Este blogueiro tem uma teoria pessoal de que o rap norte-americano tem como equivalente brasileiro o funk carioca. Os preconceitos das pessoas "de fora" são os mesmos: "é música de pobre, não tem conteúdo, só fala de sexo e violência". O efeito, entretanto, para os tais "pobres" também é iguais, e positivo: uma representatividade sem paralelos nas camadas mais baixas. Se um moleque do Brooklyn sonha em ser DJ ou um emcee, muitas crianças dos morros cariocas crescem tendo no funk uma manifestação artística viável para ele melhorar de vida. Um destes veio de São Gonçalo, cidade próxima do Rio, mas não se limitou ao funk: misturou rap, ragga e rock no seu caldeirão de influências. Mas manteve a essência no nome: Funkero.
No seu primeiro trabalho, a mixtape "Poesia Marginal", a cria do Jardim Catarina, escoltada pela produção de Iky Castilho, juntou músicas antigas e novas para servir como introdução ao público de um artista com propostas diferentes dentro do rap. Os mais puristas hip-hoppers provavelmente vão torcer o rosto para os batidões funks que entremeam o trabalho, mas ainda assim serão conquistados pelas faixas mais tradicionais do rapper que é fã de funk.
A entrevista publicada ontem no blog pode dar uma boa ideia do Funkero enquanto artista: viciado em livros, com técnica apurada e uma tendência a não enfeitar muito nos versos, apesar de ter condições de pinçar rimas mais rebuscadas. Entretanto, o objetivo aqui é outro: ir direto ao ponto, de forma crua e impactante. A comparação com um MV Bill no início da carreira seria coerente se o emcee de São Gonçalo se restringisse apenas ao rap e às temáticas do gênero.
Não é o caso, entretanto. E este talvez seja um dos pontos cruciais na proposta de misturar funk ao rap. Mas isso não acontece sempre. Em algumas faixas, temáticas funk são mantidas em batidas funk, como é o caso de "Piloto de Fuga" ou "Som do Tambozão", e teriam sido uma ótima chance de se testar o crossover proposto. Por outro lado, "Relíquia" usa samples clássicos do gênero carioca para resgatar fãs dos primórdios funkeiros, numa letra falando sobre esta época, com citações a MC's como Cidinho e Doca e Mr. Catra, linhas de frente do tamborzão, mas com igual capacidade de trazer mensagens fortes e reflexivas para as massas - exatamente como "Relíquia" faz, indiretamente. Aliás, este é o grande ponto do funk na mix: permite a Funkero pintar um retrato extremamente fiel do lado sombrio do Rio de Janeiro, sem se ater apenas aos temas engessados do rap.
Se existe a possibilidade de alguém não gostar dos funks - o que não é o caso deste que vos escreve, como alguém nascido e criado na Baixada Fluminense -, os raps são impecáveis e implacáveis. E os temas são diversos. Desde o hino cafajeste de "O que que essa moça tem?" até o storytelling bandido de "Geração $", na qual Iky, Max B.O. e Funkero narram um assalto a pessoas de classe média, o emcee ainda tem tempo para rimas mais políticas como "Tempo de Guerrilha" e uma crônica de um lado da Cidade Maravilhosa não tão exaltado pelo governo em "Selva Urbana", com uma ótima aparição de Pai Lua e presença garantida em qualquer lista de dez melhores faixas do rap nacional em 2009.
No fim das contas, "Poesia Marginal" é simplesmente o retrato de um cara com propostas artísticas ambiciosas, e que tem na mixtape o início deste caminho árduo para alcançar a maturidade deste som proposto. Com rimas verdadeiras e cruas e uma produção diversificada, o registro é apenas o ponto de partida para Funkero. Os próximos capítulos desta luta louvável para unir funk e rap num gênero com verdadeiro apelo para o público-alvo que tanto interessa aos dois vão mostrar se o sonho é possível.
Funkero - Poesia MarginalNo seu primeiro trabalho, a mixtape "Poesia Marginal", a cria do Jardim Catarina, escoltada pela produção de Iky Castilho, juntou músicas antigas e novas para servir como introdução ao público de um artista com propostas diferentes dentro do rap. Os mais puristas hip-hoppers provavelmente vão torcer o rosto para os batidões funks que entremeam o trabalho, mas ainda assim serão conquistados pelas faixas mais tradicionais do rapper que é fã de funk.
A entrevista publicada ontem no blog pode dar uma boa ideia do Funkero enquanto artista: viciado em livros, com técnica apurada e uma tendência a não enfeitar muito nos versos, apesar de ter condições de pinçar rimas mais rebuscadas. Entretanto, o objetivo aqui é outro: ir direto ao ponto, de forma crua e impactante. A comparação com um MV Bill no início da carreira seria coerente se o emcee de São Gonçalo se restringisse apenas ao rap e às temáticas do gênero.
Não é o caso, entretanto. E este talvez seja um dos pontos cruciais na proposta de misturar funk ao rap. Mas isso não acontece sempre. Em algumas faixas, temáticas funk são mantidas em batidas funk, como é o caso de "Piloto de Fuga" ou "Som do Tambozão", e teriam sido uma ótima chance de se testar o crossover proposto. Por outro lado, "Relíquia" usa samples clássicos do gênero carioca para resgatar fãs dos primórdios funkeiros, numa letra falando sobre esta época, com citações a MC's como Cidinho e Doca e Mr. Catra, linhas de frente do tamborzão, mas com igual capacidade de trazer mensagens fortes e reflexivas para as massas - exatamente como "Relíquia" faz, indiretamente. Aliás, este é o grande ponto do funk na mix: permite a Funkero pintar um retrato extremamente fiel do lado sombrio do Rio de Janeiro, sem se ater apenas aos temas engessados do rap.
Se existe a possibilidade de alguém não gostar dos funks - o que não é o caso deste que vos escreve, como alguém nascido e criado na Baixada Fluminense -, os raps são impecáveis e implacáveis. E os temas são diversos. Desde o hino cafajeste de "O que que essa moça tem?" até o storytelling bandido de "Geração $", na qual Iky, Max B.O. e Funkero narram um assalto a pessoas de classe média, o emcee ainda tem tempo para rimas mais políticas como "Tempo de Guerrilha" e uma crônica de um lado da Cidade Maravilhosa não tão exaltado pelo governo em "Selva Urbana", com uma ótima aparição de Pai Lua e presença garantida em qualquer lista de dez melhores faixas do rap nacional em 2009.
No fim das contas, "Poesia Marginal" é simplesmente o retrato de um cara com propostas artísticas ambiciosas, e que tem na mixtape o início deste caminho árduo para alcançar a maturidade deste som proposto. Com rimas verdadeiras e cruas e uma produção diversificada, o registro é apenas o ponto de partida para Funkero. Os próximos capítulos desta luta louvável para unir funk e rap num gênero com verdadeiro apelo para o público-alvo que tanto interessa aos dois vão mostrar se o sonho é possível.
01. Intro Poesia Marginal
02. Clima Quente, Sangue Frio
03. Vários Role
04. Relíquia
05. Ao Som Do Tamborzão
06. Interlude Da Gostosa Que Passa (part. Iky & Aori)
07. O Q Q Essa Moça Tem
08. Piloto De Fuga
09. Interlude Poesia Marginal
10. Nada Bem (part. Gutierrez)
11. Selva Urbana (part. Pai Lua)
12. Geração $ (part. Max B.O., Iky & V100T)
13. Aos Que Se Foram
14. Levando A Vida No Talento
15. Em Toda Comunidade
16. Interlude Lampião
17. Banditismo
18. Sangue Guerreiro
19. Fora Da Lei
20. Tempo De Guerrilha
21. Fim
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Vídeo de "Selva Urbana":
Um comentário:
Funkero \Õ/ Pra mim o melhoor mc manoow
tudo nosso
fica na paaz ' !
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