Um deputado federal qualquer está em sua sala em Brasília quando vê um sonâmbulo adentrar o recinto. Antes mesmo de esboçar qualquer surpresa ou reação, o velho é morto rapidamente. Atentado político? Sabotagem? Vingança? Não, apenas a volta de um indivíduo que aterrorizou muitas pessoas nos anos 20. Trata-se do Dr. Caligari, médico que usava sonâmbulos para matar pessoas em um filme alemão. Desta vez, ele retorna no mundo do rap através das rimas de DJ Caíque, conhecido anteriormente como um talentoso produtor, e que resolveu dar asas à criatividade para criar um disco forte, agressivo. "É o Terror", o nome do trabalho, se propõe exatamente ao que o título indica: aterrorizar através de beats e rimas.
Como não poderia deixar de ser, os instrumentais são pesados, sombrios, recheado por pianos sinistros e strings sombrias, tudo digno de um clássico filme de terror. As caixas são graves e o andamento urgente, nervoso. Até os três skits do álbum contribuem para o clima ameaçador do projeto. O primeiro, que serve também como introdução, traz uma voz perturbadora sobre um beat caprichado. Dá até para imaginar a noite, as corujas, os morcegos, zumbis, e toda e qualquer figura potencialmente assustadora, enquanto cada beat vai passando.
Porém, não tema, nem trema, ouvinte. O terror trazido por Caligari tem endereço certo: a sociedade opressora, os políticos, os falsos. Pode até sobrar para você, trabalhador comum, caso você não esteja disposto a abrir os olhos para o que o emcee diz. E, combinando com as habilidades mostradas como produtor, Caligari mostra-se também um ótimo versador. “É o terror”, a primeira faixa do disco, não é homônima de um clássico do poeta GOG à toa. Enquanto a base traz as já mencionadas strings aterrorizantes, a letra trata das injustiças brasileiras e faz uma inteligente comparação entre a pizza – tão comum em Brasília – e a política nacional:
“Não dá pra acabar com toda essa pizza no jantar
Prepara a receita porque agora a chapa vai esquentar
A massa é o imposto que a gente tem que pagar
O molho é o sangue do trabalho pra te alimentar
O recheio é o salário, difícil de aumentar
Pronta a pizza da impunidade, pode devorar”
Outro exemplo de qualidade lírica está na ótima “Cinema em casa”. A idéia de rimar usando, majoritariamente, nomes de filmes de terror para descrever o cotidiano brasileiro é original e muito bem executada. O flow agressivo funciona como um complemento perfeito para a faixa. Por ironia do destino, porém, a melhor punchline não envolve nenhum horror movie: “Que é isso companheiro? Filme brasileiro. Filhos de Francisco tem no país inteiro”.
Não bastasse a boa performance de Caligari, as participações do disco são pontuais e certeiras. Ogi, do Contra-Fluxo, rouba a cena em "Nossa Hora", com um flow melódico, no beat mais tranqüilo do álbum, com mais influências jazzy do que de terror. Navegando traz um tempero meio épico, meio melancólico, graças ao ótimo refrão cantado de Jeffe e às rimas de Nocivo. Por fim, ainda é obrigatório citar a contundente “Querem me corromper” e a pesadíssima “Casabranca”, um ataque impiedoso ao ex-presidente americano George Bush.
Quase 90 anos depois de surgir, o doutor Caligari volta revigorado, ressuscitado graças a instrumentais turvos e rimas ofensivas. E ele volta com bastante trabalho a fazer, vide o novo discurso. A diferença, dessa vez, é que os sonâmbulos não serão aliados. Devem ser os primeiros a ser atacados.
Dr. Caligari - É o Terror
01. Noite 1
02. É O Terror
03. Não Aguento Mais Part. Doncesão & Renan Samam
04. Eu Quero Mais Part. Roko
05. Noite 2
06. Navegando Part. Nocivo & Jeffe
07. Cinema Em Casa
08. Medo
09. A Nossa Hora Part. OGI
10. Querem Me Corromper
11. Casa Branca Part. Doncesão & Raul
12. Ganhando Ponto Part. IDE, Critical & Alucard
13. Noite 3
14. Enigma Da Vida Part. Hurakán
15. Reflexão
16. Realidade
Download
Para quem se interessar, ainda tem uma entrevista que eu fiz com o DJ Caíque/Dr. Caligari para o Bocada Forte. Confira!
Vídeo da faixa "Cinema em Casa":
Como não poderia deixar de ser, os instrumentais são pesados, sombrios, recheado por pianos sinistros e strings sombrias, tudo digno de um clássico filme de terror. As caixas são graves e o andamento urgente, nervoso. Até os três skits do álbum contribuem para o clima ameaçador do projeto. O primeiro, que serve também como introdução, traz uma voz perturbadora sobre um beat caprichado. Dá até para imaginar a noite, as corujas, os morcegos, zumbis, e toda e qualquer figura potencialmente assustadora, enquanto cada beat vai passando.
Porém, não tema, nem trema, ouvinte. O terror trazido por Caligari tem endereço certo: a sociedade opressora, os políticos, os falsos. Pode até sobrar para você, trabalhador comum, caso você não esteja disposto a abrir os olhos para o que o emcee diz. E, combinando com as habilidades mostradas como produtor, Caligari mostra-se também um ótimo versador. “É o terror”, a primeira faixa do disco, não é homônima de um clássico do poeta GOG à toa. Enquanto a base traz as já mencionadas strings aterrorizantes, a letra trata das injustiças brasileiras e faz uma inteligente comparação entre a pizza – tão comum em Brasília – e a política nacional:
“Não dá pra acabar com toda essa pizza no jantar
Prepara a receita porque agora a chapa vai esquentar
A massa é o imposto que a gente tem que pagar
O molho é o sangue do trabalho pra te alimentar
O recheio é o salário, difícil de aumentar
Pronta a pizza da impunidade, pode devorar”
Outro exemplo de qualidade lírica está na ótima “Cinema em casa”. A idéia de rimar usando, majoritariamente, nomes de filmes de terror para descrever o cotidiano brasileiro é original e muito bem executada. O flow agressivo funciona como um complemento perfeito para a faixa. Por ironia do destino, porém, a melhor punchline não envolve nenhum horror movie: “Que é isso companheiro? Filme brasileiro. Filhos de Francisco tem no país inteiro”.
Não bastasse a boa performance de Caligari, as participações do disco são pontuais e certeiras. Ogi, do Contra-Fluxo, rouba a cena em "Nossa Hora", com um flow melódico, no beat mais tranqüilo do álbum, com mais influências jazzy do que de terror. Navegando traz um tempero meio épico, meio melancólico, graças ao ótimo refrão cantado de Jeffe e às rimas de Nocivo. Por fim, ainda é obrigatório citar a contundente “Querem me corromper” e a pesadíssima “Casabranca”, um ataque impiedoso ao ex-presidente americano George Bush.
Quase 90 anos depois de surgir, o doutor Caligari volta revigorado, ressuscitado graças a instrumentais turvos e rimas ofensivas. E ele volta com bastante trabalho a fazer, vide o novo discurso. A diferença, dessa vez, é que os sonâmbulos não serão aliados. Devem ser os primeiros a ser atacados.
Dr. Caligari - É o Terror
01. Noite 1
02. É O Terror
03. Não Aguento Mais Part. Doncesão & Renan Samam
04. Eu Quero Mais Part. Roko
05. Noite 2
06. Navegando Part. Nocivo & Jeffe
07. Cinema Em Casa
08. Medo
09. A Nossa Hora Part. OGI
10. Querem Me Corromper
11. Casa Branca Part. Doncesão & Raul
12. Ganhando Ponto Part. IDE, Critical & Alucard
13. Noite 3
14. Enigma Da Vida Part. Hurakán
15. Reflexão
16. Realidade
Download
Para quem se interessar, ainda tem uma entrevista que eu fiz com o DJ Caíque/Dr. Caligari para o Bocada Forte. Confira!
Vídeo da faixa "Cinema em Casa":
Nenhum comentário:
Postar um comentário