sábado, 30 de agosto de 2008

Scientifik: Criminal

Scientifik era um emcee de Boston, e lançou um dos álbuns mais subestimados da história do rap: Criminal. Eu digo era, porque ele faleceu em 1996, em mais uma morte mal explicada, cuja versão mais difundida é a de que ele matou sua namorada e depois se suicidou. De qualquer forma, o que deve ser ressaltado e exaltado é o legado que Scientifik deixou: um álbum que representa bem a época, produzido por lendas como RZA, Buckwild e Diamond D. Como podemos perceber, o maluco tinha talento, senão produtores tão renomados não estariam envolvidos.

O maior crédito do álbum é que ele remete totalmente à época de ouro do rap e da costa leste dos EUA. A produção é repleta de samples de jazz, batidas pesadas e sujas, e scratches. Para resumir tudo, é o bom e velho boom bap de Nova Iorque presente por todo o álbum: a primeira faixa, Lawtown se encarrega de mostrar isso perfeitamente, com caixas pesadas, um piano discreto e umbelíssimo sample de saxofone que garantirão a ela um lugar instantâneo no seu MP3 player; Jungles of Da East mostra Scientifik no auge, sobre uma linha de baixo marcante e scratches no refrão; o beat de Overnite Gangsta poderia facilmente estar em Illmatic e ninguém estranharia, e ainda daria um refrão contagiante; As Long as You Know é uma jóia, reminiscente da época em que RZA produzia apenas clássicos, como este beat pesado e minimalista. Por fim, Fallen Star retoma o lado jazzy do disco, enquanto Down Lo Ho volta a mostrar o talento de Scientifik para criar bons refrões.

Se a sonoridade é impecável e não deixa dúvidas quanto à época em que foi produzida, Scientifik segue o mesmo caminho: seu flow casa perfeitamente com os beats, enquanto as letras - como o título do álbum mostra - estão voltadas para os temas recorrentes do período: histórias do crime, mixadas entre exaltação e reflexões sobre a situação, como em Lawtown e Fallen Star, respectivamente. Os temas podem soar datados hoje, mas é bom lembrar que na época ainda era um assunto não tão explorado quanto hoje.

Enfim, este disco é mais uma daquelas pérolas escondidas do rap, trazendo de volta tudo o que havia de bom no início da década de 90: instrumentais agressivos, samples originais e grande emceeing. Para aqueles com saudade do rap hardcore da costa Leste, Criminal é um dos álbuns obrigatórios, que vai fazer você se perguntar por que o rap mudou tanto desde aquela época.

Scientifik - Criminal
1. Lawtown
2. I Got Planz feat. Diamond
3. Jungles Of Da East
4. Overnite Gangsta
5. Yeah Daddy
6. Still An Herb Dealer
7. As Long As You Know feat. EDO.G
8. Fallen Star
9. Downlo Ho
10. Criminal

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terça-feira, 26 de agosto de 2008

Buff1: There's Only One

Buff1 é mais uma cria de Detroit - a cidade que atualmente mais apresenta talentos no rap norte-americano. O emcee, parceiro de nomes como Invincible e Black Milk, tinha feito bastante barulho com seu disco de estréia, Pure (em breve aqui no blog), e agora lançou There's Only One, seu segundo álbum, que recebeu tantos elogios quanto o primeiro. Com exceção de uma faixa produzida por Black Milk, o álbum foi todo produzido pelos caras do LabTech, igualmente elogiados pela crítica.

Primeiro de tudo, é bom falar de Buff1: o moleque tem uma voz muito parecida com a de Ras Kass, mas um flow muito mais "fácil" de se ouvir, é daqueles que fazem parecer que rimar é a coisa mais simples do mundo. Some isso ao carisma e à autoconfiança já exibidos no título do álbum e você terá um dos bons nomes da nova geração de emcees americanos. Quanto às letras, o cara também mostra talento e versatilidade: em Beat The Speakers Up, ele critica pesadamente a indústria da música, enquanto Dream Streets é um relato inteligente sobre a vida nas ruas, e Classic Rap faz uma homenagem às grandes lendas, usando o nome de batismo de caras como KRS-One, Snoop Dogg, Tupac e Notorious BIG.

Na produção, os Lab Techs também fazem bonito, com beats complexos, valorizando os grooves, refrões cantados, enfim, instrumentais exuberantes, muitas vezes dançantes, mas sem precisar apelar para hits radiofônicos. Goodness Music é um belo exemplo da atmosfera predominante no disco, com sintetizadores misturados a um teclado discreto, com um refrão marcante. O frenesi agressivo de Beat The Speakers Up, o quê eletrônico de Dream Streets e a bateria quebrada de Electrifying Music Maker são outros bons destaques, enquanto I Know The Secret, cheio de scratches e com um belo loop, a tranquila e minimalista Real Appeal e a reflexiva Goin Nowhere garantem o lado mais sossegado do álbum.

Enfim, There's Only One é mais um bom álbum de mais um bom artista de Detroit, que, só nesse ano, vem colocando vários álbuns entre os melhores do ano, como os de Invincible e Elzhi. Buff1 é mais uma boa promessa, com enorme potencial e capacidade de continuar oferecendo rimas de qualidade por um bom tempo, enquanto os Lab Techs têm igual possibilidade de fazer cada vez mais barulho na cena.

Buff1 - There's Only One
01. There's Only One (feat. Mayer Hawthorne)
02. Goodness Music
03. Beat The Speakers Up
04. Dream Streets
05. Man Up (feat. Vaughan T)
06. I Know The Secret
07. The Sky
08. Classic Rap
09. Love The Love (feat. Tres Styles)
10. Never Fall (feat. Black Milk)
11. Rain Dance
12. Numbers Can't Measure (feat. Now On)
13. Real Appeal (feat. Ab)
14. Electrifying Music Maker (feat. DJ Rhettmatic)
15. Goin Nowhere
16. Once

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Vídeo da faixa Beat The Speakers Up:

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bandeira Negra: Transformação

Bandeira Negra é um grupo da belíssima cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, formado pelos emcees Fábio Emecê e Nélio, além dos DJs Marcelo Eustáquio e DRI. Os caras já estão na estrada há cerca de quatro anos, tendo lançado um cd demo através do próprio myspace do grupo. Agora, eles lançam o EP Transformação, uma forma de preparar o terreno para o disco completo do grupo, previsto para ser lançado ainda neste ano.

Apesar de curto, o EP mostra bem a proposta do grupo: letras fortes e muito bem escritas - Fábio Emecê é professor de português, o que ajuda bastante. Os temas são calcados basicamente na crítica social, em várias vertentes, como a mídia e o governo, além de uma valorização da cultura negra. Entre os destaques do disco, Apenas Uma Versão tem um beat muito bom, com um loop bem sacado, embora Fábio tenha alguns problemas com o flow, apesar da voz carismática; Bandeira Negra mantém o nível dos beats, com um refrão marcante e rimas de bom nível; Devemos Honra ao Sangue de Nossos Ancestrais tem um beat com toques latinos, e uma letra sensacional, com os dois emcees relatando as agruras de ancestrais latinos e negros de forma minuciosa, com várias referências históricas.

Para quem gosta do rap contundente que fez bastante sucesso no Brasil na década de 90, Bandeira Negra é ótima pedida, até porque não exagera na violência, mas sim aposta em uma mistura de críticas, às vezes já batidas, e mensagens de incentivo e exaltação. Rap político, no ponto certo: este é o começo da Transformação da Bandeira Negra.

Bandeira Negra - Transformação
1 - Bandeira Negra
2 - Você é Influenciado pela Mídia
3 - Devemos Honra ao Sangue de Nossos Ancentrais
4 - Tenha Certeza dos Seus Dons e Qualidades
5 - Tenha Certeza dos Seus Dons e Qualidades (Riddim)
6 - não Feche os Olhos para a Violência
7 - Apenas uma Versão

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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

GZA: ProTools

O novo disco de GZA, membro do Wu-Tang Clan, acabou de vazar. ProTools é o sexto álbum solo do emcee, e conta com as participações de Masta Killa, RZA, True Master e o próprio filho do Genius, Kareem Justice. O álbum vem com a diss para 50 Cent, chamada Paper Plate, que inclusive já foi traduzida aqui no blog.

ProTools é uma relativa surpresa. Depois da onda de recentes decepções com os últimos discos lançados pelos "generais" do Wu. Este disco excede as expectativas porque foca nos pontos fortes de GZA: as rimas impecáveis e o bom gosto para escolher seus beats., embora seu flow oscile demais durante o disco - uma das maiores críticas a GZA é sua falta de energia na hora de "cuspir" as rimas. E é justamente este detalhe que define o disco: quando o Genius está "acordado", as faixas destacam-se naturalmente; quando ele parece desinteressado, até conceitos interessantes e bons beats perdem o brilho. Entretanto, num balanço final, GZA está acordado a maior parte do tempo, o que é um bom sinal.

Interessante também ver os produtores escolhidos para o álbum. True Master, Mathematics e RZA dispensam comentários e oferecem a GZA o clássico Wu-sound. Black Milk e Bronze Nazareth, dois dos mais talentosos beatmakers da nova geração, também contribuem com ótimos instrumentais. Em geral, a sonoridade é aquela que todo mundo quer ver/ouvir no álbum de um general do Wu: pesada, forte, minimalista. Para completar, todos esperam do cara que se auto-intitulou The Genius boas rimas. Bom, pode até ser que os 42 anos de idade estejam prejudicando a levada dele, mas só têm o ajudado a escrever.

Paper Plate, a diss para 50 Cent, é um bom exemplo. GZA é ainda melhor quando se concentra em um tópico, e simplesmente reduz o rapper mainstream mais odiado a...moedas de 50 centavos, tudo sobre um beat simples de RZA, com um loop de piano e alguns efeitos esporádicos. Alphabets, o primeiro single, é outra mostra da força lírica de Genius: embora o conceito não seja novo - Papoose e Gift of Gab já o exploraram - é impossível não ficar admirado com a habilidade que GZA mostra no refrão. Já em Pencil, ele se junta aos parceiros Masta Killa e RZA para dividir e ripar um beat pesado e com um sample vocal picotado - é bom ressaltar que Bobby Digital/Steels rouba a cena aqui.

Outra faixa na qual RZA rouba cena é em Life Is A Movie, produzida pelo próprio, onde os dois primos e mentores do Wu trocam versos sobre suas vidas, sobre um beat reminiscente da atual fase de produção do Abbot. 0% Finance é outra mostra da criatividade de GZA: assim como ele já fez com gravadoras, animais e pessoas famosas, agora ele cria uma história com base em nomes de carros, num instrumental triunfante e acelerado. Por fim, 7 Pounds, cortesia de Black Milk, tem as já tradicionais caixas pesadas e as várias camadas de sample, enquanto Groundbreaking, de Bronze Nazareth, tem um loop tão irresistível quanto a levada da bateria e GZA trocando versos com seu filho, que também aparece em Cinema, no beat mais uptempo do álbum, no qual GZA rima meio que sussurrando.

Bom, deu para notar pelo número alto de faixas citadas o quanto eu gostei do álbum. Talvez seja por ser um fã incondicional do Wu, mas a verdade é que o disco tem muita qualidade. Os beats são bem escolhidos e as letras, impecáveis. A levada às vezes falha, mas não se pode criticar muito GZA - poucos com sua idade ainda estão relevantes no jogo. Aliás, ele define bem como é o jogo do rap em 7 Pounds, do alto de sua experiência: "emcees são como espermatozóides, um monte de nós lutando para chegar ao ovo, mordendo e perdendo uma perna / as chances são de 1 em 10 milhões, uma irmandade / apenas um a cada cem fala com sua própria voz".

GZA - ProTools
01: Intromental
02: Pencil (feat. Masta Killa & RZA)
03: Alphabets
04: Groundbreaking (feat. Kareem Justice)
05: 7 Pounds
06: 0% Finance
07: Short Race (feat. Rock Marcy)
08: Interlude
09: Paper Plate
10: Columbian Ties (feat. True Master)
11: Firehouse (feat. Ka)
12: Path of Destruction
13: Cinema (feat. Kareem Justice)
14: Intermission (Drive in Movie)
15: Life is a Movie (feat. RZA & Irfane Khan-Acito)
16: Elastic Audio (feat. Dreddy Kruger & FYRE Department)

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terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ill Poetic: The World is Ours

Ill Poetic é um emcee/produtor de Cincinnati, mesma terra de nomes como Hi-Tek e Bone Thugs N Harmony. Mesmo um pouco desconhecido não só aqui no Brasil como até nos EUA, o cara é bastante talentoso, produz seus próprios beats e lançou um dos melhores álbuns do ano passado, que passou totalmente despercebido por mim.

The World Is Ours é um álbum que é difícil achar uma boa palavra em português para definir. Soulful e smooth seriam as melhores definições, e significam, mais ou menos, um som com muitas influências da soul music e bastante tranquilo, relax. Ao contrário dos últimos discos postados aqui no blog, este nao tem beats pesados - é mais complexo, cada beat tem vários instrumentos se revezando, um clima definido, algo definitivamente mais, digamos, detalhado.

Home, a primeira faixa, é um bom exemplo, com saxofones, pianos discretos, refrão cantado e Ill Poetic exercitando sua veia poética sobre seu "lar, doce lar". Um pouco adiante, So Good, Soul Electric e o primeiro single, The Beautiful, definem de vez o som do disco. A primeira tem samples atmosféricos e um refrão melódico, enquanto a segunda recorre a um loop de guitarra e um sample vocal discretíssimo, mas eficiente. Já The Beautiful apresenta uma linha de baixo forte, novos samples esparsos, uma guitarra aqui e ali e mais samples vocais, empregados novamente não como sample principal, mas como um complemento.

Depois de uma série de faixas mais lentas, Sugar Shack surge para animar um pouco. Com um ótimo refrão, uma batida mais rápida e um flow mais agressivo, a faixa é uma das melhores do disco. Para quem gosta do bom e velho boom-bap, também há material no disco, na forma de One More, com participação de Wordsworth, cheia de excertos de saxofones e pequenas vozes ao fundo. As I See It, com Illogic, tem um loop muito bom, refrão com colgagens de alguns clássicos e batidas pesadas, enquanto City of God faz jus ao nome com um sample de Cidade de Deus no finalzinho da faixa - mais precisamente, nos ultimos cinco segundos. Para finalizar o álbum, Ill Poetic retorna ao som mais lento com Ride Thru It, uma faixa guiada por órgãos e complementada por saxofones, loops vocais, guitarras, etc.

Liricamente, Ill Poetic pode até não corresponder às expectativas que seu nome cria, mas ainda assim cumpre um bom papel. De qualquer forma, é na produção de seus beats que ele se destaca, criando sons com uma identidade própria, cheios de personalidade. The World is Ours é daqueles discos ideais para se ouvir no fone de ouvido, para poder aproveitar todos os detalhes e toda a beleza da música oferecida aqui. Recomendadíssimo.

Ill Poetic - The World is Ours
1. Home
2. Cincilluminati
3. Common Knowledge
4. What Y’All Want
5. So Good
6. Soul Electric
7. The Beautiful
8. Sugar Shack
9. One More
10. As I See It
11. Move
12. City of God
13. The Last [stream]
14. Ride Thru It
15. Inside Lookin’ Outside/Shinin’

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Vídeo da faixa The Beautiful:

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Elzhi: The Preface

Vazou o álbum de estréia do Elzhi, membro do Slum Village, que agora está se aventurando na carreira solo - já tinha lançado uma espécie de prévia neste ano, o Europass. Produzido majoritariamente por Black Milk - considerado por muitos o sucessor de J-Dilla -, o álbum conta ainda com participações de alguns nomes conhecidos de Detroit, como Royce Da 5'9'', Guilty Simpson e Phat Kat.

E nada mais apropriado do que Black Milk lidar com a produção do álbum, já que J-Dilla era o produtor do grupo de Elzhi. Em The Preface, fica clara a química entre emcee e produtor. Black Milk equipa Elzhi com um arsenal de caixas e bumbos pesados, samples variados e provenientes de soul music. O resultado é um disco cheio de grandes instrumentais, que não só brilham, como deixam espaço para que Elzhi mostre um flow sensacional e ótimas rimas. Outro detalhe interessante é que os beats não são dos mais complexos, ao contrário, são simples, mas ainda assim muito bem feitos.

Entre as várias ótimas faixas do álbum, aquelas que têm presença certa em qualquer MP3 Player são Motown 25, com uma bateria pulsante, sample vocal, além de guitarras e pianos se intercalando, e uma participação espetacular de Royce Da 5'9'', numa ode à gravadora de Detroit que fez sucesso há algumas décadas atrás. Save Ya, cortesia do companheiro de Slum Village, T3, mistura uma voz acelerada a belos strings, mantendo o padrão de qualidade; Yeah é uma faixa mais puxada para o jazz, com outra ótima participação, dessa vez de Phat Kat; Talking In My Sleep tem scratches e um clima mais tranquilo, um belíssimo beat, com Elzhi falando sobre sonhos de uma forma que vai do literal ao metafórico, depende da interpretação de cada um; What I Write recorre a strings picotados e as já tradicionais caixas pesadas, com Elzhi detalhando um pouco as coisas sobre as quais ele escreve e suas motivações; por fim, Growin Up tem um violino sensacional de sample principal, uma bateria pulsante e o emcee com rimas autobiográficas.

Como deu para ver, são vários destaques no álbum, o que confirma que o disco é muito bom, um dos melhores do ano. A combinação entre Elzhi e Black Milk mostrou-se perfeita, até porque ambos estão no auge de suas formas neste disco. Agora, fica a expectativa para o novo disco do Slum Village, que tem tudo para ser tão bom quanto o solo de Elzhi e fazer com que J-Dilla, onde quer que esteja, sorria de novo. Com The Preface, ele deu o primeiro sorriso.

Elzhi - The Preface

01 - Intro (The Preface)
02 - The Leak (Ft. Ayah)
03 - Guessing Game
04 - Motown 25 (Ft. Royce Da 59)
05 - Brag Swag
06 - Colors
07 - Fire (Remix) (Ft. Black Milk, Guilty Simpson, Fatt Father, Danny Brown & Fat Ray)
08 - D.E.M.O.N.S.
09 - Save Ya (Ft. T3)
10 - Yeah (Ft. Phat Kat)
11 - Transitional Joint (Baby Girl Glow)
12 - Talking In My Sleep
13 - The Science (Ft. Fes Roc)
14 - Hands Up
15 - What I Write
16 - Growing Up (Ft. A.B.)

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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dagha: The Divorce

Dagha é um emcee de Boston e membro da Zulu Nation, parceiro do produtor Insight - quem acompanha o blog desde o início já ouviu falar dele no grupo Y Society. Depois do relativo sucesso do seu primeiro álbum, chamado Object in Motion, Dagha volta aos trabalhos com The Divorce, no qual ele conta a história de seu próprio divórcio e analisa os vários lados de um relacionamento. A produção do disco - que vem recebendo muitos elogios nos EUA - ficou por conta de DJ Real e do próprio Insight.

Primeiro de tudo, este é um álbum conceitual, bastante específico, o que significa que, pelo menos quanto às letras, não "conquista" os ouvintes rapidamente. Obviamente, quem já passou por uma situação como a tratada no álbum vai se identificar bastante, enquanto aos outros resta apreciar o flow e a técnica de Dagha e os beats do disco. Aliás, a produção merece muitos elogios por sua simplicidade e, ao mesmo tempo, capacidade de entretenimento. São beats minimalistas, com poucos samples, na maioria loopados, com os timbres de bateria recém-saídos do vinil.

Outro ponto favorável é a consistência do álbum, algo que eu particularmente acredito que tenha muito a ver com o fato de ser um trabalho conceitual. Com tanta coesão, é difícil pinçar destaques individuais, mas vou me arriscar: Devil's Work é um ótimo cartão de visitas, com Dagha mostrando um flow perfeito e um beat simples e efetivo; Cliche, o primeiro single, tem uma mistura de jazz com caixas pesadas que lembra um pouco os primeiros trabalhos de Pete Rock; Playhouse é uma faixa mais "pra cima", com um loop de metais dando o suíngue necessário; por fim, Scat tem um instrumental mais complexo, cheio de camadas de samples.

Confesso que eu demorei bastante para ouvir esse disco, talvez por preconceito com o título, por achá-lo meio "tosco". Ledo engano. É um ótimo disco, bastante agradável de ouvir, com uma produção muito boa e um emcee talentoso. Nada de inovador nem diferente, apenas rimas e batidas bem feitas. Ouça esse álbum, não cometa o mesmo erro deste blogueiro ignorante.

Dagha - The Divorce
01 The Setting
02 Devil's Work
03 Changed Locks
04 My Luck
05 Cliche
06 Playhouse
07 Monogamy
08 A Man's Question
09 She Left
10 Whatever It May Be
11 Try
12 What I'mma Do?
13 Scat
14 Ashy Knees Outro

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Vídeo da faixa Scat:

sábado, 2 de agosto de 2008

Vordul Mega: MegaGraphitti

Depois do parceiro Vast Aire, é a vez de Vordul Mega, a outra metade do Cannibal Ox, lançar um álbum solo neste ano. Enquanto seu companheiro tornou-se mais conhecido, graças a um, reconhecidamente, maior carisma e estilo mais destacado, Vordul seguiu um caminho mais tradicional, com um flow mais seco. Depois do sucesso de The Cold Vein, a dupla teve alguns problemas, como a depressão crônica de Vordul, que impediu que o emcee desse sequência à carreira.

Agora, ele lança MegaGraphitti, um álbum que surpreende pela qualidade. Confesso que não esperava um trabalho tão bom, mas Vordul lança um disco, no mínimo, do nível de seu parceiro Vais Aire. A diferença é que, enquanto Aire optou por uma sonoridade parecida com o clássico do Can Ox, com sons futuristas e eletrônicos, Vordul escolheu samples orgânicos, refrões melódicos e uma grande pitada de soul. Isso não quer dizer, porém, que não há espaço para loops sujos e abstratos, mas não é a predominância do álbum.

Vordul tem um flow bem mais rápido e convencional que o de Aire, o que torna suas músicas um pouco mais fáceis de digerir. Além disso, ele é craque em escrever estruturas complexas de versos, cheios de sentidos filosóficos e com rimas internas. É quase um mini travalínguas. Em Stay Conscious, a faixa de abertura, ele lembra bastante a introdução de The Cold Vein, cuspindo fogo sobre um belíssimo beat de Zach One, com pianos, um baixo elegante e loops vocais. AK-47 tem Vordul e Vast Aire trocando versos em um beat simples e esparso; Trigganomics conta com a produção de Bronze Nazareth, ou seja, é garantia de qualidade, sobretudo quando ele mistura uma bateria simples e sons eletrônicos e strings.

Continuando os destaques, em Beautiful Vordul conta com a ajuda de um refrão cantado e um beat mais convencional para falar sobre beleza de uma forma bem mais ampla. Keep Living é uma produção de El-P, então podemos esperar um som mais experimental e complexo: ruídos eletrônicos, samples vocais, pequenos excertos de piano, tudo isso misturado em um dos melhores beats do disco. Por fim, Zach One, que iniciou o disco, também o fecha, com outra grande produção, MegaGraphitti, com um baixo proeminente e pequenos elementos se alternando no fundo, e Vordul em grande forma no microfone.

Tirando o fato de ser completamente ofuscado por Vast Aire em qualquer faixa em que dividam os microfones, Vordul Mega ainda assim mostra uma consistência elogiável no álbum, enquanto os beats foram bem escolhidos e são coesos. Para quem ficou um tempo fora do jogo, até que o emcee voltou com um trabalho acima da média. Agora, é torcer para que ele possa continuar gravando bons álbuns.

Vordul Mega - MegaGraphitti
1. Stay Concious (Prod. By Zach One)
2. AK-47 Feat. Vast Aire (Prod. By Opto)
3. Opium Scripts Feat. Billy Woods (Prod. By Bond)
4. Hattori Hanzo (Prod. By DJ Marmaduke)
5. Air Battery Feat. Tommy Gunn & Billy Woods (Prod. By Bond)
6. Trigganomics (Prod. By Bronze Nazareth)
7. Broken Halo Feat. Invizzible Men & Hi-Coup (Prod. By Lex Boogie)
8. Light (Prod. By Bond)
9. In The Mirror Feat. Vast Aire (Prod. By Sid Roams)
10. Beautiful (Prod. By Armyfatigue)
11. Learn (Prod. By Ravage)
12. Peanut Butta Up's (Prod. By DJ Marmaduke)
13. Keep Living Feat. Billy Woods (Prod. By El-P)
14. Imani (Prod. By Essex Dogs)
15. Megagraphitti (Prod. By Zach One)

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Vídeo da faixa Megagraphitti: