa, que pode e deve usar esse dom para abordar um número maior de temas.

Musicalmente, o álbum não consegue acompanhar o nível lírico, embora Madlib faça um belo trabalho aqui. Portando dezenas de breaks de funk, o produtor presenteia Percee P com beats com a cara do emcee, remetendo aos tempos em que as baterias eletrônicas tinham pouquíssima capacidade para samples e os tais breaks eram o esqueleto dos instrumentais. Um ótimo exemplo dessa homenagem aos anos dourados do hip hop pode ser vista no beat de "Legendary Lyricist", um loop funkeado repetindo por toda a faixa e ainda assim fazendo você balançar o cérebro até ficar tonto. Porém, isso não significa que Madlib tenha simplificado seus beats. O sample picotado de "The Lady Behind Me", o suíngue de "Ghetto Rhyme Stories" e o boom-bap eletrônico de "Raw Heat" estão aí para desmentir esta tese.

Enfim, em termos de emceeing, com certeza Perseverance merece esse espaço entre os 10 melhores álbuns do ano, também por valorizar justamente algo esquecido atualmente no rap: a letra, o cuidado com as rimas, o capricho ao escrever cada verso. Valeu a pena esperar por duas décadas para ouvir um álbum inteiro de Percee P quebrando tudo no microfone.

Percee P - Perseverance
  1. Intro
  2. The Hand That Leads You
  3. The Man To Praise
  4. Legendary Lyricist feat Madlib
  5. Watch Your Step feat Vinnie Paz & Guilty Simpson
  6. Who With Me?
  7. 2 Brothers From The Gutter feat Diamond D
  8. Ghetto Rhyme Stories
  9. Throwback Rap Attack
  10. No Time For Jokes feat Chali2na
  11. Last Of The Greats feat Prince Po
  12. BX (Interlude)
  13. Put It On The Line
  14. The Dirt And Filth feat Aesop Rock
  15. LA (Interlude)
  16. Mastered Craftsman
  17. Raw Heat (45 Version)
  18. The Lady Behind Me
  19. Outro
Download

Vídeo da música "Throwback Rap Attack":


Vídeo da música "Put It On The Line":

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

9º: Y Society - Travel At Your Own Pace

Viaje de acordo com a sua própria velocidade. É essa a mensagem principal do álbum de estréia da dupla Insight e Damu, o projeto Y Society. Os dois procuraram, neste álbum, fazer o que muitos artistas do underground americano têm feito: trazer o rap de volta aos anos 90, com beats pesados e samples de jazz. Y Society se destaca de todos esses artistas por, além de cumprir o objetivo com êxito, o fazem de uma forma apaixonada, com uma emoção que transborda a cada bumbo, a cada caixa, a cada sílaba.

Insight, que começou sua carreira como produtor, domina o mic em todas as faixas e tem um estilo bastante parecido com emcees como Guru, Q-Tip e De La Soul, no que tange às letras. Sempre com um conteúdo positivista e pessoal, o emcee se destaca principalmente quando procura analisar criticamente o comportamento humano, o que o leva a pensamentos sobre a sociedade, em geral. "How Many of Us" tem talvez o melhor conceito e letra:

Quantos de nós já assistiram às notícias e perceberam que nós estamos sendo enganados?
Quantos líderes continuaram firmes por uma causa na qual eles acreditavam?
Tinham um objetivo e o alcançaram, ou souberam a hora certa de fugir?
Quantos motoristas viram a polícia e abaixaram a velocidade?
Quantos de nós cresceram com uma turma ou correram atrás dos seus sonhos?
quantos disseram que eles não tinham uma atitude e sabiam o que eles eram?
todos envolvidos em pequenos planos, roubos regulares ou eram viciados?
pegaram dinheiro em casa para fins pessoais?
À noite vestindo camisetas que eram roxas e verdes?
sentiram uma arma no braço no sonho e depois gritaram?
acordaram putos já que a realidade era realmente um sonho?
pegou o copo que estava sujo porque pensou que estava limpo?
percebeu que tinha olhos e um cerebro do mesmo tamanho?
ou trabalhou duro e ainda luta para vencer na vida
veja, nós não precisamos de um juiz, a receita é a mesma
veja que quanto mais nós temos em comum significa que menos nós reclamamos

Insight também rima à própria velocidade. Com um flow bastante versátil, ele consegue "passear" tranqüilamente pelos beats elaborados por Damu. Em "Never Off", o single do álbum, o boom-bap pesado desafia Insight a manter um flow agressivo e, ao mesmo tempo, bastante emocional.

Porém, está na metade musical a grande força do álbum. Damu the Fudgemunk faz um trabalho extremamente consistente: tente achar um único beat "mais ou menos". Você não vai achar. Damu é um produtor meio nerd, um pesquisador inveterado e de extrema habilidade. Assim, ele consegue criar beats reminiscentes de meados dos anos 90, mas que ainda soam como uma atualização. Os beats são mais bem definidos, embora ainda pesados; os samples, bem sacados e os scratches, bem executados. "This is an Introduction" tem um quê de música brasileira no sample principal e cria uma atmosfera de "um dia de verão à tarde". "Never Off" tem um sample eletrônico que casa perfeitamente com a bateria. A bateria, aliás, é sempre pesada e acelerada. Nem a linha de baixo tranqüila de "This Advice" consegue fazer Damu diminuir o ritmo. E, se a mensagem é viajar à própria velocidade, Damu deixa claro que a dele é máxima em "At My Own Pace", um breakbeat alucinado com samples vocais esparsos que obriga Insight a segurar a respiração para acompanhar o beat.

No fim, "Travel At Your Own Pace" é uma incrível viagem de beats classudos e letras positivas homenageando a melhor época do rap. Damu é um produtor bastante promissor e Insight, embora seja ofuscado pelo companheiro, faz um grande trabalho no comando do microfone. Este é daqueles álbuns em que, embora nenhuma música se destaque, nenhuma delas é ruim, o que faz com que você possa ouvir o pouco mais de uma hora de boom-bap clássico sem precisar pular nenhuma faixa.

Y Society - Travel At Your Own Pace
1. Intro
2. This is an Introduction
3. Never Off (On & On)
4. Hole in your pocket
5. This Advice
6. Good Communication
7. Scientist
8. Dizzy
9. How Many of Us?
10. Puzzles
11. What's Next?
12. In Command
13. Setting the Example
14. At my own Pace
15. Peace I'm out the door
16. Never Off (On & On) Insight Remix

Download

Vídeo do produtor Damu criando o beat de "Never Off":

sábado, 15 de dezembro de 2007

10º: Hell Razah - Renaissance Child

Produtores: Krohme, Dirty Needlez, Dev 1, MF Doom, Bronze Nazareth, Fabrizio Sotti, DJ Battle, Smokeshop Productions, Jordan River Banks, Focis, Shuko.
Participações: Tragedy Khadafi, Timbo King, R.A. the Rugged Man, Talib Kweli, MF Doom, Bronze Nazareth, Killah Priest, Ras Kass.

O Wu-Tang Clan não foi apenas um grupo de grande impacto no rap na década de 90. Além de fazer grande sucesso, o grupo ainda lançou um sem-número de emcees e produtores no jogo. Hell Razah foi um deles, estreando no grupo Sunz of Man junto com nomes como Killah Priest e 4th Disciple. Porém, o declínio do Wu culminou também no declínio, pelo menos em visibilidade, de seus afiliados.

Depois de anos desenvolvendo suas habiilidades, eis que Hell Razah retorna, com seu primeiro álbum. Renaissance Child foi lançado no primeiro semestre de 2007 e trouxe de volta ao jogo letras inteligentes e políticas, sem caírem para o lado do sermão. Hell Razah se mostra um emcee extremamente inteligente e religioso, exibindo em suas rimas inúmeras referências bíblicas e históricas, trazendo um estilo novo ao rap, parecido com seu parceiro Killah Priest. A grande proposta do álbum é iniciar o renascimento do rap, depois de Nas dizer que o mesmo estava morto.

E esse renascimento se dá, principalmente, pelas letras. Razah está impecável, falando sobre diversos assuntos, embora se paute principalmente em letras políticas. Apesar disso, ele ainda encontra tempo para falar sobre a história do hip hop em "Renaissance"(na qual R.A. cospe um dos melhores versos de sua carreira e domina a faixa completamente), sobre o estado atual do rap em "Buried Alive", história do povo africano em "Runaway Sambo" e "Chain Gang" e história da música negra em "Project Jazz". Poucos álbuns nos últimos anos mostraram uma temática tão séria e consistente quanto a mostrada neste projeto. Para os fãs de Immortal Technique e Public Enemy, a lírica agressiva e inteligente de Razah é bastante recomendada.

Musicalmente, apesar de vários produtores contribuírem para o álbum, a predominância é de beats pesados, com samples diversos. O saxofone loopado por MF Doom em "Project Jazz" é o ponto alto de um beat incomum, com uma bateria sendo subjugada pelo metal, o que não impede de Razah, MF Doom e Talib Kweli fazerem da faixa uma das melhores do álbum. O sample de guitarra psicodélica em "Musical Murdah" dá o tom perfeita para os flows agressivos de Razah e Ras Kass. O piano contínuo, somado ao sample vocal de "Renaissance" também merece destaque. Embora todos os beats sejam bem produzidos, a maioria é realmente ofuscada pela mensagem de Razah.

É muito interessante notar que o "lado B" do Wu-Tang esteja tão consistente e prolífico. Hell Razah é uma grande surpresa, com ótimas letras e uma consciência invejável, começando seu plano de renascimento do hip hop nas raízes: a poesia e o ritmo. Pena que pouca pessoas(eu inclusive) entendam inglês o suficiente para absorver tudo o que esse álbum oferece. O pouco que consegue-se depreender mostra o nível deste trabalho.

Download

Baixe Duas Letras Traduzidas do Álbum

Vídeo da música "Renaissance":

Os 10 Melhores Álbuns de 2007

Com o fim de mais um ano, é hora de analisar os trabalhos lançados em 2007 e os rumos tomados pelo rap em geral. Com o crescimento ininterrupto da internet afetando diretamente as vendas dos discos, artistas do mainstream que vendiam milhões, como 50 Cent e Kanye West, agora lutam para chegar à marca do milhão de cópias vendidas. Por falar em 50, 2007 viu o rapper cair bruscamente em popularidade, assim como seus fiéis companheiros de G-Unit. Apesar disso, novos emcees de plástico têm feito sucesso. A última bizarrice que o rap nos proporcionou se chama Soulja Boy. É ruim constatar também que o Dirty South e o snap rap continuam dominando as vendas, prejudicando inclusive os bons artistas existentes no Sul mas que ainda não se formataram ao moldes da indústria para alcançar sucesso comercial.

Mas nem só de más notícias viveu o rap em 2007. O underground americano continua muito forte e prolífico, com novos e bons nomes surgindo freqüentemente. Outros nomes que, embora antigos na cena não tinham alcançado notoriedade, finalmente mostraram todo o seu potencial. Um dos grupos mais lendários do rap, o Wu-Tang Clan, voltou ao combate esse ano, apesar de brigas internas.

Para resumir o ano, Boom Bap compilou uma lista dos 10 melhores álbuns do ano, com base totalmente subjetiva. Foi interessante notar que, embora não tenha mais o mesmo vigor de outrota, o Wu-Tang ainda tem seu impacto no rap. Dois emcees ligados ao grupo nova-iorquino estão no top 10: Hell Razah, com seu Renaissance Child, e Killah Priest, com The Offering. Alguns novatos também mereceram seu lugar entre os melhores: é o caso do emcee Blu, da Califórnia, que se juntou ao DJ Exile para lançar a obra-prima Below The Heavens. Outro grupo, não tão novato, mas bem desconhecido, a marcar presença foi o Y Society, de Insight e Damu, que homenageou os anos 1990 com Travel At Your Own Pace. Mas nem só de novatos o top 10 é composto: Wu-Tang e Common marcaram presença com álbuns maduros, 8 Diagrams e Finding Forever, respectivamente. Outro veterano que está no top é Percee P, que, ironicamente, lançou seu álbum de estréia somente neste ano, o poderoso Perseverance. Para completar a lista, três pesos-pesados do underground americano confirmaram seu talento para lançar grandes álbuns: Cunninlynguists, com Dirty Acres, Little Brother, com Getback e Sean Price, o carismático emcee da Boot Camp Clik, com Jesus Price Supastar.

Nos próximos dias, seguirão posts dedicados a cada álbum, em ordem decrescente em relação à posição no ranking. Junto com os posts, uma resenha do álbum e, na medida do possível, uma letra traduzida.

Muitos álbuns ficaram de fora dessa lista, embora também tenham seu valor. Vale lembrar que a escolha foi feita baseada puramente no meu próprio gosto, ou seja, é composta pelos álbuns que mais me agradaram.

Discorda de algum nome? Acha que algum outro álbum merecia estar na lista? Comente!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Lupe Fiasco: The Cool

Último grande lançamento do ano. Lupe Fiasco é um jovem emcee que apareceu primeiro para os fãs ao participar de uma música do segundo álbum do Kanye West, "Late Registration". Logo depois, ele conseguiu um contrato com uma grande gravadora e lançou "Food and Liquor", no ano passado, e foi bastante elogiado pelos críticos.

The Cool expande um conceito criado por Lupe no primeiro álbum, na faixa "The Cool". Neste novo álbum, ele apresenta dois novos personagens, "The Game" e "The Streets", um casal que acaba criando o órfão "The Cool". Entretanto, o álbum não é todo conceitual. Segundo o emcee, apenas 4 ou 5 faixas vão tocar neste conceito. Musicalmente, o álbum tem uma aura predominantemente mais sombria, embora não seja uma regra. Os destaques são: "Go Gadget Flow", com Lupe rimando rapida e agressivamente sobre um beat um pouco mais leve; "The Coolest", um beat mais sombrio, com um sample vocal muito bom; "Superstar", um dos singles, com ótima letra de Lupe; "Hip Hop Saved My Life", uma ode emocionante à cultura; e "Gotta Eat", na qual Lupe rima sob a perspectiva de um hamburger, comparando de forma metafórica a comida à vida.

Lupe Fiasco - The Cool
1-Baba Says Cool For Thought
2-Free Chilly
3-Go Gadget Flow
4-The Coolest
5-Superstar Feat. Mathew Santos
6-Paris Tokyo
7-High Definition Feat. Snoop Dogg and Pooh Bear
8-Gold Watch
9-Hip-Hop Saved My Life Feat. Nikki Jean
10-Intruder Alert
11-Street On Fire Feat. Mathew Santos
12-Little Weapons
13-Gotta Eat
14-Dumb It Down Feat. Gemini and Graham Burris
15-Hello Goodbye
16-The Die Feat. Gemini
17-Put You On Game
18-Fighters Feat. Mathew Santos
19-Go Baby Go

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Percee P: Perseverance Remix

Versão remix do grande álbum lançado por Percee P neste ano. Não satisfeito por ter produzido todo o álbum original, o produtor Madlib resolveu remixar algumas das faixas, colocando novos beats. Eu já tinha colocado o primeiro álbum do Percee aqui e falado sobre ele, mas vou resumir: para quem não conhece, o cara é um dos emcees mais antigos ainda no jogo, mas que só lançou um álbum oficial neste ano. Percee é um emcee muito talentoso, com uma escrita impressionante, uma estrutura de rimas bastante intricada e complexa.

Nesta versão remix, Madlib expande mais os sons a serem explorados. Se, na versão original, o produtor usou principalmente samples de funk, nos remixes ele foi mais eclético, usando música indiana, resultado direto de sua recente pesquisa musical, além de samples de jazz, soul e alguns sons mais futuristas. O resultado dessa "expansão" resulta em belíssimos beats como "Ghetto Rhyme Story", com um clima jazzy, "Legendary Lyricist, que usa o mesmo sample de "Juicy", do Notorious BIG, "The Hand That Leads You", com influências da música indiana, e "The Woman Behind Me", usando o mesmo sample vocal usado por RZA no tributo do Wu-Tang ao ODB, no último álbum do grupo.

Pessoalmente, eu esperava algumas doideiras de Madlib, visto que este é um disco remix, o que daria uma maior liberdade para essas experimentações. Ao contrário, o que temos são beats simples, mas ainda assim muito bons, cujas experimentações se limitam a novos samples experimentados, como os sons futuristas por exemplo. Liricamente, Percee P está no topo de sua forma, com um flow agressivo e rimas complexas, que fazem com que qualquer beat encaixe bem e resulte numa boa música.

Percee P - Perseverance Remix
1. Put It On The Line
2. 2 Brothers From The Gutter feat. Diamond D
3. The Hand That Leads You
4. Who With Me
5. NY ( Interlude )
6. The Dirt And Filth feat. Aesop Rock
7. Ghetto Rhyme Story
8. Legendary Lyricist feat. Madlib
9. OX (Interlude)
10. Real Talk
11. Throwback Drum Attack feat. Karriem Riggins
12. No Time For Jokes feat. Chali 2na
13. Last Of The Greats feat. Prince Po
14. The Woman Behind Me

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Pumpkinhead: Orange Moon Over Brooklyn

Pumpkinhead é um emcee do Brooklyn, Nova Iorque, bastante conhecido no cenário underground americano, principalmente por sua participação na famosa música de Immortal Technique, "Peruvian Cocaine". Pump' é um emcee bastante voltado para o lado das batalhas de rap, e isso pode ser notado em suas músicas, recheadas de punchlines.

Orange Moon Over Brooklyn é o álbum de estréia do cara, que antes tinha lançado o EP Beautiful Mind. Orange é todo produzido por Marco Polo, um produtor também bastante requisitado no underground. Liricamente, Pumpkinhead é um emcee bastante versátil, com um senso de humor apurado, e aborda temas que variam desde falsos emcees até política, passando por vida cotidiana e uma homenagem a clássicos do hip hop.

Os destaques vão para "I Just Wanna Rhyme", com uma roda de freestyle hilária no final da música, "Authentic", um beat muito bem feito com toques de jazz, "Grenades", um ataque aos políticos americanos, e "The Best", com um sample de orquestra muito bem usado, com o emcee falando sobre as boas coisas da vida.

Pumpkinhead - Orange Moon Over Brooklyn
1.Alkaline N Acid (Feat Raiden)
2.Autthentic
3.I Just Wanna Rhyme
4.Trifactor
5.Grenades
6.DP One Interlude
7.Rock On
8.Anything
9.Swordfish (Feat Archrival)
10.Emcee
11.Jukebox
12.The Best
13.Monkey Shine (Feat The Plague)
14.Here
15.Anthem For The End Of The World

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domingo, 9 de dezembro de 2007

Prince Ali: I Miss 1994


Prince Ali é um emcee do Canadá, relativamente novo na cena. Eu não achei muitas informações sobre o cara, peguei esse disco basicamente por causa do nome: "Eu Sinto Falta de 1994". Esse ano foi talvez o mais prolífico dos últimos tempos, com o surgimento de artistas como Nas, Wu-Tang Clan, The Notorious B.I.G., e a consolidação de nomes como Gangstarr e Pete Rock. Pessoalmente, meu estilo preferido de rap é aquele feito em Nova Iorque nesta época, com beats sujos e simples(o famoso boom-bap, daí o nome do blog). A intenção de Prince Ali era homenagear este som, atualizá-lo para 2007, mas sem perder sua essência.

I Miss 1994 não é um disco, e sim uma mixtape(ou EP, o próprio cara não sabe ao certo o que é), inclusive disponibilizada para download gratuito pelo próprio artista no seu myspace. O álbum tem participações de grandes nomes do rap nova-iorquino como Louieville Sluggah, do Boot Camp Clik, e Tragedy Khadafi, além de alguns novos nomes como Kev Brown.

O álbum cumpre bem a sua proposta de resgatar o somfeito em Nova Iorque em meados da década de 90, com beats simples e acelerados, muitos samples de jazz. Prince Ali também é um bom emcee, apesar de jovem, aborda temas interessantes, misturando coisas pessoais com a realidade das ruas.

Os destaques vão para as faixas: "Incisetroduction", a introdução do álbum, com um beat sensacional, pena ser apenas a introdução e Prince Ali não rimar nela, mas o beat realmente se destaca, e mostra o que está por vir, com músicas como "Righteous Scrolls", "Material Possessions" e "On Our Way".

Prince Ali - I Miss 1994
1- Incisetroduction
2- Grew Up feat Louieville Sluggah
3- On Our Way
4- Material Posessions
5- Righteous Scrolls feat Tragedy Khadafi
6- Beat Knock
7- Incisimission
8- Rap Author feat Craig G
9- Respect
10- Movementes feat Kev Brown
11- Rap Author feat Craig G (Incise Remix)
12- Outro

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Coletânea: Hip Hop Skate Music Vol 1

Coletânea idealizada pelo Walber Browne, um maluco do Maranhão, que juntou várias músicas que falavam sobre skate para o projeto. Iniciativa bastante interessante, com vários sons muito bons.

Não vou escrever muito, porque o cara pode falar melhor do que eu sobre o projeto dele, então quem quiser mais informações, acesse o blog do cara: http://ideiaseatitude.blogspot.com/.

Por sinal, muito bom o blog.

Walber Browne - Mais Um Loco Apresenta: HipHopSkateMusic - Mix Tape Vol.1
01-Intro - Walber Browne
02-Somos Extremes No Esporte E Na Musica - CBJr
03-S3T Sk8 4 Funk - Bocão
04-Skatista Pé na Lixa - Controlamente
05-Overall - Locaostreeteiros(MVS,dj Robert) Feat.Coléo Infantaria
06-Sexo, Cerveja, Sk8 e Rap - RPW
07-Rodas e Rolamentos - X4
08-Speedêra - PMC
09-Parceiros - Plano B
10-Auto Biografia - Slim Rimografia
11-Ganguerage - Gasper
12-Quem Viver Vera - Dominantes(Pateum, Kamau e Rick)
13-Reflexão De Quebrada - Parabola
14-Suldamerica - Controlamente Feat. Chileno
15-Como Ouvirão Se Não Tem Quem Pregue - Plano B
16-Onde For - Gasper
17-Sk8 (Instrumental) - T.A. Calibre 1
*Bonus
18-Aba reta - Ideologia e Tal Feat. Duck Jay e Look
19-Pirituba Parte II - RZO
20-BCSP(Bate Cabeças de São Paulo) - RPW
21-Pule ou Empurre - RPW

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quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Pete Rock: Soul Survivor 2 (a pedidos) + Letra Traduzida

Segundo álbum do solo do Pete Rock, seguindo a mesma linha do anterior, com todas as produções assinadas pelo cara e vários emcees convidados em cada som. A diferença é que, neste álbum, Pete não faz tantas aparições rimando como no anterior.

Neste novo álbum, percebe-se a preocupação do cara em produzir instrumentais que combinem com cada convidado. Outra coisa notável é a sutil tentativa do Soul Brotha #1 em produzir beats um pouco mais voltados para as pistas, como no caso de "It's the Postaboy" e da belíssima "It's A Love Thing". O time de emcees convidados aqui representa a nata da nova geração que vem se destacando no underground, junto com nomes consagrados: Little Brother, Dead Prez, Talib Kweli, Slum Village, Pharoahe Monch, GZA e RZA, além do antigo parceiro CL Smooth.

O destaque vai para as faixas: "Give It To Ya", com a dupla do Little Brother numa sintonia perfeita e um beat que parece ter sido produzido por 9th Wonder; "Just Do It", com rimas de incentivo cuspidas por Pharoahe Monch; "It's A Love Thing", uma música mais romântica, com um beat sensacional, com CL Smooth; "Head Rush", com os líderes do Wu, GZA e RZA, num beat com samples de jazz no melhor estilo Wu-Tang, que poderia ter ficado melhor se não houvesse um sample vocal a cada 5 segundos; "Warzone", com o Dead Prez, uma letra bastante sarcástica e extremamente interessante, falando sobre boates e as pessoas que as frequentam.

Aqui, Pete Rock faz um upgrade do seu som, sem perder a elegância costumeira dos seus beats. A capacidade de encaixar cada instrumental no emcee certo é rara, mas não se pode esperar menos de um produtor como Rock.

Pete Rock - Soul Survivor 2
1- Truth Is feat Black Ice
2- We Good feat Kardinal Offishall
3- Just Do It feat Pharoahe Monch
4- Give It To Ya feat Little Brother
5- Here We Go(It's The Postaboy) feat Postaboy
6- It's A Love Thing feat CL Smooth & Denosh
7- One MC, One DJ feat Skillz
8- Beef feat Krumbsnatcha
9- No Tears feat Leela James
10- Head Rush feat RZA & GZA
11- Fly Till I Die feat Talib Kweli & CL Smooth
12- Warzone feat Dead Prez
13- Da Villa feat Slum Village
14- Niggaz Know feat J-Dilla
15- Appreciate feat CL Smooth

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Letra Traduzida: Pete Rock feat Dead Prez - Warzone

Letra muito foda, bastante irônica, sempre com aquela mensagem contundente do Dead Prez...

Artist: Pete Rock f/ Dead Prez
Album: Soul Survivor II
Song: Warzone - ZONA DE GUERRA

[ Refrão ]
Beba bastante
fume bastante
dance bastante
mostre sua calça nova
festeje bastante
grite bastante
dance até o chão, menina
sinta o som
se voce se garantir, malandro,
arrume suas garotas
seja malandro
faça barulho
mas nao esqueça que nós vivemos em uma zona de guerra

[ Verso I ]
Dançarinos agindo como policiais na boate
vacilando por todos os lados e sendo expulsos na boate
eles nao tocam 2pac o suficiente na boate
a indústria tornou tudo muito pop na boate
aquele maluco não precisa arrumar mulheres na boate
15 dólares por uma bebida na boate?
eu consigo um como se fizesse um plebiscito na boate
o que esses idiotas pensam quando estao na boate
fala sério!

Um monte de bundas na boate
os malandros gastam muito dinheiro na boate
varias ervas são passadas na boate
mas as cameras filmam tudo na boate
eu nem mesmo trouxe minha identidade para a boate
por que eles precisam saber meu nome oficial na boate?
eu nao tenho papel pra escrever uma rima na boate
eu ja to bebado antes de chegar na boate
fala sério!

[ Refrão ]

[ Verso II ]
todo mundo age como o fodão na boate
usando drogas na boate
chapados na boate
perdem sua cabeça na boate
fumando como bandidos na boate
gastando todo o seu contracheque na boate
nao conseguem respeito na boate
os negros vendendo maconha na boate
mas nós não podemos entrar na boate
e é por isso que eu nao vou pra boate

[ Refrão ]

[ Verso III ]
esqueça o mundo que está fora da boate
voce pode correr mas nao pode se esconder na boate
dance para as mentiras do governo na boate
foda-se isso, voce quer festejar a noite inteira na boate
as damas ainda nao têm direitos na boate
dançam com as luzes da discoteca na boate
nós gastamos todo o dinheiro na boate
mas ainda não arrumamos nenhuma mina na boate
fala sério!

[ Refrão ]

[ Verso IV ]
As namoradas de todo mundo estão mandando ver na boate
os namorados de todo mundo estão mandando ver na boate
uns malucos tem uma queda por bundas na boate
prontos pra sacar uma identidade secreta das maos na boate
é isso que é corrupto na boate
os malucos compram maconha na boate
viciados compram cocaína na boate
ficam doidos na boate
entao morrem na boate
mas eles precisam levar a identidade para a boate

[ Verso V ]
se voce me vir na boate
me dê um drinque e um abraço
mostre amor por mim
eu sou apenas outro bandido na boate
mas voce nao pode me humilhar por isso
nós podemos achar varios assim na boate
e podemos mandá-los pra fora da boate
é a isso que tudo se resume?
que porra que eu vim fazer na boate
fiquei fudido na boate
perdi bastante sangue na boate
que porra eu vim fazer na boate?

[ Refrão ]

Apathy: Eastern Philosophy

Apathy é um emcee de Connecticut, membro de grupos como Army of the Pharaohs e Demigodz e, provavelmente, o melhor emcee branco atualmente. Com um flow envolvente e esquemas de rima tecnicamente impecáveis, o cara tem feito barulho no underground americano, conseguindo inclusive um contrato com uma gravadora grande, a Atlantic Records.

Eastern Philosophy foi lançado em 2006 e foi muito elogiado pela mídia especializada. Como o nome indica, e depois o próprio emcee confirmou, o álbum é todo estruturado no estilo New-York de se fazer rap, com muitos refrões com scratches no melhor estilo DJ Premier, beats pesados e samples refinados. Apathy mostra no álbum uma versatilidade impressionante, além de um liricismo perfeito. Esquemas com rimas multi-silábicas, trava-línguas, tudo pode ser encontrado. No que diz respeito aos temas abordados, o emcee também não desaponta: ele fala desde amizade até a luta diária por dinheiro, passando por produtos químicos e o caminho que uma nota de dólar trava até chegar ao seu bolso.

Os destaques vão para "9 to 5", com Emilio Lopez e um sample de Jay-Z, que fala sobre a luta para ganhar dinheiro; "Me and My Friends", na qual Apathy fala sobre passar o tempo com amigos, com um refrão sampleando Lauryn Hill; "Chemical", tratando dos produtos químicos presentes no cotidiano das pessoas; "The Buck Stops Here", um beat mais eletrônico, mas com um conceito extremamente bem construído, seguindo o caminho de uma nota de dólar.

Enfim, Apathy é um dos grandes emcees ainda escondidos no underground americano, com um talento gigantesco e uma mentalidade elogiável, como mostra a tentativa de trazer de volta a época de ouro do rap da Costa Leste. Eastern Philosophy é um dos melhores álbuns de rap lançados nos últimos tempos.

Apathy - Eastern Philosophy
1- Eastern Philosophy
2- 1000 Grams
3- All About Crime
4- 9 to 5 feat Emilio Lopez
5- Here Comes the Gangsta
6- Can't Leave Rap Alone feat Celpth Titled & Ryu
7- One of Those Days
8- Me and My Friends feat Celpth Titled, Esoteric & One Two
9- Chemical
10- Doe Raker Check feat Motive, Big Hoot & Emilio Lopez
11- Philosophical Gangsta feat Bad Seed & Poison Pen
12- I Remember... feat Tamar da Star
13- The Buck Stops Here
14- The Winter feat Blue Raspberry

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Raekwon: State of Grace

Aproveitando toda a controvésia que tem assolado o Wu-Tang Clan, aqui está o primeiro single do novo álbum do Raekwon, Only Built 4 Cuban Linx 2, uma seqüência do clássico que o emcee lançou na época de ouro do Wu. Aqui dá para perceber bem a música "para acertar alguém no rosto" que Raekwon gostaria que estivesse no novo álbum do grupo, e que RZA disse já ter feito tal tipo para o álbum de Rae.

State of Grace é um single à altura de toda a expectativa criada para o álbum. O beat produzido por RZA remete aos tempos em que o Wu-Tang dominou o rap, com um sample de metais muito bom, além de vocais no fundo. Raekwon vem com um flow agressivo que há um bom tempo eu nao ouvia dele, numa letra que mistura elementos de battle rap, além de falar sobre invejosos, ganhar dinheiro, enfim, um som com a marca registrada de um dos melhores letristas do Clan.

Depois de uma prévia tão boa, só nos resta esperar que o álbum siga essa linha. O famoso som do Wu que os fãs esperavam para o álbum do grupo talvez possa aparecer finalmente no solo de Rae.

Raekwon - State of Grace
1- State of Grace
2- State of Grace (instrumental)

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sábado, 1 de dezembro de 2007

Letra Traduzida: Wu-Tang Clan - Life Changes

Música do novo álbum dos caras, uma das melhores, homenagem do Clan ao finado Ol'Dirty Bastard. Só o Ghostface que não participou...

Wu-Tang Clan
8 Diagrams
Life Changes- A Vida Muda

[ Refrão ]

Eu passei toda minha vida fingindo
que o tempo iria mudar o meu final

[ Method Man ]
Paz para o meu mano, derruba um pouco de licor
me sinto envergonhado, eu ouvi quando o anjo da morte veio te buscar
entao eu bebi um pouco de Vodka em seu nome e honra
meu fetiche por mulheres solteiras tem crescido desde entao
alguns dizem que isso é destino, que o que você fizer
mano, vai voltar para você, a música nos tirou das esquinas
agora eu vou beber toda essa garrafa pelo Ol'Dirty
merda, isso me machuca, eu odeio quando meus irmãos vao embora cedo

[ Refrão ]

[ Raekwon ]
Salve para o meu filho, ele vai se lembrar de você, olhando para uma estátua
no quarto dele, que vai te representar, e tudo o que você significou para o Wu
nós juntos éramos como uma família, e então você explodiu
voce era a peça de xadrez no tabuleiro que nos fazia ser verdadeiros
vendo sua caneta fazer ruídos, voce amava peixe frito
você era a pérola do ocean, e eu estou na ilha, chateado
agora você está muito mais famoso, eu to fumando uma erva
eu sei que isso é real, talvez eu tenha conhecido o Jesus Negro

[ Refrão ]

[ GZA ]
Eu fiquei fraco quando eu ouvi que seu corpo tinha expirado
foi dificil para eu acreditar que meu irmão tinha ido embora
de repente o relógio parou e a sala começou a rodar
como ele poderia sair de campo no começo da partida?
eu chorei como um bebê indo a caminho do lugar onde ele morreu
puto porque nao estava lá nos minutos antes dele ir embora
agora eu to na cabine de gravação, a poucos metros de onde ele caiu morto
eu fico penso sobre ele nesta música e o que ele poderia dizer

[ Refrão ]

[ Masta Killa ]
Quando eu primeiro ouvi a palavra, eu precisei de ar para clarear minha mente
eu sei que você não disse o que pensou que disse, meu irmão morto
você está maluco, outra brincadeira do Dirty para deixar a família preocupada
vocês não deveriam brincar assim, eu sei como você se sente
Senhor, mas é verdade, e eu ainda não consigo acreditar
e meu coração ainda lamenta a perda, não é fingimento
Ason Unique, amava vinho e belas mulheres
nós cantamos durante as viagens, "ohh baby, we like it raw" (ohh baby, nós gostamos sem pudores)

[ Refrão ]

[ Interlúdio: Inspectah Deck, por cima do refrão ]
Você não pode fingir
algum dia isso precisa acabar
mas eu vou te guardar aqui mano, bem perto do meu coração

[ Inspectah Deck ]
Eu bebi uma garrafa no seu aniversário, Senhor, lutei bastante para não chorar
e eu ainda nao consigo esconder a cicatriz
e eu ainda pergunto "por que" para Deus, analisando sua forma
e como eu estive lá confortando sua mãe
e eu divido a culpa, porque você estava pedindo por ajuda
eu deveria ter feito o que podia na época, mas fui egoísta
eu vou continuar sua luta, a cada dia isso realmente me machuca
eu realmente sinto sua falta Russell, espero que você me perdoe Dirty

[ Refrão ]

[ U-God ] Ae, eu quero quebrar esses muros, e colocar meus punhos do outro lado
um grande salve para o Dirty, deixe o mundo inteiro sentir sua falta
estive lá e te dei um beijo no caixão, meu coração disparou
eu deixei cair lágrimas ao ver meu mano cair da glória
foi tudo em vão, encheu-se para depois esvaziar
assim que a notícia chegou a mim, eu explodi de dor
chorei rios, meu irmão acabou de morrer
eu vou te ver, meu mano, do outro lado
paraíso e inferno com você, bebendo Balentine Ale com você
eu falhei com você, deveria ter cumprido pena na prisão junto com você

[ Refrão ]

[ RZA ]
Oh mano, como eu posso dizer adeus?
São sempre os bons que morrem
É difícil viver sem você mano, eu nao deveria ter duvidado de você
quando voce disse que a "Paixão de Cristo" falava sobre você
Desde Gold Mobile até Linden Plaza e Brownsville
da Florida até Ohio, para Putnam e Park Hill
você interrompeu o Grammy para dizer que "o Wu é para as crianças"
tomou quatro ou cinco tiros quando eles invadiram sua casa
a 357 quebrou suas costelas, os policiais te açoitaram
voce ficou sendo caçado pelos porcos, pegou quatro anos de prisão
bateu com o carro e ainda assim saiu sem nenhum arranhão
eles tentaram manter seu espírito livre preso numa jaula
entao voce vai manter a boca calada, e nao vai dizer ao mundo
quem é quem e o que é o que é, e provavelmente vai enlouquecer
como nós tratamos as putas? Dirt, como nós tratamos as putas?
nós comemos a bunda delas, Dirt

[ Refrão ]

[ mulher cantando ] Mas todos aqueles erros por trás de mim
eu me livro das sombras para ser lembrado

Entrevista: GZA


O álbum recente do Wu-Tang Clan tem sido motivo de muitas controvérsias, com os membros Raekwon e Ghostface Killah reclamando publicamente do álbum. Depois, RZA veio a público explicar a questão e afirmar que todos estavam em paz. Agora, é a vez de GZA falar. Para mim, The Genius é o mais articulado e inteligente membro do grupo. Essa entrevista fala sobre o novo álbum do grupo, os problemas com Raekwon, o polêmico novo álbum de Nas e os novos projetos de GZA, como o álbum Protools e um trabalho em conjunto com RZA.

I - O novo álbum do Wu-Tang está para sair em poucos dias, você está animado?
Ummm, sim, sim, estou bastante animado. Eu nunca me animei muito com lançamentos de álbuns. Mas esse parece bom. Eu estou feliz por voltar para o jogo.

II - Você está feliz com a direção que o álbum tomou?
Eu gostei dele, sim. Está crescendo em mim cada vez mais. Quanto mais eu ouço, mas eu gosto dele.

III - Quando Raekwon desabafou e disse que não estava gostando do álbum, ele estava falando por todos do grupo? Não, ele estava falando por ele próprio. Digo, era o que Rae estava falando. Sempre existe espaço para melhorar. Pessoalmente, eu sinto que eu poderia ter feito melhor no álbum, mas você tem de considerar o tempo que levou para ficar ponto.

IV- Raekwon também mencionou que ele pode ter alguns problemas com dinheiro. Você já passou por isso? Eu nem vou me meter nesse assunto. Raekwon estava falando por ele mesmo. Ele é meu irmão assim como RZA também é meu irmão e eu não vou ficar contra ninguém. Raekwon nos representa como grupo também. Talvez ele tenha maiores preocupações sobre isso do que os outros membros ou então essa sua briga tomou outras proporções.
Mas eu não vou ficar contra ninguém. Eu não fico revelando problemas, quando se trata da minha família. Se eu tenho problemas financeiros, então eu lido com isso. Sempre existem problemas com um grupo ou família, mas isso acontece com todo mundo.

V- Seu álbum de estréia Liquid Swords colocou você como um dos melhores letristas do Wu. Como você se sentia quando estava preparando o álbum? Eu me senti bem porque estava saindo de um momento muito desapontante. Coisas anteriores não foram tão boas. Eu estava na gravadora Cold Chillin e meu álbum não teve promoção adequada, então eu arrumei outra gravadora e isso foi numa hora boa, porque o Wu-Tang estava explodindo na cena. Foi bom. Todo mundo estava indo para o estúdio, todo o clima era excelente. Foi um bom tempo.

VI- Você considera a época em que você surgiu como uma Época Dourada?
Eu nao chamaria de época de ouro. Eu acho que nós estávamos saindo da época de ouro. Eu acho que era isso. Nós, como artistas e letristas, consideramos a época dourada o final dos anos 80. Aquilo era a época dourada. Você sabe, talvez Biggie, Jay-Z, Wu fossem de outra era, a era da platina.

VII- Wu, Nas, Jay, Big, todos surgiram por volta da mesma época. Você vê alguma semelhança entre vocês?
Eu diria que os nossos sons eram diferentes, o que é algo bom. Assim que era na época de ouro. Eu penso que o bom da época dourada era que havia muito material e um diferente do outro. Nas era diferente do Mobb Deep, que era diferente do Wu, que era diferente do Jay. Tudo era diferente, não era como hoje, onde muitos soam iguais. Nós não tínhamos nenhum contato, só podíamos fazer do modo como fizemos. O modo como nós entramos no jogo e ganhamos dinheiro além da música foi muito diferente.

VIII- Como você se sente sobre o hip hop hoje?
Eu não ouço muita coisa. Eu posso ouvir se eu tiver assistindo à televisão ou se estou ouvindo rádio, ou então o que as pessoas estão tocando nas ruas, só assim que eu ouço.

IX- E você gosta de algo?
A maioria não. Tem tempo que não ouço algo realmente cativante.

X- Existem alguns novos emcees que você tem gostado?
Não, não, nada está me chamando a atenção, mas o Hip Hop é assim. Está mudando, ele está sempre mudando. É uma música que surgiu nas ruas, algo que era um hobby e se tornou a música que mais vende hoje em dia. É o único tipo de música gravado em quase toda língua. Não existe outra música como essa.

XI- Você sente que a política tem um grande papel na indústria musical hoje em dia, ainda mais do que no tempo em que você começou? Claro que a política sempre vai estar em tudo. Eles estão envolvidos desde o começo. Eles já estavam ligados no Hip Hop no começo da década de 80. Barbara Walter ficava perguntando, quanto tempo isso vai durar? Eles estavam tentando minar o hip hop, mas a política estava nos dias em que Ice-T lançou "Cop Killer"(Assassino de Policiais). Eles sempre se meteram. Eles se meteram com Snoop e Dolores Tucker. Estão se metendo agora com a palavra que começa com N (nigga). Quanto mais dinheiro estiver envolvido, mais a política vai se envolver.

XII- Como você se sente com o uso da palavra que começa com N pelo Nas para o próximo álbum dele? Ele pode fazer isso. Nas é um poeta, ele é um grande letrista, um poeta, faz músicas excelentes. Eu sempre vou parar para ouvir o que ele tem a dizer. Ele já fez tanto pelo Hip Hop com as músicas que ele gravou. Ele é um dos maiores. Ele sempre faz mas coisas boas do que ruins. Ele poderia chamar o álbum dele do que quiser, porque ele tem um motivo para isso, como quando ele disse que o Hip Hop estava morto. Por um lado, estava morto, e eu estou certo que ele tinha a definição dele. Ele pode se sentir daquele jeito, e se ele chamar seu álbum assim, ele tem direito de fazer isso. Por que esse escândalo todo agora?
A problema com os políticos é que eles vêem os rappers e acham que ganhamos dinheiro demais ou espalhamos ignorância. Richard Pryor tinha um álbum chamado "That Nigga Is Crazy" nos anos 70, um álbum de comédia, não era um negócio grande. Então, por que agora? Por que esperar até os rappers quererem usar essa palavra para poder se meter?
Eu não estou dizendo que esta é uma palavra que deveria estar na boca dos jovens a cada 5 palavras que dizem, ou em toda frase. O engraçado é que estes mesmos políticos usam a palavra. Eu tenho certeza absoluta que Al Sharpton usa essa palavra regularmente. Eu uso outras palavras; Eu não uso palavras muito negativas, coisas profanas. Eu não gosto muito, não faz parte da minha escrita e não uso desde Liquid Swords. Eu apenas escolho outras palavras, existem mais de 100 mil palavras no dicionário.
Porém, é engraçado porque, para mim, essa palavra é usada cotidianamente. Se eu vir um amigo na rua, eu vou falar: "Onde aquele negro vai?", "Aquele negro saiu do carro!". Esse é o significado, para mim. Eu também acho que nós deveríamos usar outras palavras, porque existem pessoas que se ofendem com ela. Ela foi um nome dado aos escravos, mas agora que nós escolhemos aceitá-la, eles quem nos impedir de usá-la, isso é conversa fiada. O que aconteceu com a liberdade de expressão?

XIII- Você acha que o Hip Hop está morto?
Às vezes sim, às vezes não. Às vezes eu acho que ele está num ponto onde precisa de ajuda. Não está morto, porque ele continua aqui, continua em volta de todos nós. Eu não quero me contradizer, porque eu sei de onde eu vim. Como o hip hop poderia estar morto se o Wu-Tang é eterno? Nas falou coisas interessantes. Vários emcees são brilhantes à maneira deles. Eles são espertos, mas os temas que abordam são fracos.
Eu acho que 95% dos rappers não falam o que querem. Fazem o que está na moda. Eles não estão tocando isso no rádio ou na boate, então nós precisamos fazer um hit, ou uma música de rua. Não, música tem que ser feita a partir do que nós vemos.
A música deveria ser uma pintura, onde você só faz o que você vê. Você deveria ser inspirado por algo. Você poderia ser inspirado por uma história. American Gangster poderia inspirar você, mas toda a sua história de vida não precisa casar perfeitamente com a história. É tudo a mesma coisa, "Eu tenho uma arma, eu estou por cima". Tudo isso já foi dito da mesma forma. Você pode falar de forma diferente.

XIV- Você prefere gravadoras grandes ou independentes?
Amas têm pontos fracos e fortes. Tudo depende de como você encara. Eu poderia estar numa gravadora grande e vender 500 mil cópias, e ganhar uns trocados, ou eu poderia ser independente e vender 100 mil e ganhar muito dinheiro. Depende da sua situação, do que trata o seu negócio, se eu vendo 200 e ganho 8 por cópia vendida, eu to ganhando dinheiro. É tudo sobre como seu acordo está estruturado. Numa gravadora grande, nem sempre é assim. Eu já fiz álbuns que nunca viram a luz do dia. Mas depende. Às vezes é bom estar numa grande gravadora. Você consegue uma exposição maior.
Independente é a maneira na moda, o que é bom porque dá a você o poder de produzir um álbum e lançá-lo. Não existe censura, não existe intermediários. Numa independente é tipo assim: o dinheiro está aqui, o que você quer fazer? Você não precisa consultar muitas pessoas.
É bom que ultimamente vários bons artistas estão surgindo de forma independente e tendo sucesso. É um negócio engraçado. É tipo assim: eu poderia vender 1 milhão de cópias numa grande gravadora, depois vender 400 mil e ser dispensado, então eu venderia 200 mil de forma independente, e aí as grandes voltariam a me oferecer contratos.

XV- Você está numa gravadora independente né?
Sim, eu estou fazendo um projeto com a Babygrande. Eu vi uma propagada aqui perto onde estavam promovendo um álbum como um álbum do GZA. Eu provavelmente vou estar na maioria das faixas, mas deve ser uma compilação, são vários artistas no álbum. Está quase terminado, e depois eu vou começar a trabalhar em outro álbum junto com o RZA.

XVI- Quando será lançado?
No ano que vem, não sabemos quando, mas temos algumas opções.

XVII- O que mais podemos esperar ver de você?
Eu estou trabalhando em várias coisas. Estou fazendo uma história em quadrinhos. Trabalhei duro durante todo o verão nisso. Deve sair em breve. Eu tenho algumas idéias para outro romance, estou criando a base da história. Eu to por dentro de roteiros e romances. Eu gosto de filmes, eu quero lançar vários filmes e deixar RZA fazer a parte musical. Eu não paro, você pode aguardar ouvir alguns excelentes projetos vindos de mim num futuro próximo.

Um álbum novo em parceria com RZA? Pode sair amanhã logo!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Hi-Tek: Hi-Teknology 3

Mais um lançamento de final do ano. Esse álbum é a continuação da série de álbuns que o famoso produtor Hi-Tek tem lançado por toda a sua carreira. O cara é um dos beatmakers mais renomados e requisitados atualmente, com trabalhos tanto no mainstrem, como 50 Cent, quanto nos nomes mais alternativos, como o Little Brother.

Hi-Teknology 3 não é um álbum só de rap, tem algumas músicas com cantores, voltadas mais para o R&B. Entretanto, não há nenhuma faixa dedicada exclusivamente para o protegido do produtor, o onipresente Dion, que ainda assim tem participações em algumas faixas. Destaque para a faixa com a dupla-problema do Wu-Tang Clan, Raekwon e Ghostface Killah, em "My Piano", a volta dos Outlawz em "God's Plan", que também tem um sample de piano muito bom; "Time", com o sempre sólido Talib Kweli; e "Back On The Grind", um bom beat, no qual Dion tem sua melhor performance do álbum. Sem contar o remix da ótima "Step Ya Game Up", do Little Brother.

Por fim, o álbum até que ficou bom. Não representa totalmente as habilidades do Hi-Tek, mas tem músicas muito boas e beats consistentes. É um álbum mais para ouvir no fone de ouvido do que no estéreo, para poder perceber as nuances dos beats do cara.

Hi-Tek - Hi-Teknology 3
1- Tek Intro
2- Life To Me feat Estelle
3- Interlude feat Lil Tone
4- My Piano feat Ghostface Killah & Raekwon & Dion
5- God's Plan feat Young Buck & Outlawz
6- Ohio All Stars feat Cross, Showtime, Mann & Chip The Rippa
7- Back On The Grind feat Riz, Sean Kingston & Dion
8- I'm Back feat Rem Dog
9- Kill You feat Push Montana
10- Handling My Bizness feat Lep, Count, Big D & M-1
11- Come Get It (Tekstrumentals)
12- Step Ya Game Up Remix feat Dion & Little Brother
13- Know Me feat Jonell
14- Time feat Talib Kweli & Dion
15- Outro

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