domingo, 7 de setembro de 2008

Common Market: Tobacco Road

Quem acompanha o blog provavelmente já ouviu falar do Common Market, grupo formado pelo emcee RA Scion e o produtor Sabzi, que já teve seu primeiro álbum postado aqui no Boom Bap. Na época, a dupla já era sensação na cena underground, status que acaba de se consolidar com o lançamento do segundo álbum, Tobacco Road, totalmente produzido pelo descendente de iranianos Sabzi. Desta vez, a proposta é mais ousada: um disco conceitual, relatando a vida de fazendeiros do sul dos EUA, mostrando a luta deles para ter uma vida decente, ajudar a comunidade, enquanto quem realmente ganha dinheiro são os poderosos. Qualquer semelhança com o hip hop não é mera coincidência.

A idéia é boa, e a execução, melhor ainda. RA Scion é, hoje, facilmente, um dos melhores emcees em atividade, com um arsenal de habilidades, que vão desde o flow intricado e emocional até a facilidade em construir estruturas de rima complexas sem prejudicar a mensagem. Aliás, a mensagem é o mais importante - Scion é daqueles caras que têm muita coisa interessante para falar, e, graças às habilidades descritas acima, você com certeza vai querer ouvi-lo. O conceito do álbum não é tão fácil de ser executado, mas Scion tem grande êxito na tarefa. As primeiras linhas de Trouble Is, a primeira música do disco, definem bem a proposta:

"O andarilho chegou na terra, analisou e assentou por ali
Viu que estava vazia, ele vai tentar transformá-la em algo melhor agora
Construiu um celeiro, especialista em fazendas, plantou sete corredores
Será que vai crescer? Só Deus sabe, embora ele esteja esperançoso
Nunca se gabou de sua ética
Plantar fundo na terra, trabalhar e servir, todo o resto deixe
que venha ou não, sob o sol quente do verão, filho
Plantando suas sementes até escurecer..."

A partir daí, todo o enredo se desenvolve, desde os problemas com outros fazendeiros em Slow Cure - interessante ver Scion citar vários nomes costumeiros de fazendeiros americanos -, os problemas com o clima em Winter Takes All, o relacionamento familiar em Weather Vane, o desespero em Nina Sing, até a partida do filho do fazendeiro em Tobacco Road.

Para que o conceito fosse bem executado, seria necessário também que os instrumentais de Sabzi complementassem perfeitamente as rimas de Scion. Novamente, o resultado é espetacular. Fica difícil saber se é Sabzi que faz com que Scion rime tão bem, ou se são as rimas que acabam dando mais brilho aos beats - a hipótese mais provável é que os dois são muito bons e, juntos, melhores ainda. Neste disco, os variados loops de piano compostos por Sabzi dão o tom da história, sempre acompanhados de baterias pesadas. Mas não pense que isso soa repetitivo: Sabzi complementa perfeitamente sua produção com samples vocais, violão, metais e vários efeitos.

Além de tudo, os poucos refrões cantados também sobressaem: Nina Sing, talvez a melhor faixa do álbum, tem um belíssimo refrão, além de caixas pesadas, bons efeitos e um loop contagiante. Entre os vários outros destaques, Slow Cure conta com uma bateria mais low-fi, além de loop de piano e scratches; 40 Furrows é conduzida por um violão discreto, mas eficiente; Winter Takes All é um bom exemplo de como samples vocais podem ser usados com criatividade: o principal funciona como loop, enquanto outros dois interagem com s versos de Scion; The Crucible traz à tona um clima mais melancólico, suave, graças aos efeitos e à guitarra do beat; Nothin At All é mais uma faixa com um loop de piano, este mais jazzy, que serve como base para o excelente refrão. Por fim, Tobacco Road fecha o álbum em grande estilo, casando perfeitamente com as rimas biográficas de Scion e ao clima de despedida da letra - o piano tocando faz você imaginar a cena do moleque indo embora e lembrando de sua vida.

Parece que todos os elogios para o grupo são mais que merecidos. Neste segundo disco, RA Scion e Sabzi criaram um trabalho sensacional, consistente e de muito bom gosto. É difícil achar alguma faixa fraca no álbum, assim como é difícil não se emocionar os beats ou pensar nas rimas de Scion. Este é um dos melhores lançamentos, não só de 2008, mas também de, pelo menos, uns cinco anos. Espetacular.

Common Market - Tobacco Road
1) Service
2) Trouble Is
3) Gol’Dust
4) Slow Cure
5) Back Home (The Return)
6) 40 Furrows
7) House
8) Winter Takes All
9) Weather Vane
10) 40 Acres
11) Nina Sing feat. Funklove
12) Certitude feat. Chev
13) The Crucible feat. Geologic of Blue Scholars
14) 40 Thieves
15) Spits
16) Nothin’ At All
17) Swell
18) Tobacco Road

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4 comentários:

Daniel Cunha disse...

Vixi...com uma resenha dessa, quero ver quem tem coragem de não escutar isso aí...

falou felipe

Anônimo disse...

Esqueceu de comentar sobre Back Home(The return), que pra mim é a melhor produção do disco.

Valeu! Keep it pimpin !

S.I.D

Anônimo disse...

Salve salve!!Muito respeito!Primeiro parabenizar pelo blog q é sensacional...Muita informação, boa musica, as traduções, enfim, como ja disse SENSACIONAL!!!Abraço

ps: Sobre o disco, sem comentarios...com certeza um dos melhores do ano!!!

Unknown disse...

muito bom...sem faixas fracas...voce não pula nenhuma..."back home" e "certitude" chamaram a atenção também