segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Cunninlynguists: Strange Journey Volume Two

Ano: 2009
Gravadora: QN5 Music
Produtores: Kno (todas as faixas, exceto 11 e 13), Blue Sky Blacj Death (faixa 11), J-Zone (faixa 13).
Participações: Freddie Gibbs (faixa 2), Extended Famm (3), Substantial (3), Sean Price (4), Poison Pen (4), Cashmere The Pro (7), Geologic of Blue Scholars (9), Grieves (9), Macklemore (9), Evidence (14), E-40 (14), Witchdoctor (15).

Na luta pelo prêmio de hip-hoppers que mais ocupados estiveram durante o ano, os Cunninlynguists lançaram o segundo volume do híbrido de mixtape/álbum/coletânea dedicado às agruras de se estar na turnê "Strange Journey". Como na primeira edição, que chegou aos nossos ouvidos no começo do ano, o trabalho traz várias participações inusitadas, expandindo o cardápio de rappers para além do catálogo da QN5 - e isso não é uma crítica. Um ponto divergente entre os dois discos, porém, é o alvo dos holofotes. E "Volume Two" soa muito mais como um protótipo de álbum de produtor do talentosíssimo Kno, o beatmaker do grupo. E isso também não é uma crítica.

Das 16 faixas do álbum, 13 são produzidas por Kno - as outras são um remix do coletivo Blue Sky Black Death, um beat de J-Zone e a última, uma versão ao vivo de "Nothing to Give", de "A Piece of Strange". E o que nós percebemos é que o branquelo por trás das caixas e bumbos cada dia mais consolida o seu estilo e expande seu leque de opções, por mais contraditório que isso possa parecer. E o grande trunfo para essa abertura é, suponho, os diferentes estilos de emcees que aparecem para dar um alô e cuspir 16 linhas. Caras criados a base de boom bap nova-iorquino como o inigualável Sean Price, ou malandros veteranos da Califórnia, como o também carismático E-40, meio que forçam Kno a esquecer um pouco aqueles samples vocais vindos das profundezas de um sebo obscuro e os cortes absolutamente elegantes. Mas o moleque não é tão submisso, e também força os rappers a se encaixarem nos seus padrões. No fim das contas, é um meio-termo, um impasse "vai-você-um-pouco-que-eu-vou-também" que faz a festa dos ouvintes.

"Streets", a tal faixa que traz Sean P, é um exemplo. Uma voz masculina sussurrando "streets" por toda a faixa mostra as armas de Kno, mas é razoável imaginar que, ao perceber a levada imaculada de Ruck, o beatmaker se viu obrigado a colocar mais peso em suas caixas. Mas é quando o ciclo se fecha à gravadora QN5 e seu cast que as coisas ficam realmente sérias no disco. Primeiro, a Extended Famm, com Tonedeff e PackFM, aparece no remix de "The W.W.K.Y.A. Tour" e nos provê com a única que segue realmente o tal conceito das turnês. Com rimas hilárias, o pessoal nos conta situações típicas de um grupo de rap na estrada, como os invejosos e, claro, as vadias. O beat é Kno no que ele faz melhor: pilhas de samples organizados com a maior finesse possível, sem perder o lado amigável da parada - e aquele coro falando "pa, parapa" vai ficar na sua cabeça por dias.

Existem outras demonstrações do maior estilo Kno de produzir. "Tear Trax" é uma delas. O protegido Cashmere The Pro é abençoado com o melhor instrumental do projeto, um beat lindíssimo, com vocais épicos, um violão nostálgico e strings emocionantes. Para fazer jus, ele escreve um rap sobre alguma mulher, descrevendo-a de maneira poética e apaixonada, para depois contar a sua estória de esposa que sofre agressão do companheiro mas segue dando chances a ele. E a combinação entre batida e letra é simplesmente perfeita. Seguindo a linha de versos emotivos para bases igualmente emocionantes, chegamos a "Still With Me". O saxofone que guia a faixa é simplesmente lindo e dá o toque ideal para Jermiside e Deacon falarem sobre pessoas conhecidas que já faleceram. Eu nunca tinha ouvido falar do Jermiside, mas ele me surpreendeu, com rimas bem escritas e bem estruturadas e um flow bastante decente.

Como dito acima, o tal conceito de falar sobre assuntos ligadas à época de turnê não é executado neste segundo volume, o que contribui para a impressão de que é mais uma mixtape do que propriamente um álbum. A liberdade dos convidados para falarem sobre o que bem entendem é bem notável. Witchdoctor, por exemplo, fala sobre Deus numa visão bem cristã em "Everywhere". "Running Wild", com os costa-oeste Evidence e E-40 trata dos onipresentes problemas da vida nas ruas com o estilo típico do Oceano Pacífico. A dupla dos Cunninlynguists, Deacon e Natti, só aparece junta, na verdade, em quatro faixas. Dessas, o destaque é para "To be for real", uma análise sobre aquela velha frase do Hip-Hop: ser verdadeiro. E a abordagem dos emcees é bem original.

Chegando ao fim deste "Volume Two", uma certeza: Kno é um produtor espetacular e merece muito mais crédito do que recebe. Caso algum dia tenhamos um projeto solo dele, esta mixtape/coletânea/álbum é um bom indicativo do que podemos esperar. Outra coisa é certa: os Cunninlynguists continuam como um dos grupos underground mais ativos e de maior sucesso nos Estados Unidos. Conseguiram lançar dois trabalhos de grande qualidade num só ano e continuam fazendo música boa. Os caras fecham 2009 com totais perspectivas de maior sucesso nos próximos anos. Sampleando o Emicida: "e foi só com a mixtape, tá?".

Cunninlynguists - Strange Journey Volume Two
1. Departure – Part 2 [Intro]
2. Imperial
3. The WWKYA Tour [Remix]
4. Streets
5. Heart
6. To Be For Real
7. Tear Trax
8. Still With Me [Remix]
9. Close Your Eyes
10. Pit Stop
11. The Park (Fresh Air) [Blue Sky Black Death Remix]
12. Nothing To Give [Live]
13. Cocaine
14. Running Wild
15. Everywhere
16. Arrival [Outro]

4 comentários:

Anônimo disse...

"Streets raised me. What about your mom? The bitch still in the streets. Streets raised her wrong."

Sean Price é o melhor MC da atualidade, fora de brincadeira.

Diego Ellwanger Pereira disse...

Discássoooo!!!

Zilla Sonoro disse...

Aquela virada de "Streets", onde os kicks vão se acelerando e o sample acompanha...ishhh...dae na sequencia a quebrada de snare... tum tum pá...foooda! Discão!!

Anônimo disse...

k d o link pra baixar!