Eu não sou músico, mas, de longe, acho que uma das coisas mais gratificantes nesta vida é a possibilidade de viajar para um sem-número de lugares para fazer aquilo que mais gosta. Este contato com uma multiplicidade de culturas e estilos de vida é algo valiosíssimo para qualquer ser humano. Além disso, é uma ótima oportunidade para a pessoa crescer. Na música, então, é uma grande chance do cara agregar ainda mais valores à sua profissão e, assim, melhorar ainda mais. E o beatmaker Oddisee, um dos ótimos nomes da nova geração de beatmakers norte-americanos, resolveu levar toda esta ideia para o álbum instrumental "Traveling Man".
No disco, são 24 faixas, cada uma delas nomeadas a partir de uma cidade visitada por Oddisee nestes anos de estrada. São lugares chaves do Hip-Hop norte-americano, mas também megalópoles como Paris, Tóquio e Londres. Tem espaço até para São Paulo (!) e a nigeriana Lagos. Mais do que uma lição de geografia, porém, é o conceito por trás da feitura do álbum. Cada beat foi feito por Oddisee quando ele estava no local indicado. E, na maioria esmagadora das vezes, utilizando elementos daquela realidade para construir suas batidas. Uma tarefa que pode até parecer simples, mas fazer isso sem recorrer a clichês e manter o seu estilo próprio é algo bem complexo.
E, falando nisso, abro um parênteses para explicar um pouco das minhas expectativas quando soube deste projeto instrumental. Com o currículo de Oddisee apontando trabalhos como "In The Ruff", do Diamond District - um clássico boom bap em pleno século 21! - e produções para artistas como Talib Kweli, Little Brother, X.O. e yU (os dois últimos também integrantes do DD), o que eu esperava era uma já potencial marca registrada de beats agressivos, rasteiros, com ênfase na força de caixas e bumbos e samples apenas complementando o espectro. Ledo engano. "Traveling Man" é uma aula de versatilidade de Oddisee.
Para isso, basta irmos até faixas como "South Central" e "Atlanta". A primeira vai te levar novamente à época de ouro do G-Funk da Costa Oeste, com direito a vocais metalizados - os ancestrais do Autotune -, sintetizadores e caixas que, ao baterem nos ouvidos, parecem gigantescas. A segunda é a versão de Oddisee para o Dirty South que invadiu os EUA nos últimos anos, com direito aos loops de sintetizadores dominando o esteréo. Porém, a diferença que faz a faixa ser uma versão de Oddisee e não um simples dirty south é o tratamento na bateria, bem mais incisiva, com direito a viradas orgânicas. Se um dia o boom bap nova-iorquino cruzar com o estilo do sul, o resultado poderia ser parecido com o alcançado por nosso ilustre beatmaker.
Quanto às cidades estrangeiras, mais demonstrações de habilidade. "Tokyo" é tranquila, no melhor estilo mellow rap que tanto faz sucesso por aquelas bandas, e tem direito até a instrumentos orientais no mix. A brasileira "Sao Paulo" traz aquele funkão tupiniquim dos anos 70, com muito suíngue e um baixo nervosíssimo, acompanhado de naipe de metais e uma bateria toda quebrada. Mas, em todas estas viagens, parece que foi em "Stockholm", na Suécia, que Oddisee esteve mais inspirado. A batida, depois utilizada por X.O. e que esteve no último Boom Bap Jams, recorre a algumas notas de um piano meio triste e excertos de música clássica para criar um clima frio bastante condizente com o local. Ironia ou não, é uma faixa muito mais parecida com a estética nova-iorquina do que a própria "NYC".
Apesar de todas as viagens, o que fica claro é que Oddisee se sente em casa nos EUA. "Detroit" é outro grande destaque do álbum, com uma bateria seca e samples espetaculares intercalando à medida que os segundos passam. "Houston" traz novamente um clima mais intimista e "DC", a casa do beatmaker, recorre à música Go-Go para pintar um retrato fiel ao local.
No fim das contas - e dos check-ins -, "Traveling Man" é um álbum que, apesar de completamente instrumental, preenche qualquer necessidade do ouvinte. O conceito é simples, mas, ao mesmo tempo, exige conhecimento e bastante pesquisa musical para ser bem executado. Com este disco, Oddisee mostra que não é só um talentoso beatmaker com raízes na época dourada do rap norte-americano; ele prova sua versatilidade e capacidade para trabalhar com qualquer rapper, em qualquer lugar do mundo. Suas viagens não o deixam mentir.
No disco, são 24 faixas, cada uma delas nomeadas a partir de uma cidade visitada por Oddisee nestes anos de estrada. São lugares chaves do Hip-Hop norte-americano, mas também megalópoles como Paris, Tóquio e Londres. Tem espaço até para São Paulo (!) e a nigeriana Lagos. Mais do que uma lição de geografia, porém, é o conceito por trás da feitura do álbum. Cada beat foi feito por Oddisee quando ele estava no local indicado. E, na maioria esmagadora das vezes, utilizando elementos daquela realidade para construir suas batidas. Uma tarefa que pode até parecer simples, mas fazer isso sem recorrer a clichês e manter o seu estilo próprio é algo bem complexo.
E, falando nisso, abro um parênteses para explicar um pouco das minhas expectativas quando soube deste projeto instrumental. Com o currículo de Oddisee apontando trabalhos como "In The Ruff", do Diamond District - um clássico boom bap em pleno século 21! - e produções para artistas como Talib Kweli, Little Brother, X.O. e yU (os dois últimos também integrantes do DD), o que eu esperava era uma já potencial marca registrada de beats agressivos, rasteiros, com ênfase na força de caixas e bumbos e samples apenas complementando o espectro. Ledo engano. "Traveling Man" é uma aula de versatilidade de Oddisee.
Para isso, basta irmos até faixas como "South Central" e "Atlanta". A primeira vai te levar novamente à época de ouro do G-Funk da Costa Oeste, com direito a vocais metalizados - os ancestrais do Autotune -, sintetizadores e caixas que, ao baterem nos ouvidos, parecem gigantescas. A segunda é a versão de Oddisee para o Dirty South que invadiu os EUA nos últimos anos, com direito aos loops de sintetizadores dominando o esteréo. Porém, a diferença que faz a faixa ser uma versão de Oddisee e não um simples dirty south é o tratamento na bateria, bem mais incisiva, com direito a viradas orgânicas. Se um dia o boom bap nova-iorquino cruzar com o estilo do sul, o resultado poderia ser parecido com o alcançado por nosso ilustre beatmaker.
Quanto às cidades estrangeiras, mais demonstrações de habilidade. "Tokyo" é tranquila, no melhor estilo mellow rap que tanto faz sucesso por aquelas bandas, e tem direito até a instrumentos orientais no mix. A brasileira "Sao Paulo" traz aquele funkão tupiniquim dos anos 70, com muito suíngue e um baixo nervosíssimo, acompanhado de naipe de metais e uma bateria toda quebrada. Mas, em todas estas viagens, parece que foi em "Stockholm", na Suécia, que Oddisee esteve mais inspirado. A batida, depois utilizada por X.O. e que esteve no último Boom Bap Jams, recorre a algumas notas de um piano meio triste e excertos de música clássica para criar um clima frio bastante condizente com o local. Ironia ou não, é uma faixa muito mais parecida com a estética nova-iorquina do que a própria "NYC".
Apesar de todas as viagens, o que fica claro é que Oddisee se sente em casa nos EUA. "Detroit" é outro grande destaque do álbum, com uma bateria seca e samples espetaculares intercalando à medida que os segundos passam. "Houston" traz novamente um clima mais intimista e "DC", a casa do beatmaker, recorre à música Go-Go para pintar um retrato fiel ao local.
No fim das contas - e dos check-ins -, "Traveling Man" é um álbum que, apesar de completamente instrumental, preenche qualquer necessidade do ouvinte. O conceito é simples, mas, ao mesmo tempo, exige conhecimento e bastante pesquisa musical para ser bem executado. Com este disco, Oddisee mostra que não é só um talentoso beatmaker com raízes na época dourada do rap norte-americano; ele prova sua versatilidade e capacidade para trabalhar com qualquer rapper, em qualquer lugar do mundo. Suas viagens não o deixam mentir.
Oddisee - Traveling Man
1. Goodbye DC
2. NYC
3. Paris
4. Miami
5. London
6. Khartoum
7. Sao Paulo
8. Tokyo
9. Brixton
10. Lagos
11. Long Beach
12. Melbourne
13. Boston
14. Atlanta
15. Philly
16. San Fran
17. Stockholm
18. Inglewood
19. South Central
20. Detroit
21. Chicago
22. Las Vegas
23. DC
24. Houston
3 comentários:
pow, uma viagem instrumental esse album.. muito bom, mas no link q eu achei a faixa "DC" estava corrompida, se alguém q aqui passar tivé-la, ajuda aí :D
mto foda esse disquin ae ein, matou a pau! ja nao tava gostando desses ultimos de estaçoes dele, mto conceitual p/meu gosto, mas esse ai ta casca!
Dgstv, o Odd Winter tem umas faixas muito boas, deve aparecer por aqui em breve. Os outros eu ainda não ouvi, mas vou correr atrás para conferir.
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