Gravadora: Battery Records
Produtor: Q-Tip (todas as faixas).
Participações: Gary Thomas (faixa 2), Kurt Rosenwinkel (2), Kenny Garrett (7).
Gravado há quase uma década atrás, "Kamaal The Abstract" é mais um integrante do clube de álbuns que foram para a gaveta e ainda assim exercem uma certa mística em fãs sedentos por boa música. Idealizado por Q-Tip logo após sua estreia solo, "Amplified", o disco tinha o nome original de "Abstractions", mas não viu a luz do dia porque foi considerado pela então gravadora de Tip, Arista, de pouco apelo comercial. Foi necessário o sucesso de "The Renaissance", outro projeto com endereço nos armários de selos multinacionais, para que o originalmente segundo trabalho solo do líder de A Tribe Called Quest chegasse oficialmente às ruas.
Por um lado, a Arista tinha razão em não achar muito apelo comercial no disco. Por outro prisma, porém, é notório que capacidade de vender não significa boa música - e o sem-número de artistas da cena alternativa é um bom indicativo disso. "Kamaal The Abstract" é exatamente o que o título sugere: uma abstração de Q-Tip, que mostra mais uma vez sua intimidade com a produção. Depois de inovar com o jazz-rap do ATCQ, ele criou um álbum esparso, que flui quase que imperceptivelmente, apostando bastante na instrumentação - toda conduzida pelo próprio cara, só para registrar.
A direção que Tip dá ao álbum mostra duas outras facetas daquele conhecido originalmente como rapper. A primeira, de instrumentista, certamente pega muitos fãs de surpresa e mostra que Kamaal tem uma relevância na cena muito maior do que parece. O outro lado é o de cantor, o que digamos que não seja exatamente o ponto forte de Tip, mas que acaba servindo perfeitamente ao propósito do disco. Estes dois ingredientes alcançam o mesmo nível de proeminência das rimas, apenas eventuais neste disco.
O resultado de toda essa abordagem são faixas cheias de suíngue, com longos solos instrumentais e uma levada jazzy bastante influente na construção das batidas. A extensa "Do U Dig U?" é talvez o melhor exemplo, com participação dos instrumentistas Gary Thomas e Kurt Rosenwinkel provendo o background para a cantoria arrastada de Tip. As coisas ficam mais agitadas e dançantes em "Barely in Love", possivelmente a melhor performance vocal do disco, com percussões latinas dando o ritmo da faixa, que ainda conta com um solo de guitarra. "Abstractisms" é a parte mais rap do trabalho, com Tip cuspindo dois versos sobre o sax de Kenny Garrett.
Com tanta atenção à musicalidade, as letras acabam não sendo o carro-chefe do álbum. Ainda assim, Kamaal tem tempo para contar as agruras de uma jovem mãe para sobreviver e dar um bom futuro para a filha: "Ela trabalha no Mc Donald's das 9h às 17h, no Wall Mart das 18h às 22h / economizando o que pode para a escola, sua garota está indo bem". A temática, inclusive, parece ligeiramente voltada para o sexo feminino, algo recorrente em Q-Tip desde os tempos de Bonita Applebum. "Barely in Love", por exemplo, é um conto ao estilo Bonnie & Clyde.
No fim das contas, "Kamaal The Abstract" é um álbum que nem deve ser classificado no gênero rap. Soa mais como uma espécie de hip hop progressivo, uma confluência entre o ritmo e a poesia das ruas com a elegância do jazz, numa nova classificação. A ousadia de Tip em misturar tantas referências de uma forma não clichê acaba enriquecendo bastante o resultado, e deixando um legado a ser explorado para os novos arquitetos da música negra. Talvez este disco seja apenas um primeiro passo, um teste de laboratório para algo ainda maior sendo preparado nos confins dos guetos americanos. Mais uma cortesia de Jonathan Davis a.k.a. Kamaal.
Produtor: Q-Tip (todas as faixas).
Participações: Gary Thomas (faixa 2), Kurt Rosenwinkel (2), Kenny Garrett (7).
Gravado há quase uma década atrás, "Kamaal The Abstract" é mais um integrante do clube de álbuns que foram para a gaveta e ainda assim exercem uma certa mística em fãs sedentos por boa música. Idealizado por Q-Tip logo após sua estreia solo, "Amplified", o disco tinha o nome original de "Abstractions", mas não viu a luz do dia porque foi considerado pela então gravadora de Tip, Arista, de pouco apelo comercial. Foi necessário o sucesso de "The Renaissance", outro projeto com endereço nos armários de selos multinacionais, para que o originalmente segundo trabalho solo do líder de A Tribe Called Quest chegasse oficialmente às ruas.
Por um lado, a Arista tinha razão em não achar muito apelo comercial no disco. Por outro prisma, porém, é notório que capacidade de vender não significa boa música - e o sem-número de artistas da cena alternativa é um bom indicativo disso. "Kamaal The Abstract" é exatamente o que o título sugere: uma abstração de Q-Tip, que mostra mais uma vez sua intimidade com a produção. Depois de inovar com o jazz-rap do ATCQ, ele criou um álbum esparso, que flui quase que imperceptivelmente, apostando bastante na instrumentação - toda conduzida pelo próprio cara, só para registrar.
A direção que Tip dá ao álbum mostra duas outras facetas daquele conhecido originalmente como rapper. A primeira, de instrumentista, certamente pega muitos fãs de surpresa e mostra que Kamaal tem uma relevância na cena muito maior do que parece. O outro lado é o de cantor, o que digamos que não seja exatamente o ponto forte de Tip, mas que acaba servindo perfeitamente ao propósito do disco. Estes dois ingredientes alcançam o mesmo nível de proeminência das rimas, apenas eventuais neste disco.
O resultado de toda essa abordagem são faixas cheias de suíngue, com longos solos instrumentais e uma levada jazzy bastante influente na construção das batidas. A extensa "Do U Dig U?" é talvez o melhor exemplo, com participação dos instrumentistas Gary Thomas e Kurt Rosenwinkel provendo o background para a cantoria arrastada de Tip. As coisas ficam mais agitadas e dançantes em "Barely in Love", possivelmente a melhor performance vocal do disco, com percussões latinas dando o ritmo da faixa, que ainda conta com um solo de guitarra. "Abstractisms" é a parte mais rap do trabalho, com Tip cuspindo dois versos sobre o sax de Kenny Garrett.
Com tanta atenção à musicalidade, as letras acabam não sendo o carro-chefe do álbum. Ainda assim, Kamaal tem tempo para contar as agruras de uma jovem mãe para sobreviver e dar um bom futuro para a filha: "Ela trabalha no Mc Donald's das 9h às 17h, no Wall Mart das 18h às 22h / economizando o que pode para a escola, sua garota está indo bem". A temática, inclusive, parece ligeiramente voltada para o sexo feminino, algo recorrente em Q-Tip desde os tempos de Bonita Applebum. "Barely in Love", por exemplo, é um conto ao estilo Bonnie & Clyde.
No fim das contas, "Kamaal The Abstract" é um álbum que nem deve ser classificado no gênero rap. Soa mais como uma espécie de hip hop progressivo, uma confluência entre o ritmo e a poesia das ruas com a elegância do jazz, numa nova classificação. A ousadia de Tip em misturar tantas referências de uma forma não clichê acaba enriquecendo bastante o resultado, e deixando um legado a ser explorado para os novos arquitetos da música negra. Talvez este disco seja apenas um primeiro passo, um teste de laboratório para algo ainda maior sendo preparado nos confins dos guetos americanos. Mais uma cortesia de Jonathan Davis a.k.a. Kamaal.
Q-Tip - Kamaal The Abstract
1. Feelin'
2. Do U Dig U?
3. A Million Times
4. Blue Girl
5. Barely in Love
6. Heels
7. Abstractionisms
8. Caring
9. Even If It Is So
10. Make it Work [bonus track]
3 comentários:
pow, tô p ouvir a mó tempão haha
aí, Felipe, não sei se vc sabe, mas o "Survival Skills" do KRS-One com o Buckshot tbém já saiu!
acho q é a 1ª resenha q eu leio sem ter escutado o disco antes
vlew!
E ainda dizem que rap não é música. Muito bom o álbum, não é o nosso bom e velho boom bap, mas é bom, sim.
E ficarei ligado aqui, aposto que a próxima resenha é a do Survival Skills.
classico esse eu pago um pau discao enfim lançado oficialmente
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