Ano: 2009
Gravadora: independente
Produtor: Stereodubs (todas as faixas)
Participação: nenhuma
A menina saiu de Brasília para São Paulo graças ao rap, já trabalhou com alguns dos nomes mais respeitados do gênero no país, já viajou para a Europa levando sua música e tem só 21 anos. Para coroar este começo de carreira avassalador, Flora Matos lançou uma mixtape em parceria com a dupla de produtores LX e Léo Grijó, conhecidos como Stereodubs, intitulado sugestivamente de "Flora Matos vs Stereodubs".
O sugestivamente do parágrafo acima tem explicação. O versus do título do trabalho indica bastante o que acontece no decorrer das nove faixas da mix. Os Stereodubs têm como influências marcantes o ragga e o dancehall jamaicanos, enquanto Flora é uma emcee na mais completa acepção da palavra. O resultado deste encontro é um confrontamento de estilos, no bom sentido, que obriga os artistas a expandirem seus horizontes para se adaptar ao que está sendo proposto. Um desafio entre duas frentes de formações diferentes, que só poderia dar certo e ajudar no crescimento de todos os envolvidos. Melhor ainda se este processo de estudo e amadurecimento resulta em música boa. E este é definitivamente o caso deste "duelo".
E quem já pega o holofote nos primeiros segundos da mix e não larga de jeito nenhum é Flora. A tal versatilidade tão necessária para se sair bem na proposta do trabalho é algo com o qual a emcee lida sem maiores problemas. A seleção de temas exemplifica bem isso: a menina trata de relacionamentos em duas vias completamente distintas - vai da bem-humorada e sensual "Pretin" até a contundente "Pai de Família", que discute a formação de casais jovens e os posteriores motivos para uma separação ou para o "felizes para sempre" tão raro nos dias de hoje. Ainda há tempo para Flora mostrar sua carta de intenções em faixas como "Viver", onde o sample do Maestro do Canão Sabotage resume tudo, e "Esperar o Sol", esta última praticamente um manifesto de estilo de vida.
Mas a doçura vista nas faixas supracitadas não reina absoluta na mixtape. Há momentos em que a agressividade natural dentro de cada emcee brota e dita a levada frenética e implacável de Flora. "Sem Mão na Cara" é o maior exemplo disso: numa base eletrônica e igualmente agitada, a menina responde a críticos, ataca invejosos e reafirma sua missão. O refrão é emblemático, e mostra uma outra faceta da artista, a promissora capacidade de aliar rimas e melodias: "Sei muito bem quem são / correm noutra direção / vão ter que ter a pureza para interpretar meu som / Se sou preta ou não / entenda minha visão / dos branco eu herdei a cor, dos preto eu herdei esse dom".
Aliás, a prova máxima desta versão "cantora" de Flora é a faixa que fecha o projeto, "Minha Voz", que traz a garota usando sua voz da forma mais doce possível e assegurando uma despedida suave para o ouvinte, tudo sobre um instrumental igualmente tranquilo, com guitarras marcantes e uma pitadinha de dub. A melhor performance da mix, entretanto, é o single "Pai de Família", que combina o que de mais relevante resultou do confronto entre Flora e os Stereodubs. Numa levada absolutamente perfeita, que demanda daqueles que ouvem mas não prestam atenção uma mudança de comportamento para entender o que está sendo dito. O refrão é igualmente imaculado, mostra mais uma vez o talento melódico da menina e vai ficar grudado no seu ouvido durante dias. Mas é o batidão dancehall que será capaz de fazer brotar quantidades inimagináveis de suor do seu corpo.
Aliás, neste confrontamento entre emcee e produtor, são LX e Léo Grijó os responsáveis por ditas as regras. É como se eles testassem os limites de Flora. Primeiro, é o belíssimo beat de "Esperar o Sol", num clima que faz jus ao imperativo do título, que força Flora a adaptar sua levada a algo mais relax. Na já citada "Pai de Família", eles entram no território que dominam, e aí é a vez da menina acelerar. "Pretin" é um ponto convergente, que força tanto a dupla de produtores a prover um hit, quanto Flora a adicionar ainda mais malemolência ao flow. "Sem Mão Na Cara" mantém o lado eletrônico e frenético, e por aí vai.
No fim, tanto os Stereodubs dão um show de versatilidade, agregando MPB, jazz e rap ao seu repertório, quanto Flora prova que vai de pancadões dançantes a jams relaxantes com o mesmo talento e a mesma facilidade, talvez herança de sua criação cercada de diferentes influências musicais. A verdade é que a menina tem tudo para ser não só um grande nome do rap brasileiro, como tem totais condições de cruzar a fronteira e atingir audiências maiores e mais diversificadas. Pena que os bons artistas não sejam aqueles que tocam na rádio. Flora seria certamente presença garantida nas FMs da vida. E, nossa, ela tem a minha idade, amigos!
Flora Matos: Flora Matos vs Stereodubs
01. Viver
02. Esperar o Sol
03. Pai de Família
04. Interlúdio (Paixão)
05. Pretin
06. Sem Mão Na Cara
07. Até o Infinito
08. Meu Caminho
09. Minha Voz
Download
Performance ao vivo de "Pai de Família" na França:
Gravadora: independente
Produtor: Stereodubs (todas as faixas)
Participação: nenhuma
A menina saiu de Brasília para São Paulo graças ao rap, já trabalhou com alguns dos nomes mais respeitados do gênero no país, já viajou para a Europa levando sua música e tem só 21 anos. Para coroar este começo de carreira avassalador, Flora Matos lançou uma mixtape em parceria com a dupla de produtores LX e Léo Grijó, conhecidos como Stereodubs, intitulado sugestivamente de "Flora Matos vs Stereodubs".
O sugestivamente do parágrafo acima tem explicação. O versus do título do trabalho indica bastante o que acontece no decorrer das nove faixas da mix. Os Stereodubs têm como influências marcantes o ragga e o dancehall jamaicanos, enquanto Flora é uma emcee na mais completa acepção da palavra. O resultado deste encontro é um confrontamento de estilos, no bom sentido, que obriga os artistas a expandirem seus horizontes para se adaptar ao que está sendo proposto. Um desafio entre duas frentes de formações diferentes, que só poderia dar certo e ajudar no crescimento de todos os envolvidos. Melhor ainda se este processo de estudo e amadurecimento resulta em música boa. E este é definitivamente o caso deste "duelo".
E quem já pega o holofote nos primeiros segundos da mix e não larga de jeito nenhum é Flora. A tal versatilidade tão necessária para se sair bem na proposta do trabalho é algo com o qual a emcee lida sem maiores problemas. A seleção de temas exemplifica bem isso: a menina trata de relacionamentos em duas vias completamente distintas - vai da bem-humorada e sensual "Pretin" até a contundente "Pai de Família", que discute a formação de casais jovens e os posteriores motivos para uma separação ou para o "felizes para sempre" tão raro nos dias de hoje. Ainda há tempo para Flora mostrar sua carta de intenções em faixas como "Viver", onde o sample do Maestro do Canão Sabotage resume tudo, e "Esperar o Sol", esta última praticamente um manifesto de estilo de vida.
Mas a doçura vista nas faixas supracitadas não reina absoluta na mixtape. Há momentos em que a agressividade natural dentro de cada emcee brota e dita a levada frenética e implacável de Flora. "Sem Mão na Cara" é o maior exemplo disso: numa base eletrônica e igualmente agitada, a menina responde a críticos, ataca invejosos e reafirma sua missão. O refrão é emblemático, e mostra uma outra faceta da artista, a promissora capacidade de aliar rimas e melodias: "Sei muito bem quem são / correm noutra direção / vão ter que ter a pureza para interpretar meu som / Se sou preta ou não / entenda minha visão / dos branco eu herdei a cor, dos preto eu herdei esse dom".
Aliás, a prova máxima desta versão "cantora" de Flora é a faixa que fecha o projeto, "Minha Voz", que traz a garota usando sua voz da forma mais doce possível e assegurando uma despedida suave para o ouvinte, tudo sobre um instrumental igualmente tranquilo, com guitarras marcantes e uma pitadinha de dub. A melhor performance da mix, entretanto, é o single "Pai de Família", que combina o que de mais relevante resultou do confronto entre Flora e os Stereodubs. Numa levada absolutamente perfeita, que demanda daqueles que ouvem mas não prestam atenção uma mudança de comportamento para entender o que está sendo dito. O refrão é igualmente imaculado, mostra mais uma vez o talento melódico da menina e vai ficar grudado no seu ouvido durante dias. Mas é o batidão dancehall que será capaz de fazer brotar quantidades inimagináveis de suor do seu corpo.
Aliás, neste confrontamento entre emcee e produtor, são LX e Léo Grijó os responsáveis por ditas as regras. É como se eles testassem os limites de Flora. Primeiro, é o belíssimo beat de "Esperar o Sol", num clima que faz jus ao imperativo do título, que força Flora a adaptar sua levada a algo mais relax. Na já citada "Pai de Família", eles entram no território que dominam, e aí é a vez da menina acelerar. "Pretin" é um ponto convergente, que força tanto a dupla de produtores a prover um hit, quanto Flora a adicionar ainda mais malemolência ao flow. "Sem Mão Na Cara" mantém o lado eletrônico e frenético, e por aí vai.
No fim, tanto os Stereodubs dão um show de versatilidade, agregando MPB, jazz e rap ao seu repertório, quanto Flora prova que vai de pancadões dançantes a jams relaxantes com o mesmo talento e a mesma facilidade, talvez herança de sua criação cercada de diferentes influências musicais. A verdade é que a menina tem tudo para ser não só um grande nome do rap brasileiro, como tem totais condições de cruzar a fronteira e atingir audiências maiores e mais diversificadas. Pena que os bons artistas não sejam aqueles que tocam na rádio. Flora seria certamente presença garantida nas FMs da vida. E, nossa, ela tem a minha idade, amigos!
Flora Matos: Flora Matos vs Stereodubs
01. Viver
02. Esperar o Sol
03. Pai de Família
04. Interlúdio (Paixão)
05. Pretin
06. Sem Mão Na Cara
07. Até o Infinito
08. Meu Caminho
09. Minha Voz
Download
Performance ao vivo de "Pai de Família" na França:
7 comentários:
até acho legal, mas ela é o tipo do MC q ñ rima!
digo literalmente... os fonemas sao parecidos mas ñ sao exatamente rimados...
mas ela é novinha. vai evoluir
disco fodaço, um dos melhores do ano. e belo texto o seu, felipe. só uma correção nos versos de "sem mão na cara"... na verdade é "dos branco eu herdei a cor, dos preto eu herdei esse dom". belos versos.
Valeu pelo toque, Dafne. Já corrigi o texto. Abraço!
Anônimo, às vezes é recurso estilístico mesmo. Em algumas momentos, a rima perfeita restringe muito as opções; por isso muita gente apela para as slant rhymes - não tô lembrando do nome em português agora, rs - que são justamente esta questão dos fonemas. Tem muito emcee que usa e abusa de assonância e consonância e passa essa impressão de rima, quando na verdade usaram outro recurso, o que também é elogiável. Abraço, e valeu por abordar este assunto, às vezes pouco discutido.
flora eh foda. ..
Essa 'Pai de Família' é foda demais mesmo! Só acho uma pena ela não ter insistido na mesma versão desse vídeo, que tem muito mais potencial e é muito mais acessível pra qualquer público. A letra é linda, mas na levada 'the flash' que ela fez com o pessoal do Stereodubs, só entende quem vê essa outra versão também...
AS PESSOAS ADORAM FALAR MAL, O CD TÁ PERFEITO, EU CONHEÇO A FLORINHA DAQUI DE BRASÍLIA, GRANDE MULHER E MC!
SUCESSO NA CAMINHADA!
Essa mulher canta demais!!!!!!!!!!!!
Além de ser uma gata!
Sorte sempre pra ela!
Postar um comentário