terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Prêmio Boom Bap 2008: Vencedores

Bom, como prometido, tá aqui a minha lista de vencedores. Lembrando que as minhas escolhas foram feitas basicamente de acordo com o meu gosto pessoal, não quer dizer que o álbum que eu escolhi seja irrefutavelmente melhor do que os outros. De resto, o Boom Bap agradece todas as visitas no ano - já passamos de 200 mil - e deseja um feliz Natal e um ótimo novo ano para todos. Como eu disse no outro post, o blog entra de férias também até janeiro. Bom final de ano!

Prêmio Illmatic:
Tobacco Road (Common Market)
>> Este foi o álbum que eu ouvi por mais tempo durante todo o ano. Desde o dia que baixei, devo ter ficado quase uma semana ouvindo o disco direto. O que torna este álbum especial é a consistência: TODAS as músicas são muito bem elaboradas, marcantes, com ótimos beats e uma perfomance completa de RA Scion. Não bastasse isso, ainda é um álbum conceitual, o que torna a tarefa de fazer um álbum consistente ainda mais difícil. Enfim, Tobacco Road, DJ Sabzi e RA Scion levam o prêmio Illmatic.

Prêmio Christopher Wallace:
Nas
>> Ninguém em 2008 escreveu letras tão contundentes e provocativas do que o veterano Nas. Untitled pode não ter estado à altura das expectativas criadas, mas ainda assim foi um ótimo álbum. Nas soube mesclar o conteúdo crítico a abordagens mais comerciais, sem perder o fio da meada. Letras como Be A Nigger Too, Sly Fox e Hero estão entre as melhoras do ano.

Prêmio Pete Rock:
Black Milk
>> O cara não parou de trabalhar e lançar material em 2008. Produziu dois discos extremamente pesados - um deles, The Preface, elogiadíssimo por todos - e ainda encontrou tempo para inovar em vôo solo. Pela capacidade de manter-se fiel às origens sem buscar novas fórmulas, Black Milk leva o prêmio Pete Rock.

Prêmio Nas em 1994:
Invincible
>> Tudo bem que o Nas não foi revelação rigorosamente em 1994 - sua aparição no disco do Main Source foi um pouco antes -, mas foi neste ano que ele explodiu com um álbum perfeito. O disco de estréia de Invincible, obviamente, não é um Illmatic, mas ainda assim revelou uma grande liricista, com uma urgência nas rimas simplesmente estonteante, além de um dos flows mais complexos atualmente.

Prêmio Tupac Shakur:
Be A Nigger Too (Nas)
>> Foi uma disputa dura com Trail of Lies, mas Be A Nigger Too leva pela forma criativa que Nas encontrou para falar sobre um tema tão delicado. Não bastasse o refrão impactante, as imagens criadas pelas rimas de Nas são incomparáveis.

Prêmio RZA:
Children Sing (Pacewon & Mr. Green - produzida por Mr. Green)
>> Este foi um dos beats mais criativos do ano. Mr. Green picotou um coral de crianças ao melhor estilo Premier e foi montando o loop em cima de uma bateria simples, mas efetiva. Dá até para imaginar o cara martelando a MPC com os vários pedaços cortados do coral, enquanto a batida segue. Tanto pela originalidade, como pela execução, Children Sing leva o prêmio RZA.

Prêmio Liquid Swords:
Gettin' Up (Q-Tip)
>> Este foi o prêmio mais difícil de escolher. No fim, eu me rendi à batida irresistível de Dilla e às rimas românticas de Tip, especialista no assunto desde Bonita Applebum. Um dos fatores primordiais para essa escolha foi o fato de Tip ter sido também o que melhor rimou sobre um faixa no ano - o flow dele aqui é absolutamente fantástico, no ponto, relaxado, enfim, perfeito.

Prêmio Puff Daddy:
Common
>> Kanye West já apontava o caminho do pop há um bom tempo, logo eu não me surpreendi tanto com o último disco - acho até que seria pior um disco de rap nos moldes do mainstream,pelo menos ele buscou algo novo. Phonte não foi bem uma decepção, porque foi bem no disco, embora eu ainda prefira as rimas dele. Termanology e AZ decepcionaram, mas nada foi tão impactante quanto Common. O emcee de Chicago leva o prêmio porque era aquele de quem mais se esperava no ano, um dos poucos ainda respeitados tanto no underground quanto no mainstream, mas se equivocou bastante na direção do último álbum. Como recompensa, leva o prêmio Puff Daddy.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Prêmio Boom Bap 2008

Na verdade, não é bem um prêmio, porque ninguém vai ganhar nada, mas sim uma espécie de resumo do ano de 2008, em vários aspectos. Ano passado o blog fez uma lista com os dez melhores álbuns do ano, mas dessa vez vai ser algo mais abrangente. Hoje eu vou postar aqui as categorias e os "indicados" para cada prêmio, e peço que todos dêem o seu pitaco, lembrem de alguém injustiçado, indiquem o merecedor para cada "estatueta", enfim, discutam. Terça-feira que vem, dia 23, o blog faz seu último post no ano, só voltando em 2009 - afinal blogueiros também têm férias. Neste último post, eu posto os meus vencedores. Enfim, vamos lá:

Prêmio Illmatic (Álbum do Ano):

Rising Down - The Roots
>> Black Thought, ?uestlove e companhia voltaram afiados em 2008, com um som ainda mais sombrio e pesado do que o disco anterior, e um Black Thoguht ainda mais furioso no microfone. Rising Down revelou ainda o emcee Wale, num dos melhores singles do ano.

The Preface - Elzhi
>> O emcee do Slum Village juntou-se a Black Milk para criar um ótimo disco de estréia. Embora sem muitos destaques avulsos, The Preface preza pela consistência: são 16 faixas de beats pesados e emceeing impecável.

Tobacco Road - Common Market
>> O álbum conceitual melhor executado do ano. A dupla RA Scion e DJ Sabzi mostrou-se ainda mais amadurecida, criando um disco que trata das fazendas do Sul dos EUA, ao mesmo tempo em que fala, metaforicamente, de vários aspectos de nossas vidas atualmente.

The Renaissance - Q-Tip
>> O veterano líder do A Tribe Called Quest saiu de um hiato de quase uma década em grande estilo. O single Gettin' Up conseguiu espaço até no mainstream americano, enquanto Tip criou um álbum coeso, bem produzido e bem rimado.

Untitled - Nas
>> Pode-se dizer o que quiser do álbum mais controverso do ano, mas nenhum outro teve letras tão boas quanto esse. Apesar de alguns percalços no conceito do álbum, Nas esteve letal nas rimas, melhorou o nível das produções, atingiu o mainstream e nos presenteou com o álbum mais provocativo de 2008.

Prêmio Christopher Wallace (Emcee do ano):

R.A. Scion
>> A metade vocal do Common Market carregou um álbum conceitual nas costas, com rimas complexas e bem escritas, além de um vocabulário bem diferente do rapper comum. Storytelling, crítica social, versos introspectivos, tudo explorado por RA Scion.

Elzhi
>> A pecha de "rapper favorito do seu rapper favorito" cai bem em Elzhi. Ainda que preso ao battle rap, o cara criou uma das músicas conceituais mais legais do ano, com Guessing Game, na qual ele falava metade de uma palavra na última linha de cada verso, propondo que o ouvinte adivinhasse. Note que ele rimava com metade da palavra, e todas as rimas usadas tinham nexo.

Nas
>> O motivo de Nas estar indicado a esse prêmio é o mesmo pelo qual seu disco foi também indicado. As letras mais contundentes do ano saíram da caneta do emcee do Queens, um dos primeiros a tratar sobre a possibilidade de Barack Obama ser presidente, e também responsável pela controversa Be A Nigger Too, outra das melhores faixas conceituais de 2008.

Blu
>> O moleque responsável pelo melhor disco de 2007 não sossegou neste ano. Blu lançou dois álbuns, cada um produzido inteiramente por um produtor diferente, mostrando versatilidade incomum.

Surreal
>> O mais underground dos indicados é responsável por um dos álbums mais honestos do ano. Com rimas retratando o cotidiano de pessoas comuns, Surreal afastou-se dos clichês do rap, falando sobre família, fé, sonhos e decepções.

Prêmio Pete Rock (Produtor do ano):

Black Milk
>> O cara produziu três álbuns inteiros no ano (The Set Up, The Preface e Tronic), além de contribuir com beats para caras como GZA e Buff1. Na maioria, o som era original: caixas pesadas e samples distorcidos. Mas ele ainda encontrou tempo para inovar em seu trabalho solo, e usou e abusou de efeitos eletrônicos em Tronic, criando um dos hits do ano, Give The Drummer Sum.

Sabzi
>> O beatmaker de ascendência iraniana produziu todo o disco do Common Market, mostrando uma consistência incrível, desde beats mais introspectivos até bangers radiofônicos. Além do talento com samples, o cara ainda tocou piano em algumas das faixas do álbum.

Nicolay
>> Outro que trabalhou bastante em 2008. Depois de se juntar a Kay e lançar um dos primeiros destaques do ano, ele voltou a trabalhar com Phonte para criar um álbum denso, misterioso, expandindo as fronteiras do rap.

Dela
>> O produtor francês foi um dos mais bem sucedidos a misturar o rap ao jazz em 2008. Seu álbum, Changes of Atmosphere, contou com um time de grandes emcees, mas foi a produção sutil e relaxante o grande destaque.

Stoupe
>> A cada novo álbum do Jedi Mind Tricks, Stoupe prova que é um dos melhores de todos os tempos. Em Histoy of Violence, ele provou que sua criatividade não tem limites, ao samplear desde cantora grega até música clássica.

Prêmio Nas em 1994 (Revelação do ano):

Invincible
>> A emcee de Detroit lançou seu primeiro álbum, Shapeshifters, neste ano e impressionou pelas rimas contundentes e o flow hipnótico. Responsável por um dos bons álbuns de 2008, Invincible mostrou que há vida inteligente no rap feminino.

Amanda Diva
>> Se Invincible mostrou que havia vida inteligente entre as femcees, Amanda Diva apenas corroborou o fato. Poetisa, cantora, jornalisa e emcee, a menina mostrou, com o álbum Life Experience, ser uma das boas apostas para os próximos anos.

Illa J
>> O irmão caçula do lendário J-Dilla apareceu para o rap com o disco Yancey Brothers, no qual rimava e cantava sobre beats empoeirados do falecido irmão. Com versatilidade e personalidade, ele provou que o rap está no sangue da família.

Shawn Jackson
>> O emcee da costa Oeste surgiu como um dos mais carismáticos talentos do ano. Seu álbum, First of All, foi sucesso de crítica e até rendeu alguns bons singles, como Soopafly e Feelin' Jack.

Wale
>> "O hip hop não está morto, porque o pulso está conosco". Foi essa a primeira frase de Wale no single dos The Roots, Rising Up. Depois de uma perfomance sensacional e uma mixtape criativa, Wale consolidou-se na cena.

Prêmio Tupac Shakur (Letra do ano):

Tobacco Road (Common Market)
>> As rimas autobiográficas de RA Scion, contando desde sua infância até sua partida nas fazendas sulinas dos EUA foram emocionantes e bem escritas: dá até para criar um pequeno filme na cabeça com as imagens que Scion oferece.

The 3rd World (Immortal Technique)
>> Apesar da produção do álbum não ter ajudado muito, o sempre contundente Immortal Technique provou ser um dos melhores letristas atualmente. Com as já típicas rimas
conspiratórias, reveladoras e fortes, ele pintou um retrato do Terceiro Mundo, sem deixar de atirar no governo americano.

Yesterday (Atmosphere)
>> Slug sempre foi conhecido por versos pessoais. Em Yesterday, ele mostrou mais uma vez esta faceta. Numa letra emocionante, ele conversa em tom conciliatório com o pai brigado, para ao final revelar que o progenitor já está morto.

Be A Nigger Too (Nas)
>> Nas abusou da criatividade e da provocação na faixa, que acabou não entrando no disco oficial, mas ganhou um clipe. Xingando outras etnias com palavras que seriam correspondentes ao que nigger é para os negros, Nas deu um belo tapa no preconceito e mostrou toda a controvérsia
que ronda o tema.

Trail of Lies (Jedi Mind Tricks)
>> Quando abandona o battle rap, Vinnie Paz é sempre brilhante. Trail of Lies confirma isso, com o líder do JMT falando sobre mídia, polícia e até modelos anoréxicas.

Prêmio RZA (Beat do ano):

Children's Sing (Pacewon & Mr. Green - produzida por Mr. Green)
>> Uma dos poucos indicados que não foram postados no blog, a dupla Pacewon e Mr. Green presenteou 2008 com um dos beats mais criativos do ano. Mr. Green, o produtor, foi além dos tradicionais picotes: dessa vez, ele picotou um coral de crianças pra criar o fundo das rimas de
Pacewon.

MVP (Ludacris - produzida por DJ Premier)
>> Também não postada no blog, MVP foi uma das boas surpresas do ano, com Ludacris juntando-se a DJ Premier, que não se fez de rogado e criou um beat típico do seu
catálogo, com strings cortadas e bateria sincopada, além dos tradicionais scratches no refrão.

Sleeper Cell (DJ Muggs & Planet Asia - produzida por DJ Muggs)
>> Esta é a representante dos batidões que são marca registrada do produtor que dá nome ao prêmio. DJ Muggs criou um beat turvo, reto, com um loop triunfante guiando toda a faixa.

Daykeeper (Foreign Exchange - produzida por Nicolay)
>> Nicolay criou um beat denso, cheio de mistérios, todo atmosférico. A bateria quebrada e os samples esparsos deram o tom exato para a solidão cantada por Phonte e Muhsinah.

Monolith (Jedi Mind Tricks - produzida por Stoupe)
>> Stoupe provou sua criatividade ao ir até a Grécia para samplear uma cantora local e usar como loop principal do beat. O feito rendeu à batida um clima épico, reminiscente de uma trilha sonora de filmes da Antiguidade.

Prêmio Liquid Swords (Música do ano):

Love Don't (C.R.A.C. Knuckles)
>> Blu e Ta'Raach formaram o projeto CRAC Knuckles, responsável por esse petardo. O refrão cantado por Blu é contagiante, enquanto a batida acelerada com samples perfeitos ao fundo e o carisma de Ta'Raach tornam esta faixa irresistível.

MVP (Ludacris)
>> Só o fato de um rapper do mainstream recorrer a um produtor lendário já merecia elogios. Não bastasse isso, Premier criou um dos melhores beats do ano e Ludacris esteve no topo de sua forma, com algumas das melhores punchlines do ano.

Hero (Nas)
>> Nas conseguiu o impossível com Hero: uniu um som mais comercial a rimas fortes, e alcançou sucesso tanto no mainstream quanto no underground. O beat eletrônico de Polow Da Don, com bateria no ponto exato, contribuiu para o feito, assim como o bom refrão de Keri Hilson.

Gettin Up (Q-Tip)
>> Produzida por J-Dilla, a faixa alçou Q-Tip novamente ao mainstream. O flow perfeito de Tip e o beat meio dançante, meio nostálgico foram demais até para os executivos de gravadoras e estações de rádio.

40 Emcees (Amanda Diva)
>> Não bastasse a letra conceitual e bem humorada, Amanda ainda encontrou tempo para um refrão agradável e um beat simples, mas viciante. A presença de Q-Tip no começo da faixa foi apenas a cereja no bolo.

Prêmio Puff Daddy (Decepção do ano):

Kanye West
>> Depois do bom Graduation, elogiado em peso na crítica americana, o esquizofrênico West resolveu mudar tudo. Apostou em peso no autotune e no pop, ganhou novos fãs, mas decepcionou todo o público do rap.

Phonte
>> Quando ele anunciou um novo álbum do Foreign Exchange, todos ficaram bastante animados. Porém, quando ouviram o novo projeto, os fãs esperaram em vão pelo momento em que Phonte iria parar de cantar e começar a rimar como nos bons tempos.

Termanology
>> Depois de anos lançando mixtape, finalmente o rapper latino lançaria seu álbum solo, com produções de pesos pesados como Large Professor, Easy Mo Bee, Premier e Pete Rock. Apesar disso, o disco decepcionou, os beats com Premier eram todos antigos e Term falhou no quesito
lírico. A obsessão em se auto-intitular o novo Big Pun não ajudou.

AZ
>> Em uma tentativa desesperada de capitalizar no seu culto underground, AZ lançou um álbum cheio de tentativas comerciais, que falhou em todas as instâncias. Depois, ainda lançou uma mixtape tentando aproveitar a controvérsia criada pelo ex-amigo Nas, mas falhou novamente.

Common
>> Depois do ressurgimento com Be e Finding Forever, Common resolveu inovar novamente. Talvez influenciado pela carreira de ator, tentou algo mais mainstream e chamou Pharrel para produzir o novo álbum. Resultado: disco fraco e toneladas de críticas.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cradle: Attitude

Dando seqüência à série de artistas japoneses, dessa vez eu apresento o coletivo de produção chamado Cradle. Embora atualmente o grupo conte com baixista, violinista, flautista e pianista, na época do lançamento do primeiro álbum, Attitude, apenas os DJs Chika e Tomoki Seto faziam parte do projeto. O disco foi lançado em 2006 e foi aclamado pela crítica, tornando o grupo um dos mais conhecidos no hip hop japonês. Hoje em dia, com a inclusão dos músicos, o coletivo se chama Cradle Orchestra, e prepara o lançamento de seu segundo álbum, chamado Velvet Ballads, que deve sair no começo de 2009.

Voltando ao álbum de estréia dos caras, uma coisa que os diferencia de cara é que eles fogem um pouco do estereótipo da cena japonesa, que preza mais por uma sonoridade mais tranqüila, com forte influência do jazz. Não que Attitude não tenha seu lado jazzístico, muito pelo contrário, mas os beats apresentados têm uma atitude muito mais agressiva, mais "barulhenta", em comparação a seus conterrâneos. A bateria é bem mais incisiva e acelerada - dá toda a impressão de ser tocada e não programada, mas eu não sei precisar -, enquanto os samples são montados de forma a atender essa urgência que a batida pede.

Como a maioria dos lançamentos japoneses, o álbum se divide entre faixas com emcees e outras apenas instrumentais. Novamente, os beats conseguem "se garantir" perfeitamente, mostrando uma força suficiente para não precisar de emcees. Dois bons exemplos disso são as faixas Smoke, um batidão guiado por metais sensacionais e scratches certeiros, que dialogam também com teclado Rhodes inspirador e samples pontuais; e Improve, com uma batida mais reta, meio sombria, graças às caixas graves e ao piano sinistro no fundo. Das faixas rimadas, destaque também para Remember, com Dizzy, do Ugly Duckling, que acaba sendo ofuscado pela combinação de violão e flauta do beat, e Make It Last, o single do disco, com Aloe Blacc, do Emanon, que tem ainda um refrão sampleado muito bom, além do eficiente piano como loop principal.

Com uma proposta de som muito própria e evitando os estereótipos das cenas tanto japonesa quanto americana, o Cradle apresenta um disco bastante sólido. Os samples escolhidos são muito bem usados, de forma a não cansar o ouvinte nas faixas instrumentais, nem tirar o espaço do emcee nas músicas rimadas. Em alguns casos, os beats acabam sendo demais pros emcees, mas é de se louvar a habilidade da dupla de produtores. No final das contas, Attitude é um dos álbuns essenciais numa pesquisa sobre o hip hop japonês, e uma aula de beatmaking.

Cradle - Attitude
1. Unyielding Intention feat. D.A.I
2. Remember? (Breezy Remix) feat Dizzy of Ugly Duckling
3. Goodness
4. Free Sensitivity
5. In L.A feat. Fresh Air with Alexx Daye
6. Indivisible Contradiction
7. Make it Last feat. Aloe Blacc of Emanon
8. Smoke
9. Till the Morning feat. Captions
10. The Art of Bop Breaking
11. Never Forgive Action feat. Collective Efforts, Pgnut, H20, Dillon & Dirty Digits
12. Beautiful Thang feat. Legendary K.O
13. Desert Ripple
14. Improve
15. The Milky Way
16. One Step Ahead feat. KBH

Link nos comentários.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Nujabes: Metaphorical Music

Nujabes é um produtor japonês, cujo nome verdadeiro é Jun Seba, e responsável por iniciar um movimento bastante prolífico na terra do Sol nascente. Ao criar beats extremamente complexos e bem feitos, juntando o melhor do cool jazz ao boom bap do rap tradicional, ele chamou a atenção do mundo rap para a Ásia. Obviamente, não posso dizer seguramente que ele foi o pioneiro por aquelas bandas, mas com certeza teve uma participação importantíssima. Depois dele, vieram inúmeros produtores japoneses lançando álbuns majoritariamente instrumentais, todos com imensa qualidade.

Metaphorical Music é o primeiro álbum do cara, e mistura faixas instrumentais a outras com participações de emcees como Substantial, Cise Starr, Pase Rock e Shing02. Uma coisa que chama atenção nos beats de Nujabes é o cuidado com que ele os constrói. É uma mistura de samples com instrumentação real, mais scratches, vocais esporádicos, enfim, uma infinitude de intervenções que, juntas, resultam invariavelmente em grande música. O clima do disco é bastante calmo, apoiado no jazz, dominado por pianos e saxofones. É, no final das contas, uma música "atmosférica", relaxante, ideal para momentos de tranqüilidade. Mesmo nos momentos sem vocais, o disco flui naturalmente, graças à atenção aos detalhes, às transições no beat, que não deixam que a batida seja meramente um loop.

Para ilustrar essa definição, nada melhor que listar alguns destaques do álbum. Highs 2 Lows, com participação de Cise Starr, exemplifica bem a complexidade dos beats. Enquanto o emcee cospe seus versos, há várias intervenções no beat, composto, à primeira vista, por um piano tranqüilo. Uma análise mais profunda, porém, revela um sample bem escondido, além de strings meio dramáticas e uma percussão entrando sempre em momentos pontuais. Letter from Yokosuka, por sua vez, é um instrumental bastante nostálgico, com uma forte influência do jazz, visível no sax discreto do começo da faixa. Em Lady Brown, o toque latino do beat dá a Cise Starr a inspiração necessária para escrever rimas românticas. Por fim, The Final View e Peaceland fecham o disco da melhor forma possível.

Eu nunca fui muito fã de álbuns instrumentais. Achava que era algo incompleto, faltaria sempre as rimas para completar os beats. Porém, com Nujabes, é diferente. Alguns de seus beats são tão fortes e completos que não dá nem para imaginar alguém rimando sobre eles. Mesmo algumas faixas com emcees soam estranhas, porque as batidas quase engolem os caras. No fim, fica a certeza de um álbum sensacional, ideal para aspirantes a beatmakers tomarem algumas lições. Metaphorical Music acaba, de certa forma, transcendendo o universo do rap, tornando-se uma música universal, tendo o hip hop como base. Como diz Substantial em Think Different, "Vocês fazem rap. Eu faço música da alma". Nujabes assina embaixo.

Nujabes - Metaphorical Music
1. Blessing it remix (feat. Substantial and Pase rock)
2. Horn in the middle
3. Lady Brown (feat. Cise Starr)
4. Kumomi
5. Highs 2 Lows (feat. Cise Starr)
6. Beat laments the world
7. Letter from Yokosuka
8. Think different (feat. Substantial)
9. A day by atmosphere supreme
10. Next view (feat. Uyama Iroto)
11. Latitude remix (feat. Five Deez)
12. F.I.L.O. (feat. Shing02)
13. Summer gypsy
14. The final view
15. Peaceland

Link nos comentários. Vou tomar essa medida porque estou preparando uma matéria para o Bocada Forte justamente sobre produtores japoneses, e quero entrar em contato com algum deles. Portanto, não quero ter o azar de que eles "descubram" o blog. A quem se interessar pela matéria, ela deve estar no ar na semana de natal, provavelmente.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Walber Browne A.K.A. Mais Um Louco Apresenta: HipHopSkateMusic Volume 2


Iniciativa muito legal do Walber Browne, do blog Idéias e Atitudes. Vale a pena baixar e dar uma moral pro cara.

1.Mc Dyskreto - Oração
2.Ho$til - DaRuaPraRua
3.Stéfanas - Estilo Clássico
4.F2L - Interrogação
5.Fluxo - Identidade
6.Gigante - Filhos da luta
7.TH - As Ruas Falam a Mesma Lingua(Part. Flames)
8.Poetas do Kaos - Sk8 Evolução
9.Pura Mente Gangsta - Fenix De Fogo
10.R.D.O - Membros de Gangue(Part. Lado B, Scoob, JPNK & E-Mortais)
11.D.Gued'z - Colecionador(Part. Gasper)
12.Espião - Difícil
13.Marcio Attack Versos - É Tudo Real(Part. Scooby)
14.Lippe'C - Um Novo Passo
15.Marcello Gugu - Por Linhas
16.Mc Adikto - Discípulo Sem Cerimônia
17.Grilo 13 - Eu Sô 13
18.Revolta 5.73 - 5º Elemento
19.Guma - Recordarções
20.Inquilinus - Stilo Duracel
21.Andrei P.R. - Minha Mecca

Baixe:

Zshare Link Download:
http://www.zshare.net/download/52235581b55d4b53/

Participe da Comunidade no Orkut :
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42405579

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Talib Kweli: Entrevista

Como a maioria já sabe, o Talib vai fazer dois shows em São Paulo, no próximo fim de semana. Eu fiz uma entrevista por e-mail com o cara para uma matéria no Bocada Forte. Apesar das respostas não terem sido nem 10% do que eu esperava, deu para fazer um material legal. Quem quiser conferir a entrevista, só acessar:


Talib Kweli - O perfil e talento de um rapper

sábado, 6 de dezembro de 2008

Scarface: Emeritus

Um dos maiores emcees a sair do Sul dos EUA, Scarface está de volta, pronto para seu último ato. Membro do lendário grupo Geto Boys e com 20 anos de carreira, Face anunciou o fim de sua carreira solo com o lançamento do álbum Emeritus. Diga-se de passagem, o nome do disco não poderia ser mais apropriado: emérito é um título recebido por professores aposentados que se destacaram durante a carreira.

E, mesmo nesta despedida, Scarface continua ensinando os mais jovens com seu impecável lirismo, compilando histórias sobre seu bairro e sabedoria de rua. Apesar de, em recentes entrevistas, ele ter mostrado certo desânimo com o Rap, isso não é nem um pouco perceptível no álbum. A voz grave e o flow passional continuam lá, firme e fortes, enquanto ele passeia pela diversidade de beats do disco.

High Powered, o primeiro single, tem potencial radiofônico, com seu loop meio sintetizado e refrão raggamuffin, embora as letras sejam típicas de Face, que ainda aproveita para atacar o desafeto Lil Troy. Can't Get Right, com participação de Bilal no refrão, mostra o lado mais político de Face, algo que pode ser verificado também no clipe da música. Forgot About Me tem um sample vocal espetacular no refrão, enquanto a batida quebrada e simples revela-se perfeita para os convidados Lil Wayne e Bun B rimarem. O primeiro usa algumas metáforas infantis, mas é o veterano do UGK que se destaca, enquanto Face resume tudo com seus primeiros versos:

"Eu sou tão verdadeiro e tão durão quanto os outros(...) / eu sou um gangsta original, eu te digo como faço / eu pego os caras no pulo quando eles vêm de conversa fiada(...) Nunca esqueça de onde eu vim, filho / eu sou respeitado nas ruas que comando".

Outros destaques são Who Are They, que junta Face Mob a outra lenda do Sul, o emcee K-Rino; High Note tem um beat bem soul, com strings destacadas, enquanto Soldier Story conta com ótima performance de Z-Ro cantando o refrão. Por fim, Emeritus, a última faixa, mostra novamente as rimas hardcore de Face sobre uma batida suingada.

Com um trabalho sólido do começo ao fim, Scarface despede-se de sua carreira solo de maneira bastante honrada. Talvez tenha faltado aquela faixa espetacular, para alavancar o disco e marcar de vez a despedida, ou então uma participação dos velhos amigos de Geto Boys, Willie D e Bushwick Bill. De mais a mais, Face mostra uma característica em falta atualmente: ele aposenta-se do jogo tão verdadeiro a sua raiz quanto em seu primeiro álbum: nada de tentativas pop, nem super hits. Apenas rimas fortes, verdadeiras, cruas. E isso foi o bastante para levá-lo ao Hall da Fama.

Scarface - Emeritus
01. Intro (feat. J Prince)
02. High Powered (feat. Papa Rue)
03. Forgot About Me (feat. Lil Wayne & Bun B)
04. Can´t Get Right (feat. Bilal)
05. Still Here (feat. Shateish)
06. It´s Not A Game
07. Who Are They (feat. K-Rino & Slim Thug)
08. Soldier Story (feat. Z-Ro)
09. Redemption
10. High Note
11. We Need You (feat. Wacko Of UTP)
12. Unexpected (feat. Wacko Of UTP)
13. Emeritus
14. Outro

Download


Vídeo da faixa High Powered:


Vídeo da faixa Can't Get Right:

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Common: Universal Mind Control

Certo dia, Common, autor de vários álbuns clássicos e um dos emcees mais respeitados atualmente, estava pensando sobre sua vida profissional e sua recente entrada no mundo do cinema. Satisfeito com o resultado, ele resolveu fazer um disco diferente dos mais recentes, um álbum mais eletrônico e leve do que introspectivo e cheio de samples de soul. Para esta empreitada, ele chamou o produtor Pharrell Williams, do Neptunes, para ajudá-lo na confecção do projeto, que se chamaria Universal Mind Control.

"Pharrell, eu quero um álbum mais dançante, para tocar nas pistas, algo mais leve, diferente do que eu tenho feito. O rap tem entrado numa moda meio eletrônica, quero experimentar com isso", explicou Common. Imediatamente, Pharrel aceitou o convite e os dois começaram a trabalhar. Na primeira sessão, gravaram Universal Mind Control, num beat com um loop até legalzinho, embora enjoativo, mas que funcionaria bem nas boates. Empolgado, Common começou a escrever suas rimas tradicionais, complexas, cheias de significado. Entretanto, foi alertado por Williams da proposta do álbum: "Seja mais simples, isso não funciona num hit!", ralhou. Common concordou com o amigo, e, mesmo contrariado, reeescreveu seu verso, dessa vez de forma mais simples. "Compensarei usando um flow sinistro", pensou.

Felizes com o resultado, lançaram a faixa na internet e continuaram trabalhando. Announcement foi a segunda música gravada, e seguia a toada da antecessora. O beat com um loop funkeado e samples vocais empolgou Common, que escreveu dois versos muito bons, cheios de referências a antigos sucessos do rap, inclusive do próprio emcee. Infelizmente, o beat era tão bom que até Pharrel resolveu rimar em cima. Constrangido, Common teve de ceder. "Ele tem me ajudado muito. Falou um monte de merda na rima, mas até que a levada foi legal", pensou.

Depois, vieram ouras três faixas do tipo: Sex 4 Sugar, What a World e Everywhere(esta última, cortesia de Mr. DJ, amigo dos emcees). Foi aí que Common viu estar tomando uma direção estranha. Ele havia usado um flow meio old school em What a World que tinha funcionado bem, mas não estava satisfeito. Pharrell, por sua vez, estava radiante com o resultado. "Veja, Common, estamos fazendo um clássico!", exclamou. Logo depois, resolveu ir tirar uma água do joelho para depois continuar a produção de clássicos. Neste momento, Common teve uma luz: "É agora ou nunca", decretou. Assim, aproveitou a ausência de Pharrell e gravou três faixas bem diferentes das outras.

Primeiro, surrupiou a melhor batida que Pharrel havia feito e gravou Gladiator. A faixa, com bateria mais tradicional, era dividida em sua estrutura por saxofones espetaculares, meio preguiçosos, enquanto a primeira parte dos versos ficava por conta de um sintetizador. O sample vocal do refrão foi a cereja no bolo para que Common escrevesse como nos tempos de Be. Aproveitando a toada, usou um CD de beats de Mr. DJ que estava na sua mochila e escolheu o beat mais "ensolarado" possível para gravar Changes. "Este é o clima que eu quero, uma atmosfera de verão. Foi isso que eu havia dito à imprensa no começo do ano. Acho que me enganei nas primeiras faixas", pensou, meio arrependido. Esse arrependimento fez-se presente na faixa, uma vez que Common resolveu escrevê-la de uma forma totalmente diferente do restante do álbum. Falou sobre Obama, sobre mudanças, esperança, etc. Por fim, chamou Muhsinah, que havia o impressionado com sua participação no último álbum do Foreign Exchange, para cantar o refrão, e ainda colocou uma criança fazendo um interlúdio no final.

Common já podia ouvir Pharrell cantarolando Beautiful, hit dele com Snoop Dogg, a caminho da sala de gravação. "Meu Deus, só falta agora ele querer fazer aquele falsete escroto em algum refrão do disco!", assustou-se. Apavorado, ele tratou de aproveitar o tempo que restava para gravar mais uma faixa. Assim surgiu Inhale, com um ótimo sintetizador permeando toda a faixa, além de scratches certeiros no refrão. Quando Pharrel voltou para a sala, tinha uma surpresa para o amigo. "Olha quem eu trouxe para fazer uma participação no disco!", disse, enquanto apresentava Kanye West. "Nossa, pior que o falsete do Pharrell, só o autotune do Kanye!", desesperou-se Common. Dito e feito. A dupla gravou Punch Drunk Love, com 'Ye cantando normalmente o refrão. Porém, os temores de Common se confirmaram, e ele viu o novo astro pop usando o autotune para colocar no fundo da faixa, que, apesar disso, não ficou tão ruim.

No apagar das luzes, Common chamou seu amigo Cee-Lo para cantar um refrão na última faixa a ser gravada. Make My Day, uma faixa uptempo, com um andamento bem acelerado da bateria, foi abençoada com a performance de Cee-Lo, o que empolgou bastante Common, o que deu para notar até no flow dele na música. Com o disco pronto, Common agradeceu, educamente, a ajuda de Pharrell. "Espero que nós possamos trabalhar juntos mais vezes. Oh-oh-oh!", disse o produtor, emendando Beautiful. O emcee deu um sorriso amarelo, e voltou para casa. No caminho, voltou pensando que poderia ter dado um laxante para que o amigo passasse mais tempo no banheiro. Sentiu-se culpado por pensar isso, afinal Pharrell tinha contribuído com bons beats. Então, tomou uma decisão: voltaria a fazer filmes por mais um tempo, enquanto seu novo trabalho rendesse nas pistas.

Common - Universal Mind Control
1. Universal Mind Control (UMC)
2. Punch Drunk Love (feat. Kanye West)
3. Make My Day
4. Sex 4 Suga
5. Announcement (feat. Pharrell)
6. Gladiator
7. Changes (feat. Muhsinah)
8. Inhale
9. What a World (feat. Chester French)
10. Everywhere (feat. Martina Topley-Bird)

A princípio, não vou colocar link para downlad aqui no post, para evitar qu o Blogger delete o post e traga problemas para o blog. Percebi que esss lançamentos maiores são os que chamam a atenção do Blogger. Colocarei o link num dos comentários do post.