Gravadora: 360 Graus Records
Produtor: DJ Caíque (todas as faixas)
Participações: Doncesão (faixas 2, 12 e 13), Dr. Caligari (9), Roko (9), Nocivo Shomon (9), Ogi (9), Jeffe(12 e 13), DJ Caíque (12).
O que você fazia aos 16 anos? Bom, eu estava no segundo ano do ensino médio, vivia matando aula, jogava basquete, dormia a tarde inteira, já sabia que queria estudar jornalismo e já tinha começado a conhecer um pouco o mundo do rap. Já o paulista Pizzol, nesta mesma idade, foi além: ele gravou um disco inteiro. Com a ajuda dos parceiros da 360 Graus Records - o álbum é todo produzido por DJ Caíque e tem participações de nomes como Don Cesão, Ogi, Jeffe e Nocivo Shomon - "16 anos" chegou às ruas no último sábado e mostrou que o rap pode ficar tranquilo quanto às próximas gerações: há vida inteligente, não só entre os jovens apreciadores de rap, mas também entre os adolescentes.
Apadrinhado por Doncesão e apresentado posteriormente a Caíque, Pizzol impressionou a todos por uma levada incomum entre emcees de qualquer idade, ainda mais de alguém com então 15 anos. Esta mesma surpresa toma o ouvinte de assalto logo na primeira faixa do álbum. O flow rápido e rasteiro revela um jovem que parece viver um sonho e não quer acordar nem desperdiçar a chance: a impressão é que Pizzol fechou os olhos, colocou o fone e cuspiu da melhor forma possível as letras já decoradas na cabeça. Essa urgência na cadência pega qualquer desavisado que esteja escutando o disco pelo pescoço.
E a atenção adquirida à força não se perde mais quando passa-se a prestar atenção nas rimas de Pizzol. O moleque pode ter 16 anos, mas mostra uma maturidade interessante, tratando de temas relevantes e contando histórias como se fosse um ancião. Em vez das previsíveis - e compreensíveis - odes a garotas e festas, estórias de redenção em "O destino", na qual ele conta a história de um viciado humilhado pelas pessoas; crônicas da cidade cinza na ótima "O Viajante", cujo protagonista é um homem fugindo da guerra diária, apresentado por Pizzol e interpretado por Dr. Caligari, além de participação espetacular de Ogi; e até divagações, como em "Decreto soberano", uma carta otimista e ao mesmo tempo contundente para as pessoas, ou "Paraíso incomum", a ideia pessoal do menino sobre o paraíso.
Conforme cada faixa passa, é notável que Pizzol não é um típico adolescente. Com uma percepção privilegiada da sociedade, ele consegue passar pelos vários temas que propõe sem soar infantil e, mais importante, forçado. Num rap nacional ainda preso às amarras do protesto social, não seria difícil imaginar um clone infantil dos Racionais. Felizmente, Pizzol consegue equilibrar-se no meio da balança. Não trata de assuntos que não domina, nem rende-se totalmente aos desejos juvenis. Enquanto seus contemporâneos se preocupam com roupas e baladas, ele "Vive a Voar":
"Eu vou vivendo sonhando, voando alto no sonho,
amor que não tem tamanho, minha razão de viver
Preciosidade, conforto, estabeleço, reconheço o errado e nos acertos esclareço
sigo sempre intenso, as trevas hoje esqueço, um dia prevaleço, retiro o falso peso
enaltecendo sempre essa nossa pura essência, muitos se cansaram, era apenas displicência
mas agora sinto, é a pura realeza, que sempre eleva, nos enchendo de proeza
como um sonho interminável, rumo à esperança, alcançar o inalcançável
eu sigo competente, nesse plano inacabado, onde a minha gente só provou o que é provado
mas sou afortunado, divina fortuna, a mesma que situa é intensa como a rua
que sempre me cura, não sinto mais ternura, voo ao encanto, busco a maior altura"
Atrás das cortinas, possibilitando que Pizzol exponha seu talento, DJ Caíque também merece ser lembrado. Ciente da capacidade do moleque, o produtor recorre a beats mais minimalistas, dando espaço suficiente para os versos do emcee. De qualquer forma, a característica de misturar diferentes referências musicais na confeccção dos instrumentais continua intacta. Desde a levada roqueira de "Satisfação" - e é bom destacar também o verso espetacular de Doncesão, usando e abusando da assonância - até o dub viajante de "Capitão Dan na Galacta Vialaxia", Caíque consegue lidar com estas várias influências sem perder a consistência. A química com as letras de Pizzol também é evidente: a sombria "O viajante" ganha strings dramáticas e vocais soturnos; a sonhadora "Paraíso incomum" traz toques de violão, samples atmosféricos e um loop marcante; a bem humorada "Vivo a voar" mostra suíngue e uma melodia que casa perfeitamente com o ótimo refrão de Jeffe.
Quando a faixa homônima fecha "16 anos" contando a vida e as motivações de Pizzol, já fica claro que o moleque nem precisava se "justificar". Só a força das rimas das, adivinhe, 16 faixas do álbum é capaz de convencer qualquer um que o jovem emcee tem um grande caminho pela frente. Obviamente, ainda há espaço para evolução, mas esta é justamente a boa nova do trabalho: se conseguir manter a motivação e o foco, Pizzol tem todas as condições de nos presentear com boa música até, sei lá, seus 50 anos.
Pizzol - 16 anosApadrinhado por Doncesão e apresentado posteriormente a Caíque, Pizzol impressionou a todos por uma levada incomum entre emcees de qualquer idade, ainda mais de alguém com então 15 anos. Esta mesma surpresa toma o ouvinte de assalto logo na primeira faixa do álbum. O flow rápido e rasteiro revela um jovem que parece viver um sonho e não quer acordar nem desperdiçar a chance: a impressão é que Pizzol fechou os olhos, colocou o fone e cuspiu da melhor forma possível as letras já decoradas na cabeça. Essa urgência na cadência pega qualquer desavisado que esteja escutando o disco pelo pescoço.
E a atenção adquirida à força não se perde mais quando passa-se a prestar atenção nas rimas de Pizzol. O moleque pode ter 16 anos, mas mostra uma maturidade interessante, tratando de temas relevantes e contando histórias como se fosse um ancião. Em vez das previsíveis - e compreensíveis - odes a garotas e festas, estórias de redenção em "O destino", na qual ele conta a história de um viciado humilhado pelas pessoas; crônicas da cidade cinza na ótima "O Viajante", cujo protagonista é um homem fugindo da guerra diária, apresentado por Pizzol e interpretado por Dr. Caligari, além de participação espetacular de Ogi; e até divagações, como em "Decreto soberano", uma carta otimista e ao mesmo tempo contundente para as pessoas, ou "Paraíso incomum", a ideia pessoal do menino sobre o paraíso.
Conforme cada faixa passa, é notável que Pizzol não é um típico adolescente. Com uma percepção privilegiada da sociedade, ele consegue passar pelos vários temas que propõe sem soar infantil e, mais importante, forçado. Num rap nacional ainda preso às amarras do protesto social, não seria difícil imaginar um clone infantil dos Racionais. Felizmente, Pizzol consegue equilibrar-se no meio da balança. Não trata de assuntos que não domina, nem rende-se totalmente aos desejos juvenis. Enquanto seus contemporâneos se preocupam com roupas e baladas, ele "Vive a Voar":
"Eu vou vivendo sonhando, voando alto no sonho,
amor que não tem tamanho, minha razão de viver
Preciosidade, conforto, estabeleço, reconheço o errado e nos acertos esclareço
sigo sempre intenso, as trevas hoje esqueço, um dia prevaleço, retiro o falso peso
enaltecendo sempre essa nossa pura essência, muitos se cansaram, era apenas displicência
mas agora sinto, é a pura realeza, que sempre eleva, nos enchendo de proeza
como um sonho interminável, rumo à esperança, alcançar o inalcançável
eu sigo competente, nesse plano inacabado, onde a minha gente só provou o que é provado
mas sou afortunado, divina fortuna, a mesma que situa é intensa como a rua
que sempre me cura, não sinto mais ternura, voo ao encanto, busco a maior altura"
Atrás das cortinas, possibilitando que Pizzol exponha seu talento, DJ Caíque também merece ser lembrado. Ciente da capacidade do moleque, o produtor recorre a beats mais minimalistas, dando espaço suficiente para os versos do emcee. De qualquer forma, a característica de misturar diferentes referências musicais na confeccção dos instrumentais continua intacta. Desde a levada roqueira de "Satisfação" - e é bom destacar também o verso espetacular de Doncesão, usando e abusando da assonância - até o dub viajante de "Capitão Dan na Galacta Vialaxia", Caíque consegue lidar com estas várias influências sem perder a consistência. A química com as letras de Pizzol também é evidente: a sombria "O viajante" ganha strings dramáticas e vocais soturnos; a sonhadora "Paraíso incomum" traz toques de violão, samples atmosféricos e um loop marcante; a bem humorada "Vivo a voar" mostra suíngue e uma melodia que casa perfeitamente com o ótimo refrão de Jeffe.
Quando a faixa homônima fecha "16 anos" contando a vida e as motivações de Pizzol, já fica claro que o moleque nem precisava se "justificar". Só a força das rimas das, adivinhe, 16 faixas do álbum é capaz de convencer qualquer um que o jovem emcee tem um grande caminho pela frente. Obviamente, ainda há espaço para evolução, mas esta é justamente a boa nova do trabalho: se conseguir manter a motivação e o foco, Pizzol tem todas as condições de nos presentear com boa música até, sei lá, seus 50 anos.
01. Intro
02. Satisfação
03. Para quem não se conformou
04. Decreto soberano (Acima da lei)
05. Seu resgate
06. Lá fora
07. Paraíso incomum
08. O destino
09. O viajante
10. Comigo mesmo
11. Alerta
12. Capitão Dan na Galacta Vialaxia
13. Vivo a voar
14. Canto da esperança
15. Aqui não vou ficar (a luz)
16. 16 anos
Contatos para adquirir o álbum:
lucaspizzol16@gmail.com ou lucas_bizon@hotmail.com
Lojas onde comprar:
Sigilo Skate Shop, Boom Bap Shop, Charm's Discos, Porte Ilegal - todas na Galeria 24 de maio
Vídeo da faixa "Paraíso incomum":
3 comentários:
Foda demais...
Parabéns pelo texto!
o cd ta bem foda, quem não tem ainda ta vacilando, um dos melhores do ano no rap nacional, o muleque é bom isso sem falar na produção do dj caique, classe!
PIZZOL - 16 ANOS!!!
360!!!360!!!360 GRAAAAAAAAAAUUSS!!!
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