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No seu primeiro trabalho, a mixtape "Poesia Marginal", a cria do Jardim Catarina, escoltada pela produção de Iky Castilho, juntou músicas antigas e novas para servir como introdução ao público de um artista com propostas diferentes dentro do rap. Os mais puristas hip-hoppers provavelmente vão torcer o rosto para os batidões funks que entremeam o trabalho, mas ainda assim serão conquistados pelas faixas mais tradicionais do rapper que é fã de funk.
A entrevista publicada ontem no blog pode dar uma boa ideia do Funkero enquanto artista: viciado em livros, com técnica apurada e uma tendência a não enfeitar muito nos versos, apesar de ter condições de pinçar rimas mais rebuscadas. Entretanto, o objetivo aqui é outro: ir direto ao ponto, de forma crua e impactante. A comparação com um MV Bill no início da carreira seria coerente se o emcee de São Gonçalo se restringisse apenas ao rap e às temáticas do gênero.
Não é o caso, entretanto. E este talvez seja um dos pontos cruciais na proposta de misturar funk ao rap. Mas isso não acontece sempre. Em algumas faixas, temáticas funk são mantidas em batidas funk, como é o caso de "Piloto de Fuga" ou "Som do Tambozão", e teriam sido uma ótima chance de se testar o crossover proposto. Por outro lado, "Relíquia" usa samples clássicos do gênero carioca para resgatar fãs dos primórdios funkeiros, numa letra falando sobre esta época, com citações a MC's como Cidinho e Doca e Mr. Catra, linhas de frente do tamborzão, mas com igual capacidade de trazer mensagens fortes e reflexivas para as massas - exatamente como "Relíquia" faz, indiretamente. Aliás, este é o grande ponto do funk na mix: permite a Funkero pintar um retrato extremamente fiel do lado sombrio do Rio de Janeiro, sem se ater apenas aos temas engessados do rap.
Se existe a possibilidade de alguém não gostar dos funks - o que não é o caso deste que vos escreve, como alguém nascido e criado na Baixada Fluminense -, os raps são impecáveis e implacáveis. E os temas são diversos. Desde o hino cafajeste de "O que que essa moça tem?" até o storytelling bandido de "Geração $", na qual Iky, Max B.O. e Funkero narram um assalto a pessoas de classe média, o emcee ainda tem tempo para rimas mais políticas como "Tempo de Guerrilha" e uma crônica de um lado da Cidade Maravilhosa não tão exaltado pelo governo em "Selva Urbana", com uma ótima aparição de Pai Lua e presença garantida em qualquer lista de dez melhores faixas do rap nacional em 2009.
No fim das contas, "Poesia Marginal" é simplesmente o retrato de um cara com propostas artísticas ambiciosas, e que tem na mixtape o início deste caminho árduo para alcançar a maturidade deste som proposto. Com rimas verdadeiras e cruas e uma produção diversificada, o registro é apenas o ponto de partida para Funkero. Os próximos capítulos desta luta louvável para unir funk e rap num gênero com verdadeiro apelo para o público-alvo que tanto interessa aos dois vão mostrar se o sonho é possível.
01. Intro Poesia Marginal
02. Clima Quente, Sangue Frio
03. Vários Role
04. Relíquia
05. Ao Som Do Tamborzão
06. Interlude Da Gostosa Que Passa (part. Iky & Aori)
07. O Q Q Essa Moça Tem
08. Piloto De Fuga
09. Interlude Poesia Marginal
10. Nada Bem (part. Gutierrez)
11. Selva Urbana (part. Pai Lua)
12. Geração $ (part. Max B.O., Iky & V100T)
13. Aos Que Se Foram
14. Levando A Vida No Talento
15. Em Toda Comunidade
16. Interlude Lampião
17. Banditismo
18. Sangue Guerreiro
19. Fora Da Lei
20. Tempo De Guerrilha
21. Fim
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Vídeo de "Selva Urbana":
Um comentário:
Funkero \Õ/ Pra mim o melhoor mc manoow
tudo nosso
fica na paaz ' !
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