quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mr. SOS: How I Learned to Stop Worrying & Love the Bomb

Gravadora: QN5 Music
Ano: 2009
Produtores: Ricky Raw (1 e 2), The Beatchefs (3, 5, 12), Tonedeff (4), Abeo Rzo (6), Quincy Tones (7), Khrome (8), Cypher Linguistics (9), Mr. SOS (10), Pedro y El Lobo (11), Chew Fu (13)
Participações: Zero Basement (3), Cashmere The Professional (10), Steph (12)

E a QN5 ataca novamente. Uma das mais consistentes e prolíficas gravadoras do underground americano, a casa de Tonedeff, Substantial e dos Cunninlynguists lança agora o álbum de estreia de Mr. SOS. Os fãs da turma de Kno e companhia vão lembrar do cara como antigo membro do grupo, com participações nos primeiros clássicos, como "Seasons", "Lynguistics" etc. Pois bem, depois de sair dos Cunninlynguists e passar um tempo no limbo, SOS volta com "How I Learned to Stop Worrying & Love the Bomb", disco ligeiramente conceitual e desde já um dos álbuns mais refrescantes de 2009.

O tal conceito tratado bem implicitamente trata de uma espécie de análise da sociedade, no exato momento antes de sua destruição. Assim, SOS age como um cronista da nossa realidade e explora diversos temas, às vezes projetando o momento depois do tal fim do mundo. Tudo tratado com bastante seriedade e até um certo pessimismo, embora o título do álbum - numa tradução livre, "Como eu aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba" demonstre o contrário.

Na verdade, o disco é projetado numa espécie de flashback, uma vez que começa já com o dia do juízo final, a fortíssima e acachapante "Apocalyptic Doomsday", grande candidata a melhor faixa do ano, que relata o caos do último dia da Terra, numa bateria rasteira e desesperada, como se ela própria estivesse correndo para se salvar. O uso dos samples é sensacional e a explosão de scratches no final dá um toque especial à canção. A também rasteira "2013" vem em seguida, com o mote de "começar de novo", mas logo depois voltamos à sociedade como era antes de sua destruição. A bem humorada "Work" já tem influências eletrônicas e fará muitos se identificarem com o SOS reclamando do seu emprego com um flow preguiçoso de quem acabou de acordar e não quer ir para o trabalho.

O primeiro single do álbum vem em sequência, com a ainda mais eletrônica "Bionic", criticando a presença maciça das máquinas atualmente - o beat inclusive tem samples de máquinas industriais, aliados aos sintetizadores. A partir daí, a reminiscência sobre o mundo antes de ser destruído toma conta. A belíssima "The Balance" trata das dificuldades em seguir em frente, com pitadas de storytelling, sob uma orquestra de samples muito bem organizada. "I Can't Sleep" é a confissão da paranoia dos dias atuais que recorre a strings e se resume no refrão sampleado: "Eu não consigo dormir nesses dias difíceis".

Durante toda a execução do álbum, nota-se a grande evolução de SOS como emcee. Seu flow está muito mais maduro e variado, e isso salta aos olhos em "How I Learned...". Ele tem total controle sobre a batida, varia sua entonação com grande facilidade e traz diversidade para cada faixa. A passionalidade da levada de "Apocalyptic Doomsday" contrasta com a ironia de "Work" e o desrespeito às caixas em "What's MK Ultra", passa pelo sotaque sulino em "Dr. Strangelove", e desagua no formato tradicional em "The Balance". Poucos emcees hoje em dia conseguem variar tanto sua forma de rimar e manter um bom nível durante todo um álbum como SOS fez aqui.

Na parte da produção, o desempenho também é impecável. Embora Kno não tenha produziod nenhum beat, fica claro sua influência estética no trabalho, como o grande uso de samples vocais para construir refrões, os samples mais limpos e elegantes, a forma de orquestração dos excertos nos beats. O quê eletrônico também funciona muito bem, pois não é por acaso, e sim para casar com o conceito do disco - o remix "Welcome to the Future", porém, vai um pouco além do que o necessário. Estes elementos combinados dão um clima meio bucólico, melancólico ao álbum.

Enfim, sem precisar trazer seu rap de volta às raízes, sem aderir aos dogmas do mainstream, Mr. SOS nos presenteia com um álbum sincero, criativo, bem concebido, com muito a oferecer ao ouvinte a cada audição. "How I Learned..." é um dos melhores discos do ano até agora, porque não tenta se encaixar em nada, apenas segue o curso programado para ele, sem preocupações exteriores. Isso resulta num belo tratado sobre a sociedade atual, pelo ponto de vista de um latino radicado nos EUA, e um grande exemplo de como o rap, às vezes, se preocupa demais com suas formatações. SOS deu a dica: basta parar de se preocupar e amar a bomba.

Mr. SOS - How I Learned to Stop Worrying & Love the Bomb
01 Apocalyptic Doomsday
02 2013
03 Work Ft Zero Basement
04 Bionic
05 Dr. Strangelove
06 Save You
07 The Balance
08 I Can’t Sleep
09 What’s Mk Ultra
10 The Young & The Innocent Ft Cashmere The Professional
11 Expos?
12 Time Capsule Ft. Steph
13 Welcome To The Future (Chew Fu’s Bionic Rmx)

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Um comentário:

Anônimo disse...

Tu é santo, my nigga! Resenhas fodidamente escritas, discos idem e a conta da Boa Música que só cresce.
Meus parabéns sinceros.