sábado, 20 de fevereiro de 2010

Freeway & Jake One: The Stimulus Package

Ano: 2010
Gravadora: Rhymesayers
Produtor: Jake One (todas as faixas)
Participações: Beanie Sigel (faixa 1), Raekwon (6), Young Chris (9), Birdman (10), Bun B (11), Latoiya Williams (12), Omilio Sparks (13) e Mr. Porter (13).

Em 2008, o produtor Jake One lançava seu primeiro disco solo, "White Van Music", depois de dezenas de produções para nomes grandes tanto do mainstream quanto do underground norte-americano, como G-Unit, De La Soul, Doom, M.O.P. e Nas. Na mesma época, o rapper Freeway encontrava-se num momento decisivo em sua carreira: prestes a deixar a gravadora Roc-a-Fella e as asas de Jay-Z e sem muita perspectiva para o futuro. Mas, naquele ano, quando as batidas de Jake e as rimas de Free se encontraram em uma das faixas do disco do beatmaker, começava a nascer um dos primeiros bons álbuns de 2010: "The Stimulus Package", colaboração entre os dois artistas.

Explica-se: Jake One convidou Freeway para uma faixa em "White Van Music". "The Truth", que ainda contou com versos de Brother Ali, tornou-se o destaque do disco, ganhou videoclipe e mostrou a química entre os beats de Jake e o flow de Freeway. Depois disso, o então protegido de Hova mudou-se para a Rhymesayers e mergulhou no trabalho de produção de sua primeira aventura fora do mundo de marketing, jabá e holofotes do mainstream. E "Stimulus Package" representa um pouco este encontro em produtor e emcee; um choque entre dois mundos, muitas vezes colocados de forma dicotômica, mas que deveriam ser muito mais próximos.

O interessante neste novo disco é justamente como os dois envolvidos no projeto influenciaram um ao outro. Ora Freeway recebe batidas extremamente sujas para rimar em cima, ora Jake One é desafiado a criar um instrumental totalmente Dirty South para Free compartilhar o microfone com...Birdman! Qual seria o resultado de uma mistura tão inusitada? Não temam, amigos, o resultado, apesar de alguns percalços, ainda é de saldo positivo. Afinal, esta experiência de criar um álbum em dupla, como nos velhos tempos de Pete Rock & CL Smooth, Gangstarr ou nos novos tempos de Blu & Exile, só fez ajudar os dois artistas.

Depois do bom e subestimado - inclusive por este blog - "White Van Music", Jake One finalmente tem a chance de supervisionar a produção de todo um disco. E ele não decepciona; sua receita é simples, mas bastante eficaz. Os beats são invariavelmente pesados, os samples são oriundos das fontes tradicionais, mas, ao se transformarem em um instrumental, funcionam perfeitamente. A candidata a hino "Throw Your Hands Up" mostra Jake brincando com os excertos durante os versos de Free até strings desaguarem no refrão e criarem uma outra camada de som. "Never Gonna Change" utiliza o mesmo truque que Jake empregou na ótima "Rock Co.Kane Flow", do De La Soul, há seis anos: a mudança de velocidade, a quebra na bateria, tudo para casar com o storytelling cinematográfico de Freeway. Mas é o batidão de "One Thing" o ponto alto do álbum e, talvez, o que melhor resume o trabalho de Jake: caixas fortíssimas, samples vocais, simplicidade e eficiência.

Por outro lado, a produção de Jake era o desafio necessário para um rapper acostumado com as fórmulas prontas do mainstream desenvolver seu autoelogiado flow. E a verdade é que Freeway também se saiu muito bem. Ele parece particularmente energizado com os pancadões a que é submetido, como pode ser percebido em faixas como "Throw Your Hands Up" e "One Thing", com a última sendo possivelmente sua melhor performance em todo o disco. Liricamente, o barbudinho também tem seus bons momentos, embora na maioria das vezes faça um trabalho apenas correto. "One Foot In" discute de forma meio autobiográfica a entrada dele na música, quando estava "com um pé na música e outro nas ruas"; "Never Gonna Change" é quase um remake da clássica "Warning", do Biggie - um storytelling sobre caras querendo armar para cima de Freeway; Já "You Know What I Mean" traz o rapper fazendo as vezes de OG, dando conselhos aos mais jovens sobre as armadilhas das ruas. Por fim, "Stimulus Outro" traz algo diferente: Free lendo mensagens de fãs - segundo entrevista dele, 60% da música foi baseada em fatos reais.

Como numa colisão de dois objetos que, depois de chocados, transformam-se um só, Jake One e Freeway conseguiram fazer de "The Stimulus Package" um disco sólido, com uma direção definida e dífícil de ser rotulado. Claro, existem faixas genéricas como o fraco dirty south "Follow My Moves" ou a previsível faixa para as rádios "Freekin' The Beat", mas nada que tire a qualidade final do álbum. Engraçado como o trabalho corrobora a tese de que o mainstream corta as asas dos artistas: depois de três discos apenas medianos, só quando Freeway foi para o subterrâneo que ele conseguiu bons resultados. Bom para o rap underground, que ganha mais um bom emcee para trazer boa música; mais um ponto negativo para o mainstream, que dessa vez falhou ao tentar mutilar um cara talentoso.

Freeway & Jake One - Stimulus Package
1. Stimulus Intro
2. Throw Your Hands Up
3. One Foot In
4. She Makes Me Feel Alright
5. Never Gonna Change
6. One Thing
7. Know What I Mean
8. The Product
9. Microphone Killa
10. Follow My Moves
11. Sho' Nuff
12. Freekin' the Beat
13. Money
14. Free People
15. Stimulus Outro

Vídeo de "You Know What I Mean":

7 comentários:

Unknown disse...

Ah, eu acho o 'Philadelphia Freeway' um bom álbum, mesmo com as limitações de quase tudo do mainstream, acho que o Just Blaze causou nos beats, inclusive acho a 'What We Do' um 'hino' da Roc-A-Fella. Haha

Ótima resenha, blog estah cada vez melhor!
Abraço.

Mychell disse...

Tava sentindo falta dessas resenhas, parabéns, ótimo texto!

Anônimo disse...

um disco otimo, e que a maioria nem imaginaria que seria lancado pela rhymesayers, mas o selo investiu pesado no package dele, se liga:

package do cd :
http://www.youtube.com/watch?v=M9Q3gAR7Jj8

package do vinyl (djs e colecionadores como eu):
http://www.youtube.com/watch?v=NuSbXdoktAs

esse vale a pena comprar !

f-zero
materialcorrosivo.com

Thiago disse...

ótimo disco, dá pra escutar inteiro sem pular nenhuma faixa.

lucas virque disse...

otima resenha, mto bom o albuum, ja ouvi mtas vezes..
queria sabe o que significa liricamente? se eh o conteudo da letra, ou a tequinica que o rapper lança jogos de palavras,metaforas...?
salve

Felipe Schmidt disse...

Lucas, quando eu digo "liricamente", me refiro à escrita do rapper, tanto a técnica que ele utilizada quanto o conteúdo propriamente dito. É algo que engloba as duas coisas. Esclarecido?

Abraço!

Lucas Virque disse...

esclarecido sim! parabens pelo blog, e vou ler a resenha do inspectah...

abs!!