quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mr. J Medeiros: Friends Enemies Apples Apples

Ano: 2009
Gravadora: Quannum Projects
Produtor: Stro the 89th Key (todas as faixas)
Participação: Tara Ellis (faixas 1, 5, 8, 10 e 12)

"Meu nome é Mr. J Medeiros, e eu acredito no poder do amor". Gangstas de plantão, bandidos, ou mesmo simples fãs de um rap mais pesado podem torcer o nariz para um disco cuja primeira frase é a transcrita acima. Mas é com esta declaração que Mr. J Medeiros dá início aos trabalhos de seu segundo esforço solo, "Friends Enemies Apples Apples". O cara alcançou certa notoriedade por sua participação no grupo The Procussions e com o seu primeiro álbum, "Of Gods and Girls", cujo single, "Constance", trata de um tema delicadíssimo: a prostituição infantil. A faixa foi, inclusive, o pontapé inicial para uma série de trabalhos desenvolvidos por este filho de pai português e mãe escocesa.

Voltando ao disco novo, a tal primeira frase pode soar um pouco piegas, mas a qualidade de J Medeiros é inegável e vai superar as expectativas de qualquer um que tenha torcido o nariz para as palavras iniciais. O clima positivista que o cara traz para seus versos é contemplado por uma escrita bastante complexa, cheia de rimas multissilábicas e com uma sonoridade elogiável. Tudo isso dá ainda mais brilho para o flow acelerado e direto do emcee. Ouça atentamente "Target Market" e você terá o resumo perfeito das qualidades de Medeiros no microfone.

E se não bastasse a habilidade técnica, Medeiros consegue aliar isso a mensagens relevantes, numa mistura de crítica social, religião, crítica humana e incentivo. "Children", a faixa de abertura, traz no primeiro verso o abandono de um recém-nascido sob a ótica do próprio bebê - mais forte e incômodo impossível. "My Own" é a forma que Medeiros encontra para se apresentar aos ouvintes: críticas à televisão, à fama e a busca incessante das pessoas para consegui-la e o anúncio de que ele está sozinho na caminhada.

A supracitada "Target Market" vai mais a fundo na questão da TV e da fama e não deixa de mostrar a parcela de culpa da própria população. A religiosidade de Medeiros se faz presente em faixas como "Smile", na qual ele questiona a veracidade de algumas pessoas na busca pela fé. Já em "Holding On", primeiro single, a mensagem é mais branda: um incentivo para quem passa por dificuldades, mas ainda com certos elementos religiosos dentro do discurso.

Na produção, de responsabilidade do companheiro de The Procussions Stro The 89th Key, a intenção é clara: os beats são apenas o background para as rimas de Medeiros. Deixando de lado o clima jazzy característico do The Procussions, Stro emprega baterias secas e samples mais discretos para alcançar o objetivo. Ainda assim, há algumas joias para serem descobertas: "My Own" traz uma bateria sensacional, com suas caixas sujas, complementada por um entra-e-sai de samples esparsos; "Target Market" segue o investimento na bateria, dessa vez com um break espetacular; "Apples Apples" recorre a uma fórmula mais dançante, com sintetizadores e um refrão grudento, enquanto "The Balance" desce o mapa rumo a um violão brasileiro para fechar o álbum com chave de ouro.

Apesar de ser um disco curto - são apenas 40 minutos -, "Friends Enemies Apples Apples" é intenso, graças às ótimas rimas de Medeiros e aos tremas que ele trata com bastante propriedade ao longo do registro. O mais interessante é notar como o emcee consegue equilibrar forma e conteúdo e mostrar qualidades nos dois âmbitos. A produção é competente e cumpre seu papel sem sobressaltos, mas poderia ter sido um pouco mais ousada. Outro ponto recorrente do disco, os refrões de Tara Ellis perdem-se em altos e baixos. Ora funcionam, ora prejudicam. No mais, é um bom álbum, sobretudo por causa da força de Medeiros.

Mr. J Medeiros - Friends Enemies Apples Apples
01. Children
02. Last Stars
03. My Own
04. Target Market
05. Holding On
06. K38
07. Apples Apples
08. W.A.N.T.S.
09. Smile
10. Left Me
11. Brutus
12. The Balance

Vídeo da faixa "Holding On":

3 comentários:

Anônimo disse...

*temas rsrss

pow, curto muito, vou ver ql é desse cd..

Unknown disse...

Muito bom hein?

No clipe de Holding On, tem horas que lembra um pouco o flow do Talib.

Fodástico.

Anônimo disse...

o que aconteceu ao hip hop bootlegers?
Paz