sábado, 28 de março de 2009

Stoupe: Decalogue

O Jedi Mind Tricks, ao longo dos anos, é um dos grupos mais respeitados e originais do underground americano, com um legado que inclui seis álbuns, vários artistas afiliados e, recentemente, um DVD contando a história do trio formada por Vinnie Paz, Jus Allah e Stoupe. Se Paz e Allah são a parte vocal e tornaram o JMT conhecido graças às rimas agressivas, foi o produtor de ascendência latina quem conferiu brilho, graças a um estilo de produção riquíssimo e muito criativo. Entretanto, Stoupe só produzia para seus amigos, e uma demanda cada vez maior clamava por um disco solo dele. Depois de tanta espera, finalmente Decalogue chega aos ouvidos dos fãs, num momento de baixa do grupo.

Depois do último álbum do JMT - A History of Violence, que marcava a volta de Jus Allah - ser recebido com reservas por fãs e críticos, e com boatos dando conta de que o disco teria sido feito às pressas para que o grupo ficasse livre da gravadora Babygrande, Decalogue chega quase com a mesma recepção desconfiada e com os mesmos boatos assombrando o trabalho. De fato, o número pequeno de faixas e a seleção no mínimo estranha de emcees contribuem para essa desconfiança inicial.

À parte toda essa controvérsia, Decalogue realmente não corresponde às expectativas criadas desde que o Jedi Mind explodiu em Violent By Design. Embora mantenha seu estilo intocável - camadas de samples, a maioria oriunda de fontes incomuns, vocais acelerados, bateria pesada e urgente e scratches nos refrões -, nem sempre Stoupe acerta na dose. "Allison James", o primeiro single, abre o disco dando esperanças, com um instrumental no melhor estilo JMT. Já a faixa seguinte, "When The Sun Goes Down" decepciona, mais pela performance abaixo da média de um Saigon talvez cansado por ter feito um álbum em 24 horas, do que pelo excerto vocal acelerado e a orquestra de samples do beat. Em seguida, "Evil Deeds" aparece com um toque latino e uma performance risível de Jus Allah e outros dois weed carriers de Vinnie Paz.

A princípio, muito da decepção do disco vem dos emcees escalados - em geral, membros do Army of the Pharaohs -, embora nomes como M.O.P., Joell Ortiz e Supastition apareçam. Este último é responsável pela melhor faixa do disco, "The Truth", cujo beat tranquilo, com uma flauta no loop principal dialogando perfeitamente com o violão de fundo, faz um contraponto interessante aos bangers que predominam no disco. Ortiz, por sua vez, afunda junto com a excessivamente caribenha "That's Me", talvez a faixa mais esquecível do projeto, apesar da experimentação interessante de Stoupe com os canais do estéreo.

Outro experimento notável é "Find A Way", que dispensa os emcees e traz a cantora Lorrie Doriza. A voz da menina é boa e, por algum motivo, parece que, em vez de estar cantando, ela é um sample vocal utilizado durante toda a faixa, tal o timbre doce e a forma como ela canta - esta constatação é um elogio. O beat também é elogiável, cheio de nuances, mas com um piano onipresente. O mais legal desta música é o fato de o instrumental parecer também algo que Vinnie Paz rimaria, embora case perfeitamente com Doriza. É, guardadas as devidas proporções, um exercício de imaginar como seria alguém cantando em cima do beat de Heavenly Divine.

Ao chegar ao fim, Decalogue deixa o indisfarçável pensamento de que Stoupe é capaz de muito mais e de emcees de mais peso. Mesmo os lendários M.O.P. não conseguem transpor toda sua energia para "Transition of Power". Em compensação, a dupla Outerspace tem a melhor performance lírica do disco em "Speakeasy", uma ode ao álcool que os desavisados podem pensar ser uma história romântica. Mesmo com todos os supostos problemas cercando a produção do álbum, Stoupe consegue criar algumas boas faixas que certamente cairão no gosto dos fãs, mas falha em fazer de Decalogue um disco consistente. O jeito é esperar e torcer que para ele tenha guardado o melhor para um novo álbum, desta vez sem pressa, sem a Babygrande, mas com outros rappers.

Stoupe - Decalogue
01. Allison James (feat. Slaine)
02. When The Sun Goes Down (feat. Saigon)
03. Evil Deeds (feat. Demoz, Des Devious, & Jus Allah)
04. The Truth (feat. Supastition)
05. That’s Me (feat. Joell Ortiz)
06. The Torch (feat. King Magnetic & Reef The Lost Cauze)
07. Speakeasy (feat. Outerspace)
08. Transition Of Power (feat. M.O.P.)
09. Independence Day (feat. Block McCloud)
10. Find A Way (feat. Lorrie Doriza)

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5 comentários:

Gusta disse...

é uma pena mesmo...
mas a faixa com o supastition ta mesmo absurda.

P.S.: traduz algum som do Doom aê pra nóis!
=D

abraço!

Anônimo disse...

Muito fraco esse álbum, nenhuma faixa prestou. Esse Jus Allah é um saco de bosta, ridículo esse cara.

PDF Crew Nacional 3d disse...

é bom, mas esperei Montana e veio Colorgin
rsrs

Felipe Schmidt disse...

Gusta, tô tentando traduzir alguma do DOOM, mas tá meio impossível, o cara é maluco demais! Ou ele é muito complexo ou ele realmente não se preocupa muito com as rimas fazendo sentido rs

Abraço!

Gusta disse...

haha!
valeu a resposta Felipe.

Vo ficar esperando caso vc consiga =)

abraço