Ano: 2010
Gravadora: Traffic
Produtores: J. Glaze (faixas 1, 10 e 15), Alchemist (2), Moss (3 e 19), Dtox (4), Inspectah Deck (5, 7, 8 e 12), Lee Bannon (6), Mental Instruments (9), Khino (11), Mike Cash (13), Flip (14), Shorty 140 (16), K. Slack (17), Cee The Architech (18) e Agallah (20).
Participações: Cormega (faixa 3), Ms. Whitney (5), MeShel (7), Raekwon (9), AC (9), Carlton Fisk (12), Fes Taylor (12 e 18), Termanology (13), Planet Asia (13), Kurupt (16), Billy Danze (16), Cappadonna (18) e Pleasant (20).
Inspectah Deck é um injustiçado. O cara faz parte do melhor grupo de rap de todos os tempos - o Wu-Tang Clan - e é responsável por alguns dos versos mais impressionantes da discografia do grupo. Assim, sempre foi considerado um dos mais expressivos emcees da banca. Entretanto, o Rebel INS nunca teve a exposição à mídia que alguns de seus amigos - RZA, Raekwon, Method Man e Ghostface Killah, principalmente - conseguiram. A fama de Deck foi outra: ele tornou-se conhecido por se destacar sempre nas participações que fazia pelo mundo do rap afora e, claro, ser o responsável pelo primeiro verso nas posse-cuts do Clan - "Triumph" é o exemplo mais conhecido.
Além disso, Deck é um dos membros do Clan que não foram abençoados com um disco inteiro produzido por RZA no auge do grupo. GZA, Meth, Rae e Ghost tiveram - e todos foram clássicos. Imaginar como seria um álbum de INS naquela época é algo não raro entre os fãs do Wu e é de se supor que o fato faria, certamente, justiça a este emcee. Coincidência ou não, a discografia solo de Inspectah Deck é bem mediana, nunca correspondendo às expectativas criadas. E é isso que acontece com seu mais novo projeto, "The Manifesto".
Aliás, "The Manifesto" é a melhor representação dos problemas da carreira solo de Deck. Liricamente, ele continua em ótima forma, com um flow ainda mais afiado e os versos extremamente técnicos, assim como há 15 anos atrá. O problema está nos ouvidos de INS: os beats, alguns produzidos pelo próprio rapper, de forma alguma chegam perto da excelência lírica do emcee. As ofertas vão desde backgrounds insossos que ao menos dão espaço para a performance do rapper até estruturas formulaicas constrangedoras. E a crítica aqui não vai apenas para as batidas em si. Algumas faixas, encaradas como canções num todo, deixam bastante a desejar.
Obviamente, não se pode descartar completamente um artista como Inspectah Deck. E o começo é até promissor: sua levada acelerada em "Tombstone Intro" empolga rapidamente qualquer ouvinte e faz as expectativas subirem; o primeiro single, "The Champion", chega em seguida e mantém a dignidade, com uma batida simples, mas efetiva, cortesia de Alchemist, no ponto para o Rebel destilar sua habilidade. A partir daí, porém, o álbum cede a faixas genéricas e sem imaginação, embora Deck se esforce sinceramente para fazer valer sua qualidade.
Os outros bons momentos são esporádicos, mas dignos de nota. "9th Chamber 2" é uma continuação da faixa de mesmo nome de "Uncontrolled Substance", o primeiro disco do rapper, e, como toda música do Wu com "chamber" no título, mantém a tradição de batidão pesado, e ainda ganha de bônus Deck experimentando novamente com o flow, num estilo chamada-e-resposta. "Do What U Gotta", por outro lado, apela para um clima mais tranquilo, com um beat mais orgânico, para Inspectah dar alguns conselhos para a juventude, do alto de sua experiência. Por fim, "Crazy" carrega a distinção de ter a melhor batida do álbum, com um sample vocal suave dialogando com o conceito da faixa: primeiro, um storytelling de Deck sobre um moleque da favela que vê no crime a solução dos problemas; depois, uma coletânea de pensamentos que culmina na ótima, porém atrasada, tirada: "Eu vou votar no Obama, só espero que eles não o assassinem / estou irritando o governo, eles estão irritados com o fato de que o próximo presidente será ou um negro ou uma mulher".
Como as rimas acima mostram, Inspectah Deck continua afiado por todo o álbum. O grande problema realmente é o acompanhamento dos beats. E nem é preciso bater na tecla chata de que era necessário que RZA produzisse o disco. A questão não é essa - até porque o Abbott não está na sua melhor fase -, mas fica claro que o que Deck precisa fazer para lançar um bom álbum é grudar num bom beatmaker - e bons produtores brotam dos EUA como jogadores de futebol brotam do Brasil - e se trancafiar no estúdio com o escolhido. Ao menos daria ao projeto um senso de coesão e consistência, diferente do clima meio mixtape - no mau sentido - que "The Manifesto" sugere. É curioso também notar que Deck meio que abdicou do Wu no disco, algo que ele mesmo destacou em entrevistas; em vez da aparição maciça dos companheiros de grupo, apenas Raekwon e Cappadonna dão as caras, enquanto nenhum produtor contribui para o álbum. Seria uma tentativa ligeiramente vingativa de mostrar que não precisa mais da banca?
Quem acompanha o Boom Bap há algum tempo já deve ter percebido que eu geralmente só escrevo sobre discos que me agradem - nem todos os discos que eu gosto estão aqui, mas certamente todos que não gosto NÃO estão aqui -, mas achei interessante falar sobre "The Manifesto" para ilustrar a situação peculiar de Deck. Um dos grandes rappers da história simplesmente não consegue lançar um álbum do seu nível. Curioso como, tirando algumas raras exceções, os beats são cortesia de produtores completamente desconhecidos. Será que o orçamento para o álbum era tão baixo que não podia comportar beatmakers de mais qualidade ou nenhum deles quer trabalhar com Inspectah? E RZA, ele não foi procurado pelo amigo - que já disse numa entrevista não ter gostado da direção que "8 Diagrams" tomou - ou novamente deu as costas? Questões difíceis de serem respondidas no mundo do Wu.
Esperemos, portanto, por "Wu-Massacre", ou mesmo por "The Rebellion", o decantado último álbum de Deck, que supostamente será produzido por RZA. Enquanto isso, o Rebel INS vai entrar para a História não só como um dos melhores emcees do rap mundial, mas também como um dos mais injustiçados, um daqueles de comprovada capacidade que nunca conseguiu traduzir suas qualidades para um álbum solo.
Inspectah Deck - The Manifesto
1. Tombstone Intro
2. The Champion
3. Born Survivor
4. This Is It
5. Luv Letter
6. P.S.A
7. T.R.U.E
8. We Get Down
9. The Big Game
10. Tombstone Interlude
11. 9th Chamber 2
12. Really Real
13. Serious Rappin
14. Do What U Gotta
15. Crazy
16. Gotta Bang
17. The Bad Apple
18. Brothaz Respect
19. 5 Star G
20. The Neverending Story
Gravadora: Traffic
Produtores: J. Glaze (faixas 1, 10 e 15), Alchemist (2), Moss (3 e 19), Dtox (4), Inspectah Deck (5, 7, 8 e 12), Lee Bannon (6), Mental Instruments (9), Khino (11), Mike Cash (13), Flip (14), Shorty 140 (16), K. Slack (17), Cee The Architech (18) e Agallah (20).
Participações: Cormega (faixa 3), Ms. Whitney (5), MeShel (7), Raekwon (9), AC (9), Carlton Fisk (12), Fes Taylor (12 e 18), Termanology (13), Planet Asia (13), Kurupt (16), Billy Danze (16), Cappadonna (18) e Pleasant (20).
Inspectah Deck é um injustiçado. O cara faz parte do melhor grupo de rap de todos os tempos - o Wu-Tang Clan - e é responsável por alguns dos versos mais impressionantes da discografia do grupo. Assim, sempre foi considerado um dos mais expressivos emcees da banca. Entretanto, o Rebel INS nunca teve a exposição à mídia que alguns de seus amigos - RZA, Raekwon, Method Man e Ghostface Killah, principalmente - conseguiram. A fama de Deck foi outra: ele tornou-se conhecido por se destacar sempre nas participações que fazia pelo mundo do rap afora e, claro, ser o responsável pelo primeiro verso nas posse-cuts do Clan - "Triumph" é o exemplo mais conhecido.
Além disso, Deck é um dos membros do Clan que não foram abençoados com um disco inteiro produzido por RZA no auge do grupo. GZA, Meth, Rae e Ghost tiveram - e todos foram clássicos. Imaginar como seria um álbum de INS naquela época é algo não raro entre os fãs do Wu e é de se supor que o fato faria, certamente, justiça a este emcee. Coincidência ou não, a discografia solo de Inspectah Deck é bem mediana, nunca correspondendo às expectativas criadas. E é isso que acontece com seu mais novo projeto, "The Manifesto".
Aliás, "The Manifesto" é a melhor representação dos problemas da carreira solo de Deck. Liricamente, ele continua em ótima forma, com um flow ainda mais afiado e os versos extremamente técnicos, assim como há 15 anos atrá. O problema está nos ouvidos de INS: os beats, alguns produzidos pelo próprio rapper, de forma alguma chegam perto da excelência lírica do emcee. As ofertas vão desde backgrounds insossos que ao menos dão espaço para a performance do rapper até estruturas formulaicas constrangedoras. E a crítica aqui não vai apenas para as batidas em si. Algumas faixas, encaradas como canções num todo, deixam bastante a desejar.
Obviamente, não se pode descartar completamente um artista como Inspectah Deck. E o começo é até promissor: sua levada acelerada em "Tombstone Intro" empolga rapidamente qualquer ouvinte e faz as expectativas subirem; o primeiro single, "The Champion", chega em seguida e mantém a dignidade, com uma batida simples, mas efetiva, cortesia de Alchemist, no ponto para o Rebel destilar sua habilidade. A partir daí, porém, o álbum cede a faixas genéricas e sem imaginação, embora Deck se esforce sinceramente para fazer valer sua qualidade.
Os outros bons momentos são esporádicos, mas dignos de nota. "9th Chamber 2" é uma continuação da faixa de mesmo nome de "Uncontrolled Substance", o primeiro disco do rapper, e, como toda música do Wu com "chamber" no título, mantém a tradição de batidão pesado, e ainda ganha de bônus Deck experimentando novamente com o flow, num estilo chamada-e-resposta. "Do What U Gotta", por outro lado, apela para um clima mais tranquilo, com um beat mais orgânico, para Inspectah dar alguns conselhos para a juventude, do alto de sua experiência. Por fim, "Crazy" carrega a distinção de ter a melhor batida do álbum, com um sample vocal suave dialogando com o conceito da faixa: primeiro, um storytelling de Deck sobre um moleque da favela que vê no crime a solução dos problemas; depois, uma coletânea de pensamentos que culmina na ótima, porém atrasada, tirada: "Eu vou votar no Obama, só espero que eles não o assassinem / estou irritando o governo, eles estão irritados com o fato de que o próximo presidente será ou um negro ou uma mulher".
Como as rimas acima mostram, Inspectah Deck continua afiado por todo o álbum. O grande problema realmente é o acompanhamento dos beats. E nem é preciso bater na tecla chata de que era necessário que RZA produzisse o disco. A questão não é essa - até porque o Abbott não está na sua melhor fase -, mas fica claro que o que Deck precisa fazer para lançar um bom álbum é grudar num bom beatmaker - e bons produtores brotam dos EUA como jogadores de futebol brotam do Brasil - e se trancafiar no estúdio com o escolhido. Ao menos daria ao projeto um senso de coesão e consistência, diferente do clima meio mixtape - no mau sentido - que "The Manifesto" sugere. É curioso também notar que Deck meio que abdicou do Wu no disco, algo que ele mesmo destacou em entrevistas; em vez da aparição maciça dos companheiros de grupo, apenas Raekwon e Cappadonna dão as caras, enquanto nenhum produtor contribui para o álbum. Seria uma tentativa ligeiramente vingativa de mostrar que não precisa mais da banca?
Quem acompanha o Boom Bap há algum tempo já deve ter percebido que eu geralmente só escrevo sobre discos que me agradem - nem todos os discos que eu gosto estão aqui, mas certamente todos que não gosto NÃO estão aqui -, mas achei interessante falar sobre "The Manifesto" para ilustrar a situação peculiar de Deck. Um dos grandes rappers da história simplesmente não consegue lançar um álbum do seu nível. Curioso como, tirando algumas raras exceções, os beats são cortesia de produtores completamente desconhecidos. Será que o orçamento para o álbum era tão baixo que não podia comportar beatmakers de mais qualidade ou nenhum deles quer trabalhar com Inspectah? E RZA, ele não foi procurado pelo amigo - que já disse numa entrevista não ter gostado da direção que "8 Diagrams" tomou - ou novamente deu as costas? Questões difíceis de serem respondidas no mundo do Wu.
Esperemos, portanto, por "Wu-Massacre", ou mesmo por "The Rebellion", o decantado último álbum de Deck, que supostamente será produzido por RZA. Enquanto isso, o Rebel INS vai entrar para a História não só como um dos melhores emcees do rap mundial, mas também como um dos mais injustiçados, um daqueles de comprovada capacidade que nunca conseguiu traduzir suas qualidades para um álbum solo.
Inspectah Deck - The Manifesto
1. Tombstone Intro
2. The Champion
3. Born Survivor
4. This Is It
5. Luv Letter
6. P.S.A
7. T.R.U.E
8. We Get Down
9. The Big Game
10. Tombstone Interlude
11. 9th Chamber 2
12. Really Real
13. Serious Rappin
14. Do What U Gotta
15. Crazy
16. Gotta Bang
17. The Bad Apple
18. Brothaz Respect
19. 5 Star G
20. The Neverending Story
8 comentários:
concordo com tudo, beats fracos, em alguns sons ele com o melhor flow do Wu pra mim, consegue superar isso, mas o album deixou a desejar
concordo com tudo tbm hahaha
pra mim inspectah e gza os melhores liricamente.. porem, falta algo para ambos q ghost rae meth odb tem... me passam a impressao de ter vergonha qndo estão no palco..
imagina o disco do ins com o premier...
e rza deve ter ficado de cara com alguns membros por tudo q rolo no 8 diagrams..
abraços e continue com resenhas do melhor grupo de rap do eua! abraços e parabéns
realmente, os beats do "manifesto" são ruins. Cara, não sei o q acontece. Depois de todo esse declínio do Wu, grande parte tb pelos beats experimentais do Rza,q deixavam a sonoridade longe das ruas, finalmente o wu ressurge sujo como antigamente,e o deck não podia dar um vacilo desses. Aposto q foi isso msm, queria mostrar q não precisa d ninguém, pois qual é o beatmaker q não gostaria d trabalhar com o Rebel Ins?
Inspecktah precisa colar mais com o ghost, meth e chief. O masacre tá prometendo. Vlw o post mais uma vez Felipe, Forte abraço, Guerreiro!
obs.: Outro album q tô no aguardo é o do David Banner com o 9th Wonder:"Death of a Popstar", vai ser foda! Vlw!
gostei do album nao achei tão mediando assim..sinceramente falando o flow do insp é o que há de mais complexo dentro do rap americano atualmente o cara é um monstro,timing perfeito,letras cruas e diretas e uma ótima voz. Em todo caso é catar e tirar sua propria conclusao .Mas realmente quando ele acertar a mao em todos os termos teremos um classico absoluto e instantaneo. longa vida BP!
DJ Julio, talvez o orçamento do Deck tenha sido muito limitado, pelo fato de ele estar lançando pela própria gravadora. É uma hipótese, embora não ache muito provável.
Thew, a atuação do INS é muito boa, mas os beats deixam muito a desejar, e comprometem tudo. Para mim, ele é um cara que tem um potencial enorme e todas as condições de fazer um clássico. Só precisa achar as batidas certas pra isso.
Lucas, vem aí um mini especial sobre o Wu. Aguarde!
^´e engraçado você escuta tipo um som de caras da familia wu-fam como the absouljah e outros que não sao desconhecidos, na real sao afiliados ao wu-tang, nao chegam a ser da familia mas escuta o beat desses caras, alguns mais caseiros, outros mais poderosos mas que te fazem lembrar de como era o wu-tang a um tempo atraz
wu-tang mudou um pouco do estilo das batidas enquanto os afiliados e os wu-fam mantem aquele estilo unico nas batidas.
bem, inspectah deck, u-god, masta killa, são os unicos que não se destacam no clan e eu fico de cara com isso, tipo, o beat dos albuns de masta e u-god sao chatos de ouvir deixando a rima deles chata tambem.
mas os cara que mais se destaca no clan são methodman e rza, que fazem filmes e tal, ghostface e raekwon estao logo atraz sem duvida.
queria entender porque u-god, masta e ins não procuram trabalham com nomes como Khrysis, symbolic one, Illmind, braille, 9th wonder que fazem beats de peso. eu curto muito o beat desses manos ae. o que voces pensam?
porque wu não trampa com esses caras?
vi num site uns caras comentando sobre the manifesto ser o ultimo album de ins que ele iria se aposentar e tal.
procurei em outros lugares pra saber se era real mas nao achei..
Ele já devia chamar o premier ou o Dre.
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