O atraso desta vez é de alguns meses, mas tudo bem. O DJ Zala, para quem não se lembra, foi o vencedor do Concurso Boom Bap de Beats, e ganhou o direito de ter seu beat rimado pelo Ogi no disco que o emcee está preparando para 2010, "Crônicas da Cidade Cinza". Como parte do prêmio, o ganhador também seria entrevistado pelo blog. Acontece que esta entrevista não para por aí. Jefferson Lemes do Nascimento, 27 anos, cria do Tucuruvi, é também o organizador da Liga dos Beats, que vai acontecer hoje em São Paulo - mais informações no Per Raps.
Boom Bap: Como você se envolveu com o rap?
DJ Zala: Acho que em 2003 ou 2004, quando, pra fazer oficina de DJ, comecei a frequentar a casa de Hip-Hop de Diadema. Lá, eu aprendi muito, sou eternamente agradecido àquele lugar. Tive oportunidade de a assistir grandes shows e também de ajudar a organizar algumas festas.
Antes você só curtia as músicas, sem produzir nada, certo?
Não, além de ouvir rap eu fui pichador e depois fiz grafitti por uns dois ou três anos, e a trilha sonora desse tempo foi muito rap, principalmente rap nacional, mas eu sempre tive vontade de fazer rap.
Chegou a tentar escrever algumas rimas ou sempre se interessou pela produção?
Eu sempre me interessei por produção. Com uns 15 anos, eu comecei a trabalhar em um jornal, e eu lia três jornais por dia, dois de São Paulo e um do Rio, e era uma época em que escreviam muito sobre lançamento de discos e falavam muito sobre a cultura do sample. Polemizavam sobre a questão de direitos autorais . Lembro do caso da música "Contexto", do Planet Hemp, em que usaram sample da música "Mentira", do Marcos Valle, deu uma polêmica na época, lembro que corri atrás das músicas pra conhecer o tal ''sample''. Foi o primeiro original e sampleado que conheci...Isso acho que 1998. Quando ouvi, eu chapei. Tinha um amigo colecionador de discos que trabalhava lá, ele me mostrou a música "Mentira" e eu mostrei a "Contexto".
Você coleciona vinis? Tem noção de quantos discos tem atualmente?
Coleciono sim, estou menos viciado, mas continuo comprando discos. Acho que tenho uns mil discos. Eu trabalhei durante um tempo no sebo do Messias. Ali era impossível não pegar nada.
Já chegou a produzir algum grupo ou emcee?
Eu comecei mesmo a fazer beat há uns três anos. Eu sempre tentei fazer, primeiro no Sound Forge, depois no Acid e Logic, mas perdi tudo quando meu PC queimou. Depois disso fiquei um tempo parado, porque isso acabou tirando um pouco da minha energia. Tenho a honra de estrear com o Ogi.
Então você nunca teve grupo?
Sim, eu fui DJ do Emicida. Formamos a Na Humilde Crew, que eram eu, Emicida, Rachid, Projota, DJ MrBrown, DJ Nyack, o Enio, Djose, Marcelo. A prefeitura até nos financiou no projeto "Mais Clássicos Hip-Hop"...
E como foi esse projeto?
Foi um projeto que aconteceu em 2008, em que eu tive o maior prazer em produzir. Aconteceu quase todo na Zona Norte, organizamos oficinas de Dj, MC, Produção Musical, Beat Box e também uns 12 shows.
Falando do concurso do Boom Bap que você venceu, de onde surgiu a ideia daquele beat? O que você procurou passar com ele? Quais foram suas inspirações e referências? Primeiro, eu ouvi o sample lá na disco 7, chapei, levei pra casa, acho que durante um churrasco em casa eu mostrei pra uns MCs, que disseram: "Nossa faz que esse vai ser o single''. Fui fazer, tentando manter o groove do sample, tentando manter o peso. Quando mostrei pros caras eles disseram a mesmo coisa: ''Ficou foda, mas esse beat aí é pro KRS-ONE rimar, mano''. Respeitei a opinião dos caras.
Então você já tinha o beat antes mesmo do concurso?
Já tinha...
E o que você achava que tinha no beat que casava com o Ogi?
Estava entre dois beats pra inscrever no concurso, mas o nome do disco me ajudou a escolher esse beat. ''Crônicas da Cidade Cinza''... São Paulo é uma cidade tensa, acho que essa música tem um pouco disso.
Muitos reclamaram, falando que o sample já tinha sido utilizado anteriormente. Como você vê isso? Não vejo problema. Desde que seja feito de forma diferente, tá valendo.
Picote, loop, instrumentação. O que você prefere ou acha que casa melhor contigo? Por quê?
Eu trabalho mais com loop e picote, mas sempre acrescento algum elemento, seja tocando um instrumento ou um filtro.
Como você vê a cena de beatmaking aqui no Brasil? Quais os nomes que você mais gosta?
Acho que esta mais fácil começar a fazer, porque está mais fácil o acesso a um computador, aos softwares e ao conhecimento musical. Isso ajudou a difundir a parada. Acho que tem muita gente talentosa e dedicada. Sem ordem de preferência, admiro o trabalho do Dario, DJ Nato, Munhoz, Nave, DJ Zegon, Ganjaman, Marechal, Apolo, Caíque, Slim, DJ Marlboro, Mano Brown.
O que você acha que falta para que os beatmakers brasileiros possam começar a viver de seus beats? São poucos artistas do hip-hop que vivem bem de sua arte, com o beatmaker não é diferente. Alguns beatmakers conseguem negociar seus trabalhos no exterior, acho que essa é a boa - se conectar e vender para os gringos.
Quais são suas principais referências de produtores? O que você pegou de cada um para formar seu estilo? Eu gosto dos samples de vozes usados por RZA, das linhas de baixo do DJ Premier, Pete Rock, e da bateria de J.Dilla. Da simplicidade do Dr. Dre. Acho que Illmind e 9th Wonder bebem dessas fontes.
Como você aprendeu a produzir?
Eu estou aprendendo, mas o que ajuda muito é a troca de idéias com outros beatmakers, aprender a tocar um instrumento, aprender o inglês, ouvir originais e sampleados e transpiração.
Você disse que coleciona vinis. Qual a importância que você acha que uma boa coleção tem para um produtor? Para você, há uma vantagem entre samplear do vinil e samplear de um MP3? Acho que, independente de sua coleção estar numa estante ou num HD, pesquisa musical tem que ser essencial para o beatmaker. Acho que a grande vantagem do MP3 é o acesso. Vinil é fetiche e as vezes é caro, mas a música que sai do vinil é mais quente, é mais pesada, sem falar na arte da capa e as informações da contracapa. Mas, até ter o dinheiro para comprar, vai escutando o MP3 mesmo - e rezando pra não dar um pau no HD.
Como é o seu processo de produção de um beat?
Primeiro pesquiso os samplers, escuto, entendo, loopo e edito direto no Sound Forge 8. Passo para a MPC 1000, seleciono e experimento os timbres, gravo e finalizo no Nuendo 3.
Você toca algum instrumento?
Faço scratch.
Quais são seus próximos projetos?
Mixtapes. Estou organizando também a Liga dos Beats que será dia 17/10, no Centro Cultural da Juventude e em breve tem o Festival Hip-Hop e Cinema de São Paulo.
Boom Bap: Como você se envolveu com o rap?
DJ Zala: Acho que em 2003 ou 2004, quando, pra fazer oficina de DJ, comecei a frequentar a casa de Hip-Hop de Diadema. Lá, eu aprendi muito, sou eternamente agradecido àquele lugar. Tive oportunidade de a assistir grandes shows e também de ajudar a organizar algumas festas.
Antes você só curtia as músicas, sem produzir nada, certo?
Não, além de ouvir rap eu fui pichador e depois fiz grafitti por uns dois ou três anos, e a trilha sonora desse tempo foi muito rap, principalmente rap nacional, mas eu sempre tive vontade de fazer rap.
Chegou a tentar escrever algumas rimas ou sempre se interessou pela produção?
Eu sempre me interessei por produção. Com uns 15 anos, eu comecei a trabalhar em um jornal, e eu lia três jornais por dia, dois de São Paulo e um do Rio, e era uma época em que escreviam muito sobre lançamento de discos e falavam muito sobre a cultura do sample. Polemizavam sobre a questão de direitos autorais . Lembro do caso da música "Contexto", do Planet Hemp, em que usaram sample da música "Mentira", do Marcos Valle, deu uma polêmica na época, lembro que corri atrás das músicas pra conhecer o tal ''sample''. Foi o primeiro original e sampleado que conheci...Isso acho que 1998. Quando ouvi, eu chapei. Tinha um amigo colecionador de discos que trabalhava lá, ele me mostrou a música "Mentira" e eu mostrei a "Contexto".
Você coleciona vinis? Tem noção de quantos discos tem atualmente?
Coleciono sim, estou menos viciado, mas continuo comprando discos. Acho que tenho uns mil discos. Eu trabalhei durante um tempo no sebo do Messias. Ali era impossível não pegar nada.
Já chegou a produzir algum grupo ou emcee?
Eu comecei mesmo a fazer beat há uns três anos. Eu sempre tentei fazer, primeiro no Sound Forge, depois no Acid e Logic, mas perdi tudo quando meu PC queimou. Depois disso fiquei um tempo parado, porque isso acabou tirando um pouco da minha energia. Tenho a honra de estrear com o Ogi.
Então você nunca teve grupo?
Sim, eu fui DJ do Emicida. Formamos a Na Humilde Crew, que eram eu, Emicida, Rachid, Projota, DJ MrBrown, DJ Nyack, o Enio, Djose, Marcelo. A prefeitura até nos financiou no projeto "Mais Clássicos Hip-Hop"...
E como foi esse projeto?
Foi um projeto que aconteceu em 2008, em que eu tive o maior prazer em produzir. Aconteceu quase todo na Zona Norte, organizamos oficinas de Dj, MC, Produção Musical, Beat Box e também uns 12 shows.
Falando do concurso do Boom Bap que você venceu, de onde surgiu a ideia daquele beat? O que você procurou passar com ele? Quais foram suas inspirações e referências? Primeiro, eu ouvi o sample lá na disco 7, chapei, levei pra casa, acho que durante um churrasco em casa eu mostrei pra uns MCs, que disseram: "Nossa faz que esse vai ser o single''. Fui fazer, tentando manter o groove do sample, tentando manter o peso. Quando mostrei pros caras eles disseram a mesmo coisa: ''Ficou foda, mas esse beat aí é pro KRS-ONE rimar, mano''. Respeitei a opinião dos caras.
Então você já tinha o beat antes mesmo do concurso?
Já tinha...
E o que você achava que tinha no beat que casava com o Ogi?
Estava entre dois beats pra inscrever no concurso, mas o nome do disco me ajudou a escolher esse beat. ''Crônicas da Cidade Cinza''... São Paulo é uma cidade tensa, acho que essa música tem um pouco disso.
Muitos reclamaram, falando que o sample já tinha sido utilizado anteriormente. Como você vê isso? Não vejo problema. Desde que seja feito de forma diferente, tá valendo.
Picote, loop, instrumentação. O que você prefere ou acha que casa melhor contigo? Por quê?
Eu trabalho mais com loop e picote, mas sempre acrescento algum elemento, seja tocando um instrumento ou um filtro.
Como você vê a cena de beatmaking aqui no Brasil? Quais os nomes que você mais gosta?
Acho que esta mais fácil começar a fazer, porque está mais fácil o acesso a um computador, aos softwares e ao conhecimento musical. Isso ajudou a difundir a parada. Acho que tem muita gente talentosa e dedicada. Sem ordem de preferência, admiro o trabalho do Dario, DJ Nato, Munhoz, Nave, DJ Zegon, Ganjaman, Marechal, Apolo, Caíque, Slim, DJ Marlboro, Mano Brown.
O que você acha que falta para que os beatmakers brasileiros possam começar a viver de seus beats? São poucos artistas do hip-hop que vivem bem de sua arte, com o beatmaker não é diferente. Alguns beatmakers conseguem negociar seus trabalhos no exterior, acho que essa é a boa - se conectar e vender para os gringos.
Quais são suas principais referências de produtores? O que você pegou de cada um para formar seu estilo? Eu gosto dos samples de vozes usados por RZA, das linhas de baixo do DJ Premier, Pete Rock, e da bateria de J.Dilla. Da simplicidade do Dr. Dre. Acho que Illmind e 9th Wonder bebem dessas fontes.
Como você aprendeu a produzir?
Eu estou aprendendo, mas o que ajuda muito é a troca de idéias com outros beatmakers, aprender a tocar um instrumento, aprender o inglês, ouvir originais e sampleados e transpiração.
Você disse que coleciona vinis. Qual a importância que você acha que uma boa coleção tem para um produtor? Para você, há uma vantagem entre samplear do vinil e samplear de um MP3? Acho que, independente de sua coleção estar numa estante ou num HD, pesquisa musical tem que ser essencial para o beatmaker. Acho que a grande vantagem do MP3 é o acesso. Vinil é fetiche e as vezes é caro, mas a música que sai do vinil é mais quente, é mais pesada, sem falar na arte da capa e as informações da contracapa. Mas, até ter o dinheiro para comprar, vai escutando o MP3 mesmo - e rezando pra não dar um pau no HD.
Como é o seu processo de produção de um beat?
Primeiro pesquiso os samplers, escuto, entendo, loopo e edito direto no Sound Forge 8. Passo para a MPC 1000, seleciono e experimento os timbres, gravo e finalizo no Nuendo 3.
Você toca algum instrumento?
Faço scratch.
Quais são seus próximos projetos?
Mixtapes. Estou organizando também a Liga dos Beats que será dia 17/10, no Centro Cultural da Juventude e em breve tem o Festival Hip-Hop e Cinema de São Paulo.
6 comentários:
thx for the download
Na época, não votei no DJ Zala exatamente pq o sample ainda tava mto vivo na minha cabeça. Hoje vejo q é bobagem, mesmo pq ele o utilizou de forma bem diferente. O beat que ganhou realmente é muito bom.
P.S.: resenha o disco do Fashawn. O moleque apavora!
Salve, Felipe!
Primeiramente, parabéns pela entrevista. O Dj Zala além de ser merecedor pelo beat campeão, provou também que sabe organizar eventos com a Liga dos Beats, que foi um sucesso.
Hands up!
DJ zala representou na liga dos beats! parabéns memo!
Salve zala! continue assim!
GRANDEEEEE ZALAAAA!!!!!
Um dos verdadeiros batalhadores do Hip Hop Brasileiro!!!!!
Falou !!!!
Valeu
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