quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Aarophat & Illastrate: Black Noise

Ano: 2009
Gravadora: IllSevenz
Produtor: Illastrate (todas as faixas)
Participações: Boog Brown (faixas 1 e 12), Dynas (5 e 11), Dolo (6), Dev Huskey (7), Mojo Swagger (9), Small Eyes (12), No Joke (14).

Como dito por um blogueiro americano, é impressionante como todo ano surge um monte de álbuns aparentemente do nada, com artistas relativamente desconhecidos, e que acabam fazendo bastante barulho. Outra teoria, essa deste humilde escriba, é de que o rap nos EUA é que nem o samba ou o futebol no Brasil. Há qualidade em profusão, mesmo que ninguém nunca vá conhecer aquele seu vizinho camisa nove que barraria facilmente o Obina. Assim, provavelmente você nunca conheceria a dupla Black Noise, formada pelo emcee Aarophat e o beatmaker Illastrate. Mas acredite: eles barrariam sem maiores problemas muitos "medalhões" do rap. E "Black Noise", o disco, é a prova disso.

Illastrate talvez seja mais conhecido, por já ter contribuído com produções para outros nomes alternativos - a ótima Tiye Phoenix, por exemplo -, enquanto Aarophat foi descoberto por Rasco, dos Cali Agents. Segundo reza a lenda (e o release dos caras), tanto emcee quanto produtor se encontraram apenas 14 horas antes de começarem a gravar o disco. Se isso for verdade, então a química dos dois é realmente perfeita, tipo almas gêmeas feitas uma para a outra.

Tudo isso porque as rimas diversificadas e o flow agressivo e confiante de Aarophat casam perfeitamente com os instrumentais imaculados do pequeno monstro que atende pelo nome de Illastrate. Após ouvir a primeira faixa do álbum, você terá a certeza: nenhum disco neste ano, quiçá nos últimos anos, foi abençoado com baterias tão boas. Não à toa, o carro-chefe da produção de Illa são as chamadas "dirty drumz", ou seja, "baterias sujas". Aliás, é clara a proeminência de caixa e bumbo no mapa dos instrumentais; os samples são relegados a segundo plano, apenas complementam o espetáculo da batida. Acredite: há muito tempo você não balançava a cabeça para um beat do jeito que irá balançar para os presentes em "Black Noise".

Assim, sob o comando das caixas de Illastrate, Aarophat tem um grande desafio: um emcee apenas correto manteria o nível alto, mas um cara inspirado faria do álbum um clássico. Infelizmente, mas de forma compreensiva, o pobre rapper fica no meio do caminho. Com voz e levada bem parecidas com a de Sean Price, Aaro ainda não atingiu a mesma igualdade em termos de letras. Ainda assim, ele brilha em faixas como "Midwestkids", a carta de apresentação da dupla, com uma linha de baixo densa e um refrão cantado pelo emcee com facilidade incrível; "Watchagunnado", uma levada reggae que se apoia nas rimas intricadas de Aaro; e "Ghetto2Ghetto", a já tradicional canção tratando das agruras das classes baixas.

Outros destaques incluem o pancadão supremo do disco, "Chips". As caixas são tão pesadas que sua reprodução em sistemas de som poderosos deve ser ministrada com parcimônia. "In The Trunk" é uma pororoca no meio das costas leste e oeste. O batidão pesado nova-iorquino dialoga com os sintetizadores G-Funk de uma forma impossível de se imaginar na época de Tupac Shakur e Christopher Wallace. Ah, e torça para que o refrão não grude na sua cabeça por alguns dias.

Enfim, "Black Noise" é um álbum que não pode ser desprezado. O trabalho de Illastrate na produção é realmente impecável, dada a direção que ele escolheu dar e a forma como ele conseguiu executá-la perfeitamente. Não é exagero dizer que a estrela do disco é a bateria de todos os beats; todo o resto gira ao redor disso. Ainda assim, o projeto acaba não tendo nenhum single de destaque, sendo recomendado, pois, que se ouça as 14 faixas em sequência. Porém, diferente do último álbum resenhado no blog, este não é para ser apreciado enquanto relaxa. Tente coisas com mais adrenalina, como um basquete na rua, uma sessão de espancamento no irmão menor, uma corrida da polícia.

Aarophat & Illastrate as Black Noise - Black Noise
1 - Tape Deck Intro
2 - Midwestkids
3 - Ghetto2ghetto
4 - Y a M
5 - Lay It Down
6 - Whachagunnado
7 - Going Places
8 - Driftin
9 - Chips
10 - Higher (Revolution)
11 - Center Stage
12 - Midwestkids (Reprise)
13 - In the Trunk (Bonus)
14 - Lethal (Feat No Joke) (Bonus)

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pseudo Slang: We'll Keep Looking

Ano: 2009
Gravadora: Fat Beats
Produtor: Tone Atlas (todas as faixas).
Participações: Grap Luva (faixa 7), A.L. Third (10), Vinia Mojica (12).

Pseudo Slang é uma dupla formada pelo emcee Emcee Sick, do grupo Xtracts of Slang, e o produtor Tone Atlas, do Pseudo Intellectuals. Oriundos da cena underground nova-iorquina, os caras se juntam neste projeto paralelo pela segunda vez - já haviam lançado "The Catalogue" há cinco anos trás -, mas só agora preparam um álbum cheio. E "We'll Keep Looking" chega aos ouvidos dos fãs de rap como uma ótima pedida para aqueles ávidos pela sempre bem-vinda mistura da elegância do jazz com o dinamismo do rap.

Um dos méritos do álbum é a sua consistência. É incrível como as faixas casam bem entre si, sem perder a originalidade, mas ainda sim proporcionando um sentido de organização louvável. A forte aposta numa estética totalmente voltada para o jazz é certamente um dos principais fatores para tanta coesão. Desde breaks sujos e suingados até notas de piano delicadamente cortadas e manipuladas, toda a sonoridade do disco remonta aos tempos de virtuosos como Miles Davis, Coltrane, Charlie Parker etc.

Mesmo que depois de algumas audições, "We'll Keep Looking" pareça unidimensional, seu valor está justamente no fato de ser tão focado. Dessa forma, o beatmaker Atlas pode se concentrar em explorar de várias formas sua fonte de samples. O cara pode explorar a sujeira das baterias em faixas como "Out of Touch" e "Bedouin", trazer os pianos para os holofotes como em "Omelette" e "Myth of Web Slinger" ou mesmo criar um potencial hit para as rádios com a relaxante "Broke & Copasetic", com a veterana Vinia Mojica no refrão.

E o que se pode falar sobre o trabalho de Emcee Sick? O ponto notável é que a levada de Sick funciona mais como mais um instrumento na produção de Atlas do que propriamente um complemento. A forma como a voz e as rimas do rapper se incorpora à atmosfera suave dos instrumentais age como uma faca de dois gumes: por um lado, mostra a química presente entre batidas e rimas; por outro, não dá a proeminência necessária para os versos de Sick desabrocharem. Ainda assim, há bons momentos, como na criativa "Perfect Beat", na qual o emcee relata sua busca pela batida perfeita.

Com tais características, pode-se concluir que "We'll Keep Looking" é daqueles discos propícios para se ouvir ao fundo, de cabo a rabo, numa viagem, numa caminhada. O clima tranquilo das faixas se perpetua ao longo dos 41 minutos do registro, como numa estendida sessão de ensaio de um beatmaker com "jazzistas". No fim das contas, este é um bom álbum, com produção precisa e madura, mas que se ressentiu de uma maior presença do emcee para chegar a um nível mais alto.

Pseudo Slang - We'll Keep Looking
01. Perfect Beat
02. Bedouin
03. Mysterious Lude (Interlude)
04. Put It On (Interlude)
05. Yes Doubt
06. Myth Of Web-Slinger
07. Walkin’
08. Omelette
09. K.I.M.
10. Chill Out $
11. Out A Touch
12. Broke & Copasetic
13. Good Night (Instrolude)
14. Ogallala

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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Bee: Open Your Mind

Ano: 2009
Gravadora: Goon Trax
Produtores: Cradle Orchestra (todas as faixas, exceto 14), TRI4TH (faixa 14)
Participações: desconhecidas

Bee é um projeto paralelo elaborado pelo emcee/produtor/cantor Aloe Blacc e o coletivo de produtores japoneses Cradle Orchestra. Aloe já é conhecido por ser membro do grupo Emanon, junto com o DJ Exile, e já ter contribuído com um sem-número de artistas tanto nos EUA quanto no Japão. Inclusive, ele esteve presente no último álbum do Cradle, "Velvet Ballads". Em "Open Your Mind", a parceria é reeditada com a ideia de expandir os horizontes de todos os envolvidos. O disco surgiu meio que de surpresa, não tinha visto nenhum anúncio de que os caras estavam trabalhando no álbum.

Como o próprio nome diz, o registro é uma departura da zona de conforto tanto de Aloe quanto dos produtores. Para começar, o emcee assume de forma quase definitiva sua faceta de cantor, enquanto os japoneses, conhecidos pelas composições jazzísticas e complexas, ampliam o leque de possibilidades que pega o R&B, o reggae e até a música brasileira. O resultado disso tudo é que "Open Your Mind" transcende bastante os limites do rap, e a verdade é que nem pode ser incluído neste gênero.

Apesar de pisarem em novos terrenos, os artistas ainda conservam alguma de suas características. Aloe, por exemplo, traz os temas de suas rimas e os encaixa nos versos que canta. Assuntos como família, racismo e relacionamento dão as caras, assim como incursões mais filosóficas e até mesmo canções de celebração. Nesta mistura, dá tempo para ele voltar à época do soul e do funk, encarnando as acrobacias vocais e as frases de efeito dos cantores de outrora. De qualquer maneira, é quando Aloe se entrega a melodias mais suaves que ele obtém os melhores resultados. "Still a Rose" é um exemplo, com um piano tristonho acompanhando as divagações do cantor que faria sucesso como trilha do casal romântico de alguma novela.

Já os japas do Cradle mostram uma versatilidade que já se revelava mesmo nos trabalhos mais "rapeiros" do coletivo. A produção em "Open Your Mind" é como o desabrochar de uma flor que, embora já bela, prometia ainda mais possibilidades. Os caras conseguem misturar diferentes gêneros e colocá-los num denominador comum que não prejudica a coesão do grupo. A ótima "Lift me Up" mostra bem isso, com uma levada dançante e mesmo assim complexa, suave. "Celebrate the Moment" é uma das faixas que tomam emprestado o suíngue brasileiro; "I Love You" volta às raízes do grupo, com uma atmosfera esparsa e pianos virtuosos, enquanto o reggae aparece em "No More Racism" e o rap que muita gente esperava faz o aguardo valer a pena na grande "Change Your Ways", num beat que parece ter sido produzido por Pete Rock em pessoa.

No fim das contas, "Open Your Mind" é um bom disco, que atinge perfeitamente o objetivo proposto por Aloe Blacc e o Cradle. Eles conseguem passear por diferentes estilos, não deixam o nível cair e parecem cada vez mais à vontade trabalhando juntos. Claro, na cabeça deste fã de rap não teria problema nenhum se Aloe cuspisse mais algumas rimas, mas é bom pensar que Bee é mais passo rumo à maturidade musical de todos os envolvidos. Um estágio necessário para evoluírem ainda mais e trazerem música cada vez melhor.

Bee - Open Your Mind
01. Intro
02. Family Comes First
03. Lift Me Up
04. Celetrate The Moment
05. Still a Rose
06. Open Your Mind
07. Anymore
08. I Love You
09. Your Life
10. No More Racism
11. Change Our Ways
12. Take Your Time
13. Outro
14. Your Life -TRI4TH Remix

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Slaughterhouse: Slaughterhouse

Ano: 2009
Gravadora: E1 Entertainment
Produtores: Street Runner (faixas 1, 4 e 11), The Real Focus (2), The Alchemist (3), DJ Khalil (5 e 7), Emile (9 e 15), RealSon (12), Mr. Porter (13), Filthy Rockwell (14).
Participações: Kay Young (faixa 2), The New Royales (5), Fatman Scoop (9), Pharoahe Monch, (11), Novel (13), Melanie Rutherford (14).

A história parece roteiro de cinema: quatro emcees reconhecidamente talentosos nunca tiveram o mesmo sucesso em vendas graças à pouca atenção que receberam de suas respectivas gravadoras. Revoltados, resolvem se juntar para fazer barulho e ao mesmo tempo mostrar ao mainstream de um gênero ultra explorado do que se trata realmente fazer a música que eles aprenderam a amar. Desligue a câmera, as luzes, corte a ação. Isto não é a sinopse de um filme. É a biografia do super grupo Slaughterhouse, formado por rappers de alguns dos berços mais prolíficos do rap: Crooked I, da Califórinia, Royce da 5'9'', de Detroit, Joell Ortiz e Joe Budden, ambos de Nova Iorque.

Depois de tantas provações, eles lançam o álbum de estreia, também chamado "Slaughterhouse". A ideia fixa de massacre não é à toa e, felizmente, não sai muito da agressividade demonstrada nas batidas, rimas e levadas dos quatro rappers - a única exceção é a tentativa imbecil de treta com Method Man por parte de Joe Budden. Para quem achava que os bons letristas tinham sumido do mainstream do rap, a trupe capitaneada por Royce da 5'9'' mostra que, sim, ainda é possível fazer um trabalho mais competível com as rádios sem perder as qualidades líricas.

O primeiro single, "The One", é bom exemplo disso. Cortesia de DJ Khalil, o beat com levada roqueira e refrão pop é apenas um palco para que os quatro emcees subam e destilem ferocidade, recheada de metáforas irônicas e referências a ícones da cultura popular. Aliás, é esta receita que permeia boa parte do álbum. Espere muitas rimas de batalha, analogias bem pensadas e uma autoconfiança invejável. Nestes quesitos, nenhum dos integrantes consegue alcançar o nível de Crooked I. O californiano simplesmente domina faixas como "Microphone" e "Lyrical Murderers", talhadas perfeitamente para o seu estilo. Na última, Crooked dá show de técnica e carisma:

"Assassino lírico, culpe Rakim
Eu sou um atirador abrindo caminho a tiros no seu top 10 de merda
pistola na sua cabeça se eu não estiver próximo de Eminem
então eu gozo na sua cara como se eu estivesse comendo a Lil Kim
é melhor os manos rezarem para o senhor lírico
de onde eu caí como um cordão umbilical antes de preencher o necrotério
assim é uma gravação assassina
com uma espada de dois gumes e sílabas triplas, eu sou melhor que todos
Dineri, veja, eu sou um gênio literário
enterro os caras com palavras, um cemitério linguístico
a maioria dos rappers é comédia
eles são tipo o buraco de sodomia do namorado deles - cheios de MERDA!"

Já conscientes de que faixas e faixas de massacre lírico poderia deixar o disco maçante, os caras ainda se preocuparam em diversificar o teor das músicas. Assim, a segunda metade do álbum fica mais calma, com direito a Pharoahe Monch cantando o refrão de "Salute" ou os quatro emcees apresentando uma pequena autobiografia na emocionante "Rain Drops". Ainda há tempo para Mr. Porter oferecer um pouco de soul de Detroit no ótimo instrumental de "Cut You Loose".

Falando em instrumental, este é o calcanhar de Aquiles de "Slaughterhouse". Por um lado, é perfeitamente compreensível que um projeto tão voltado para o lirismo imponha um papel coadjuvante às batidas. Porém, do outro, fica complicado para um álbum que não quer perder a audiência das rádios e da MTV não ter uma boa seleção de batidas. O resultado é um disco com poucos beats que realmente chamem atenção. Fora as já citadas "Cut You Loose" e "The One", a faixa de abertura "Sound Off", com seus metais triunfantes, e a funky "Not Tonight" merecem menção honrosa.

Entretanto, não se pode condenar a casa de massacres. Todos os rappers cumprem à risca suas atribuições, mostram uma química incrível e um arsenal quase infinito de versos originais. Mais do que uma demonstração de que é possível rimar em alto nível sem perder as rádios de vista, "Slaughterhouse" é uma mostra do quão talentosos são Crooked I, Royce Da 5'9'', Joe Budden e Joell Ortiz; uma forma de mostrar às gravadoras que um dia desprezaram estes caras o prejuízo que elas tiveram. Uma volta por cima, esta pode ser uma das inúmeras definições para este disco.

Slaugherhouse - Slaughterhouse
01. Sound Off
02. Lyrical Murderers
03. Microphone
04. Not Tonight
05. The One
06. In The Mind Of Madness (Skit)
07. Cuckoo
08. The Phone Call (Skit)
09. Onslaught 2
10. The Phone Call 2 (Skit)
11. Salute
12. Pray (It’s A Shame)
13. Cut You Loose
14. Rain Drops
15. Killaz

Vídeo da faixa "The One":

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tradução: Brother Ali - Us

Este é o primeiro single do novo disco do Brother Ali, que se chamará "Us". A faixa-título foi liberada junto com um vídeo bem legal, mostrando os bastidores da criação do álbum. O single é pequeno - particularmente, desconfio de que no registro haja uma versão estendida - e fala basicamente sobre como somos iguais, não importa raça, credo, condição social. E quem diz isso é um albino que está entre os melhores emcees dos dias de hoje.

Artista: Brother Ali
Álbum: Us
Música: Us - Nós

[ Verso I ]
Eu comecei a rimar só para ser alguém
para fazer as pessoas prestarem atenção em mim nas festas
e pra não ser só o garoto novo que é albino
fazê-los dizer, "sim, eu o conheço, mas você já o ouviu rimar?"
agora pegue esta mesma festa ao redor do mundo
e minha história se conecta com um monte de gente
eu espero que sim porque é a única coisa que eu conheço
conheço tão bem que a conto com meus olhos fechados
e eu vou com o sentimento desde o começo
cego nos olhos, então eu te vejo com meu coração
e para mim todos vocês parecem exatamente os mesmos
medo, fé, compaixão e dor
e tente, enquanto nós continuamos tentando mascarar
como a sua religião, ou seu passado ou sua raça
o mesmo sangue passa pelas nossas veias
e as lágrimas têm o mesmo gosto quando correm pelo seu rosto
o mundo está ficando pequeno demais para ficar em um lugar
é como se nós fossemos companheiros de quarto compartilhando um espaço
não se pode separar e ainda carrega o peso
precisa curar e se livrar do medo e do ódio
precisa se balançar e se livrar das correntes
você vê o que sobra?
apenas um ser humano no fim do dia
não me importa qual o nome que você deu a seu plano espiritual
feche os olhos e você verá o que estou dizendo
eu comecei a rimar só pra ser alguém
e descobri que eu já era alguém
poque ninguém pode ser livre a menos que todos nós sejamos livres
não existe "eu" ou "você", é apenas nós
um fã me chamou uma vez de pregador da rua
e já fui chamado de coisa pior e tentei sobreviver
espero que você não se importe com mais algumas histórias
eu juro por Deus, gente, eu as conto com amor

Vídeo de "Us":

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Singles: The Roots, Rakim, Brother Ali, Raekwon, Vinnie Paz

Consegui recuperar o texto, graças ao Leonardo Vieira, ao Bruno Costa e ao Pedro Ribeiro. Agradecimentos aos dois. Quando vierem a Nilópolis, podem contar com a ajuda deste blogueiro.

As últimas semanas foram pródigas em singles de grupos ou emcees com grande relevância no cenário do rap mundial. Nomes como The Roots, Rakim, Brother Ali, Raekwon e Vinnie Paz todos lançaram a primeira prévia de seus próximos álbuns, que devem ser lançados em breve. Em suma, o que podemos esperar são cinco discos que com certeza farão barulho. Por enquanto, o Boom Bap se limita a falar um pouco sobre cada single. Clique no título de cada um para baixar a faixa.

The Roots: How I Got Over
Apresentada ao mundo numa versão ao vivo no programa onde a banda está como residente, "How I Got Over" traz de imediato uma novidade: além de rimar, Black Thought também canta - e bem. Depois de dois discos um pouco mais sombrios, parece que ?uestlove volta a apostar num groove mais leve, graças ao ótimo refrão (também) cantado por Dice Raw e ao suingue incomporável da Legendária Crew The Roots. Líricamente, porém, BT continua impiedoso, falando sobre vida nas ruas e como ele superou tudo isso, sob a perspectiva de alguém que foi contra uma suposta ordem natural da cidade - algo que a banda inteira faz até hoje. "Aqui fora nas ruas, onde eu cresci / a primeira coisa que te ensinam é não ligar pra nada / este tipo de pensamento não te leva a lugar nenhum".

Rakim: Holy Are You
O emcee favorito do seu emcee favorito está de volta, e disposto a recuperar seu trono no Olimpo do rap. Quase dez anos depois de seu último trabalho, o God MC retorna com o primeiro single de seu novo trabalho, "The Seventh Seal". "Holy Are You" é uma produção arrebatadora que ofuscaria as rimas de qualquer rapper - menos Rakim. Nem o sample sensacional do refrão ou os sintetizadores frenéticos são capazes de diminuir o impacto da escrita do emcee, cuja voz soa como se tivesse vindo diretamente do céu em forma de trovão. Neste single, ele mistura bragadoccio justo de quem é considerado o melhor de todos os tempos até lições espirituais que tentam desmistificar um pouco o mito das religiões, com alguma influência dos Five Percenters. Por fim, o que fica é a mensagem: "Santo é você / Não há nenhum Deus além de você".

Brother Ali: Us
Saímos de um monstro sagrado da velha escola para um dos emcees mais respeitados nos dias de hoje - o que não é fácil na conjuntura atual. Brother Ali prepara seu terceiro disco, intitulado "Us", e já lançou um vídeo que mostra os bastidores da produção do álbum, acompanhado pelo primeiro single, homônimo do trabalho. Produzida por Ant, a faixa parece estar incompleta - um pequeno snippet - mas já demonstra a energia que Ali vai trazer. As oito primeiras linhas são a capella, focando exclusivamente nas rimas autobiográficas de Ali, e só então entra a batida pontuada por palmas e backvocals descompromissados. A letra trata das diferenças entre raças, e como nós só somos fortes unidos. Ninguém melhor do Brother Ali para falar sobre isso. "Eu vou com o sentimento desde o início / cego nos olhos, então eu te vejo com meu coração / e para mim vocês parecem exatamente iguais / com medo, fé, compaixão e dor".

Raekwon: House of Flying Daggers
Parece que agora é sério, e "Only Built 4 Cuban Linx 2" vai sair em setembro. O segundo single do disco é "House of Flying Daggers", uma parceria de Raekwon com os velhos conhecidos GZA(no refrão), Inspectah Deck, Ghostface Killah e Method Man, com produção de J Dilla. O instrumental é de qualidade, traz um clima meio militar, meio tenso, embora as caixas pudessem ser mais marcantes. O refrão de GZA é uma variação do encontrado na clássica "Clan In Da Front", enquanto as rimas dos quatro generais levam qualquer fã do Wu a meados dos anos 90, com levadas agressivas e estórias de rua que só eles conseguem contar. Ainda há tempo para Deck fazer analogias à guerra, e Meth falar dos fãs do grupo, mas Ghost resume bem o espírito da faixa: "O time precisa comer, as sementes estão famintas, é por isso que não temos medo / de quebrar estes caras, nossas armas são poderosas".

Vinnie Paz: Drag You To Hell
Depois de Stoupe lançar seu álbum solo, agora é a vez da metade vocal do Jedi Mind Tricks. "Drag You To Hell" é o single de "Assassin's Creed", projeto de Vinnie Paz. Nesta faixa, a produção é de DJ Kwestion, também membro do JMT, e não decepciona. Sobre pianos ininterruptos e scratches no refrão, Vinnie tem a plataforma perfeita para suas rimas agressivas e cheias de punchlines. O que chama a atenção é como Paz insiste em usar as mesmas terminações em suas linhas, colocando a rima na estrutura interna, o que acaba soando um pouco cansativo. Nada de novo aqui, apenas o velho Vinnie Paz avisando que não é bom mexer com ele - e isso não é uma crítica. "Feios e ignorantes é como eles nos veem / eu não ligo, só estou tentando lidar com meus demônios pessoais".

Vídeo da apresentação de "How I Got Over" no Jimmy Fallon Show:



Vídeo de "Us", por Brother Ali:

Tradução: Rakim - Holy Are You

Eu já tinha preparado a tradução de outro som para colocar aqui hoje, mas eis que me deparo com uma contribuição valiosíssima de um visitante do blog, e preciso valorizar isso, certo? Pois bem, o Rashiprock postou a letra traduzida do novo single do Rakim, "Holy Are You", e fez um ótimo trabalho. Confira!

Quem tiver mais contribuições para o blog, sinta-se à vontade para fazer o mesmo e ajudar com conteúdo.

Artista: Rakim
Álbum:
The Seventh Seal
Música:
Holy Are You - Santo É Você

[ Intro ]
Santo (sagrado) é você
Santo é você
Nao há nenhum Deus além de você
Nao há nenhum Deus além de você
(Preciso falar com todos voces por um minuto)
Glorificado seja o Senhor
(E ser sério por um minuto)

Santo é você
Santo é você
Nao há nenhum Deus além de você
Nao há nenhum Deus além de você

G-O-D, O MC Deus
Yeah

[ Verso I ]
Para aqueles que acham dificil de acreditar, e é
Por que me chamam de MC Deus, o compositor
Siga isto desde as raízes do Genesis
A maravilha do mundo, eu ainda to de pé como as pirâmides
Desenho tão vívido, cada bloco tem uma história para contar
Minha rima soa diferente como um hieroglífico
Mente fértil, infinita, como a matemática
A primeira linguagem, agora adicione isso e adicione gráficos
(vá em frente)
Entao deixe todos saberem que isto é o testamento
Novo manual da vida, entao observe de perto
O novo Michelangelo e Pablo Picasso
Preparado para te mostrar os cosmos e diferentes levadas
Até minha letra abstrata,
vai te ajudar a ter seu auge espiritual
Voce acha sua mente incapaz demais para compreender
Eu trago a escuridão para a luz, divido o átomo
É como assistir a teoria do big bang emerger
Eu pego títulos, uno-os para revelar novas palavras
Eles querem uma visão clara
Das mais distantes e escuras esquinas do universo
Até uma esquina perto de voce
um Faraó com aparência do gueto, fique esperto
Exibição do Fort Knox, um King Tut do mundo moderno
Amarrado apertado, rimo como se tivesse sido preservado no tempo
Cuspo a agua benta, entao a toco e a transformo em vinho
É o Deus.

[ Refrão ]
Santo é você
Santo é você
Nao há nenhum Deus além de você
Nao há nenhum Deus além de você

[ Verso II ]
Nós eramos crianças do todo poderoso, então caímos
Do paraíso para o inferno sagrado
Provavelmente descendentes do Santo Graal
Outra parte da história que eles não vão revelar
Só o tempo irá dizer
Voce esta esperando pelo julgamento? Ele veio.
Na forma de um malandro no jogo
Para criar uma opinião forte, tem sangue nas minhas veias
A química é a mesma, nós somos um e o mesmo
Com sete letras em todos os meus 3 nomes e sobrenomes
Andar sobre a agua? Nao, Jesus também não fez isso
É uma parábola para fazer seguidores e leitores acreditarem
Do Egito até Budapest, Rakim é o mais verdadeiro que sobrou
Entende as Escrituras como o ministro Louis F.
Eu te contei quem é Deus, voce me ignorou como aconteceu com a maioria dos profetas
Jesus, Salomão, Abraao, Moises e Mohammed
Eu te mostrei a sabedoria, nós completamos a promessa quebrada
Eu cuspi a verdade para prever o futuro, como Nostradamus
Como no Apocalipse, eu espero que minhas citações revelem
os sete espiritos de Deus quando eu abrir o selo
Interprete o sagrado Qu'ran, esses "flows" vao te guiar
Traduza o Torah, e decodifique a Biblia
Avise os anciões nos mosteiros, maçons e a lei
As sete igrejas, as sinagogas, isso é o Renascimento
Pele é bronze, como o Messias
Rakim Allah' está prestes a revelar um segredo maior que o tempo e que Deus,

Santo é você!
Santo é você!
Nao há nenhum Deus além de você (eu quero te desafiar)
Nao há nenhum Deus além de você (logo vou te desafiar)
Glorificado seja o Senhor (eu sou, eu sou o Alpha e o Omega)

sábado, 8 de agosto de 2009

Avulsos: Fino e DJ Caíque

Depois dos singles gringos, é a vez de dar uma passada pelas novas contribuições nacionais. Fino é um emcee da zona sul de São Paulo, na correria desde 1997 e integrante do selo Material Corrosivo, comandado pelo DJ F-Zero, ilustre visitante deste humilde blog. Está previsto para este ano o lançamento do primeiro disco do rapper, que se chamará Quarto Mundo e será produzido pelo F-Zero. "Rua" é o single deste trabalho e traz duas canções, a faixa-título e "Cada um sabe o que quer".

Já DJ Caíque já é bem conhecido aqui no Brasil. A questão é que agora ele começa a ter reconhecimento também fora do país, com sua afiliação à banca Creative Juices, que conta com nomes como IDE, Arsonists e Alucard. Mais um passo à frente foi dado recentemente, com a produção de Caíque da o remix oficial da faixa "God Complex", que reuniu IDE e Hell Razah, membro do Sunz of Man.

Clique no nome do artista e da música para fazer o download das faixas.

Fino: Rua
Com produção de F-Zero, Fino traz uma levada para cima, com rimas relatando o cotidiano paulista de uma forma bem interessante. A colagem dos Racionais no refrão de "Rua" cai muito bem no tema da faixa, mas o que chama atenção é o contraste entre o flow aparentemente descontraído e os pianos mais relaxados contra o tema forte da música. Em "Cada um sabe o que quer", a contraposição é entre os samples mais obscuros com metais suingados e refrão cantado. A escrita aqui assume tons autobiográficos e de positividade, com Fino explicando os motivos pelo qual ele faz rap e recitando rimas de incentivo.

IDE & Hell Razah: God Complex (Remix oficial por DJ Caíque)
A consistência de Caíque continua nesta faixa. O cara sempre teve uma queda por instrumentais mais sombrios, e esta característica cai muito bem com o estilo de Hell Razah e Ide. O resultado é um beat com strings turvas e um piano discreto e ameaçador no fundo, perfeito para os dois emcees destilarem sua lírica e flow assustadores. "God Complex" está disponível na mixtape "Table of Content", de IDE e DJ Connect.

sábado, 1 de agosto de 2009

Muneshine: Status Symbol

Ano: 2009
Gravadora: Domination Recordings
Produtores: Stat D (faixa 1), Illmind (2 e 14), Sir OJ (13), M-Phazes (4,5 e 8), Saint (6), Freddie Joachim (7 e 12), Suff Daddy (9), Presto (10), Oddisee (11), Muneshine (13).
Participações: Nature (faixa 5), Sean Price (8), Termanology (8), Dminor (10), Little Vic (14), Emilio Rojas (14), Skyzoo (14), Kenn Starr (14), D-Sisive (14).

Muneshine é um emcee/produtor canadense que, como muitos outros artistas do underground, fez seu nome fora do tradicional mercado norte-americano, para só depois ser reconhecido. No caso de Muneshine, o Japão foi o início de tudo. No país, o cara lançou seus três primeiros álbuns, alcançou sucesso de vendas e participou de diversas coletâneas. Só depois ele começou a fazer barulho nos EUA, onde já trabalhou com caras como Pete Rock, DJ Spinna, Pharoahe Monch, Sean Price e Guilty Simpson. "Status Symbol" é o novo trabalho dele, e traz uma novidade: conhecido pelos seus beats, dessa vez o canadense resolveu focar na sua faceta de emcee, deixando os instrumentais a cargo de nomes como Illmind, M-Phazes, Freddie Joachim e Presto.

Ao ouvir o disco, dá para notar alguma das razões do sucesso de Muneshine em terras nipônicas. A produção é bastante voltada para o jazz-rap, com samples suaves, além de uma abordagem mais leve nas rimas - o chamado mellow rap, que dá as cartas no Japão. E, se considerarmos o resultado de "Status Symbol", a tendência é que os fãs de rap - principalmente os japoneses - devorem este álbum.

Primeiro de tudo, o time de produtores recrutado é quase uma seleção de beatmakers do underground americano. Junte alguns caras mais estabelecidos, como o sempre correto Illmind e o incansável Oddisee, a novatos promissores como Freddie Joachim e Presto e você terá batidas originais, coesas e com garantia de qualidade. Talvez o fato de a maioria já ter a tendência de fazer beats mais tranquilos tenha influenciado na escolha de Muneshine, mas o fato é que cada instrumental combina perfeitamente com o próximo e o anterior, dando a impressão de que o álbum foi produzido por um cara só.

É claro que cada um traz seu ingrediente para a mistura. Illmind emprega sua bateria rasteira e alguns samples vocais na ótima posse cut "It's Mine", que conta ainda com Skyzoo, Emilio Rojas, Little Vic e Ken Starr no microfone. M-Phazes traz vinis de soul aliados a caixas mais redondas no single "Globetrotters" e em "What Now", além de arrumar tempo para reciclar em "Foreign Affairs" um sample já usado por Common. Ainda tem a elegância dos samples de Freddie Joachim na belíssima "Cats & Dogs", com um beat jazzy complexo, cheio de nuances e candidato a melhor contribuição do disco.

No microfone, Muneshine combina muito bem com o tipo de produção que escolheu. Sua voz pode não ser das mais distintas, mas o timbre é o ideal para a atmosfera tranquila do disco. Percebe-se nas letras uma grande preocupação em lembrar do seu país de origem, o Canadá, como ele deixa explícito no refrão de "Globetrotters": "Eu continuo representando o Canadá". Há espaço ainda para relacionamentos em "Human Nature", rimas de batalha e bragadoccio em "What Now" e "It's Mine" e ainda uma análise da carreira internacional de Muneshine em "Foreign Affairs".

No geral, "Status Symbol" não traz nenhuma grande novidade, mas é um álbum muito bem construído, com instrumentais muito bem escolhidos. É daqueles discos que se pode colocar para tocar do começo ao fim, mas no fundo, para fazer outra coisa no embalo da boa levada de Muneshine e das ótimas batidas. Escute-o na ida para o trabalho de manhã, enquanto relaxa na praia ou enquanto anda de skate, e poderá desfrutar perfeitamente do registro.

Muneshine - Status Symbol
01 Status Symbol (Intro)
02 Mark My Words
03 Human Nature Ft. Denosh
04 Globetrotters
05 Foreign Affairs Ft. Nature
06 Waterworld (Revisited)
07 Cats & Dogs
08 What Now Ft. Sean Price and Termanology
09 Liqourhound
10 Today’s Special Ft. Dminor
11 Leaving You
12 Farewell
13 Love You More
14 It’s Mine Ft. Little Vic, Emilio Rojas, Skyzoo, Kenn Starr and D-Sisive

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Vídeo da faixa "Status Symbol (Intro)":


Vídeo da faixa "Globetrotters":