quinta-feira, 2 de julho de 2009

Por que olhar sempre para trás?

De uns anos para cá, um fenômeno interessante tem cada vez mais chamado a minha atenção dentro do rap: o fato de muitos grupos novatos surgirem com a proposta de trazer de volta o som da chamada golden age do gênero, situada entre o fim dos anos 80 e o começo dos anos 90. É um tal de "estamos trazendo de volta o bom e velho rap", "vamos mostrar o que é o real hip hop", que, se no começo eu achava uma iniciativa válida, hoje vejo mais como algo a ser tratado com mais cuidado e menos euforia.

O rap é um gênero que entra na sua maturidade agora, com quase 25 anos de história, e teve um grande impacto no início justamente por causa de seu jeito inovador de produção: sem instrumentos, utilizando trechos de canções antigas para confeccionar os instrumentais; um canto falado, lépido, em vez de melodias interpretadas. Imaginem o impacto que essa revolução teve nos ouvidos virgens da sociedade americana. O Hip Hop, vindo dos guetos de Nova Iorque, ficou tão grande que acabou indo para a parte branca do país, simplesmente tirando a virgindade dos pobres e alvos tímpanos com seu estilo hardcore.

E eis que duas décadas depois, o rap já se encontra estagnado a ponto de as novas cabeças, aqueles que deveriam trazer soluções para a música, precisarem voltar ao início para destoar no meio da multidão. Se repararmos, são os grupos que levantam a bandeira das raízes os mais elogiados pela crítica e pelo público. Claro, muito bom isso, eu também darei atenção especial se um produtor dizer que sua grande inspiração é um DJ Premier ou Pete Rock da vida, mas a questão toda é: continuaremos sempre neste ciclo? Será que não precisamos que uma boa alma chegue e quebre esta roda para iniciar uma nova?

Pode-se colocar na discussão a questão do mainstream estar extremamente pobre, das gravadoras estarem apostando apenas naqueles modelos que parecem fabricados na medida para gerar dinheiro - uma consequência da difusão do mp3, talvez?. Assim, os novatos ficam numa encruzilhada: inovam, não são entendidos de primeira e tachados como vendidos, ou agradam aos fãs e à crítica, mas continuam no underground.

O curioso é que aqui no Brasil os novos grupos fazem um caminho meio contrário. Na verdade, procuram se distanciar da estética da velha escola gangsta instituída em terras tupiniquins. Os temas são bem diferentes, a produção ficou mais diversificada, mas ainda há forte influência da velha escola...gringa. E olha que o Brasil tem um terreno bastante fértil, uma diversidade musical que ainda não foi totalmente explorada pelos beatmakers em suas batidas. Quantos raps nacionais atualmente você ouviu com um sample de baião, chorinho, forró etc? Já pensou se o Brasil é um dos grandes celeiros ainda não descobertos para a renovação do rap?

Alguns caras já entenderam isso e procuram novas fontes de sample para fugir dos já desgastados discos de jazz, funk e soul. Madlib foi à Índia samplear trilhas sonoras de Bollywood e voltou com uma coleção de beats de encher os olhos. Volta e meia um produtor norte-americano aparece sampleando um músico brasileiro. Aqui, os trabalhos de Marcelo D2 e Rappin Hood com o samba são elogiáveis. Mais recentemente, o grupo baiano Versu2 deu mais um passo ao usar excertos de axé no seu single.

Enfim, quando eu falo sobre inovar no rap, procurar trazer coisas novas para o gênero, não digo necessariamente em renovar a maneira de se fazer música, e sim buscar novos ingredientes para a fórmula. Particularmente, eu admiro bastante a arte de samplear, acho algo único, não encontrado nos outros gêneros, e acredito que isso deve ser valorizado. Pois bem, que as novas cabeças do rap busquem formas novas de samplear, novas fontes. Que, sobretudo, olhem para trás apenas como inspiração, não como fórmula para projetar o futuro deste jovem gênero.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei de tu ter falado disso por aqui, cara.
Os Estados Unidos são uma potência cultural, inclusive musicalmente. E muitas pessoas dizem "Foda-se o Tio Sam" e todas aquelas bobagens anti-yankee, mas fazem rap e sampleam jazz, soul, blues, etc. Tudo bem que as coisas são realmente muito boas e bem feitas, o que não quer dizer que o restante não é. Uma das coisas que o Brasil pode se orgulhar é de ter música boa. Eu me sinto bem quando eu ouço Z'África Brasil; os caras metem uns sons de berimbau, acordeão, uns batuques raíz, e mesmo assim continuam fazendo o rap; e são altamente aclamados na Europa.
Não precisamos só de coisas de fora, dá pra intercalar tudo e fazer muito mais coisa inovadora, com certeza.

Anônimo disse...

Felipe, salve !

é engraçado esses dias tava falando com um amigo, e a gente chegou numa conclusão um pouco diferente disso, tem muita gente falando que vem com uma proposta diferente que veio inovar, revolucionar o rap, e muitas vezes nao tem nada demais...

na real, talvez por ter vivido muito isso, acho super importante tem o balanceamento de tudo, e dar o devido valor ao rap em todos os seus vamos dizer sub generos...

hj em dia parece q falar em hardcore rap ou boom bap, para a 'meca' do rap por aqui é questao de ser ultrapassado ou algo assim, mas o povo faz questao de se limitar a uma parada meio jazz...

ao mesmo tempo que to buscando as paradas novas de detroit, mantenho fiel ao que mantem a raiz, como caras como o torae, skyzoo e outros...

acho que limitar ou desvincular um termo que nasceu e faz parte da cena é o que se deve fazer...

claro alguns tem preferencia por um ou outro... mas sei la, boom bap pra mim e a essencia de tudo...

abs...

fzero

simbol disse...

Issa faz parte do amadurecimento da música, veja o rock, não aparecem bandas boas a decadas, o Rap chegou nesse momento, não do maestrin (nem sei escrever) mas do pop-rap-pra-vender, hoje é dificil pq o tema tá saturado e algumas coisas novas soam bem idiotas, principamente por aqui tu escreve bem e sabe como nossa lingua é dificil pra compor nem se fala, nesse meu comentario mesmo deve estar cheio de erros. :P

O Rap chegou ao Pop e agora é esperar pra ver essa parada de "os verdadeiros" e blá, blá, blá...

Não gosto de D2, mas o cara sabe o que faz e o faz bem, os beats dele são únicos infelizmente o Happin não chega a todos lugares, mas tá sempre na correria.

Salve!