quinta-feira, 30 de abril de 2009

Tradução: Buckshot & KRS-One - Robot

E a anunciada parceria entre dois ícones do rap nova-iorquino deu seu primeiro fruto. Buckshot, conhecido por seu trabalho nos grupos Black Moon e Boot Camp Clik, e KRS-One, uma das lendas vivas do rap, uniram forças para lançar Survival Skills, álbum colaborativo que está previsto para sair no dia 25 de agosto. "Robot" é o primeiro single, foi produzido pelo Havoc, do Mobb Deep, e fala basicamente sobre o estado atual do hip hop, algo recorrente nos últimos trabalhos dos dois emcees. A mensagem é simples: os rappers atuais produzem sua arte como se fossem robôs, soam iguais e perderam a originalidade. Se isso é uma generalização injusta ou não, vocês podem opinar depois de lerem a letra traduzida:

Buckshot & KRS-One
Survival Skills
Robot - Robô

[Refrão : Buckshot]
Todo mundo quer rimar, todo mundo quer cantar
todo mundo faz suas coisas como a porra de um robô
mas quando o show para, o que você sabe?
como lidar com isso?

[ Buckshot ]
Parece que você não pode cantar um rap nestes dias
sem auto-tune por trás nestes dias
bom, foda-se, eu tenho algo a dizer
com baseados marrons, erva verde e a fumaça é cinza
veja, o melhor a fazer isso foi Roger Troutman
não, o pequeno T-Pain nem tinha nascido ainda
eu tinha cerca de 10 anos
tinha um Adidas listrado, naquele tempo surgiram
todos os tipos de líderes
agora, eu fico tipo "merda, eles soam iguais"
a voz de Buck é original, ele criou reinados
Dr. J Barry White, whooa!
ou Barry Manilow, o flow é tipo Dang, ele é foda
Então...
mantenha aquele flow original
aquele do Bucktown, da Duck Down
aquela merda que você conhece e eu não mudo nada
em 2000 ou bem agora, quando eu rimo eles sabem

[ Refrão ]

[ KRS-One ]
Isto não é uma diss para a arte de ninguém
porque Afrika Bambaataa realmente foi o pioneiro
você pode voltar na história do rap, cara
e verá músicas clássicas como Planet Rock e Pack Jam
entra na internet
procure por Kraftwerk
tudo que nós estavamos fazendo já foi feito
nós já usamos aquele boné
aquelas calças e aquela blusa
então faça você, cara, se isso funciona
mas nós estamos aqui para falar sobre as cópias
porque quando se trata de Hip Hop
nós somos os ortodoxos
os caras copiam de forma pobre e vagabunda
naquela seção, pessoas jovens não deveriam estar
costumava haver uma época
quando você estava escrevendo sua rima
você seguia a regra de não imitar ninguém
sem imitar, sem invejar e sem ser falso
nós começamos dançando break
para podermos parar de brigar
seja esclarecido
eu batalho contigo, você batalha comigo
a plateia julga a originalidade
não se trata de salário
trata-se de descrever de forma adequada
a realidade que está me envolvendo

[ Refrão ]

[ Buckshot ]
Eu não posso rimar
(Passe-me o programa)
Eu não consigo cantar
(Passe-me o programa)
É tão triste para mim
Kris, diga mais a eles por que isso é tipo uma fábrica, na verdade

[ KRS-One ]
Hip Hop é a nova faculdade urbana
uma função da anatomia coletiva mental
vocês estão sendo ineficientes
vocês dizem que os verdadeiros são fracos
e que essa merda falsa é que é boa

[KRS-One] (Buckshot)
Bem, continue pensando
(nós vamos apenas continuar fazendo)
músicas como estas
(para manter o local balançando)
Buckshot
(KRS)
Nós somos
o-r-i-g-i-n-a-i-s
originais

[ Refrão ]

Download

Continuem mandando suas batidas para o Concurso Boom Bap de Beats! As inscrições vão até o dia 9 de maio.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Concurso Boom Bap de Beats

Que tal ouvir aquele seu beat feito com tanto amor, carinho e suor sendo usado por um dos emcees mais representativos da nova escola do rap nacional? Pois bem, beatmakers de todo o Brasil, hora de tirar - ou não - a poeira de seus vinis, ir ainda mais fundo no diggin, ligar o Fruity Loops ou a MPC, acender uma vela para são RZA, são Premier, santo Pete Rock ou santo KL Jay e colocar em prática toda a sua habilidade. O Boom Bap, junto com o Ogi, membro do supergrupo underground ContraFluxo, dá início hoje a seu primeiro Concurso de Beats. A idéia é simples: cada participante enviará uma batida, uma comissão julgadora avaliará, e o grande vencedor terá o beat no disco solo de Ogi, "Crônicas da Cidade Cinza", previsto para ser lançado no meio do ano, além de ser entrevistado pelo blog.

As regras são fáceis: basta enviar sua base para o email felipe.schmidtm@bocadaforte.com.br, junto com o nome completo, um email para contato, a cidade onde mora e o programa utilizado - em tempo: a batida precisa ser exclusiva, não pode ter sido já lançada em qualquer outro trabalho. O júri, formado por este humilde blogueiro, o excelentíssimo Ogi e o beatmaker paulistano Diamantee fará uma triagem e escolherá de cinco a dez finalistas. Os instrumentais que chegarem à finalíssima serão postados no blog para apreciação dos digníssimos leitores, que também terão direito a um voto na decisão final. A fórmula é a seguinte: um voto do Diamante, outro meu, um dos visitantes e outro, com peso dois, para o Ogi, afinal de contas o beat vai para o disco dele, né?

Portanto, companheiros gregos, romanos e troianos, caso queiram aproveitar a oportunidade para expor seu trabalho de forma mais ampla - por causa do disco do Ogi, não pelo blog, claro - e começar a ganhar milhões, comprar uma casa em Fernando de Noronha e aparecer no Arquivo Confidencial, do Faustão, a hora é essa. As inscrições estão abertas a partir de hoje e irão, a princípio, até o dia 9 de maio. Em 18 de maio, serão conhecidos os finalistas, e o grande vencedor será anunciado no dia 25 do mesmo mês.

Espero que tenhamos tanto quantidade quanto qualidade nesta primeira tentiva. O sucesso dela pode proporcionar outras edições e, se possível, a revelação de mais talentos para o nosso rap nacional.

Atenção: serão aceitas também inscrições de produtores de fora do Brasil, principalmente de países lusófonos.
Atenção 2: cada participante só poderá mandar um beat.

domingo, 26 de abril de 2009

Suite 702: Single (O Telefone Dela + Vida)


Talvez ainda se recuperando do fim de ano agitado, o rap nacional começa a mostrar seus bons frutos para 2009. A primeira boa nova é o projeto Suíte 702, do DJ Soares, também membro da crew de DJ's Clã Leste e do grupo Primeira Audição, que lançou o primeiro single do disco, que será construído todo em cima do conceito do amor e suas diferentes abordagens. O single conta com duas faixas, com acapella e instrumental, além do making of de uma delas. No disco, o produtor lança mão de uma sonoridade com fortes influências do jazz, puxando bastante para o lado do mellow hip hop, como é conhecido este tipo de rap no Japão. Não por acaso, o lançamento foi feito através de uma gravadora japonesa, a Root70Lounge.

Falando das faixas, a primeira, "O Telefone Dela", com rimas de Théo, é um storytelling leve, meio romântico, no qual o emcee divide a narrativa entre a fatídica noite em que conheceu sua musa inspiradora e o dia seguinte, quando ele, ainda inebriado pela beleza da moça, não consegue lembrar o telefone da dita cuja. Vale ressaltar a boa idéia de, em vez de refrão, colocar trechos da voz da mulher, como se estivéssemos na mente de Théo, vasculhando os arquivos mentais para lembrar o momento em que ela passa o bendito número. Melhor do que a história, porém, é o instrumental caprichadíssimo, com um "riff" de trompete pontual, junto com um um piano discreto, que dá o clima meio reminiscente da faixa e fará a alegria de qualquer fã de jazz-rap - quem gostou do disco do francês Dela já tem um parâmetro do tipo de som feito.



"Vida", com a cantora francesa Mo'Dyé, é fruto de uma passagem da moça pelo Brasil e de contatos via internet. O clima jazzy continua firme e forte na faixa, mas as rimas dão espaço à voz suave, mas ainda assim decidida, de Dyé, que aproveita o beat "atmosférico" para passar suas impressões sobre a vida, e às vezes até falar diretamente com a própria. "Vida" é outra produção muito bem feita, com forte instrumentação, mas dando espaço para cada elemento. Aliás, isso é algo que a própria cantora fala, no making of da música: "Ele não só te convida para o mundo dele, mas ele te dá espaço. Você pode sentar-se, deitar-se, você pode fazer o que quiser, e o mais importante: de forma livre". Que todos sejam convidados para este mundo o mais rápido possível.

PS: Atenção especial para a belíssima capa do projeto, das melhores já vistas por aqui recentemente. Legal também a preocupação em contextualizar, não só com o tema do disco, mas também com o nome do projeto, sem ser de forma vulgar.

Suíte 702
A1. O Telefone Dela (part. Théo)
A2. O Telefone Dela (instrumental)
A3. O Telefone Dela (acapella)
B1. Vida (feat. Mo'Dyé)
B2. Vida (instrumental)

Download

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Diamond District: In The Ruff

Washington parece sofrer de uma espécie de maldição: é a capital dos EUA, mas não tem a importância de Nova Iorque. No rap, é a mesma coisa: o endereço da Casa Branca perde de goleada para várias outras cidades. Mas isso pode estar mudando. Depois da aparição de Wale e do talentosíssimo produtor Damu the Fudgemunk, agora é a vez do Diamond District, um supergrupo formado pelos emcees/produtores Oddissee e yU, além do rapper XO. O trio resolveu unir forças para criar um álbum que remetesse à golden era do rap norte-americano. "Eu sinto como se Washington não tivesse vivido aquela era, não tivesse produzido nada naquele tempo, então resolvi fazer com que isso acontecesse", explicou Oddisee, em uma entrevista.

De fato, a proposta é clara desde o primeiro bumbo de In The Ruff - aliás, o próprio nome do álbum já dá uma dica. A atmosfera é urgente, as caixas caem cada vez mais pesadas, os três emcees empregam flows agressivos, como se tomassem as rédeas das batidas, e trocam versos da forma mais natural possível sobre os mais variados temas: desde o hino de luta pela sobrevivência em "Streets Won't Let Me Chill" até a respectiva vitória em "In The Ruff", passando pela homenagem à capital em "The District".

Na produção, a estrela de Oddisee brilha. Conhecido por prover alguns dos mais renomados emcees do jogo, ele produziu um disco extremamente sólido, com uma abordagem específica, sem se perder em modos repetitivos. O boom bap nova-iorquino é o mote principal, mas os samples são de grande diversidade, embora acabem diluídos na força das baterias. O curioso é que é difícil ouvir uma faixa e defini-la como jazzy, funky, etc. A grande força motora do álbum é o bumbo e a caixa: os samples são apenas coadjuvantes.

Isso não quer dizer, porém, que eles não roubem a cena às vezes. O naipe de metais de "Streets Won't Let Me Chill" é pontual, econômico, mas dá o tom cinematográfico perfeito para a faixa. A voz sampleada do saudoso Ol Dirty Bastard no refrão de "Who I Be" levará os fãs do Wu-Tang de volta a 1994, junto com o flow que yU toma emprestado do falecido. "The Shining", por sua vez, abandona um pouco a estética minimalista do disco e emprega guitarras, vocais, strings, todos cortados e convocados a bel prazer durante a faixa. No fim do registro, o clima fica menos frenético e surgem pérolas como as melancólicas "Off The Late Night" e "First Time", cheias de samples soul e refrões cantados, que dão uma clima de tranquilidade nesta reta final, contrastando com o início frenético do disco.

Se Washington precisava de um cartão de visitas para entrar de vez na cena norte-americana, então In The Ruff é a apresentação perfeita. Num momento em que o gênero se contorce entre voltar ao passado ou olhar para o futuro, o Diamond District não titubeou: foi em busca do passado pouco prolífico da capital e trouxe para o presente. Embora falte uma faixa com mais força para maximizar o potencial do álbum, este ainda é um dos melhores lançamentos de 2oo9. Rap sem frescuras, com um propósito firme, bem definido e bem executado. Às vezes as melhores coisas da vida são as mais simples, né?

Diamond District - In The Ruff
1. Intro
2. Streets Wont Let Me Chill
3. Who I Be
4. Back To Basics
5. I Mean Business
6. Get In Line
7. In The Ruff
8. The Shining
9. The District
10. Make It Clear
11. Off The Late Night
12. Let Me Explain
13. First Time

Download

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tradução + Vídeo: Invincible - Ropes



Ropes é o terceiro vídeo do aclamado Shapeshifters, o álbum de estreia da emcee Invincible. Nesta música, ela fala sobre depressão e suicídio, algo que ela diz afetar bastante sua comunidade. O curioso é que, no começo do vídeo, ela está em frente à MTV e mostra um documento dizendo que a emissora rejeitou o clipe porque o considerou "problemático" demais, por falar sobre tais temas. Como diz a própria Invincible, eles apenas não querem que falem sobre isso, mas o problema existe.

O interessante, no vídeo, é como a corda é utilizada como metáfora. Se nas letras isto não fica tão evidente, é no audiovisual que ela é mostrada como a forma de prender uma pessoa, de limitar seus movimentos, ou então Invincible disputando um cabo-de-guerra com ela mesma. Há também a referência aos suicídios por enforcamento, com os religiosos correndo atrás da emcee com uma corda. Além disso, há ainda a imagem de artistas circenses equilibrando-se em cordas. Seria uma alusão à luta diária para nos mantermos equilibrados diante das dificuldades? Enfim, existem diversas cenas usando o tema da canção para sugerir algo de maior significado. Vale a pena prestar atenção.

Acredito que a tradução não esteja 100% correta, tive algumas dúvidas durante o processo. Quem puder apontar alguns erros e ajudar, eu agradeceria bastante.

Invincible feat. Tiombe Lockhart
ShapeShifters
Ropes - Cordas

[ Verso I ]
É difícil ter um um brilho de esperança
quando você está contra as cordas
tenta engolir moedas, mas depois das contas e do aluguel você está falido
a vida sempre joga uma armadilha, como Emp na Interscope*
Você sucumbe às consequências para se entorpecer com bebida e cigarros
para diminuir a dor eu durmo o dia inteiro
alivia a ressaca do E & J**
procurando no fim dos túneis uma luz para mostrar o caminho
mas a vergonha está entranhada no meu DNA
porque papai foi uma falha
mamãe estava no lítio***
sempre destinada para algo menor do que o melhor
ninguém para sentir pena deles
ninguém para soltar uma bela jóia
aos sete anos, coloquei uma bolsa de plástico em cima da minha cabeça
tipo, "o que interessa, além de ficar velho e morrer?"
tão inocente, procurando pelos links que faltavam
cercada por carcaças de instrumentos
de sonhos abandonados, endurecidos pelos sentimentos
desafinados e afiados por artistas que os negligenciaram
estou marcada pela minha memória

[Refrão: Tiombe Lockhart]
Coisas tolas
que eu tenho de fazer para sentir a vida
eu percebo
eu bebo e eu fumo
correndo desesperada por uma ponta de esperança
minha corda apertada

[ Verso II ]
Você sabe onde um rabino, um imame**** e um pastor entram juntos
em um bar para discutir o que acontece se o caixão descer
a pessoa lá dentro cometeu suicídio
a família paralisada soluçando
as respostas vêm em mais sabores do que Baskin-Robbins*****
será que Deus irá perdoá-los pelo pecado?
e será que eles vão novamente fazer emendas?
ou foi a última opção do caminho em que eles andavam?
dependendo se eles acreditavam em inferno ou paraíso
ou se existia um desequilíbrio químico no cerebelo deles
ou se a dor era gigantesca, um ódio a si próprio
sentindo-se amaldiçoada pela falha, como os primeiros homens escolhidos
e se o inferno tivesse congelado, e a vida fosse somente seu purgatório?
cheia de ganância, assassinato e guerra
veja, eu sei que você ouviu a história
e se eles esperassem e tivessem fé em reincarnar?
com sorte eles não ficariam presos de novo entre uma rocha e um lugar difícil
correndo numa roda de hamster
nós estamos imaginando qual resposta é a real
e aqueles olhando o céu rezam para alguém acima para
manter seus corações seguros

[Refrão]

[ Verso III ]
Eu ouvi os barris chorando desejando que eles pudessem salvar suas vidas
eu estava me sentindo paralisada, mas não, não tinha medo de morrer
temi não viver tudo o que tinha pra viver, então eu puxei
tudo ou nada
agora alguém quer revelar meu blefe quando
eu tentei reagir
disse a eles que a tentativa de suicídio foi porque eu preferia morrer
do que viver e ficar no banco
para cada vitória existe tipo 50 vezes mais obstáculos
para cada revolução há uma armadilha mortal
e toda vez que eu vejo a polícia atacando com uma arma de eletrochoque
um protestante que já está no chão, meu rosto fica sem reação
e vejo pessoas que não são afetadas dizendo "isso é apenas pela segurança"
dou a volta e digo a mim mesma: "você não é a doida aqui"
para todos os destemidos e entorpecidos, espero que vocês ouçam
o que eu disse está claro
então parem de reprimir as lágrimas
todos nós andamos na linha entre sanidade e insanidade
e esperança e desespero
esperança e desespero

[Tiombe Lockhart]
Eu percebi
eu sou tão grande quanto o sol no céu
sonhos selvagens e negativas suaves
diminua a pureza e relaxe lá fora
eu sonho na neve
eu bebo e fumo
uma ponta de esperança
andando na corda apertada

Observações;
* - a referência aparentemente é sobre a ida de Last Emperor para a Interscope. Emp chegou a assinar, trabalhar com Dr. Dre, mas depois foi dispensado. Alguns dizem que era para o emcee ser o que hoje é Eminem.
**- E & J é uma marca de vinhos e bebidas alcoólicas.
***- Pessoas com problemas mentais são tratadas à base de lítio.
**** - Líder religioso muçulmano.
*****- Baskin-Robbins é uma grande marca de sorvetes dos EUA.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

US3: Stop.Think.Run

Pode um inglês branco de meia-idade fazer rap? Bem, a imagem pode ser pouco comum, mas se estivermos falando de Geoff Wilkinson, a resposta é sim, claro. Este inglês criou o US3 em 1991 e tornou o grupo um dos expoentes do jazz-rap que começava a engatinhar na época. 18 anos e muitas formações depois, eis que o projeto chega a seu sétimo álbum solo, chamado Stop.Think.Run, apostando na continuidade e na renovação. Paradoxal? Um pouco, mas ao ouvir o trabalho entende-se tudo: o jazz-rap continua lá, de primeiríssima qualidade. O sangue novo fica a cargo de dois jovens emcees nova-iorquinos: Sene - sim, ele mesmo, aquele parceiro do Blu - e Brook Yung, jovem já conhecido no meio do spoke word.

Desde os tempos em que remexeu o catálogo da gravadora Blue Note para os primeiros beats da vida do US3, Wilkinson sempre apostou firme no jazz como complemento perfeito para o seu estilo de rap. Neste novo disco, esta combinação retorna com força total, depois de umas aventuras experimentais em outros discos. E, desta vez, a mistura é ainda mais presente e madura. Resumindo a história, dois componentes são predominantes na sonoridade de Stop.Think.Run: as caixas invariavelmente pesadas e o saxofone suingado, ora jazzy, ora funky, passeando pelos instrumentais, providenciando a malemolência necessária para a crueza da bateria.

Obviamente, as batidas do disco não se resumem a isso. Há influências latinas - "I Let'em Know" é um bom exemplo -, pianos jazzísticos, scratches, intervenções eletrônicas, etc. De qualquer forma, é para climão jazz que o álbum sempre retorna, seja na urgência de "Gotta Get Out of Here", na leve "Keep Movin'" ou na contemplativa "From The Streets". Outros destaques ficam por conta das suingada "B-Boys" e "Who Got Next?", carregadas por metais poderosos e dotadas de grande potencial para as pistas.

E, se o sax e a bateria foram o pilar sônico do álbum, os emcees Sene e Brook Yung encarregam-se de dar ritmo a isso. Enquanto o primeiro conta com um estilo mais direto, cru, Yung é mais versátil e, não por acaso, lida com beats mais diversificados durante o registro - é importante notar que ambos só dividem a última faixa. Para fazer uma analogia, é como se as caixas pesadas, marcantes, fossem para o objetivo Sene o que o habilidoso sax é para Yung, que vai desde o bragadoccio de "You Already Know" até o conto de um jovem lutando para se dar bem na vida em "Gotta Get Out of Here", passando por relacionamentos em "The Love of My Life" e versos motivacionais em "Keep Movin'".

Há ainda muito o que falar de Stop.Think.Run. Existem os detalhes em cada batida, a forma como o beat de "Keep Movin'" muda durante a faixa ou o diálogo do futurismo com o título de "The Future Aint What It Once Was", mas cada associação demandaria toneladas de caracteres no blog. O que fica neste álbum é que, apesar de continuar longe dos radares antenados do rap, Geoff Wilkinson e as múltiplas encarnações do US3 continuam na linha de frente do jazz-rap. E, claro, ingleses brancos de meia-idade podem, sim, fazer rap. Rap do bom.

US3 - Stop.Think.Run
01. Gotta get Out Of Here (Ft. Brook Yung)
02. Life Love Music (Ft. Brook Yung)
03. Can I Get It? (Ft. Sene)
04. You Already Know (Ft. Brook Yung)
05. From The Streets (Ft. Sene)
06. Who Got Next? (Ft. Sene)
07. B-Boys (Ft. Sene)
08. The Future Aint What It Once Was (Ft. Sene)
09. Dont Waste Your Life (Ft. Brook Yung)
10. The Love Of My Life (Ft. Brook Yung)
11. Keep Movin’ (Ft. Brook Yung)
12. Turn It Up (Ft. Sene)
13. Got To Make A Livin (Ft. Sene)
14. I Let Em Know (Ft. Brook Yung)

Amigos, infelizmente não achei um link sequer pela internet. A solução é o bom e velho Soulseek ou torrents. Assim que conseguir um link confiável, eu posto aqui.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Big Tone: The Art of Ink

Se você pudesse escolher uma frase para tatuar em seu corpo, provavelmente pensaria bastante até tomar uma decisão, afinal as palavras escolhidas ficariam marcadas para sempre em você. Portanto, nada de chavões de Orkut e/ou MSN que farão você esconder de seus netos a bendita "Sou o que sou e não o que acham" marcada na sua barriga. Essa faceta indelével proporcionada pela tatuagem é a grande perseguição de Big Tone em seu segundo álbum: ele quer que seus versos sejam tão definitivos, tão marcantes, quanto as frases feitas pela agulha da máquina de tatuar. Para ajudá-lo nesta pretensiosa missão, ele chama alguns amigos sabidamente talentosos, como Guilty Simpson, Blu, Ta'Raach e Breeze Brewin, e produz todas as faixas de The Art of Ink.

Por ser mais uma cria de Detroit, já é de se esperar boas coisas deste emcee/beatmaker, que já trabalhou inclusive com J-Dilla. De fato, o álbum é bastante consistente, com batidas feitas caprichosamente e rimas e flow no ponto. Obviamente, o nível de exigência definido pela comparação feita no primeiro parágrafo é extremamente difícil de ser alcançado, mas o título do álbum pode ser visto por um prisma mais modesto: se uma tatuagem é a expressão de valores/ideias ou a forma da pessoa de ver a vida, então The Art of Ink atinge em cheio seus objetivos.

Em cima de beats com o o selo Detroit de estilo e qualidade - uma estética que mistura a agressividade de Black Milk, as sutilezas de Dilla e a inquietude dos LabTechs -, Big Tone destila sobre 12 faixas seus pontos de vista com uma abordagem, de certa forma, positiva. Isto fica evidente em "A Song Called Triumph", com Blu, uma faixa leve, com ar de vitória, na qual os dois emcees rimam sobre finalmente conquistar o objetivo proposto. "Folktale", por sua vez, mostra a veia lírica de Tone, que usa o nome dos conterrâneos para construir suas rimas, no melhor estilo GZA na clássica "Labels". Há espaço também para assuntos mais sérios, como no boom bap de "Scapegoat", na qual Tone opina sobre a industrialização do Hip Hop.

À parte o conceito do álbum, o que chama a atenção é a solidez que Big Tone conseguiu dar aos seus instrumentais. Como dito acima, a estética "detroitiana" dá as cartas, mas é apenas o ponto de partida. Tone explora o Motown soul em "Pedigree", com strings no limiar entre nostalgia e triunfo, pega emprestado um pouco do experimentalismo de Ta'Raach em "Business", passa para o lounge em "Paid, Laid and Played" e vai até Nova Iorque com os samples picotados e o refrão de scratches em "Broken Logos". Toda essa variação, entretanto, funciona mais como um agente de diversificação do que uma forma de "bagunçar" a sonoridade do álbum.

Mesmo não sendo um trabalho tão definitivo e marcante como uma tatuagem, The Art of Ink revela-se um disco muito bem feito. São 12 faixas que seguem uma fórmula simples e muito bem-vinda: boas batidas, bons versos e boas levadas. Big Tone mostra-se um nome a ser seguido, mais pelos beats do que pelas rimas, mas ainda assim mais um talentoso emcee/beatmaker da cidade que, hoje, faz o melhor rap dos EUA: Detroit.

Big Tone - The Art of Ink
1. Skin Deep (Ft. Monica Blaire)
2. Business
3. Pedigree (Ft. Guilty Simpson)
4. Scapegoat
5. Paid, Laid, And Played
6. A Song Called Triumph (Ft. Blu)
7. Chocolate (Ft. L’Renee)
8. The Look (Ft. Ta’raach And Phoenix)
9. Squo
10. Broken Logos (Ft. Breeze Brewin)
11. Folktale
12. Peace, Progress, God Bless

Download

terça-feira, 7 de abril de 2009

Blame One: Days Chasing Days

Blame One é mais um daqueles casos de perseverança dentro da música. O cara, nativo de San Diego, na California, rima desde os nove anos de idade e só agora, aos 34, conseguiu lançar seu primeiro álbum oficial. O registro, chamado Days Chasing Days, foi produzido executivamente por Exile, que também contribuiu com beats. Os produtores responsáveis pela sonoridade do disco são Black Milk, Oh No e Blu(sim, isso mesmo), entre outros menos conhecidos.

Da primeira à ultima faixa, fica claro que Blame não quer desperdiçar nem um segundo do seu disco. Para tal, fez uma escolha muito boa de beats, sem ferir a coesão do trabalho, e não se furtou de espremer a última gota de esmero ao escrever as letras. O resultado é um álbum com instrumentais bastante puxados para o soul e uma levada bastante complexa, rápida, encharcada de rimas internas, multissilábicas e punchlines. Entretanto, este excesso de técnica e a falta de variedade na levada acaba prejudicando um pouco no geral, já que, invariavelmente, você acaba perdendo a atenção nas palavras do emcee.

Outro fato que faz com que os holofotes mentais de cada ouvinte se desviem de Blame One é a produção - agora, num bom sentido. Os destaques vão desde a relaxante "Perseverance", na qual um surpreendente Black Milk puxa o loop para a frente do estéreo, faz da bateria apenas um fundo marcando o ritmo, e recorre a vários samples para completar o mosaico, até a irresístivel "Wonder Why", produzida pelo novato - e também surpreendente - Blu, com um sample vocal grudento, uma bateria suja e suingada e um - desculpem-me os manuais de redação, vou usar o mesmo adjetivo pela terceira vez - surpreendente Exile rimando muito bem, numa levada menos ortodoxa que oferece o contraponto ideal para a correria de Blame.

Exile, por sua vez, brilha com três das melhores faixas do álbum: primeiro, "Street Astrologist", um caldeirão acelerado que inclui um breakbeat funky e refrão com scratches certeiros. "Days Chasing Days", por sua vez, cai para um lado mais nostálgico, com excertos de piano pontuando o beat suave e um ótimo refrão cantado por Aloe Blacc. Por fim, a autobiográfica "Documentarian", com direito a interlúdio old school e tudo - será que o cara que ouvimos é um jovem Blame One cantando em fitinhas dentro do quarto? -, fecha a lista de jóias de Exile.

Em linhas gerais, o grande mérito de Days Chasing Days é dar voz a um artista talentoso, mas que acabou exagerando na dose em sua estreia oficial. Blame One é um emcee bastante capaz, com uma escrita tecnicamente impecável e um flow daqueles impossíveis de acompanhar. A produção executiva de Exile foi de grande valia para que os beats escolhidos tivessem algo em comum, e este lado é certamente um dos pontos fortes do álbum.

Blame One - Days Chasing Days
01. Supreme (Prod. By Black Sparx)
02. Perseverance (Prod. By Black Milk)
03. Street Astrologist (Prod. By Exile)
04. Bring It To You (Prod. By Kan Kick)
05. Wonder Why ft.Blu & Exile (Prod. By Blu)
06. Disturbed ft.Sean Price (Prod. By Exile)
07. Days Chasing Days ft.Aloe Blacc & Beleaf (Prod. By Exile)
08. Sat Night Special (Prod. By Exile)
09. The Word To Say ft.Johaz & Sha Dula (Prod. By Exile)
10. Official With It (Prod. By Black Sparx)
11. The Real Revolution (Prod. By Arkives)
12. Words (Prod. By Oh No)
13. More Fiyah Ft.Johaz & Coss (Prod. By G Rocka)
14. Blame Me (Prod. By Rath Khy)
15. Documentarian (Prod. By Exile)

Download

quinta-feira, 2 de abril de 2009

CunninLynguists: Strange Journey Volume 1

Vida de artista independente de rap não é fácil. Às vezes, são anos até conseguir o seu espaço, depois um período considerável para lançar seu primeiro trabalho, semanas sem dormir divulgando e, quando o sucesso finalmente chega, meses batendo perna país afora fazendo shows. Tudo bem, talvez esta não seja a realidade dos artistas brasileiros, mas é um patamar que os CunninLynguists já alcançaram. Como um dos grupos mais bem situados no underground americano, já com uma legião de fãs nada desprezível e uma das melhores gravadoras - a QN5-, o trio formado pelo produtor Kno e os emcees Natti e Deacon resolveu retratar no seu novo trabalho, Strange Journey Volume 1, justamente as agruras de ficar um bom tempo fora de casa, na estrada, colhendo os louros da "fama".

Pois bem, Strange Journey talvez não possa ser considerado um álbum - está mais para uma mixtape bem cuidada -, graças às participações solo de artistas da própria QN5, como Tonedeff, PackFM, Mr. SOS e ao bom número de remixes presentes no projeto. Apesar disso, todas as faixas são produzidos pelo talentosíssimo Kno - e aí chegamos ao ponto crucial deste trabalho: o beatmaker sulista é a grande estrela do disco e, mantendo este nível por mais alguns anos, já pode começar a pleitear sua entrada no Hall da Fama de produtores de rap de todos os tempos. Cada beat deste registro é marcado por melodias cativantes, loops impecavelmente construídos e sutilezas que demandam um certo tempo para o ouvinte "capturá-las".

Seja na charmosa "Nothing But Strangeness", com seu boom bap preenchido por um teclado simples e um ótimo refrão, ou na experimental "Hypnotized", com uma levada reggae e linha de baixo suingada, Kno mostra um arsenal de batidas e samples imponente não só na sua diversidade, mas também na forma como é utilizado: o dueto de samples vocais em "Die For You", o clima nostálgico de "Don't Leave" ou a impressionante balada "The Distance" são só alguns dos pontos fortes do disco. Esta última, por exemplo, é séria candidata ao título de melhor faixa do trabalho, graças à performance estupenda de Tonedeff e ao instrumental belíssimo, cheio de sutilezas, com o andamento das caixas parecendo querer se atropelar, mas, por algum milagre, mantendo o ritmo.

Apesar do show de Kno, também é bom destacar os emcees que participam do trabalho. Entre eles, Natti desponta como a grata surpresa, com versos muito bem construídos e cheios de significados. Em "Don't Leave", por exemplo, seu verso explicando ao filho pequeno o porquê de o pai estar viajando é sensacional, assim como na bem humorada "Never Come Down". Outro ponto positivo é a forma como os conceitos propostos são bem executados. "Nothing but Strangeness", por exemplo, mostra os emcees, entre eles os suecos do Looptroop Rockers, falando sobre os lugares desconhecidos que já visitaram, enquanto na supracitada "Don't Leave" o tema é a distância dos artistas de sua casa, o mesmo tema de "The Distance", embora esta penda muito mais para o storytelling meio biográfico, meio metafórico, característico de Tonedeff. "Die For You", por outro lado, é uma canção romântica por parte de Mr. SOS que, embora meio fora de lugar, é uma ótima faixa.

Quando o disco chega ao fim, à primeira audição, fica nítido que é necessário muito mais horas com o fone de ouvido para poder capturar todas as nuances de cada batida e verso, e esta talvez seja a parte mais interessante do registro. A produção é realmente exuberante, cheia de detalhes que, se descritos, não caberiam nesta resenha - até porque nem este humilde escriba conseguiu captar tudo. Assim, é bom encarar Strange Journey, para não fugir do próprio conceito, como uma turnê longa, que passa por vários lugares diferentes, mas com um objetivo comum. Portanto, caros leitores, não encarem esta resenha como definitiva, e sim como a primeira parada de uma viagem que cada um terá de fazer para absorver o necessário deste trabalho.

CunninLynguists - Strange Journey Volume One
01- Departure [Intro]
02- Nothing but Strangeness (feat. Looptroop Rockers & Hilltop Hoods)
03- Lynguistics [Live in Stockholm]
04- Move
05- Inverse - Spark My Soul (feat. Substantial)
06- Never Come Down (The Brownie Song)
07- Hypnotized (feat. PackFM & Club Dub)
08- Dance for Me [Remix]
09- Mr. SOS - Die for You
10- White Guy Mind Tricks
11- Georgia [Remix] (feat. Killer Mike & Khujo Goodie)
12- KKY [Remix] (feat. Skinny DeVille & fishcales of Nappy
13- Don’t leave Me (When Winter comes) (feat. Slug of Atmosphere)
14- Tonedeff - The Distance
15- Broken Van (Thinking of you) (feat. Mac Lethal)
16- Billy Joe’s Garage [To be Continued]

Download

Vídeo da faixa "Never Come Down(The Brownie Song)":

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Banca R.U.A.S.: Da Net Pros Guetos Vol. 1

Esta coletânea foi uma iniciativa de alguns dos principais blogueiros do Brasil, que pensaram em juntar numa só mix artistas independentes fazendo rap pelo país afora. O Boom Bap foi convidado para fazer parte, mas eu acabei não participando como deveria da produção - fica aqui, inclusive, um pedido de desculpas. De qualquer forma, parabéns a todos, artistas, organizadores, etc, e que mais projetos como este surjam

"Demorou mas taí, coletânea lançada pela Banca R.U.A.S. chamada "Da Net pros Guetos". Em um bate-papo pelo MSN, eu e o grande parceiro Alemão, dono do blog Soumzaun, tivemos a ídeia de reunir várias músicas de rappers que estão na correria de mostrar seu trampo,e que já tinham músicas gravadas e disponíveis na net.

Posteriormente juntaram-se a nós os blogueiros Felipe, dono do Boom Bap, Clebão dono do Under Lá de Casa, Kaxão dono do Soldado do Rap e MZhy do blog Marginal Latino. Depois de formado esse poderoso time, amantes da boa música, começamos a selecionar as músicas de quem tinha interesse de participar do primeiro volume da coletânea "Da Net Pros Guetos".

Criamos a página oficial da Banca R.U.A.S. (Revolução Urbana Anti-Sistema) no Myspace.
Inicialmente seria uma seleção apenas de Rap Nacional, mas o álbum também conta com a participação de Palinha (Poder) e Mr. Show (Santiago Opresion) do Chile, Denny Mos (1 Segundo Depois) de Moçambique e MC Flow (Real Hip Hop) de Angola. A capa foi feita pelo mano Fantosh (Rap do Fantosh) e a Intro produzida pelo MZhy.

Os blogs e fóruns da internet são um poderoso canal de divulgação e os blogueiros do Hip Hop que formam a Banca R.U.A.S. sabem disso, por isso finalizamos esse trabalho, sem nenhum retorno financeiro, apenas com a satisfação de colaborar com a disseminação do movimento Hip Hop nas quebradas da net.

Quem tiver interesse em participar das próximas coletâneas, com música ou na divulgação, é só entrar em contato através do nosso Myspace, ou mande seu som para bancaruas@hotmail.com."

Coletânea - Da Net Pros Guetos Vol. 1
1. Intro (Esze De Doins)
2. K. Lill - Como Num Conto De Fadas
3. AFAL - Faladô
4. Essência D'Guerrilha - Por Que Será
5. Familia O.F.C. - Brasil Legal
6. Gangsteria - Curti Um Rap
7. Na Porta Do Templo - Ele Tentou Ser Honesto
8. Loko Da Sul - Dia Nublado
9. Iala'Af & Steel - Viver Ou Morrer
10. Mr. Tribo - Real Hip Hop
11. Ramon-Rá - Pense no Futuro
12. Fantosh - Rap do Fantosh
13. Peritos Da Rua - A Lua
14. Indexsonora - Desencanto
15. Chapeloko - Rimas Urbanas
16. Caput - Violência

Bônus:

17. Denny Mos (Moçambique) - 1 Segundo Depois (Remix)
18. Mc Flow (Angola) - Real Hip Hop
19. Palinha (Chile) - Poder
20. Mr.Show (Chile) - Santiago Opresion

Download

Blogs organizadores:
Lôko do Cerrado
Soumzaun
Boom Bap
Under Lá de Casa
Soldado do Rap
Marginal Latino