domingo, 31 de maio de 2009

J Dilla: Jay Stay Paid

Se houvesse uma estatística para tal, constataríamos que uns 99% da população mundial adora música. Desse pessoal todo, uns 40% realmente se importam com ela. O percentual de quem entende e ama as melodias, vozes, notas e letras cai para uns 20%. Mas há um grupo seleto que morreria com e pela música. Uma turma ainda mais reduzida subverteria a ordem do mundo: viveria através dela. Desse círculo fechado, James Yancey, o Jay Dee ou J Dilla, é certamente um dos integrantes mais importantes. Se nos concentrarmos no rap, o número de mártires é considerável. Mas poucos foram tão prolíficos após a morte. É graças a essa produção intensa que, em 2009, três anos após o falecimento de Dilla, nós somos presenteados com mais um álbum com beats inéditos do produtor: Jay Stay Paid.

O disco, que confirma uma produtividade no mínimo comparável à de Tupac, mostra bem mais cuidado com a obra do artista. Nada dos rappers quentes do momento, nada de interferências nos trabalhos. Quem tomou conta do projeto foi a mãe de Dilla, Maureen Yancey, a Ma Dukes, e o produtor e amigo de James, Pete Rock. São 28 faixas, a maioria delas instrumentais nunca lançadas, mixadas num esquema de programa de rádio, no qual Rock é o apresentador. Entre os poucos mortais agraciados com a possibilidade de rimar sobre as preciosidades: Black Thought, Havoc, Raekwon, DOOM, Phat Kat, Lil'Fame e Blu, entre outros. Ah, claro, o irmão caçula Illa J também aparece.

Sobre as batidas, não há muito o que comentar. É a estética da última fase de Dilla estampada: as caixas tortas, os bumbos bem definidos, o experimentalismo, os samples de outro mundo. Tudo arranjado em uma clima originalíssimo: não são beats completamente relaxante, nem totalmente dançantes. Quer dizer, são as duas coisas ao mesmo tempo, sem a possibilidade de taxá-los como pertencentes a apenas um lado. A não ser quando ele inventa de colocar um piano MUITO jazzy rolando ininterruptamente, enquanto vai brincando com bumbos e caixas, em "Mythsysizer". Ou quando, meio que premonitoriamente, resolve evocar lágrimas dos olhos alheios na linda "Coming Back".

O quem chama muito a atenção é como os instrumentais produzidos por Dilla parecem tão independentes, tão completos, que repelem praticamente qualquer rima. São beats feitos para permanecerem invioláveis, expressando os sentimentos do produtor por si só, sem qualquer rima. Ou melhor, parece que as rimas estão codificadas na batida, talvez na forma como James manipula os bumbos - a ótima "Lazer Gunne Funke" é o melhor exemplo. Faixas como a minimalista "Kaklow (Jump On It) e "King" são exemplos disso. Nesta última, porém, Dilla não rima com os bumbos, e sim com os samples.

Diante de produções tão intimidadoras, ainda existem emcees corajosos e talentosos o suficiente para tentar dar ainda mais qualidade. A maioria deles trabalhou realmente com Dilla, o que facilita a abordagem deles. Black Thought, com sua "Reality TV", parece tão à vontade que dá a impressão do beat ter um dedo de ?uestlove, graças à bateria incisiva, pulsante. Lil' Fame, por sua vez, traz algumas influências da Old School para "Blood Sport" e adapta de forma perfeita seu flow agressivo nas duas batidas que compõem a faixa. Por fim, "Fire Wood Drumstix" traz a levada quebrada de DOOM e uma homenagem tão insana quanto o emcee.

E, por mais que eu escreva aqui, vou falhar incessantemente em tentar descrever o trabalho de Dilla na sua plenitude. Vai ser necessário que cada um faça um processo parecido ao dele na hora de produzir música. Ouvir, sentir, se divertir, entender. Talvez isso seja o mínimo que devemos a este cara. Consumir sua música da forma mais respeitosa possível. Colocar seus beats no caminho pro trabalho, pra andar de skate, para ouvir no carro, para dormir, para dançar. James Yancey merece, amigos.

J Dilla - Jay Stay Paid
1. KJay FM Dedication
2. King
3. I Told Y’all
4. Lazer Gunne Funke
5. In The Night/While You Slept (I Crept)
6. Smoke (feat. Blu)
7. Blood Sport (feat. Lil’ Fame Of M.O.P.)
8. CaDILLAc
9. Expensive Whip
10.Kaklow (Jump On It)
11. Digi Dirt (feat. Phat Kat)
12. Dilla Bot Vs. The Hybrid (feat. Danny Brown)
13. Milk Money
14. Spacecowboy Vs. Bobble Head
15. Reality TV (feat. Black Thought)
16. On Stilts
17. Fire Wood Drumstix (feat. Doom)
18. Glamour Sho75 (09)
19. 10,000 Watts
20. 9th Caller
21. Make It Fast (Unadulterated Mix) (feat. Diz Gibran)
22. 24K Rap (feat. Havoc Of Mobb Depp & Raekwon)
23. Big City
24. Pay Day (feat. Frank Nitty Of Frank N’ Dank)
25. See That Boy Fly (feat. Illa J & Cue D)
26. Coming Back
27. Mythsysizer
28. KJay & We Out

Download

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Marco Polo & Torae: Double Barrel

Não aguenta mais o seu chefe? Brigou com a namorada? Está sobrando mês no fim do seu salário? A sua mãe reclama porque você não vai bem na escola e prefere jogar bola com os amigos? Você saiu de casa de casaco e fez um sol de 40 graus? Tá revoltado com a vida? Amigo, quando a situação se configura dessa forma, a música é uma forma de escape e oferece duas opções: recorra a discos mais tranquilos para relaxar, ou coloque um pancadão para desabafar e mandar o mundo àquele lugar. Se você escolher a segunda opção, a última novidade do mercado chama-se "Double Barrel", projeto lançado pela dupla formada pelo produtor canadense Marco Polo e o emcee nova-iorquino Torae.

Marco fez seu nome graças a produções para vários rappers e um álbum solo bastante elogiado. Já Torae é um veterano do underground de Nova Iorque, lançou ano passado seu álbum/mixtape Daily Conversation e desde então vem colhendo os louros do buzz que o projeto fez na rua. Ao se juntarem, os dois têm um objetivo básico: recriar o som pesado, hardcore, sujo, típico da produção da Costa Leste em meados dos anos 90. Basicamente, um retorno à golden age, como muitos outros tentam fazer nos dias atuais. Mas um retorno mais específico.

A introdução do álbum já deixa claro o caminho que o duo está tomando. Sobre um instrumental jazzy, o primeiro e único DJ Premier dá sua benção para a dupla. A partir daí, o que se segue é uma overdose de batidas pesadas, rimas furiosas, scratches, mais rimas furiosas, samples funkys e jazzísticos e mais caixas batendo fortíssimo. A fórmula é simples, a proposta é bem definida e a execução, dentro do esperado, atinge facilmente as expectativas. Não se pode esperar aqui versos cheios de significados ou muito filosóficos. O estilo de Torae é duro, direto ao ponto, e faz do emcee um dos melhores no battle rhyme atualmente.

Não por coincidência, os beats de Marco Polo complementam perfeitamente as rimas fortes de Torae. Como dito acima, Marco usa e abusa do boom bap agressivo, permeado por metais e pianos manipulados de forma a se integrarem sem sobressaltos no esqueleto sinistro programado pelo produtor. Embora este expediente revele-se um pouco cansativo ao longo do disco, algumas faixas sobressaem como os ápices do disco. "Double Barrel" é uma delas, com trombetas meio épicas, meio nostálgicas abrindo caminho entre os scratches, as rimas e as caixas graves. A funky "But Wait", com um naipe de metais arrebatador e um sample vocal bem eficiente, traz um pouco de suinge à sisudez geral do álbum. O sample vocal transformado em refrão de "Coney Island" também traz um sabor diferente para o registro.

Falando em novos sabores, as participações especiais são um grande acerto de Marco e Torae. Em um álbum tão pesado, seria natural que os convidados lidassem bem com este estilo de instrumentais. A escolha não poderia ser mais acertada: Lil'Fame, do M.O.P., a dupla do Heltah Skeltah, Rock e Sean Price, e o nativo de Detroit Guilty Simpson. Todos encaixam perfeitamente na proposta do disco e não fazem feio, às vezes até ofuscando o brilho do emcee residente. Até o veterano Masta Ace, não exatamente um rapper hardcore, parece em casa na maliciosa "Hold Up".

"Double Barrel" chega ao fim de sua audição como um projeto executado de forma correta, embora traga pouca diversidade ao longo das faixas, nem que seja uma pequena mudança de clima. Apesar disso, é coerente e não desvia seu foco em momento nenhum e traz aos ouvintes exatamente o que Marco Polo e Torae anunciaram. Portanto, se você estiver revoltado com a vida e quiser desabafar, pode colocar este disco no play sem problemas. Na metade do álbum, você já vai estar balançando a cabeça furiosamente ao som dos beats de Marco Polo e gritando palavras de guerra à la Torae para o seu vizinho que está ouvindo pagode.

Marco Polo & Torae - Double Barrel
1. Intro f/DJ Premier
2. Double Barrel featuring cuts by DJ Revolution
3. Smoke f/Lil Fame of M.O.P.
4. Party Crashers
5. But Wait
6. Lifetime featuring cuts by DJ Revolution
7. Rah Rah Shit
8. Danger
9. Stomp f/Guilty Simpson
10. World Play
11. Hold Up f/Masta Ace & Sean Price
12. Coney Island
13. Get It
14. Crashing Down f/Saukrates & S-Roc

Download

As inscrições para o Concurso Boom Bap de Beats estão chegando ao fim! O último dia para mandar a sua batida é no próximo domingo, 31 de maio.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Method Man & Redman: Blackout! 2

Dez anos depois do platinado e aclamado Blackout!, chegou a vez de Method Man e Redman unirem forças novamente. Com produções de alguns veteranos bem conhecidos, como Havoc, Pete Rock, Erick Sermon e Buckwild, o duo apostou novamente na química entre os dois e na legião de fãs que os seguem desde os tempos de "How High" e do primeiro apagão que causaram no mundo do rap. "Blackout!2" é o resultado desta aposta.

Entretanto, dez anos é uma diferença muito grande, principalmente para um gênero tão irrequieto quanto o rap. Na época do primeiro disco, Meth e Red eram estrelas, tinham lançado seu próprio filme e alcançaram platina em apenas três meses. Em 2009, porém, as coisas são diferentes. Ambos vêm de álbuns apenas razoáveis e num momento de baixa na carreira. Nada melhor, portanto, do que um novo Blackout! para recuperar as forças e seguir relevante no jogo.

E essa relevância cobra um preço. Não basta fazer música apenas para os seus fãs, falar de fumo, preparar punchlines e pegar beats pesados. Se em 1999 o mainstream era o estilo da dupla, hoje é diferente. Por isso, não é de se espantar uma pegada mais comercial em algumas faixas do novo disco, uns autotunes aparecendo de vez em quando. O mais importante, entretanto, é que aquele papo de atingir seus admiradores e satisfazê-los ainda conta para a dupla, o que é elogiável e rende os melhores momentos deste registro.

O álbum é claramente oito ou 80. Algumas faixas são muito boas e captam exatamente aquilo que todos gostam na dupla, enquanto outras passam totalmente despercebidas. Esta divisão entre lado bom e ruim é feita basicamente pelos beats, uma vez que a sinergia entre Meth e Red continua perfeita e as performances, afiadas. Assim, quando eles recebem uma batida pouco convencional da lenda Pete Rock, eles transformam em hit que vai tocar em todas as pistas e rádios dos EUA e, com alguma sorte, aqui no Brasil. Trata-se de "A-Yo", o primeiro single, que, embora enjoe um pouco após repetidas audições, ainda traz o Soul Brother #1 em boa forma, com um sample meio latino ecoando pelo beat e o bom refrão de Saukrates.

Ainda na linha dos hits, a lenta e relaxante "Mrs. International" dá à dupla o fundo perfeito para exercitar seus xavecos. Já "City Lights" traz a pegada sulista, com Pimp C sampleado no refrão e tudo, além, é claro, do verso obrigatório de Bun B. Mas não é só de singles que a segunda vinda de Blackout! é feita. As pancadas, claro, também têm seu espaço garantido. "I´m Dope Nigga" e "Dangerous Emcees" começam bem o disco, ambas com graves imponentes e caixas batendo forte, mas é o hino fumante de "Diz Iz 4 All My Smokers" o maior destaque do disco inteiro. Não bastasse os violinos sensacionais do beat e a multidão de fãs fazendo o refrão, é nesta faixa que Meth e Red estão mais energizados e afiados. As punchlines parecem intermináveis e culmina na apropriadíssima referência de Meth: "Eles tentaram me levar para a reabilitação, não!".

No fim, "Blackout! 2" funciona muito bem, porque os dois emcees não forçam a barra e valorizam o que têm de melhor: a química entre os dois, asl evadas e linhas matadoras, a simplicidade dos temas. Quando confrontados com bons instrumentais, eles elevam ainda mais o nível. Caso contrário, ainda estão lá, firmes e fortes. O disco novo pode nem er lembrado para a lista de melhores do ano, mas com certeza vai garantir bons momentos de diversão para os fãs da dupla. Mas, por favor, no terceiro capítulo da saga, peguem pelo menos uma batida do RZA.

Method Man & Redman - Blackout! 2
01 BO2 (Intro)
02 I’m Dope Nigga
03 A-Yo f. Saukrates
04 Dangerous MCs
05 Errbody Scream f. Keith Murray
06 Hey Zulu
07 City Lights f. UGK
08 Father’s Day
09 Mrs. International (Skit)
10 Mrs. International f. Erick Sermon
11 How Bout Dat f. Ready Roc & Streetlife
12 Dis Iz 4 All My Smokers
13 Lock Down (Skit) f. DJ Kay Slay
14 Four Minutes to Lock Down f. Raekwon & Ghostface
15 Neva Heard Dis B4
16 I Know Sumptin f. Poo Bear
17 A Lil Bit f. Melanie Rutherford

Vídeo da faixa "A-Yo":

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Superstar Quamallah: Invisible Man

Superstar Quamallah é um DJ/emcee do Brooklyn e está na correria desde o início da cultura, primeiro como fã e estudante, e agora fazendo parte do lado artístico da parada. Além disso, o cara ainda é ator, escritor, filho do músico de jazz Big John Patton e, por fim, professor de universidade, na cadeira de "Cultura Hip Hop e apropriação da mídia". Ocupado, né? Pois bem, ele ainda encontrou tempo para lançar seu quinto projeto, intitulado "Invisible Man".

Segundo o próprio Quamallah, o conceito do disco é baseado em três vértices: o primeiro é o romance de mesmo nome escrito por Ralph Ellison, que conta a história de um jovem negro que se muda do Sul dos EUA para o Harlem; a segunda explicação é a ideia de todos nós termos uma força interior que não conhecemos e que é nossa essência; por fim, Quame acredita que o underground é, de certa forma, invísivel para o mainstream, o que possibilita aos artistas subterrâneos criarem obras verdadeiras, sem precisarem se curvar ao capitalismo.

Dito tudo isto, vamos à música propriamente dita. A primeira coisa que se percebe é o clima golden age presente por todo o álbum. Esta dominância vai desde a estética dos beats - sujos, simples, pesados - até as colagens, quase sempre de ícones da velha escola norte-americana. Para acabar com qualquer dúvida, a terceira faixa do disco, "88 Soul", dissipa tudo. Sobre um instrumental seguindo o padrão descrito acima, Quamallah fala sobre ser um cara ligado à old school, cita clássicos da mesma e, claro, dá uma cutucada no estado atual da cultura: "A MTV é igual à BET, igual a tudo o que eu vi nos shows de menestréis / (...) eu mudo o canal".

Com bastante ênfase nas letras, Quame usa uma levada lenta, fria, quase calculista, para se certificar de que o ouvinte vai entender cada palavra que ele cuspir. Isso pode ser prejudicial para o álbum como um todo, porque às vezes o tom de voz do cara e a falta de variação do flow tendem a desviar a atenção de qualquer um. Quem fica ligado, entretanto, é recompensado. Faixas como "You Need Knowledge" e "For My People...It's Spiritual" trazem uma carga forte - talvez até exagerada - de afrocentrismo, enquanto "Purity" trata novamente da época dourada do rap. Doses esporádicas de ensinamentos dos Five Percenters também podem ser encontradas por todo o disco.

De qualquer forma, o carro chefe do álbum é, sem dúvidas, a sua parte instrumental. As caixas pesadas são onipresentes, e o samples, muitíssimo bem escolhidos e executados, oriundos basicamente do jazz e do soul. "Plots" é uma slow jam jazzy típica de sábados ensolarados nas praias cariocas, tamanha a delicadeza dos excertos usados. "California Dreamin" segue o mesmo caminho, contando ainda com uma sessão louvável de scratches. As pancadas também têm seu lugar: "You Need Knowledge" é uma pletora de samples em prol de uma bateria simples e pesada, enquanto "88 Soul" conta com o melhor loop de todo o disco, um piano que dá a impressão de que nunca vai parar de ser ouvido.

No fim das contas, "Invisible Man" é um trabalho muito bem produzido, que vai agradar em cheio qualquer fã de rap que conheceu o gênero no começo dos anos 90. O discurso de Quamallah pode ser um pouco exagerado ou repetitivo, mas ainda assim garante bons momentos, sem contar no groove de primeira linha. Nada como o bom e velho boom bap nova-iorquino da década passada...

Superstar Quamallah - Invisible Man
01 - Mr. Righteous (Intro)
02 - You Need Knowledge
03 - 88 Soul
04 - Black Shakespeare
05 - For My People…Its Spiritual
06 - Lonely At The Top
07 - Just Listen
08 - California Dreamin’
09 - Purity
10 - Kunta Kente
11 - 1993 Shit
12 - We Got Plots
13 - Do Win-Dis
14 - Hope She Remembers Me

Vídeo da faixa "California Dreamin":

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tanya Morgan: Brooklynati

Tanya Morgan é mais um grupo representante da nova escola norte-americana, composto pelos emcees Donwill, Ilyas e Von Pea, sendo este último também o responsável pelas bases da turma. Como novatos no jogo, os rapazes seguem uma das duas trilhas: ou vão fundo na maximização do mainstream ou erguem a bandeira da golden age do Hip Hop. No caso deste trio com nome de cantora diva, a segunda opção foi a escolhida – para o deleite dos puristas do rap. Brooklynati é o segundo álbum dos caras e é uma alusão a uma suposta cidade perfeita que uniria o Brooklyn, casa de Von Pea, a Cincinatti, lar doce lar de Donwill e Ilyas.

É com base neste conceito que os garotos constroem todo o álbum. Tudo começa com eles pegando a estrada rumo à terra prometida – destino que só alcançam no final do disco. Até lá, os aperitivos vêm em forma de pequenos interlúdios sobre a cidade. Assim, temos desde reclamações sobre pirataria – “eles baixam o álbum, querem baixar as camisas, tudo às custas do meu dinheiro”, resmunga o indivíduo – até anúncio de um super show de 15 anos de aniversário do clássico single “Hardcore Gentlemen”, a ser cantando 15 vezes seguidas, por 15 dólares e mais um show de abertura de 15 minutos, claro, pelo Tanya Morgan.

Por falar em “Hardcore Gentlemen”, esta faixa é bastante significativa dentro da ideia do disco. Primeiro, porque aborda um tema recorrente durante o registro, que é o tradicional rap dos anos 90. Imagine Brooklynati como a cidade perfeita – certamente uma das características de um lugar assim é manter intacto o rap, sem amarras comerciais. Por isso, um show grandioso para recordar o tal single famoso. Falando da música propriamente dita, é uma verdadeira homenagem aos anos dourados, desde a levada dos emcees até as referências dentro da estrutura; algumas sutis como os metais característicos de Pete Rock no início, outras mais perceptíveis, como o “roar roar like a dungeon dragon” à la Busta Rhymes na clássica Scenario.

Ainda no campo das rememorações, há espaço para “Without U”, um conto aos moldes de “I Used To Love H.E.R.”, com um refrão bem mais meloso por parte de Phonte e uma batida mais romântica; e “Plan B”, na qual o trio fala sobre o fato de não haver uma outra alternativa para eles a não ser ganhar a vida rimando. Além deste tema, existem outras jóias no álbum, como a introdutória “On Our Way”, com seu refrão grudento, guitarras discretas e caixas pesadas, criando o clima de otimismo típico de quem vai pegar a estrada rumo ao paraíso; as percussões mais cativantes dos últimos anos de “Don’t U Holla”, a simpática aparição de Blu na soul “Morgan Blu” ou mesmo a combinação de metais poderosos mais refrão marcante de “Alleye Need”.

Como deu para reparar, os caras são especialistas em refrões que ficam na cabeça. Mas há mais nestes moleques. A produção é de altíssimo nível, tirando os eventuais exageros em samples muito melosos. Von Pea e Brickbeats, outro produtor que colaborou no registro, usam um arsenal de excertos, que compreende metais funky, vocais soul acelerados, batidas retas, percussões e afins, para criar a atmosfera ideal de Brooklynati. Não é de se estranhar que, no paraíso, o funk, o jazz e o soul formem o caldeirão de influências para os hip-hoppers.

Chegando ao fim da viagem e colocando finalmente os pés em Brooklynati, a sensação de bem estar é natural. O disco é extremamente sólido, com bons beats e boas rimas do começo ao fim. O conceito é bem explorado e fica na medida certa, nem muito exagerado nem muito abstrato. Muitos sites gringos se empolgaram e já classificaram o álbum como o melhor do ano. Talvez eu esteja perdendo algo, mas Brooklynati não chega a tanto. Entretanto, é, sem dúvida, dos melhores produtos da safra 2009 dos EUA.


Tanya Morgan - Brooklynati
01 On Our Way
02 Alleye Need Ft Piakhan
03 So Damn Down
04 Bang & Boogie
05 Don ’t U Holla Ft Jermiside
06 Hardcore Gentlemen
07 Plan B Ft Napoleon
08 Intermission Ft Peter Hadar
09 She’s Gone AKA Without You Ft Phonte & Brittany Bosco
10 Never 2ndary Ft. Jermiside Che Grand Elucid & Spec Boogie
11 Just Not True Ft Brick Beats
12 Morgan Blu Ft Blu
13 Never Enough (Crazy Love) Ft Carlitta Durand
14 We’re Fly Ft Kay & Chop
15 Just Arrived (Now What?)
16 Forgot 2 Say (Bonus Track)

Download

Visite o site de Brooklynati

domingo, 17 de maio de 2009

Concurso Boom Bap de Beats: Inscrições prorrogadas!

Devido a um grande número de pedidos, venho hoje anunciar uma boa notícia: as inscrições para o Concurso Boom Bap de Beats, que coroará o vencedor com o direito de ter o instrumental no disco do Ogi, do Contrafluxo, estão prorrogadas até 31 de maio.

Para participar, é o mesmo esquema de antes: mande sua batida em anexo para o email felipe.schmidtm@bocadaforte.com.br, com nome completo, contato, cidade onde mora e programas utilizados para a produção do beat. No fim do mês, escolheremos os finalistas.

Boa sorte a todos!

PS: Para saber mais detalhes sobre o Concurso, clique aqui

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Emicida: Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe

Um dos maiores fenômenos do rap brasileiro nos últimos tempos finalmente lançou sua primeira empreitada. O paulista Emicida, que ficou famoso pela sua habilidade no freestyle, depois de um bom tempo na luta, jogou na rua a mixtape "Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe". O trabalho confirma que o cara é sim uma das maiores promessas da cena tupiniquim. Melhor, uma realidade já, uma esperança e um espelho para futuros emcees nascidos em terra brasilis.

A mix contabiliza 25 faixas, todas mixadas entre si. O número pode ser alto, mas é bom lembrar que esta é uma mixtape, o que dá uma liberdade maior de formato do que um álbum, por exemplo. Divagações sobre fitas e discos à parte, o que importa é que Emicida, com suas rimas e escolhas de bases, representa uma resposta para as várias questões que atormentam o rap nacional na sua eterna encruzilhada entre velha e nova escola. Por quê? Porque ele é o elo perdido entre ambas, um híbrido de um Mano Brown menos revoltado e um Kamau mais político. Resumindo, ele não perde o ativismo fortíssimo dos anos 90, mas busca os novos assuntos e conceitos tão valorizados pela geração 2000.

Emicida pode falar sobre mulher, filosofar sobre a vida, fazer crônicas do espaço urbano, ser introspectivo, revisitar sua infância, discursar diretamente à favela, escrever uma ode ao hip hop etc. É essa versatilidade e mente aberta que salta aos olhos. Some isso ao carisma e à capacidade inata de soltar punchlines no momento certo em cada faixa, e você tem o matador de emcees, quase um resultado do realismo literário. Um cara que é gente da gente, e de madrugada vira este super-herói que escreve as rimas mais impactantes do rap brasileiro.

Só a introdução do disco pode ser considerada melhor do que muita coisa que sai todo dia pelos esgotos do hip hop mundial. Meio spoken word, sobre uma plataforma jazzística acompanhada por percussão à la Gil Scott-Heron, Emicida fala sobre tudo, de uma forma que realmente capta sua atenção, mesmo em meio a um metrô lotado e barulhento. Se esta introdução fosse lançada como single, ainda assim seria candidata a disco do ano aqui no Boom Bap. Mas há mais, e você percebe logo em seguida, com a raivosa "E.M.I.C.I.D.A." e as caixas pesadas e piano cortado, cortesia de Nave.

Os destaques são inúmeros: o suíngue jazzy de "Pra Mim..." é a atmosfera perfeita pro emcee falar sobre as coisas que mais gosta; o hilário sample e o cavaco de "Ainda Ontem" abrem alas para a metalinguagem sobre freestyle; "Por Deus, Por Favor" é um exercício de storytelling, com algumas histórias que desaguam no título da faixa; em "Cidadão", Emicida vira suas armas para seus próprios irmãos, vocalizando uma mea-culpa tão necessária quanto apontar os problemas do "sistema".

No final da mix, entretanto, é onde residem as faixas mais marcantes. "Hey Rap!", com um beat impecável de Dario, é uma carta aberta ao rap nacional, que culmina na criativa segunda estrofe, na qual Emicida rima usando nomes de alguns dos discos mais importantes da nossa história. Em seguida, o cara pega emprestado a base de "One Mic", do Nas, para uma homenagem comovente para o DJ Primo, em "Essa é pra você, Primo". Comovente também é o adjetivo mínimo para classificar a faixa de encerramento do registro, "Oorrra...", uma autobiografia acachapante, capaz até de arrancar lagrimas dos mais desavisados.

Enfim, "Pra Quem Já Mordeu..." alcança, no mínimo, a expectativa da legião de fãs do emcee paulista. É um registro sincero, sem amarras, que pode, sim, nortear a próxima geração. O fato de ser uma mixtape é uma faca de dois gumes. Obviamente, algumas faixas não se destacam tanto quanto outras, o que é compreensível. Por outro lado, a ansiedade e esperança que um álbum completo e pensado vai despertar será grande demais. Que o filho da dona Jacira vença mais esta barreira. O rap nacional agradece.

Contatos para adquirir a Mixtape:
Em SP :
Galeria do rock (subsolo)
Loja Via Hipiie Hop - 11 - 3331 4119
Pavilhão - 11 - 3338-1298
Galeria presidente
Colex oficial

Fora de São Paulo :
Curitiba: viniciusnave@gmail.com
Rio de janeiro : tujaviu@gmail.com
Salvador: nouve90@gmail.com

Leia ótima entrevista com Emicida no Per Raps

terça-feira, 12 de maio de 2009

Single: Bgame - Luz da Vida


O jovem emcee Bgame, de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, continua trilhando seu caminho dentro do rap nacional. Depois de lançar um EP no fim do ano passado, agora ele disponibiliza o single "Luz da Vida", produzido por Mr. Break e com participação de Jack. Esta faixa é a primeira do álbum "Antes do Solo", que deve sair ainda este ano. Segundo Bgame, esta música tem como objetivo passar uma mensagem de positividade, podendo ser tocada em qualquer lugar, sem restrições.

Download do single "Luz da Vida"

Contatos:
Comunidade no Orkut
Myspace
Email: brunobgame@hotmail.com
Blog

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Teaser: Pizzol - 16 anos




Pizzol é a mais nova aposta da 360 Graus Records, comandada pelo DJ Caíque. O moleque tem apenas 16 anos e impressionou Caíque - que, inclusive, produz todo o álbum - e outros pela forma de rimar. Este vídeo é a primeira chamada para o primeiro disco do cara, intitulado 16 anos, que ainda não tem data oficial para ser lançado. Fiquem atentos que o Boom Bap vai disponibilizar com exclusividade uma faixa do disco, além do single, assim que sair.

domingo, 10 de maio de 2009

Fim das inscrições para o Concurso Boom Bap de Beats


Amigos, como combinado antes, o prazo para inscrever seu instrumental para o Concurso Boom Bap de Beats acabou ontem. O resultado foi muito bom, com 37 postulantes ao prêmio. Agora, uma triagem será feita para escolher os finalistas - o número exato ainda não está definido, mas ficará entre cinco e 10 classificados. O anúncio dos agraciados será no dia 18 de maio, e nesta mesma data cada beat escolhido será colocado para apreciação no blog, sendo também aberta uma enquete para apurar o voto dos visitantes do Boom Bap.

Duas curiosidades que puderam ser verificadas: a esmagadora maioria usa o famoso Fruity Loops para confeccionar seus beats, e São Paulo ainda é o centro do rap no Brasil - a maioria dos concorrentes vem deste estado. Nao se pode medir nada por um humilde concurso de batidas, mas é interessante perceber isso.

Enfim, queria agradecer a todos os inscritos e ao pessoal da internet que divulgou a parada, como o Bocada Forte, o Per Raps, o Rapevolusom e o Savave.

Então, até o dia 18, com os finalistas!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Gangstarr: Moment of Truth + Tradução


Caro Guru,

Ouvi recentemente seu novo projeto - Guru 8.0 Lost and Found -, e a audição me deixou traumatizado a ponto de escrever para você. Como pode, você, um dos caras mais respeitados na história do rap, render-se de forma tão fácil aos macetes da indústria? Confesso que ainda acho que é mentira o fato de ter ouvido sua voz num autotune. Justo você, que sempre atacou os emcees falsos e fracos, que fez parte de um dos melhores grupos do gênero.

Bom, eu tenho de admitir: tenho algumas restrições ao seu trabalho. Reconheço que escreveste grandes letras, mas nunca admirei sua levada. Também repudiei a forma como o Gangstarr acabou e como você se porta perante isso. Dizer que o grupo já atingiu o limite e você queria coisas novas? Achei um pouco de prepotência, até porque o Premier, para mim a verdadeira base do grupo, continua até hoje doido para retomar a dupla. Mas você não, faz pouco caso e prefere se juntar ao "super" produtor Solar. Bom, a carreira e as decisões são suas, assim como as consequencias. Ah, não me deixe esquecer: você é um nome importantíssimo, mas não é uma lenda do Hip Hop. Seu grupo era, e os genes lendários eram mais do Primo do que seus.

Para lembrar um pouco disso, queria propor um mergulho no trabalho no qual você chegou mais perto de ser uma lenda. Lembra de Moment of Truth, no longínquo 1998? Pois é, apesar dos discos anteriores terem sido mais falados, foi neste que você rimou melhor sobre os beats imaculados do Primo. Sua levada parecia mais ajustada, as sílabas fluíam melhor e as letras eram sensacionais. A forma como você misturou rimas de batalha com bragadoccio, histórias de rua e outras faixas mais filosóficas merece muitos elogios. Sua escrita também ficou mais rica, você abusou das rimas internas e isso teve um impacto bastante positivo.

"Moment of Truth" tem uma letra absurda, e eu gostei de como você rima como se estivesse falando diretamente com a juventude, passando conselhos. O conceito de "JFK 2 LAX", de você estar se defendendo de um tribunal, também foi muito bem executado, e de quebra tem uma clima motivador e uma das minhas frases preferidas: "Leia, estude, construa seu poder interior / o próximo nível não tolera covardes". "What I'm Here 4" também é ótima, com você voltando um pouco na sua história, explicando suas motivações para rimar. Ainda tem um monte de conceitos legais, como o storytelling de "Betrayal" ou a homenagem de "In Memory Of". Guru, neste álbum você realmente se superou.

E a produção do Premier? Cara, eu ainda não sei por que você não quis mais trabalhar com ele e chama o Solar de super produtor. Depois de já ter criado várias obras, o Primo fez de Moment of Truth um hábitat natural para emcees. Não à toa, vocês chamaram vários convidados para o disco, e todos eles brilharam intensamente - alguns até te ofuscaram. Pois bem, os beats são impecáveis! A capacidade do seu (ex) amigo de pegar samples mínimos e construir grandes batidas é sobre-humana. "You Know My Steez" é emblemática, né? Ele pegou pequenos pedaços e os orquestrou novamente para criar aquele loop insano.

"The Militia" é outra batida inexplicável. As caixas pesadas, o andamento reto, a linha de baixo pulsante e aquelas strings pontualíssimas foram um combo perfeito. O nome não poderia ser mais propício aqui no meu Rio de Janeiro, acho que se os caras ouvirem essa música, ela se torna hino deles, até porque parece mesmo música de guerra, música para se ouvir quando estiver puto da vida. Mas é legal como o Primo consegue equilibrar as coisas: para cada pancada, tem uma mais lenta, como "JFK 2 LAX" - aquele sample vocal é perfeito -, ou até puxando pro R&B, sem ser meloso, é claro, no caso de "Royalty", com uns pianos que me fazem viajar no tempo.

Enfim, cara. Moment of Truth, para mim, é exatamente o que o nome diz: o momento da verdade, quando você evoluiu seu jogo, pôde fazer justiça à produção do Premier, assumiu uma posição importante no rap e soube lidar com isso. Eu vejo o disco como o topo da montanha, depois de vocês escalarem durante anos: é uma celebração de maturidade musical, de reconhecimento. Talvez o tal auge do grupo a que você se referiu esteja neste álbum, mas acho que o desafio seria manter o nível, e não simplesmente desbandar.

Finalizo esta carta com a esperança de que esta volta ao tempo te ajude a repensar suas últimas escolhas e, principalmente, sua posição quanto ao Gangstarr. Seu lugar, cara, é junto do Premier, soltando conhecimento, e não fazendo música com autotunes, sobre batidas plastificadas. Talvez seja um problema financeiro, você esteja precisando ganhar algum dinheiro, por isso resolveu fazer isso. Em respeito a esta hipótese, não colocarei o link para download do álbum no meu blog.
Saudações do Brasil,
um fã de rap qualquer

Vídeo da faixa "You Know My Steez":


Vídeo da faixa "The Militia":



Continuem mandando suas batidas para o Concurso Boom Bap de Beats! As inscrições vão até o dia 9 de maio.

Tradução: Gangstarr - Moment of Truth

Artista: GangStarr
Álbum: Moment of Truth
Música: Moment of Truth - Momento da Verdade

[ Mulher jamaicana ]
Não importa o que nós enfrentamos
nós precisamos encontrar nosso momento de verdade baby

[ Refrão: Guru ]
Eles dizem que o topo é solitário, no quer que você faça
você sempre precisa tomar cuidado com os malucos ao seu redor
ninguém é invencível, nenhum plano é infalível
todos nós precisamos encontrar nosso momento de verdade

[ Verso I : Guru ]
Os mesmos caras falsos com quem você anda e faz suas coisas
poderiam armar pra você e acabar contigo, mano entenda a linguagem
é universal, lições são benções pelas quais você deveria aprender
vamos encarar os fatos, embora MC's gravem faixas
isso não significa que por trás das cenas não há uma sujeira para seguir
isso vai para todos de nós, não há ninguem pra confiar
é tipo sabotagem, me faz ficar pronto para atirar
mas eu não posso ameaçar, o que eu tenho feito até este ponto
então eu vou arranjar mais caras para me ajudar a comandar tudo isto
cultivar, multiplicar, motivar, ou então nós vamos morrer
você sabe que eu sou o mestre no quem, o quê, onde e por que
veja, quando você estiver brilhando, alguns otários vão querer te apagar
sempre os vacilões invejos e egoístas vão querer te colocar
pra baixo, tipo uma ostra num balde
porque eles adoram isso, ver o seu traseiro tremer como um verme
mas quando você receber o que está vindo para você
todo mundo vai pegar o deles também
eu não sou nenhum santo, portanto eu nao posso negar
que todo mundo precisa encontrar seu momento de verdade

[ Refrão : Guru ]
Ações têm reações, não seja rápido para julgar
você pode não saber as dificuldades sobre as quais as pessoas nao falam
é melhor dar um passo para trás, observar com cautela
todos nós precisamos encontrar nosso momento de verdade

[ Verso II : Guru ]
Às vezes você precisar ir fundo, quando os problemas chegam perto
não tema, as coisas ficam severas para qualquer um em qualquer lugar
porque coisas ruins acontecem para pessoas boas?
parece que a vida é só uma guerra constante entre bem e mal
a situação que eu estou enfrentando é bastante incrível
para pensar que tais problemas podem surgir de confrontamentos menores
agora eu estou pensativo no meu quarto
nuvens negras sobre minha cabeça, meu coração batendo rápido
suicídio? Não, eu não sou um cara tolo
não me sinto nem como se estivesse bebendo, ou ficando doidão
porque tudo que isso faz, realmente, é acelerar
as angústias que eu gostaria de aliviar
mas espere, eu estive envolvido em monte de coisas antes
então eu deveria poder resistir por mais tempo
mas eu estou suando, meus olhos estão ficando vermelhos
eu estou pronto pra perder a cabeça, mas em vez disso eu uso minha cabeça
eu abaixo a faca, e tiro as balas da minha pistola
meu único crime foi ser benevolente demais
e agora esses desgraçados querem pegar o que é meu
mas eles não podem tirar o respeito que eu conquistei durante toda a minha vida
e você sabe que eles nunca irão parar a força furiosa de minhas rimas
então, como dizem, todo cão tem o seu dia
e como eles dizem, Deus trabalha de uma maneira misteriosa
então eu rezo, lembrando dos dias da minha juventude
enquanto eu me preparo para encontrar meu momento de verdade

[ Sample : Gangstarr - Who's Gonna Take The Weight ]
"Você deveria conhecer a verdade
E a verdade deveria te tornar livre"

[ Verso III : Guru ]
Ae, eu tenho uma rima apontada pra sua cabeça, pra começar
e outra está apontada para o seu coração fraco
agora, se eu puxar o gatilho, nestas linhas carregadas
você iria desejar que eu tivesse puxado uma pistola
eu quero as espinhas de gangsters falsos
sim, os manos invejosos e os gangster de estúdio
olhando para a situação objetivamente: você vai continuar um gangsta?
ou você vai ser olhado de forma estranha?
eu reino como o articulador, com a maior database
revirando a TASCAM, achando coisas melhores que minha ultima musica
enquanto os outros lutam para se equilibrar, metáforas cretinas
eu exploro mais, para expor o núcleo
um monte de MC's agem estupidamente pra mim
e nós ainda precisamos ver se eles podem alcançar a nossa longevidade
mas de qualquer forma, hoje é outro dia
e eu já acabei com outro falso com minha demonstração espetacular de rap
estiloso, tranquilo, mas durão - você não pode puxar ou empurrar
você gosta e sempre gostou porque é tipo dinheiro, você adora
o rei da monotonia, no meu próprio trono
devidamente violento, minhas palavras trazem ventos como se fossem ciclones
fazendo barulho no seu esconderijo, bloqueando sua luz solar
sua imagem e seu negócio não foram realmente bem feitos
jogue pra cima seu he-allah-i agora, salvadores divinos
você não tem habilidades, não há segurança para te salvar
sem pager, sem celular, nem Mercedes Benz conversível
eu vim pra trazer um fim para seu hip hop de telefone
minha arte da guerra irá te machucar pelo abuso
porque você precisa encontrar seu momento de verdade

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vídeos: Pentágono e Raekwon

Como dois vídeos tão diferentes, de realidades tão distintas, podem exercer o mesmo tipo de influência? Pois bem, "É O Moio", do Pentágono, e "New Wu", do Raekwon, deram a mim um pouco mais de fé, respectivamente, no rap nacional e no Wu-Tang. É bom ver a organização do grupo brasileiro, o vídeo bem cuidado, a forma como trabalharam as questões do clipe, não só na película, como na divulgação, e mostra que eles estão na linha de frente desta nova escola tupiniquim. Já no clipe do Rae, ver os agora tiozinhos do Wu juntos, aparentemente sem problemas, trocando versos sobre batidas do RZA, dá ainda uma esperança de que o melhor grupo de rap pode voltar a ser um pouco como era. O vídeo em si não tem nada de mais, mas ver os caras juntos gerou um sorriso despercebido em mim.

Pentágono: É O Moio

É o Moio_Pentagono HD from Pedro Gomes on Vimeo.



Raekwon: New Wu


Continuem mandando suas batidas para o Concurso Boom Bap de Beats! As inscrições vão até o dia 9 de maio.