A virada de século trouxe para o rap brasileiro novos ventos, um grupo de jovens com ideias variadas, bastante diferentes do que vinha sendo produzido em terras tupiniquins na época. Coletivos como o carioca Quinto Andar e o paulista Rhima Rara assumiram a linha de frente da nova escola brasileira, e dão frutos até hoje, mesmo sem estarem exatamente unidos como projetos. Nomes hoje bastante relevantes no Hip Hop nacional surgiram neste momento. Um deles, porém, nunca foi tão festejado quanto os outros, embora tenha igualmente uma trajetória riquíssima. Trata-se de Renan Sabino, o Diamantee, beatmaker paulistano de 25 anos, organizador da Battle Beats Brasil. Nesta entrevista para o Boom Bap, ele fala de produção, a experiência em organizar o Battle Beats, o seu início no rap, sua convivência com o pessoal da Rhima Rara e mais. Confira!
Boom Bap: Como você conheceu o rap?
Diamantee: Cara, aos 13 anos comecei a andar de skate. Nesse tempo eu ouvia muito Hard Core e rock, por influência de alguns amigos e meu pai. Nessa mesma época, esses amigos me mostraram um fita de video com varios clipes de rap, entre eles havia um em especial, que era "Jump Around", do House Of Pain. Quando ouvi aquilo, maluco, deu vontade de sair pulando, porque era pesado como o Hardcore, rápido, diferente de tudo que eu já havia ouvido. Depois, veio Wu Tang, A Tribe Called Quest, Nas, Mobb Deep...
Se "Jump Around" foi a musica que fez você descobrir e gostar do rap, qual foi a canção que fez você decidir deixar de ser só fã e passar a fazer rap?
Pô, dificil, porque eu ouvia varias paradas, mas posso dizer que nao foi uma e sim algumas, entre elas, em especial, uma do Method Man com a Mary J Blige, "You're All I Need", essa música realmente mexeu comigo. A Tribe Called Quest, com Electric Relaxation, Nas com o disco "It Was Written", Mobb Deep com a "Hell on Earth", nossa, essa era hino no meu walkman.
E no Brasil, o que você curtia mais?
Bom, no começo não ouvi quase nada, cara. Tipo, ouvi Gabriel O Pensador, com "Loira Burra", Racionais com "Raio X do Brasil", era uma loucura, todos os carros que passavam na rua tocavam Racionais. Achava da hora o Pepeu com "Carolina" e o Ataliba e a Firma com "Política e Política", e Ndee Naldinho, "Lagartixa na Parede". Pô, até que eu ouvia bastante coisa (risos). Mas sempre foi mais fácil lembrar dos gringos.
Por que?
Porque todos meus amigos só ouviam rap gringo e hardcore. Nós éramos meio que os únicos aqui em Taipas que escutavam raps gringos, éramos diferentes de todo mundo. Eu sempre conversei com muita gente, então sempre trocava uma ideia com um pessoal que era pichador, aí eles só ouviam rap nacional, Gog, Racionais, Cirurgia Moral, Alibi, porra, muita coisa. Eles me mostravam mais as paradas nacionais. Nunca fui de me fechar a ouvir as paradas, saca? Mas como eu andava de skate o dia inteiro eu ouvia mais raps gringos.
Você nasceu e foi criado em São Paulo?
Sim, em Taipas, um bairro entre a zona oeste e a zona norte de São Paulo. Bairro pobre mesmo, eu moro na periferia, aqui do lado mesmo tem um morro gigante que vai até o céu, favela mesmo. Aqui em Taipas não tem um lugar especifico de casas de pessoas que têm grana. A grande maioria mesmo é pobre, trabalhador mesmo.
Sua infância foi difícil?
Sim, foi. Eu não posso reclamar, não tive algumas coisas, mas minha mãe e meu pai sempre trabalharam, saca? Eu fui criado minha infância inteira pela minha avó Conceição. Eles sempre me quiseram muito bem, davam para nós, eu e meu irmao, o bom e o melhor que podiam. Agradeço muito a eles.
Então você não foi aquele moleque a princípio atraído pelo discurso social do rap nacional dos anos 90, né?
Cara, digamos que fui atraído, sim, porque, independente de tudo, periferia é periferia. Você passa perrengue independente do local, mas digamos que fui mais atraído pelo skate. Ele era o amigo de todas as horas, então meio que direcionava a minha atenção 100% a ele.
E como foi essa passagem de fã para alguem que está dentro do rap?
Putz, muito louca. Porque eu andava de skate em frente à escola em que eu estudava. Aí uns amigos começaram a conversar e falar que queriam fazer um grupo. Vários grupos foram criados. Eu e um amigo chamado Skok começamos a trocar ideia. "Sempre ouvimos rap, por que não cantamos também?". Imagina um moleque que não sabe rimar, ruim pra porra. Era eu (risos).
Você começou rimando e não produzindo?
Eu comecei rimando. A parada de produção veio quando, um dia, conversando com o meu primo, DJ Daniel, falei pra ele que tínhamos que ter nossas próprias batidas. Ele tinha um mixer Gemini que sampleava 5 segundos, se não me engano. Ele fazia uns loops em fitas para nós rimarmos em cima.
Antes disso vocês usavam batidas gringas?
Sim, cansamos de juntar as moedas pra comprar discos. Compramos um monte de discos instrumentais.
E foi com o seu primo e nessa história de fazer loop em fita que você começou a se interessar por produção?
Sim, conversando com uns amigos e conhecidos e perguntando como era a parada de produzir. Um dia vi umas paradas no site Bocada forte, logo no começo, onde o bate papo bombava de pessoas, pois era o unico site de Hip Hop no país. O Vulgo disponibilizou dois links, um do Fruity Loops e outro do Sound Forge. Aí baixei e comecei a fuçar, só saía beat ruim, não sabia contar tempo, nem sabia o que era um bumbo e uma caixa (risos).
Tem um fato legal, porque quando eu comecei, eu baixei a versão demo, então não podia salvar meus beats. Nisso, eu ja converssando com o Kamau e tal - ele inclusive produziu a primeira faixa do meu grupo na época, chamado Ajunção. Aí, eu conheci o Munhoz quando fomos gravar este som, também conheci o Zorack. Foi ele que me arrumou os programas e fez minha vida mudar (risos). Ele tem uma parcela de culpa muito foda nisso tudo, porque ele colou aqui em casa, instalou o programa no computador e me deu umas dicas que me fizeram entrar nos eixos.
Você sempre teve contato com esse pessoal da nova escola do rap brasileiro?
Sim, eu sou dessa geração. Na real, eu comecei a fazer rap antes de conhecer eles. Havia várias pessoas fazendo rap simultaneamente, da mesma geração, sem se conhecer. Eu conhecia o pessoal da Rhima Rara através do estudio do Munhoz. Eles já tinham a banca há muito tempo, eu não cheguei a participar de nada que eles fizeram juntos.
Nessa época você já tava no seu segundo grupo então, o Ajunção, é isso?
Isso. Era o segundo grupo, mas com quase as mesmas pessoas. Tipo, no Delito era eu, o Skok, o Lopam, o Geg, o Trinca e o DJ Daniel. Aí eu sai do Delito, e depois de um tempo, quando só estavam tocando juntos o DJ Daniel, o Skok e o Lopam, nós começamos a fazer coisas juntos. No começo, Ajunção era uma banca, eu e o Rick (emcee do Simples), Skok e Lopam( do Delito), Gringo e DJ Zinco. Depois, o Ajunção virou eu e o Skok. Entrou o Maze, e aí virou um grupo.
E depois disso, qual foi seu próximo passo?
Nessa época eu estava produzindo um CD inteiro para uns amigos, chamado "Familia Pingaiada". Produzi o disco inteiro tambem, mas os caras meio que tinham pensamentos diferentes, e o álbum acabou não saindo. Isso em 2003, 2004. Em 2005, eu tive a ideia de fazer um solo. Peguei os emcees que andavam comigo e gravei os sons todos aqui em casa. Assim saiu o "Meu Time é Preparado".
E como foi lançar um álbum de produtor numa época em que isso não tava muito em voga, ainda mais aqui no Brasil, onde as dificuldades para se lançar um disco são ainda maiores? As maiores dificuldades mesmo eram pra colocar o disco na rua, porque a grana sempre foi curta, tive a ajuda de todos os emcees que cantavam no disco e uma ajuda principal do DJ Fzero.
Fala um pouco sobre o Battle Beats. Como você se envolveu na organização?
O Dhennys teve a ideia de criar o Battle Beats Brasil. Ele me chamou pra participar da segunda edição, aí ajudei a organizar e arrumar alguns prêmios para a galera que ganhasse. Depois disso, ele me chamou pra fazer todas com ele, já como organizador mesmo.
Como é a experiência de organizar um evento inédito no Brasil? No que isso somou na sua experiencia dentro do hip hop?
Essa ideia é foda, é algo que eu sempre pensei em fazer, mas nunca tive como. Esse projeto é para mim a parada na qual eu mais me dedico atualmente. O Battle Beats me fez ver as coisas de outra maneira, é a melhor coisa que já me aconteceu.
Por que?
É algo com o qual eu acabei criando uma grande afinidade. Quero fazer disso tipo um campeonato brasileiro, saca? Fazer Battle Beats pelo Brasil inteiro, fazer uma edição todo ano. Tipo uma Liga dos MCs. A Battle Beats é algo para festejar e mostrar que em cada Estado existem varias pessoas que fazem beats, que vivem essa parada. O conceito é mostrar para o Brasil que essa parada cada dia cresce mais e mais.
Falando sobre produção, com que frequência você garimpa discos?
Sempre que posso, cara. Ser pobre é foda, ainda mais em São Paulo. Voce tem que trabalhar muito pra ter suas paradas. Eu saio às 6h de casa e chego às 21h. Fica meio difícil. Sou webdesigner de uma loja de surf online.
Viver de rap ainda é um sonho distante?
Na moral, eu tenho que me jogar, tipo o emicida. Dar 100% de mim. Aí eu vou ter 100% do rap.
E por que você não faz isso?
Pô, cara, às vezes me sinto meio inseguro, saca?
E como é o teu processo de produção? Você sampleia mais do que toca? Qual gênero você gosta mais de samplear?
Mano, a parada é que eu nao sei tocar nenhum instrumento, saca? Eu só sampleio, e eu não tenho preferência de gênero. Sampleio tudo, de 1950 a 2009.
E gêneros brasileiros, você procura dar uma atenção especial, ou não liga pra isso?
Mano, sempre que vou no sebo eu compro disco brasileiro. Só aqui em casa acho que tenho uns 400 discos brasileiros, mas não fico fissurado em só produzir parada com sample brasileiro.
Quantos discos você tem na sua coleção?
Tenho quase mil.
Algum destes discos é mais especial pra você? Por qual razão?
Sim, tem um que consegui fazer um beat muito foda, é do Toquinho, ele é meu xodó. Tem outro, que eu fiz um dos melhores beats da minha vida, "Espaço Vazio", da Dione York.
De todo o processo de produção, do que você gosta mais? Do garimpo, da seleção dos samples, dos cortes, da hora de sequenciar?
Eu gosto quando eu coloco o vinil pra tocar e ouço uma parada foda, na qual eu vejo um rap fudido. Fico louco, ouço o sample umas 30 vezes antes de samplear.
Para finalizar, quais são seus próximos projetos?
Mano, tô fazendo um disco do Zero MC, do grupo Obscuro, que saiu no meu primeiro disco. E tô fazendo meu álbum novo, nos mesmos moldes do primeiro: vou produzir e chamar um pessoal pra rimar.
E o Battle Beats?
Estou quase fechando com uma casa para realizar o evento. Mas esse ano ainda vai ter pelo menos mais duas edições. e mais a grande final, com o primeiro e o segundo colocado de cada edição anterior. Mas ainda não tenho previsão de quando vai acontecer.
Boom Bap: Como você conheceu o rap?
Diamantee: Cara, aos 13 anos comecei a andar de skate. Nesse tempo eu ouvia muito Hard Core e rock, por influência de alguns amigos e meu pai. Nessa mesma época, esses amigos me mostraram um fita de video com varios clipes de rap, entre eles havia um em especial, que era "Jump Around", do House Of Pain. Quando ouvi aquilo, maluco, deu vontade de sair pulando, porque era pesado como o Hardcore, rápido, diferente de tudo que eu já havia ouvido. Depois, veio Wu Tang, A Tribe Called Quest, Nas, Mobb Deep...
Se "Jump Around" foi a musica que fez você descobrir e gostar do rap, qual foi a canção que fez você decidir deixar de ser só fã e passar a fazer rap?
Pô, dificil, porque eu ouvia varias paradas, mas posso dizer que nao foi uma e sim algumas, entre elas, em especial, uma do Method Man com a Mary J Blige, "You're All I Need", essa música realmente mexeu comigo. A Tribe Called Quest, com Electric Relaxation, Nas com o disco "It Was Written", Mobb Deep com a "Hell on Earth", nossa, essa era hino no meu walkman.
E no Brasil, o que você curtia mais?
Bom, no começo não ouvi quase nada, cara. Tipo, ouvi Gabriel O Pensador, com "Loira Burra", Racionais com "Raio X do Brasil", era uma loucura, todos os carros que passavam na rua tocavam Racionais. Achava da hora o Pepeu com "Carolina" e o Ataliba e a Firma com "Política e Política", e Ndee Naldinho, "Lagartixa na Parede". Pô, até que eu ouvia bastante coisa (risos). Mas sempre foi mais fácil lembrar dos gringos.
Por que?
Porque todos meus amigos só ouviam rap gringo e hardcore. Nós éramos meio que os únicos aqui em Taipas que escutavam raps gringos, éramos diferentes de todo mundo. Eu sempre conversei com muita gente, então sempre trocava uma ideia com um pessoal que era pichador, aí eles só ouviam rap nacional, Gog, Racionais, Cirurgia Moral, Alibi, porra, muita coisa. Eles me mostravam mais as paradas nacionais. Nunca fui de me fechar a ouvir as paradas, saca? Mas como eu andava de skate o dia inteiro eu ouvia mais raps gringos.
Você nasceu e foi criado em São Paulo?
Sim, em Taipas, um bairro entre a zona oeste e a zona norte de São Paulo. Bairro pobre mesmo, eu moro na periferia, aqui do lado mesmo tem um morro gigante que vai até o céu, favela mesmo. Aqui em Taipas não tem um lugar especifico de casas de pessoas que têm grana. A grande maioria mesmo é pobre, trabalhador mesmo.
Sua infância foi difícil?
Sim, foi. Eu não posso reclamar, não tive algumas coisas, mas minha mãe e meu pai sempre trabalharam, saca? Eu fui criado minha infância inteira pela minha avó Conceição. Eles sempre me quiseram muito bem, davam para nós, eu e meu irmao, o bom e o melhor que podiam. Agradeço muito a eles.
Então você não foi aquele moleque a princípio atraído pelo discurso social do rap nacional dos anos 90, né?
Cara, digamos que fui atraído, sim, porque, independente de tudo, periferia é periferia. Você passa perrengue independente do local, mas digamos que fui mais atraído pelo skate. Ele era o amigo de todas as horas, então meio que direcionava a minha atenção 100% a ele.
E como foi essa passagem de fã para alguem que está dentro do rap?
Putz, muito louca. Porque eu andava de skate em frente à escola em que eu estudava. Aí uns amigos começaram a conversar e falar que queriam fazer um grupo. Vários grupos foram criados. Eu e um amigo chamado Skok começamos a trocar ideia. "Sempre ouvimos rap, por que não cantamos também?". Imagina um moleque que não sabe rimar, ruim pra porra. Era eu (risos).
Você começou rimando e não produzindo?
Eu comecei rimando. A parada de produção veio quando, um dia, conversando com o meu primo, DJ Daniel, falei pra ele que tínhamos que ter nossas próprias batidas. Ele tinha um mixer Gemini que sampleava 5 segundos, se não me engano. Ele fazia uns loops em fitas para nós rimarmos em cima.
Antes disso vocês usavam batidas gringas?
Sim, cansamos de juntar as moedas pra comprar discos. Compramos um monte de discos instrumentais.
E foi com o seu primo e nessa história de fazer loop em fita que você começou a se interessar por produção?
Sim, conversando com uns amigos e conhecidos e perguntando como era a parada de produzir. Um dia vi umas paradas no site Bocada forte, logo no começo, onde o bate papo bombava de pessoas, pois era o unico site de Hip Hop no país. O Vulgo disponibilizou dois links, um do Fruity Loops e outro do Sound Forge. Aí baixei e comecei a fuçar, só saía beat ruim, não sabia contar tempo, nem sabia o que era um bumbo e uma caixa (risos).
Tem um fato legal, porque quando eu comecei, eu baixei a versão demo, então não podia salvar meus beats. Nisso, eu ja converssando com o Kamau e tal - ele inclusive produziu a primeira faixa do meu grupo na época, chamado Ajunção. Aí, eu conheci o Munhoz quando fomos gravar este som, também conheci o Zorack. Foi ele que me arrumou os programas e fez minha vida mudar (risos). Ele tem uma parcela de culpa muito foda nisso tudo, porque ele colou aqui em casa, instalou o programa no computador e me deu umas dicas que me fizeram entrar nos eixos.
Você sempre teve contato com esse pessoal da nova escola do rap brasileiro?
Sim, eu sou dessa geração. Na real, eu comecei a fazer rap antes de conhecer eles. Havia várias pessoas fazendo rap simultaneamente, da mesma geração, sem se conhecer. Eu conhecia o pessoal da Rhima Rara através do estudio do Munhoz. Eles já tinham a banca há muito tempo, eu não cheguei a participar de nada que eles fizeram juntos.
Nessa época você já tava no seu segundo grupo então, o Ajunção, é isso?
Isso. Era o segundo grupo, mas com quase as mesmas pessoas. Tipo, no Delito era eu, o Skok, o Lopam, o Geg, o Trinca e o DJ Daniel. Aí eu sai do Delito, e depois de um tempo, quando só estavam tocando juntos o DJ Daniel, o Skok e o Lopam, nós começamos a fazer coisas juntos. No começo, Ajunção era uma banca, eu e o Rick (emcee do Simples), Skok e Lopam( do Delito), Gringo e DJ Zinco. Depois, o Ajunção virou eu e o Skok. Entrou o Maze, e aí virou um grupo.
E depois disso, qual foi seu próximo passo?
Nessa época eu estava produzindo um CD inteiro para uns amigos, chamado "Familia Pingaiada". Produzi o disco inteiro tambem, mas os caras meio que tinham pensamentos diferentes, e o álbum acabou não saindo. Isso em 2003, 2004. Em 2005, eu tive a ideia de fazer um solo. Peguei os emcees que andavam comigo e gravei os sons todos aqui em casa. Assim saiu o "Meu Time é Preparado".
E como foi lançar um álbum de produtor numa época em que isso não tava muito em voga, ainda mais aqui no Brasil, onde as dificuldades para se lançar um disco são ainda maiores? As maiores dificuldades mesmo eram pra colocar o disco na rua, porque a grana sempre foi curta, tive a ajuda de todos os emcees que cantavam no disco e uma ajuda principal do DJ Fzero.
Fala um pouco sobre o Battle Beats. Como você se envolveu na organização?
O Dhennys teve a ideia de criar o Battle Beats Brasil. Ele me chamou pra participar da segunda edição, aí ajudei a organizar e arrumar alguns prêmios para a galera que ganhasse. Depois disso, ele me chamou pra fazer todas com ele, já como organizador mesmo.
Como é a experiência de organizar um evento inédito no Brasil? No que isso somou na sua experiencia dentro do hip hop?
Essa ideia é foda, é algo que eu sempre pensei em fazer, mas nunca tive como. Esse projeto é para mim a parada na qual eu mais me dedico atualmente. O Battle Beats me fez ver as coisas de outra maneira, é a melhor coisa que já me aconteceu.
Por que?
É algo com o qual eu acabei criando uma grande afinidade. Quero fazer disso tipo um campeonato brasileiro, saca? Fazer Battle Beats pelo Brasil inteiro, fazer uma edição todo ano. Tipo uma Liga dos MCs. A Battle Beats é algo para festejar e mostrar que em cada Estado existem varias pessoas que fazem beats, que vivem essa parada. O conceito é mostrar para o Brasil que essa parada cada dia cresce mais e mais.
Falando sobre produção, com que frequência você garimpa discos?
Sempre que posso, cara. Ser pobre é foda, ainda mais em São Paulo. Voce tem que trabalhar muito pra ter suas paradas. Eu saio às 6h de casa e chego às 21h. Fica meio difícil. Sou webdesigner de uma loja de surf online.
Viver de rap ainda é um sonho distante?
Na moral, eu tenho que me jogar, tipo o emicida. Dar 100% de mim. Aí eu vou ter 100% do rap.
E por que você não faz isso?
Pô, cara, às vezes me sinto meio inseguro, saca?
E como é o teu processo de produção? Você sampleia mais do que toca? Qual gênero você gosta mais de samplear?
Mano, a parada é que eu nao sei tocar nenhum instrumento, saca? Eu só sampleio, e eu não tenho preferência de gênero. Sampleio tudo, de 1950 a 2009.
E gêneros brasileiros, você procura dar uma atenção especial, ou não liga pra isso?
Mano, sempre que vou no sebo eu compro disco brasileiro. Só aqui em casa acho que tenho uns 400 discos brasileiros, mas não fico fissurado em só produzir parada com sample brasileiro.
Quantos discos você tem na sua coleção?
Tenho quase mil.
Algum destes discos é mais especial pra você? Por qual razão?
Sim, tem um que consegui fazer um beat muito foda, é do Toquinho, ele é meu xodó. Tem outro, que eu fiz um dos melhores beats da minha vida, "Espaço Vazio", da Dione York.
De todo o processo de produção, do que você gosta mais? Do garimpo, da seleção dos samples, dos cortes, da hora de sequenciar?
Eu gosto quando eu coloco o vinil pra tocar e ouço uma parada foda, na qual eu vejo um rap fudido. Fico louco, ouço o sample umas 30 vezes antes de samplear.
Para finalizar, quais são seus próximos projetos?
Mano, tô fazendo um disco do Zero MC, do grupo Obscuro, que saiu no meu primeiro disco. E tô fazendo meu álbum novo, nos mesmos moldes do primeiro: vou produzir e chamar um pessoal pra rimar.
E o Battle Beats?
Estou quase fechando com uma casa para realizar o evento. Mas esse ano ainda vai ter pelo menos mais duas edições. e mais a grande final, com o primeiro e o segundo colocado de cada edição anterior. Mas ainda não tenho previsão de quando vai acontecer.
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