quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Jedi Mind Tricks: Divine Fire DVD + Novo Single de Stoupe

Parece que a vida de um fã do Jedi Mind Tricks tem sido muito boa no começo do ano. Além do anúncio do álbum solo do Stoupe, finalmente chega à internet o DVD Divine Fire, que conta a história de um dos grupos mais respeitados do underground americano. O trabalho mostra Stoupe e Vinnie Paz desde o começo até alcançarem o status que ostentam hoje. Infelizmente para este blogueiro, o áudio é todo em inglês, sem legendas, o que vai exigir muito de alguém fraquíssimo para entender a língua anglo-saxã. Desde já, fica a proposta para que os fãs brasileiros do JMT tentem organizar um grupo para fazer uma legenda - o Boom Bap apoia de todas as formas possíveis.


Além do DVD, ainda somos presenteados com o segundo single - ou seria a segunda faixa a vazar? - de Decalogue, o projeto solo do Stoupe, cuja capa também foi revelada, e é muito bonita, por sinal. A faixa chama-se Soul Bendaz e conta com participações de mais dois emcees obscuros: Atma e Apakalypse. Quanto à estrela do show, Stoupe mantém a fórmula: um beat reto, com algumas viradas interessantes e quilos de samples cuidadosamente sobrepostos - um loop de piano e samples vocais completamente esgarçados confundindo-se e alternando com strings a cada virada.

Enfim, a onda de Jedi Mind Tricks iniciada com o álbum do ano passado continua firme e forte. O DVD é algo obrigatório para qualquer aficionado pelo vocal do gordinho revoltado Vinnie Paz e pelos beats alucinantes do latino recluso Stoupe. Só falta Decalogue para a festa ficar completa.

Download Divine Fire DVD
Download Soul Bendaz feat. Atma e Apakalypse

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tradução: K'Naan - Somalia


Presente de Carnaval para vocês. Somalia, uma das melhores faixas do novo disco do K'Naan. Nela, ele fala sobre a terra natal, sobre ele mesmo, sobre o rap, etc. Ah, o Boom Bap agora só volta depois do carnaval, como bom carioca e nilopolitano - Beija-Flor rumo ao tri! -, é claro. Bom carnaval para todos!

K'naan
Troubadour
Somalia - Somália

[ Verso I ]
Yeah, eu rimo pelo meu bairro
É uma ode, eu admito isso
Aqui o código da cidade é atirar e carregar
todo minuto é rock and roll
e você se diverte por aí
E sente sua alma te deixar
é apenas a dança errada que vai te deixar sem respirar
eu não sou particularmente orgulhoso
deste predicado, mas eu sou nascido e criado neste cortiço
eu sou sentimental, e daí?
além disso é um direito representar minha quebrada
e o que não é?
então estou prestes a fazer isso na música, nos filmes
corte para a caçada, depois para toda a face
eu estou lá
congele a tela no nome da rua
oops, espere um minuto
aqui é onde as ruas não têm nome
nem escoamento para o lixo
você pode ver isso no seu garoto
como o ódio está está crescendo
porque quando seu estômago ronca...
merda, a dor é fluida
então que diferença faz o entretenimento?
alguns ficam altos misturando e cheirando cocaína e pólvora
ela tem uma arma, mas poderia ter sido uma modelo ou uma física

[ Refrão ]
E o que você sabe sobre piratas que aterrorizam o oceano?
para nunca conhecer um único dia sem uma grande comoção
não tem como ser saudável viver com uma emoção tão profunda
e quando eu tento dormir, eu vejo caixões se fechando

[ Verso II ]
Yeah, yeah, nós costumávamos pegar fios de arame
e colocamos em volta de pneus velhos de bicicleta
empurrá-los morro abaixo com os pés
esta era a nossa versão de uma corrida de mountain bike
meeeerda!
Você vê por que é incrível?
quando alguem sai de uma situação tão terrível
e aprende a língua inglesa apenas para compartilhar suas observações!
Provavelmente vai ganhar um Grammy sem educação formal
então foda-se a escola e a imigração!
Eu todos vocês que pensaram que eu não iria resistir a um resfriado
e aqui estou eu sem o menor medo ou preservação
eles me amam nas favelas e nas reservas nativas
o mundo é um gueto privado de ajuda
minha mãe não criou nenhum otário, criou, otário?
eu prometi que venceria e continuaria leal
porque quando eles vencem eles deixam tudo mudar e ruir
mas eu simplesmente ilumino como folha de cozinha
um monte de caras do mainstream latindo sobre se gabar
um monte de caras do underground rimando sobre rimar
eu só quero dizer a você o que está realmente acontecendo
antes das lágrimas descerem isto foi o que aconteceu

[Refrão]

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

K'Naan: Troubadour

Depois de atrair a atenção da mídia especializada do mundo inteiro com seu álbum de estréia, K'naan tornou-se uma espécie de símbolo, graças à sua história peculiar: um menino somali que fugiu com a mãe de um dos países mais atribulados e violentos do mundo e veio parar na América do Norte, onde aprendeu a língua inglesa ouvindo rap - principalmente Nas. Seu primeiro álbum prezou pelos relatos feitos pelos jovem emcee sobre sua terra natal e uma mistura entre rap e ritmos africanos.

Então, eis que K'naan retorna, quatro anos depois, pronto para superar a síndrome do segundo álbum. Troubadour é o nome do projeto - bem pretensioso, diga-se de passagem, pegando carona na pecha de "poético" que alguns críticos ofereceram ao rapper. E algumas mudanças já podem ser notadas no trabalho: a mistura entre ritmos agora não se restringe apenas aos da África, mas passeiam pelo reggae, pelo rock e pelo pop sem perder a base hip hop.

Isso significa que a cadência continua lá, com a bateria marcada, mas ainda assim K'naan usa frequentemente um flow mais dancehall - "ABC's" e "I Come Prepared", a última com Damian Marley, recruta cantores como Adam Levine, ou até mesmo recorre ao guitarrista do Metallica para a sequência heavy metal de "If Rap Get Jealous". Quando busca a antiga fórmula, o emcee também não desaponta: "People Like Me" tem um som bem complexo, com piano discreto desembocando nas strings pontuais do refrão, enquanto "Wavin' Flag" recorre a melodia e refrão cativantes. "ABC's" é uma faixa mais uptempo, com coro infantil no refrão e "America" é a música com mais cara de sampleada do disco - um loop malemolente e onipresente dá o tom dos versos.

Se os instrumentais tiveram uma mudança considerável, as letras de K'naan mantém a mesma essência: rimas fortes e questionadoras, falando sobre a infância, discutindo a sociedade atual, contando histórias, tudo sempre com um viés político. Até a já mencionada "ABC's", talvez a faixa mais propícia a tocar nas pistas e com um verso bem simples do old school Chubb Rock, guarda algumas alfinetadas:

"Estas ruas não são pavimentadas com ouro
na verdade, acho até que alguém roubou as lâmpadas
ninguém gordo suficiente para uma lipo
eles não nos ensinam a ler ou escrever".

E então entra o refrão infantil, com rimas nada infantis:

"Eles não nos ensinam os ABCs
Nós brincamos no concreto duro
Tudo o que nós temos é a vida nas ruas"

E não para por aí. "Dreamer" tem um excelente contado, com um K'naan se dividindo entre desesperança e sonhos, intertextualizando com John Lennon e seu "Imagine". "Fatima" conta a história de um amor antigo , enquanto ele segue sua análise sobre o mundo do rap com "If Rap Get Jealous". Entretanto, é em "Somalia", uma ode à terra natal que o jovem somali brilha mais intensamente, falando não só sobre o país, mas também com alguns traços autobiográficos:

"Você vê por que é incrível?
quando alguem sai de uma situação tão terrível
e aprende a língua inglesa apenas para compartilhar suas observações!
Provavelmente vai ganhar um Grammy sem educação formal
então foda-se a escola e a imigração!
Eu todos vocês que pensaram que eu não iria resistir a um resfriado
e aqui estou eu sem o menor medo ou preservação"

Então, K'naan passou com louvores pelo teste do segundo disco? Sim, e tem potencial para continuar evoluindo. Seu rap tem um leque ainda mais vasto, com uma facilidade para alternar canto falado com interpretação de melodias, mudanças de tom, de ritmo, enfim uma série de malabarismos vocais que só enriquecem sua performance. Além disso, seu estilo mostra uma direção cada vez mais presente no hip hop atual, que é um diálogo ainda maior com outros gêneros, algo inerente a um mundo cada vez mais globalizado e mais próximo da cultura do ritmo e poesia.

K'naan - Troubadour
01. T.I.A
02. ABC’s (feat. Chubb Rock)
03. Dreamer
04. I Come Prepared (feat. Damian Marley)
05. Bang Bang (feat. Adam Levine)
06. If Rap Gets Jealous (feat. Kirk Hammett)
07. Wavin’ Flag
08. Somalia
09. America (feat. Mos Def and Chali 2NA)
10. Fatima
11. Fire in Freetown
12. Take a Minute
13. 15 Minutes Away
14. People Like Me

Download


Vídeo da faixa "Somalia":


Vídeo da faixa "Dreamer":


Assista ao vídeo de "ABC's" (a incorporação no blog não foi possível)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Stoupe: Allison James (Single)

A notícia a seguir é provavelmente uma das mais esperadas pelos fãs do Jedi Mind Tricks: Stoupe The Enemy of Mankind, o produtor do grupo e, para muitos - eu incluso -, a verdadeira estrela do trio, finalmente vai lançar seu álbum solo. Em suma, isso significa que o monopólio de Vinnie Paz e Jus Allah sobre os beats irrepreensíveis de Stoupe acabou: só a possibilidade de ver alguns dos emcees mais capazes do jogo cuspindo rimas nos instrumentais de um dos melhores produtores já faz qualquer fã salivar até o dia 31 de março, dia do lançamento.

Pois bem, o disco chamar-se-á Decalogue, e contará com participações de Slaine, da banca Coka Nostra, M.O.P., Saigon, Joell Ortiz e, obviamente, toda a crew Army of the Pharaohs. Como se vê, não é um time de emcees dos sonhos, mas ainda assim capaz de honrar os beats de Stoupe.

O primeiro single do álbum é "Allison James", que tem a aparição do Slaine. Seguindo uma prática muito comum ao Pete Rock e já presente nos álbuns do JMT, Stoupe cria pequenos interlúdios instrumentais, ou no começo ou no fim da canção. Neste single, a prática se dá no início - diga-se de passagem, um beat espetacular -, mas é uma faca de dois gumes: primeiro porque, como dito, é uma batida ótima, e deixa o ouvinte animado. Porém, quando o verdadeiro instrumental entra, embora não seja ruim, não chega aos pés do interlúdio. Ainda assim, traz a marca registrada de Stoupe: inúmeras camadas de samples - sempre com um quê latino - orquestradas minuciosamente para formar um instrumental coeso. Os scratches no refrão à la DJ Premier são a cereja no bolo. Ah, a performance do Slaine? Desculpem, mas eu vou ficar devendo por enquanto. Ainda não consegui prestar atenção.

Download:
Stoupe - Allison James feat Slaine

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Raekwon: Novos Singles

E parece que o já famigerado Only Built 4 Cuban Linx 2 realmente vai sair. Nas últimas semanas, Raekwon vazou duas músicas que supostamente estarão no disco, e ainda correm boatos nos fóruns americanos de que uma tracklist está prestes a sair. E, apesar de todas as brigas recentes entre os membros do Wu e o receio generalizado de que o novo álbum viria totalmente desvirtuado - chegou-se a cogitar produções de Kanye West e participações de The Game -, o que os novos singles mostram é que, pelo menos aparentemente, as coisas continuarão apenas entre os generais do Wu.

"Wu Oooh" é a faixa mais recente e é produzida por RZA - indício de que as diferenças foram resolvidas -, além de contar com as participações de Ghostface Killah e Method Man. Este último, aliás, revive Ice Cream e contribui com um refrão com sua marca registrada. O beat é, novamente, uma mostra da nova fase de RZA, mas com o cara sabendo adaptar-se aos objetivos de Rae: a batida é pesada e simples, acompanhada por um sample vocal que fica variando ao longo da faixa, embora acabe sendo um pouco enjoativo. Entretanto, nada que as performances dos três emcees não superem: além dos flows certeiros, as cadeias de rimas são complexas, bem estruturadas, cheias de rimas multi-silábicas e punchlines atordoantes. Como diz Meth no refrão: "Diga a um amigo, é aquele símbolo novamente, o W / (...) Novo em folha, de volta das favelas, é o Wu".

"Criminology 2" é, como o nome diz, uma sequência da faixa homônima do primeiro disco. Aqui, a curiosidade fica por conta do beat - novamente cortesia de RZA -, que usa o mesmo sample usado na original para dar vida à nova música. Obviamente, o sample é cortado de outra forma, embora ainda mostre que é uma releitura. O sample do filme Scarface no início e as habituais histórias criminais de Raekwon e Ghostface dão a dica de que o novo álbum realmente será uma continuação.

Por fim, há a faixa mais antiga. "G-Hide", ou "The Jihad", foi lançada ano passado, e não foi recebida como um single, até porque o papo do novo "Only Built..." já virara lenda. Até por isso, eu não tinha postado por aqui. De qualquer forma, aqui está. Dessa vez, a produção é de Necro: novamente uma batida pesada e simples, acompanhada por um sample vocal, embora este seja bem diferente de Wu Ooh, é algo menos convencional, provavelmente alguma gravação não-americana. Raekwon - e Ghostface novamente, para variar - mostra que seu storytelling continua intacto.

Destas três faixas, algumas considerações podem ser feitas: parece que Raekwon entendeu que, se quer realmente uma sequência do clássico de 1995, é preciso que ele mantenha a fórmula, o que subentende-se como ter RZA produzindo o máximo de músicas possível e contar com seus companheiros de Wu - principalmente Ghostface - no microfone. Analisando os três singles - ainda há State of Grace, lançada há uns três anos -, ainda não dá para saber como será o conceito do álbum, ou se realmente haverá um, e como ele será conectado, mas dá para perceber que as histórias sobre crime continuarão tema recorrente, o que é a especialidade de Rae. A única diferença visível está no flow da estrela da companhia: esqueça a delivery cheia de energia do começo da carreira. Agora, Rae está mais técnico, mais cerebral, como se passasse, usando a metáfora do próprio álbum, de um novato no mundo do crime para um mafioso respeitado.

Enfim, resta agora aos fãs ardorosos do Wu aguardar os próximos capítulos de uma novela que já se arrasta por anos e agora parece estar próxima do fim. É claro que recriar um clássico como "Only Built..." é quase impossível, mas, dada a situação atual da cena, um disco com 30% da qualidade do primeiro já será lucro. Por enquanto, as faixas já lançadas nos dão a possibilidade de otimismo.

Downloads:
Wu Ohh feat. Ghostface Killah e Method Man
Criminology 2 feat. Ghostface Killah
The G-Hide feat. Ghostface Killah

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Subsolo: Ordem de Despejo

Tive o prazer de conversar com o Shawlin e o Lumbriga sobre o Subsolo, grupo que abrange a maioria dos ex-integrantes do Quinto Andar. O resultado foi uma entrevista bem legal com os dois para o Bocada Forte. Confira aqui. E, claro, também escrevi sobre o disco, e vocês podem ver tanto aqui no blog quanto no Bocada.

Em qualquer época de nossas vidas, um dos nossos maiores desejos é estar sempre com os amigos por perto. Viajar com eles, divertir-se com eles. Fazer as coisas que mais gostamos no mundo junto com eles. Tudo parece melhor, mais fácil, mais prazeroso. Imagine, então, quando um grupo de amigos se junta durante um mês para fazer aquilo que eles mais gostam e que sabem fazer de melhor na vida. Afastados de tudo, do caos, dos estresses, focados apenas em fazer música. Pois o Subsolo fez isso. O resultado? Você já deve saber qual é.

Formado por ex-integrantes do extinto coletivo Quinto Andar – a saber: Gato Congelado, Kamau, Lumbriga, DJ Mako, Matéria-Prima, Pai Lua, Shawlin e Xará -, o grupo ficou por um mês isolado em um sítio no interior de São Paulo gravando um novo disco, algo muito esperado por todos os fãs do rap underground brasileiro. A reunião poderia ter refletido até num clima mais positivo, mais festivo no álbum. Mas foi exatamente o contrário.

Produzido majoritariamente por Shaw e Lumbriga, o disco tem um clima sombrio, meio melancólico, meio sinistro, durante todas as suas faixas, algo bem diferente do antigo grupo dos caras. As batidas pesadas e os samples obscuros predominam tanto que até o batidão funk de "Rio Babilônia" abandona o clichê dançante do gênero carioca e dá lugar a um relato duro da cidade maravilhosa, na voz de Pai Lua. A mistura entre o tamborzão e strings turvas simboliza bem o que o Subsolo tem a oferecer no disco: letras sinceras e beats sujos, mas tocantes.

Falando em letras, o coletivo também mostra que todo o esmero na gravação foi valioso: os temas variam desde a interpretações de obras da literatura, como em “Ensaio sobre a cegueira”, até músicas mais românticas, a charmosa "Nem Sei", produzida pelo falecido DJ Primo, passando também pelos tradicionais ataques aos falsos amigos, em “Destruir”, com um verso estonteante de Kamau:

“Eu só posso falar da minha, mantenho, não perco a linha
Me empenho, sem picuinha, não venho com conversinha
Se todo homem tem o seu preço, não sei o meu
Não sei o valor da alma, da vida que Deus me deu
Mas me apego como se fosse tudo que me resta
Coisa que não se troca, não se aluga, não se empresta

Pra um monte eu sei que é festa, qualquer trocado serve
Mas minha estadia é breve, não deixo que me leve
Quem deve teme, se esconde, nunca me pergunte onde
Não espere que eu aponte, verdade bebo na fonte
Conte comigo pra ser inocente como criança
Astuto como adulto, mas ainda na esperança de encontrar
Um caminho mais tranqüilo pra minha meta
Com altos e baixos, mas bem melhor que a linha reta

Que seduz por ser mais fácil, mas leva à vergonha eterna”

Os temas mais filosóficos também funcionam bem, graças à capacidade lírica dos integrantes. “Limpe seu coração” tem uma letra sensacional, em tom meio reconciliatório, meio nostálgico, sobre um piano discreto e samples sombrios. Já “Dias em branco” traz Lumbriga e Gato Congelado trocando versos de altíssimo nível, falando sobre vários assuntos e com punchlines atordoantes, tudo sobre um instrumental menos tradicional, meio Wu-Tang.

Porém, quando a proposta do grupo de tons musicais mais cinzas é maximizada é que surgem as grandes jóias do disco. “Ninguém ama os náufragos” tem um conceito inteligente, original e ao mesmo tempo simples. A música conta a história de um velho no seu momento derradeiro de morrer, aquele em que, dizem, nós vemos nossa vida passar nos nossos olhos. E é isso que Shawlin, Lumbriga e Matéria-Prima relatam, ao narrar a vida triste e solitária de um idoso, em uma das melhores performances líricas do disco. O instrumental da faixa parece conversar com as rimas e adicionar mais um background para a história: os hi-hats acelerados estão para a velocidade em que os acontecimentos passam pela cabeça do velho assim como o sample melancólico está para o sentimento do personagem. Além desta música, a caótica “Papo de futuro” mostra a opinião do grupo acerca dos novos tempos que vivemos. Sobre um beat pesado, com as caixas caindo como se fossem bombas explodindo numa guerra urbana, Lumbriga, Matéria Prima e Shaw relatam o caos urbano, como observadores. Mas é Pai Lua quem rouba a cena, narrando como se estivesse diretamente do olho do furacão:

“Câmbio, câmbio! Tá me escutando?
O bicho ta pegando, vagabundo se matando
Já nem sei quem é humano, vou te contar
Tô dormindo há uma semana, e se eu dormir é pra não voltar
Até a noite resolveu se revoltar, pra tu ver
A lua e as estrelas decidiram abandonar

Esse fim de mundo não é lugar pra viver”

Assim, misturando rimas consistentes a uma produção bem cuidada e bem direcionada, o Subsolo mostra como uma reunião de amigos pode ser produtiva, principalmente quando se juntam em função de uma paixão em comum. A fuga da cidade para o sítio resultou não só num trabalho honesto e completo, mas também num tratado sobre a babilônia moderna pelas lentes de jovens cheios de coisas para dizer. A descida do quinto andar para o subsolo mostrou-se bastante oportuna para os caras.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Cunninlynguists: Never Come Down (The Brownie Song)


Este é o primeiro single oficial do novo disco dos Cunninlynguists. Segundo Kno, produtor do grupo, eles preparam o lançamento de dois projetos neste ano: os dois volumes de Strange Journey, um álbum que será construído todo dentro do conceito de viajar e fazer turnê. A princípio, os dois discos não serão lançados no mesmo dia, e sim dentro de alguns meses. Algumas das participações confirmadas são Killer Mike, J-Zone e Khujo Goodie. O vídeo para o single será lançado no dia 23 de fevereiro.

Falando no single, ele só confirma que Kno é um dos melhores produtores da cena atual. Aqui, ele mistura samples e instrumentação a uma bateria simples, mas pulsante e firme. Especificamente, a mistura é de strings que vão crescendo de dramaticidade ao longo dos versos e desaguam no ótimo sample vocal do refrão. Para finalizar com chave de ouro, ainda há uma mudança de sample no último verso e, logo depois, uma espécie de solo.

Na parte "microfônica" da parada, Natti e Deacon trocam versos sobre a sensação de estar chapados, mas usando metáforas bem criativas, o que faz com que o tema da música não soa desgastado. Sobra até algumas referências de Deacon a temas mais sérios: "Eu estou tipo o preço do gás, alto sem razão nenhuma".

Agora, resta esperar o lançamento dos álbuns. Ainda segundo Kno, no fórum da gravadora deles, a proposta é que este disco venha com temas mais leves, voltando à essência dos primeiros trabalhos do grupo, que prezavam por uma abordagem mais leve e, por vezes, irônica, em contraste com os últimos discos, que foram mais densos. De um jeito ou de outro, a qualidade está garantida.

Cunninlynguists - Never Come Down (The Brownie Song)
1.Never Come Down (The Brownie Song) [Dirty]
2.Never Come Down (The Brownie Song) [Radio]
3.Never Come Down (The Brownie Song) [Instrumental]

Download

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Totoin: Produzindo indo...Improvisando ando

Totoin é um beatmaker/emcee de Uberaba, Minas Gerais, e lançou recentemente seu primeiro álbum, chamado Produzindo indo...Improvisando ando. O trabalho, que segundo o próprio Totoin é resultado de 10 anos de trabalho, conta com diversas participações, tanto no microfone quanto nas produções.

O que salta aos olhos no disco, sem dúvida, são as produções suingadas de Totoin, com muita influência da música brasileira, misturada a samples de filmes, jazz e soul, resultando em instrumentais tranquilos e bastante criativos. No microfone, o cara também mostra habilidade e bons conceitos, como na ótima "Proibido Respirar", com um beat espetacular, que consegue traduzir bem a ironia da letra, graças a um loop bem "malandro". "Boas Maneiras" é outro destaque, na qual Totoin desconstrói alguns ditados populares e questiona outros paradigmas da sociedade brasileira. Ainda há "Melhor Amigo", uma homenagem emocionante do emcee ao seu pai, sobre um instrumental igualmente tocante.

Enfim, o primeiro disco deste mineiro - que não tá enrolando a gente, como diz o sample na introdução do álbum - mostra um produtor virtuoso, com boas referências e que valoriza a música nacional, além de um emcee criativo, com boas idéias. Totoin é mais um que mostra que é possível ser versátil no rap, dominando tanto o microfone quanto as MPCs e afins.

Totoin - Produzindo indo...Improvisando ando
01-Introdução - Totoin & DJ Nono
02-Proibido respirar - Totoin
03-Só de sacanagem - Totoin,100 Talento & DJ Nono
04-Sem incomodar ninguém - Totoin
05-Tapete voador - Totoin & Quasenada
06-Tem dia (rmx) - Totoin,Bk,Pexe & DJ Nono
07-Perguntas e respostas (skit)
08-Mar de fumaça - Totoin & DJ Caique
09-Selva digital - Totoin & Molusco
10-boas maneiras - Totoin
11-Dançarinos da chuva - Totoin & King trip
12-Pensamentos aprimorados - Totoin
13-De tudo que pode acontecer - Totoin,F-ney,Puf,Lheozotto,Gilmar & Bazaka
14-Melhor Amigo - Totoin
15-Di tabéla - Totoin,Bk & Molusco
16-Tudo que eu tenho - Totoin
17-POÉTICAmente - Totoin & GNZ
18-Tempo revertido - Totoin
19-Pra gentalha - Totoin

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Contato:
www.myspace.com/totoin
totoinmg@gmail.com
totoinatak@msn.com
www.totoin.blogspot.com