quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Heltah Skeltah: Da Incredible Rap Team (D.I.R.T.)

Depois de mais de 10 anos sem lançar algo juntos, a dupla Rock e Ruck(agora, Sean Price) finalmente volta à cena, buscando a volta definitiva por cima. Depois de fazerem sucesso com o primeiro disco e fracassarem no segundo, os caras se separaram, pois Rock, na época o mais aclamado, graças a voz e flow inconfundíveis, queria começar uma carreira solo, projeto que falhou. Anos depois, ironicamente, foi Ruck, ressurgido como Sean Price, quem colocou o nome da dupla de volta nos holofotes, graças a uma bem sucedida carreira solo, com dois discos muito elogiados. Para marcar de vez a volta do Heltah Skeltah, os dois juntaram forças para um novo disco.

A primeira certeza que se tem ao ouvir o disco é a de que o carisma da dupla é algo incomparável. Se separados eles já têm grande apelo, juntos são ainda melhores. A química entre os dois é evidente a cada rima trocada, a cada refrão compartilhado, e isso torna a audição do disco extremamente agradável - é como se dois velhos amigos se reencontrassem e resolvessem se divertir gravando músicas. Não à toa, uma das faixas do disco se chama Twinz, ou gêmeos em português. Produzida por Soul Theory e guiada por um baixo eletrônico, a faixa tem os dois emcees afiadíssimos e fazendo jus ao título. Contrariando a maioria dos discos de rap, a Intro é bem criativa e útil, com Rock usando em seu verso todo os nomes das faixas do álbum para introduzir o projeto ao ouvinte.

Se Rock e Sean Price estão bastante azeitados, o mesmo não ocorre com os instrumentais. Alguns beats não sobressaem, talvez até por causa da bela performance dos emcees, mas é fato que os melhores momentos do disco ocorrem quando os dois rimam sobre batidas à altura. Everything Is Heltah Skeltah, o primeiro single e produzido por Illmind, é um bom exemplo: usando o mesmo sample de Mozart já utilizado por Nas na famosa I Can, o produtor evita o loop simples e picota o sample a fim de tornar o beat mais complexo. Junte isso a rimas afiadas e um refrão bem humorado, e você terá a melhor faixa do disco. Já Marco Polo abençoa a dupla com a suja Insane, um beat com um piano minimalista e uma bateria irresístivel, além de um sample vocal ecoando "insane" a toda hora. The Art of Disrespekinazation vê um Khrysis saindo do terreno das batidas soul de 9th Wonder para experimentar com samples mais eletrônicos - o resultado é uma melodia contagiante seguida por uma batida seca.

Enfim, o grande atrativo do álbum é a volta em grande estilo de Rock e Ruck. Os dois têm uma performance bastante consistente durante todo o álbum - Rock com seu flow marcante e Ruck com suas rimas multi-silábicas e bem humoradas. Pena que nem todos os beats tenham conseguido se impor perante os emcees. Talvez se os Beatminerz, produtores responsáveis pelo primeiro disco da dupla, tivessem colaborado com alguns instrumentais, o disco seria ainda melhor cotado.

Heltah Skeltah - Da Incredible Rap Team (D.I.R.T.)
01. Intro (feat. DonRocko, BummyFlyJab, Alkatraz)(prod. by D Dot)
02. Everything Is Heltah Skeltah (prod. by Ill Mind)
03. The Art Of Disrespekinazation (prod. by Khrysis)
04. Da Beginning Of Da End (prod. by 10)
05. Twinz (prod. by Sould Theory)
06. D.I.R.T. (Another Boot Camp Clik Yeah Song) (prod. by Khrysis)
07. So Damn Tuff (feat. Buckshot & Ruste Juxx) (prod. by Ill Mind)
08. Insane (prod. by Marco Polo)
09. W.M.D. (feat. Smif N Wessun) (prod. by M-Phazes)
10. That’s Incredible (prod. by Double Up)
11. Ape Food (feat. The Representativz) (prod. by Stu Bangas)
12. Hellz Kitchen (prod. by Evidence)
13. Smack Muzik (feat. Flood) (prod. By Sic Beats)
14. Ruck N Roll (prod. by Stu Bangas)

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Vídeo da faixa Everything is Heltah Skeltah:


Heltah Skeltah - "Ruck N Roll" Music Video

Termanology: Politics as Usual

O que esperar quando um emcee com créditos no underground lança seu álbum de estréia com produções de lendas como Pete Rock, Easy Mo Bee, Havoc, DJ Premier, Large Professor e Buckwild, além de destaques recentes, como Hi-Tek e Nottz? Depois de anos lançando mixtapes e criando um considerável buzz, graças a rimas inteligentes e à afiliação com tais lendas, o emcee nova-iorquino e de ascendência latina Termanology finalmente lançou seu álbum, intitulado Politics As Usual. Tudo bem, a capa do disco pode deixar alguns desconfiados quanto à qualidade do álbum, mas é bem provável que o conteúdo conquiste a todos.

Termanology é claramente um emcee talentoso. Ele tem um bom flow e uma boa escrita, usando e abusando de rimas internas e multi-silábicas. Seu gosto por sentenças parecidas com travalínguas já rendeu a ele comparações com outro grande emcee latino, o falecido Big Pun. Neste álbum de estréia, todo esse virtuosismo pode ser notado. Embora algumas faixas já sejam conhecidas do público há um bom tempo - principalmente aquelas com DJ Premier -, ainda é interessante tê-las compiladas num álbum. Watch How It Go Down, a primeira colaboração da dupla, tem Termanology simplesmente ripando a tradicional batida com samples picotados e scratches, tocando vários tópicos, desde a indústria da música até a polícia e a dificuldade de viver no gueto. Em How We Rock, embora o beat de Premier seja mais discreto, Term e a lenda Bun B mais uma vez quebram tudo, enquanto em So Amazing o moleque manda um recado para vários gigantes da indústria, como Dr. Dre, Puff Daddy, Jay-Z, assinarem com ele. É interessante notar que em todas as três faixas ele cita Big Pun, mostrando que talvez as semelhanças não sejam coincidência.

Mesclando bom humor e versos complexos a um flow com timing perfeito, Termanology acaba tendo uma performance sólida durante o álbum. Além das colaborações com Premier, é bom destacar a introspectiva Sorry I Lied To You, produzida por Large Professor, com um clima meio melancólico. Em outra parceria com um peso pesado, ele se junta a Pete Rock em We Killin' Ourselves, em outra faixa mais tranqüila e lenta, na qual ele fala sobre o estilo de vida levado por alguns artistas da indústria e suas conseqüências perante aqueles que os têm como exemplo.

Depois de anos no underground, Termanology finalmente lança um álbum para se consolidar na cena. Mostrando grande habilidade lírica, o moleque acaba se destacando por suas boas rimas e, principalmente, por procurar trabalhar com grandes produtores, que acabaram sendo esquecidos pelos grandes emcees. Nomes como Pete Rock, DJ Premier e Large Professor provam, neste disco, que poderiam muito bem ainda estar produzindo para nomes mais sonantes. O porquê deste esquecimento talvez pode ser respondido pelo próprio nome do álbum de Term - política, como sempre.

Termanology - Politics as Usual
01. It’s Time (prod. by Easy Mo Bee) [0:52]
02. Watch How It Go Down (prod. by DJ Premier) [4:01]
03. Respect My Walk (prod. by Buckwild) [3:03]
04. Hood Shit ft. Prodigy (prod. by The Alchemist) [3:55]
05. Float (prod. by Nottz) [3:15]
06. Please Don’t Go (prod. by Nottz) [04:27]
07. How We Rock ft. Bun B (prod. by DJ Premier) [3:57]
08. Drugs, Crime, & Gorillaz ft. Sheek Louch & Freeway (prod. by Nottz) [3:52]
09. In The Streets ft. Lil’ Fame (prod. by Hi-Tek) [3:54]
10. So Amazing (prod. by DJ Premier) [3:53]
11. Sorry I Lied To You (prod. by Large Professor) [3:04]
12. We Killin’ Ourselves (prod. by Pete Rock) [3:58]
13. The Chosen (prod. by Havoc) [3:26]

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Vídeo da faixa Watch How It Go Down:


Vídeo da faixa So Amazing:


Vídeo da faixa How We Rock:

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Artfício: Ciclo Vicioso

A mistura entre e o jazz e o rap, quando bem feita, sempre foi bastante elogiada, e representa uma das novas direções que a música urbana pode explorar. Nos EUA, nomes como Gangstarr, Pete Rock & CL Smooth e The Roots são referências no que diz respeito a essa mistura. No Brasil, foram poucos os artistas que já foram fundo nesta fusão - o primeiro disco de Slim Rimografia é o primeiro que me vem à cabeça. Por tudo isso, é bom prestar atenção no Artfício, um grupo paulista, formado pela DJ Abstemious e os emcees Leonardo Ribeiro(L.R.) e Heitor Neto (H.Neto). Em Ciclo Vicioso, o primeiro disco do grupo, o jazz-rap é um dos grandes carros chefes.

Repleto de variados samples de saxofones e pianos típicos do jazz, o álbum mostra-se, imediatamente, diferente dos outros discos aqui lançados. Os timbres são sujos, low-fi, os scratches marcam presença constante durante todo o trabalho. Some isso a excertos inteligentes de filmes e uma "aparição" do mestre Cartola no fim de uma das músicas, e você terá um dos álbuns melhores produzidos no país nos últimos anos.

Para rimar nestes beats, L.R. e H.Neto são os escolhidos. Fica clara a influência da nova escola na estrutura dos dois, que buscam abordar temas mais abrangentes, fazendo pequenas crônicas do cotidiano, com uma forte carga de positividade nesta abordagem. As estruturas de rima são simples, mas não menos efetivas, enquanto seus flows, um mais acelerado, outro mais enfático - ambos com um controle de ar perfeito - casam perfeitamente, tanto entre si, quanto com os instrumentais. O único porém é uma certa falta de foco de ambos na hora da escrita, já que às vezes abstraem demais do tema da faixa e comprometem o objetivo geral de passar a mensagem, embora seja algo meio que inconsciente por parte deles.

As participações especiais também cumprem um papel importante no disco. Embora o francês Pyroman e o norte-americano Shawn Lucas façam boa perfomance, são os brasileiros que se destacam: Macário, do Projeto Manada, é responsável por ótimas rimas em Versos Habituais, enquanto as mineiras Controversas absolutamente roubam o show em Conexão SP-MG. Outros destaques são o beat uptempo, com um loop empolgante, de Ajustando Pensamentos, além da epítome jazzy de Versos Habituais, as strings picotadas de Rua Pura, o batidão de Atos Premeditados e a tranqüilidade de A Proposta.

No mais, é necessário parabenizar o grupo por colocar a tapa à cara logo com um álbum. A iniciativa é válida, pois passa melhor a proposta do grupo, algo que não pode ser avaliado tão bem via myspace. Com Ciclo Vicioso, o Artfício mostra ser uma das boas promessas do rap nacional, com beats certeiros e uma dupla de emcees bem entrosada e com levadas impecáveis.

Artfício - Ciclo Vicioso
01- Rimas Na Mente
02- Ajustando Pensamento (part. Pyroman)
03- Versos Habituais (part. Macário e DJ Gil)
04- Conceitos
05- A Proposta
06- Atos Premeditados
07- Conexão SP-MG (part. Controversas e DJ Abstemious)
08- Energia Natural (part. Simba)
09- Rua Pura (part. Shawn Lucas e Doidera)
10- Raios Sonoros (part. Marcela Ribeiro e DJ PG)
11- Ciclo Vicioso (part. DJ PG)
12- Críticas (part. R.Donati)
13- Iludido no Deserto
14- Estou de Boa
15- Jazzificando-nos

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Letra Traduzida: Common Market - Tobacco Road

Esta é a faixa-título e também a que fecha o disco do grupo. Sobre um beat baseado num loop de piano tocado pelo próprio produtor, Sabzi, o emcee RA Scion cospe rimas autobiográficas, que acabam se misturando com as do personagem do disco. Ele fala sobre sua criação nas fazendas do Sul dos EUA, mais precisamente em Kentucky, e sobre sua idéia de ir embora do lugar. É a melhor faixa de um dos melhores álbuns do ano. Vale a pena ler.

Artista: Common Market
Álbum: Tobacco Road
Música: Tobacco Road - A Estrada de Tabaco

[ Verso 1 ]
Eu acho que passou um minuto
e o canhoto não está se sentindo direito sem a caneta
enviado por incentivos e sentado submisso
mas nada trará Jimmy de volta, você sabe disso
rezando um desperdício de desejos
eu fiz uma decisão - seguir em frente, a honra vive nas nossas ações
embora o poeta se mova em uma velocidade decrescente
será que meu amigo perdeu a paciência comigo, por causa da espera?
favoreça-me, você sabia no que eu estava treinando para ser
eu vim para tomar algo que eles não viam em Henry
a proximidade com Knox's Fort não é nada, além de causar inveja
Senhor, será que quando nós lutamos contra o inimgo com mais do que podíamos, nós estávamos chegando à porta de entrada do paraíso?
em memória de James Clan, minha sinfonia de chamas se espalha para conquistar, quando a música tocar, pague a banda
mande uma porcentagem de volta, Oldham devia isso, fator na taxa de estado
ou abra mão dela se ela for para pavimentar a estrada de tabaco

[ Refrão ]
Algumas memórias eu mantive
outras deixei, outras precisei deixar para protegê-las
seguro um bilhete para a fila que escolhi - pronto? não, não ainda
bem, deixe-me saber e eu retornarei para coletar
eles nunca me acharam porque o filho da Valerie tinha um ritmo diferente para dançar
e ele vai usar suas ferramentas para vencer
pensando nas noites naquele estado, quem disse que é você que molda sua vida? quando na verdade é a vida que molda você

[ Verso 2 ]
Prestando homenagem, com um grande salve para Aubrey
as escolas falharam comigo, graças a Deus a fazenda me ensinou tudo
o valor de uma mão calejada, como trabalhar e arar esta terra
como até uma colheita modesta vai fazer seu pai o homem mais orgulhoso do mundo
colheita de milhares de léguas, menos uns gramas de sementes espalhadas
através de alto-falantes ensurdecedores, eu nasci atrasado entre as as ervas daninhas
efeito profundo no meu volume, além da prontidão para preenchê-lo
no campo você devia ouvir do que eles se chamam
apesar disso, eu deveria ter passado outro ano na camada de baixo
em vez de tentar escapar daquilo que pensava que as prendia aqui
89 é o número, madeira de 84, outro verão
lutando por dinheiro para vencer a comparação
de ciclos que eu tenho visto - aqueles que não estavam na faculdade perderam a direção ou tornaram-se carcereiros
nenhuma oportunidade nos foi oferecida, eu tinha minhas visões de ir embora antes de eles apagarem a luz, a música de Ryan, certo ou errado, amarre apertado, estou cansado de comprar as coisas com base em conselhos errados
meu pai lutou contra isso com armas de fogo e morreu
com o trauma, a violência criou um filho do drama
sem imaginar se ele estava pronto para olhar, sabendo que sua casa está assombrada
rezando por aquilo por anos, eles ainda sabem
o quanto eu os amo, mas eu precisei ir embora, por causa de como as coisas eram
eles me perguntam se eu vou voltar quando estiver mais velho
na verdade, não - estes são meus últimos passos pela estrada de tabaco

[ Refrão 2 ]
Mas eu vou chamá-la de lar para sempre
e eu vou senti-la toda vez que eu falar daqui

1- Henry é um pequeno condado de Kentucky
2- Aubrey é outra cidade norte-americana
3- Oldham é outro condado de Kentucky
4- Knox's Fort é uma cidade de Kentucky, onde fica uma base militar dos EUA
5- Ryan's Song é uma música de um grupo chamado Hellogoodbye, talvez Scion tenha brincado com o nome da banda, chamando por uma de suas músicas, até porque encaixaria melhor no contexto da letra

sábado, 13 de setembro de 2008

Ill Bill: The Hour of Reprisal

Depois de um longo tempo de espera, finalmente Ill Bill lançou seu segundo álbum solo, chamado The Hour of Reprisal. Membro do famoso grupo underground Non Phixion, que ainda tinha em suas fileiras os emcees Sabac Red e Goretex, ele é conhecido pela sua mistura de rap com hardcore, fato que é bastante refletido também no seu flow. Neste segundo álbum, Bill conta com uma penca de participações, como Vinnie Paz, Immortal Technique, Raekwon e Tech N9ne, além de beats produzidos pelo próprio Bill e por seu irmão Necro, além de caras como DJ Muggs e DJ Premier.

Em The Hours of Reprisal, Ill Bill vai fundo na junção rap-hardcore, o que garante bons momentos durante o disco, embora não seja uma experiência completamente bem sucedida, principalmente por causa dos decibéis a mais que Bill emprega no seu flow. Quando relaxa um pouco, ele consegue manter a faixa mais coesa e, principalmente, faz com que a mensagem das rimas seja melhor entendida, o que é conveniente, já que Bill mostra versatilidade e técnica em faixas mais políticas, como Society is Brainwashed e The Most Dangerous Weapon Alive - na qual ele sentencia que "a mente é a arma mais perigosa existente" -, outras mais pessoais, como Too Young, This Is Who I Am e a brutalmente honesta White Nigger, na qual ele fala sobre o preconceito reverso sofrido por ele num movimento em sua maioria formado por negros. Por fim, Bill ainda investe no hardcore, como o dueto com Vinnie Paz em A Bullet Never Lies e War Is My Destiny, e em conceitos, como em Unauthorized Biography of Slayer, na qual ele faz uma biografia da banda de metal Slayer.

Nos beats, o disco também é bem consistente, embora não seja repleto de grandes instrumentais. A influência de bandas de rock é bastante evidente nas faixas produzidas por Ill Bill ou Necro, dois fãs do gênero. Em White Nigger, por exemplo, o beat feito por Bill tem como loop principal guitarras meio que psicodélicas, sobre uma bateria pulsante e um pequeno coro no refrão. Em The Most Dangerous Weapon Alive, outro loop de guitarras, dessa vez mais pesadas, guia o beat, enquanto War Is My Destiny, outra faixa produzida por Bill, tem um quê orquestral e samples vocais reminiscentes de óperas que dão um caráter urgente e épico ao beat. A decepção fica por conta de DJ Premier, que produz Society is Brainwashed no seu estilo característico, com scratches no refrão e samples picotados, mas falha em dar algo a mais à batida. Outros destaques ficam por conta da radiofônica Too Young, com bom refrão cantado, U.B.S., com samples muito bons e bem organizados, além de This Is Who I Am, cortesia de DJ Muggs, e guiada por um ótimo piano.

No mais, Ill Bill consegue criar um álbum equilibrado, no qual as rimas acabam sobressaindo um pouco. Como dito anteriormente, a parceria rap-hardcore não funciona totalmente, mas é responsável pelos melhores momentos do disco. Faixas como White Nigger e War Is My Destiny devem agradar em cheio fãs desta mistura e de Bill. Também é bom destacar a originalidade de Bill em buscar novas fontes para samples e conceitos, o que mostra que o rap tem ainda um mosaico gigantesco de possibilidades para explorar.

Ill Bill - The Hour of Reprisal
01. Babylon (Feat. Howard Jones) (Prod. By T-Ray)
02. Doomsday Was Written In An Alien Bible (Prod. By Ill Bill)
03. Trust Nobody (Prod. By Ill Bill)
04. A Bullet Never Lies (Feat. Vinnie Paz) (Prod. By DJ Lethal)
05. White Nigger (Prod. By Ill Bill)
06. My Uncle (Prod. By Ill Bill & Sicknature)
07. Riva (Feat. Hr & Darryl Jennifer) (Prod. By Ill Bill)
08. War Is My Destiny (Feat. Max Cavalera & Immortal Technique) (Prod. By Ill Bill)
09. Society Is Brainwashed (Prod. By DJ Premier)
10. This Is Who I Am (Prod. By DJ Muggs)
11. Too Young (Feat. Hero & Slaine) (Prod. By Darp Malone)
12. Pain Gang (Feat. B-Real & Everlast) (Prod. By Cynic)
13. U.B.S. (Unauthorized Biography Of Slayer) (Prod. By Necro)
14. Coka Moschiach (Feat. Raekwon The Chef) (Prod. By Ill Bill)
15. The Most Dangerous Weapon Alive (Prod. By Necro)
16. Soap
17. I’m A Goon (Prod. By Ill Bill & Sicknature)
18. Only Time Will Tell (Feat. Tech N9ne & Everlast) (Prod. By DJ Muggs)

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domingo, 7 de setembro de 2008

Common Market: Tobacco Road

Quem acompanha o blog provavelmente já ouviu falar do Common Market, grupo formado pelo emcee RA Scion e o produtor Sabzi, que já teve seu primeiro álbum postado aqui no Boom Bap. Na época, a dupla já era sensação na cena underground, status que acaba de se consolidar com o lançamento do segundo álbum, Tobacco Road, totalmente produzido pelo descendente de iranianos Sabzi. Desta vez, a proposta é mais ousada: um disco conceitual, relatando a vida de fazendeiros do sul dos EUA, mostrando a luta deles para ter uma vida decente, ajudar a comunidade, enquanto quem realmente ganha dinheiro são os poderosos. Qualquer semelhança com o hip hop não é mera coincidência.

A idéia é boa, e a execução, melhor ainda. RA Scion é, hoje, facilmente, um dos melhores emcees em atividade, com um arsenal de habilidades, que vão desde o flow intricado e emocional até a facilidade em construir estruturas de rima complexas sem prejudicar a mensagem. Aliás, a mensagem é o mais importante - Scion é daqueles caras que têm muita coisa interessante para falar, e, graças às habilidades descritas acima, você com certeza vai querer ouvi-lo. O conceito do álbum não é tão fácil de ser executado, mas Scion tem grande êxito na tarefa. As primeiras linhas de Trouble Is, a primeira música do disco, definem bem a proposta:

"O andarilho chegou na terra, analisou e assentou por ali
Viu que estava vazia, ele vai tentar transformá-la em algo melhor agora
Construiu um celeiro, especialista em fazendas, plantou sete corredores
Será que vai crescer? Só Deus sabe, embora ele esteja esperançoso
Nunca se gabou de sua ética
Plantar fundo na terra, trabalhar e servir, todo o resto deixe
que venha ou não, sob o sol quente do verão, filho
Plantando suas sementes até escurecer..."

A partir daí, todo o enredo se desenvolve, desde os problemas com outros fazendeiros em Slow Cure - interessante ver Scion citar vários nomes costumeiros de fazendeiros americanos -, os problemas com o clima em Winter Takes All, o relacionamento familiar em Weather Vane, o desespero em Nina Sing, até a partida do filho do fazendeiro em Tobacco Road.

Para que o conceito fosse bem executado, seria necessário também que os instrumentais de Sabzi complementassem perfeitamente as rimas de Scion. Novamente, o resultado é espetacular. Fica difícil saber se é Sabzi que faz com que Scion rime tão bem, ou se são as rimas que acabam dando mais brilho aos beats - a hipótese mais provável é que os dois são muito bons e, juntos, melhores ainda. Neste disco, os variados loops de piano compostos por Sabzi dão o tom da história, sempre acompanhados de baterias pesadas. Mas não pense que isso soa repetitivo: Sabzi complementa perfeitamente sua produção com samples vocais, violão, metais e vários efeitos.

Além de tudo, os poucos refrões cantados também sobressaem: Nina Sing, talvez a melhor faixa do álbum, tem um belíssimo refrão, além de caixas pesadas, bons efeitos e um loop contagiante. Entre os vários outros destaques, Slow Cure conta com uma bateria mais low-fi, além de loop de piano e scratches; 40 Furrows é conduzida por um violão discreto, mas eficiente; Winter Takes All é um bom exemplo de como samples vocais podem ser usados com criatividade: o principal funciona como loop, enquanto outros dois interagem com s versos de Scion; The Crucible traz à tona um clima mais melancólico, suave, graças aos efeitos e à guitarra do beat; Nothin At All é mais uma faixa com um loop de piano, este mais jazzy, que serve como base para o excelente refrão. Por fim, Tobacco Road fecha o álbum em grande estilo, casando perfeitamente com as rimas biográficas de Scion e ao clima de despedida da letra - o piano tocando faz você imaginar a cena do moleque indo embora e lembrando de sua vida.

Parece que todos os elogios para o grupo são mais que merecidos. Neste segundo disco, RA Scion e Sabzi criaram um trabalho sensacional, consistente e de muito bom gosto. É difícil achar alguma faixa fraca no álbum, assim como é difícil não se emocionar os beats ou pensar nas rimas de Scion. Este é um dos melhores lançamentos, não só de 2008, mas também de, pelo menos, uns cinco anos. Espetacular.

Common Market - Tobacco Road
1) Service
2) Trouble Is
3) Gol’Dust
4) Slow Cure
5) Back Home (The Return)
6) 40 Furrows
7) House
8) Winter Takes All
9) Weather Vane
10) 40 Acres
11) Nina Sing feat. Funklove
12) Certitude feat. Chev
13) The Crucible feat. Geologic of Blue Scholars
14) 40 Thieves
15) Spits
16) Nothin’ At All
17) Swell
18) Tobacco Road

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Buff1: Pure

Como prometido, aqui está o álbum de estréia do Buff1, moleque que vem sendo elogiado por quase toda a mídia especializada lá nos EUA. Pure, o primeiro álbum, já tinha garantido a ele um grande buzz, e um razoável número de pessoas esperando pela sequência dos trabalhos. Assim como em There's Only One, Pure é quase totalmente produzido pelo coletivo LabTechs, tendo apenas duas faixas sendo produzidas por outros beatmakers, no caso, Wajeed e Mr. Porter.

Basicamente, o que eu disse na resenha sobre o There's Only One pode ser conferido também em Pure. O estilo de produção do LabTechs é uma mistura de grooves dançantes e acelerados com samples mais melódicos, que casam perfeitamente com o flow de Buff1. A diferença básica neste álbum é que há uma diversidade maior de estilos nos beats, embora a predominância ainda seja do electro-soul, nome escolhido pelos produtores para definirem seu som. Para exemplificar: o álbum começa com a faixa-título, desprovida de bateria na primeira metade, com belos samples intercalando para criar uma atmosfera agradável; logo depois, Moving Along é o primeiro bom excerto do electro-soul, com um loop de piano sensacional e ótimo refrão; Pretty Baby diminui o ritmo, com samples vocais e violino, num som mais tranqüilo; mais adiante, Supreme, com a participação da impecável Invincible, é o mais próximo que o disco chega de um som minimalista e sombrio, com caixas graves e andamento acelerado. Por fim, o fim do disco reserva um som mais funkeado, com Show Stopper.

No microfone, Buff1 também mostra certa versatilidade. Ele consegue ir tranqüilamente da tradicional auto-exaltação a faixas com críticas sociais ou carregadas de filosofia. Se em Pure, a primeira faixa, ele mistura todas essas características, em The Kingdom ele clama por novos líderes entre os negros - vale lembrar que a faixa foi feita um pouco antes do fenômeno Barack Obama. Em Pretty Baby, Buff dá uma de Tupac Shakur e relata o drama de uma menina do gueto, de forma interessante:

"Ela disse que estava tentando arrumar comida pro menino dela
E mantê-lo bem agasalhado
Eu disse: 'Eu te entendo, parceira, não há nada de errado nisso
Mas isso é temporário, você tem um plano, certo?'
E ela disse: 'Apenas sentar e esperar até eu ter um bom homem na minha vida'
Eu disse: 'Bem, e se ele não vier ou você não receber amor,
então o que seu menino vai comer, hein?'"

O discurso contundente continua em House of Horrors, uma crítica ao governo norte-americano, embora no final do disco, Buff suavize os temas, tornando-se mais reflexivo. Em Show Stopper, ele explica que "M.C. para mim significa 'move the crowd'", ou seja, controlar o público. Algo que, dado o carisma e o talento do moleque, não é algo tão difícil para ele.

Enfim, o álbum de estréia de Buff1 já mostrava o caminho que ele seguiria no segundo álbum. Produção original, com um som e proposta diferentes, sem medo de criar faixas dançantes ou pesadas demais. Se continuar nesta evolução e neste caminho, Buff tem tudo para conquistar de vez o jogo do rap, tanto no âmbito do underground quanto no mainstream. Seria um alívio para o hip hop ter mais um representante legítimo nas paradas de sucesso.

Buff1 - Pure
01. Pure
02. Get To It
03. Moving Along (feat. Tiffany Paige)
04. Slick
05. The Kingdom (feat. Miz Korona & Elzhi)
06. I Go
07. Big Thangs
08. Pretty Baby
09. Much Better (feat. One Be Lo)
10. FoodchainGang
11. House of Horrors
12. Supreme (feat. Invincible & Guilty Simpson)
13. Show Stoppa
14. Hula Hoops
15. True Colors (feat. Now on & Monica Blaire)
16. That Fonk!
17. For U

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