domingo, 30 de novembro de 2008

Patch Adams(Blu & Sene): BeSene EP

Outro EP que saiu na rede. Patch Adams é uma dupla formada pelo novato de 2007 Blu e o emcee nova-iorquino Sene. A diferença deste projeto é que Blu, que ficou conhecido pelo talento no emceeing, desta vez é o responsável pelos beats, enquant Sene assume o microfone. A dupla está gravando um álbum, chamado A Day Late A Dollar Short, que ainda não tem data para ser lançado. Por enquanto, o que temos é este EP, intitulado BeSene, que contém duas faixas e seus respectivos instrumentais.

BeSene, a faixa-título, mostra que Blu também tem grande capacidade em meio aos samples. Com uma guitarra roqueira como loop principal, ele cria um instrumental barulhento - no bom sentido -, adicionando ainda alguns efeitos esporádicos para não se tornar algo repetitivo. Sene, por sua vez, não compromete, embora não esteja no mesmo nível lírico de seu produtor. O ponto alto da faixa acaba sendo o refrão, bem contagiante.

ABCs tem uma batida mais quebrada, ao contrário da bateria reta da primeira faixa. Aqui, a fonte dos samples é o jazz, embora não seja propriamente uma música com o clima típico de um jazz-rap. De qualquer forma, o piano picotado do beat é muito bem executado, enquanto, novamente, o refrão rouba a cena, utilizando a mesma forma simples e contagiante de BeSene. Além disso, Sene parece mais confortável nesta faixa, com um flow melhor ajustado, "passeando" melhor pelo beat.

Com este EP, a expectativa para a estréia oficial de Blu como produtor acaba tendo um pouco mais de buzz. Nestas duas faixas, dá pra ver a versatilidade dele na escolha dos samples, apesar de ainda poder melhorar: a bateria da primeira faixa acabou meio esquecida no mix. Sene segue o mesmo caminho: é bom emcee, mas com certeza pode evoluir ainda. De qualquer forma, não fará nada mal alguns versos de Blu no projeto. Quem sabe, em algum tempo, tenhamos um álbum solo de Blu totalmente produzido por ele mesmo?

Patch Adams(Blu & Sene) - BeSene EP
01. BeSene (Dirty)
02. BeSene (Instrumentals)
03. ABCs (Dirty)
04. ABCs (Instrumentals)

Download

sábado, 29 de novembro de 2008

Illogic: One Bar Left EP

Já com uma certa popularidade no underground americano, o emcee Illogic prepara o lançamento do seu quarto álbum solo, chamado Diabolical Fun, previsto para sair no começo do próximo ano. Enquanto isso, ele lançou um EP totalmente produzido por seu conterrâneo Ill Poetic - dono de um dos melhores álbuns de 2007 - como uma prévia para o disco completo. One Bar Left é, portanto, a união de um letrista talentoso com um produtor bastante promissor.

Apesar de ter apenas seis faixas, o EP é bastante diversificado em sua produção. Depois de se destacar com seu álbum solo ano passado, Ill Poetic ataca novamente com um som mais voltado para os samples, criando atmosferas diferentes para cada faixa. Se, por um lado, há a triunfante One Bar Left, guiada por um empolgadíssimo saxofone, há também espaço para Cold November Day, uma narrativa sombria, com uma infinitude de samples disputando espaço no instrumental, dando à luz um beat meio caótico, cheio de efeitos eletrônicos. Enquanto isso, Soundtrack Theme é uma faixa que tem mais a ver com o trabalho anterior de Poetic, com uma clima mais downtempo, com pequenos samples entrecortados aparecendo esporadicamente.

Já o anfitrião da festa também faz bonito. Sua escrita é intricada, complexa, mas cheia de significado, o que acaba se refletindo no flow. Para quem gosta daqueles emcees técnicos, cheios de complexidade, Illogic é um prato cheio. Além disso, ele mostra grande versatilidade, que vai desde o storytelling de Cold November Day até o battle rap de Half Man Half Vicious, que ainda tem uma participação especial do produtor Ill Poetic. Para finalizar, ainda há a criativa Change, na qual Illogic molda suas rimas aos vários samples vocais providenciados pelo beat.

Este EP acaba criando uma ótima impressão, dando boas dicas do que pode vir a se tornar o álbum cheio, que também deve ser totalmente produzido por Ill Poetic - impressionante o resultado quando um álbum é produzido exclusivamente por apenas um beatmaker. Com seis ótimas faixas, One Bar Left mostra que sempre é melhor ter qualidade em vez de quantidade, e esquenta as coisas para um 2009 bastante promissor para Illogic.

Illogic - One Bar Left EP
01 Intro
02 One Bar Left
03 Change
04 04 Half Man Half Vicious
05 Soundtrack Theme
06 Cold November Day

Downlad

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tradução: Brother Ali - Mr. President(Obama You're the man)

Eu sei que já passou um pouco toda aquela comoção com a vitória do Barack Obama nos Estados Unidos, mas essa música do Brother Ali se destacou entre a enxurrada de faixas homenageando o presidente eleito. Ótima letra...

BROTHER ALI
Mr. Presidente(Obama You're the man)
Senhor Presidente(Obama, você é o cara)

[ Verso I ]
Fique de pé, este é o novo comandante-chefe negro
você vê, a voz das pessoas não pode ser derrotada
nós ficamos juntos e pedimos o que precisávamos
os mestres do sofrimento precisam ter um alívio
não mais relaxamento no banco do passageiro, veja isto
nosso país e nossa chance para redimi-lo
eu preciso beliscar a mim mesmo, eu não consigo acreditar
nós fizemos a história acontecer e você viu isso
ninguém esperava que nós colocássemos aquele homem naquela cadeira
esperavam que nós nos dividíssemos por táticas de medo e ganância
como o máximo que uma criança negra poderia ser
ser rapper, atleta ou vender crack nas ruas
mas agora é hora de crescer e brilhar
estamos todos unidos por trás da mente mais brilhante da América
eu estou tendo arrepios escrevendo esta rima
parece até que nós fizemos o certo dessa vez
vamos lá!

[ Verso II ]
Eu vi caras brancos confrontando seus vizinhos
sobre aquela velha ladainha racista de McCain
na frente de onde eles vivem
pela primeira vez na minha geração
esta nação teve seu verdadeiro debate racial
e então eu vejo as doações para a campanha do Obama
inovadoras, e descobri de onde elas vinham
não de empresas, mas sim de caras verdadeiros
eu vejo até caras das ruas lendo jornais
pessoas nas ruas que foram ignoradas por tanto tempo
e nunca viram razão para se envolverem
começaram a seguir em frente, tornaram-se uma poderosa força
e fizeram com que suas vozes mudassem a corrida presidencial
eles não costumavam se importar com isso
agora os políticos sabem que precisam nos visitar
no mínimo, eles sabem que precisam nos escutar
diga a esses velhos que eles foram descobertos
vocês nunca se elegerão novamente sem nós
vamos lá!

[ Verso III ]
É claro que eu tenho a consciência
a verdadeira guerra pela liberdade não acabou
cada líder precisa de um time de soldados verdadeiros
e um só homem não pode mudar o mundo no seu escritório
para fazer isso, nós precisamos fazer nossa parte
precisamos criar nossas crianças
seguir com a revolução que começamos
começar de onde paramos e não desistir
não importa o quanto custar
combinar forças com seus irmãos e irmãs
e contribuir com seus recursos
é claro que é ótimo que Barack está dentro
mas agora, todos nós precisamos vencer
vamos ter uma campanha para nos mudarmos por dentro
confiar em cada um, não precisamos confiar neles
nosso coração foi quebrado por dentro pelo país
mas hoje eu tenho minha mão no meu coração
eu poderia até plantar uma bandeira no meu jardim
cara, foda-se!
dois anos dizendo "Sim, nós podemos!"
e hoje, Barack Obama é o cara!
Você precisa gostar disso!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Surreal: Pardon My Dust

Surreal é um emcee de Los Angeles, conhecido pelo seu trabalho junto com a dupla de produtores The Sound Providers, que resultou no álbum True Indeed. Pardon My Dust é o terceiro trabalho do emcee, que caracteriza-se pelas rimas positivas e um gosto por instrumentais que caem bastante para o lado do jazz-rap. Além disso, ele também produz alguns dos beats do álbum, que conta ainda com produtores como Def Dave, Rek One, S1(do Strange Fruit Project) e o francês Dela.

Confirmando o que foi dito acima, Pardon My Dust é um álbum fortemente influenciado pela temática do jazz-rap. Os beats seguem esta linha, proporcionando um fluxo perfeito entre as faixas do disco, o que faz dele um trabalho que é escutado do começo ao fim sem que nós percebamos. Somados ao flow tranqüilo e à voz grave e ao mesmo tempo macia de Surreal, os instrumentais são uma coleção de samples de pianos, teclados Rhodes, saxofones e timbres de bateria secos. Além disso, os versos do emcee casam perfeitamente com o clima proposto pelas batidas. Convertido recentemente ao cristianismo, ele assume um compromisso de não usar palavrões e passar um clima positivo.

Outra característica é a uma mistura entre crítica social e introspecção que garante diversidade nos tópicos abordados. Mama Don't Cry, dominada pelo contraponto de um saxofone incisivo e um piano discreto, tem Surreal relatando os problemas do bairro. O refrão é pontual: "Outro dia nas ruas, outro homicídio / eu vi as lágrimas nos seus olhos, por favor, mãe, não chore". Em Pops Lullaby, por outro lado, ele rima uma carta para seu filho, com versos cativantes, como "quando me sinto sozinho, ouço sua voz no telefone / e por alguns segundos eu me sinto em casa", sobre uma bateria seca, quebrada, somada a um teclado loopado bem eficiente. Entretanto, é na ótima Pursuit, produzida pelo impecável Dela, que o discurso de Surreal atinge seu auge, resumindo suas idéias, sobre um belíssimo sample de piano e uma linha de baixo bem relax:

"Eu adoro escrever, e adoro fazer beats
mas nada disso pode me fazer completo
eu amo minha família e adoro fazer shows
mas sem Deus minha vida não tem sentido
eu tenho controle no microfone quando viajo pelo mundo
mas estou muito mais preocupado com a batalha de almas
eu tô pronto para lutar para fazer dinheiro
mas prefiro passar o tempo com família e amigos
eu tenho um futuro e ele é brilhante, sem dúvidas
vejo eu e minha esposa numa casa bem grande
Eu quero amor, paz, felicidade, verdade
sabedoria, paciência, essa é a minha busca"

Pelas rimas já dá para ver que Surreal faz parte daquela escola de emcees preocupados com a mensagem que passam. Outros destaques do disco são o bom refrão de Time Is Of The Essence e o loop viciante de First Chapter. Para quem gosta de um som positivo, com instrumentais tranqüilos e rimas otimistas, Pardon My Dust é um dos melhores álbuns do ano, ideal para ouvir em casa, no fone de ouvido, nas andanças pela rua. Pode não ser a melhor pedida para quando você estiver com raiva da vida, mas com certeza terá rotação garantida nas horas de tranqüilidade.

Surreal - Pardon My Dust
1.Intro
2.Mama Don’t Cry
3.God Speed
4.The Surface
5.Downtown Trodden
6.Time Is Of The Essence
7.Stay The Same
8.First Chapter
9.Rainy Eve
10.The Recipe
11.Pops Lullaby
12.Mama Don’t Cry (Five Quartz Remix)
13.Far Away
14.Pursuit

Download

terça-feira, 18 de novembro de 2008

DJ Muggs & Planet Asia: Pain Language

Após uma sessão de jazz-rap aqui no blog, vamos voltar um pouco para o rap tradicional, mais hardcore, mais boom bap. Depois de se juntar a GZA e Sick Jacken, desta vez o produtor do lendário Cypress Hill, DJ Muggs, uniu forças com o emcee da Costa Oeste Planet Asia, para lançar mais um trabalho colaborativo. O resultado é Pain Language, um álbum com participações de caras como B-Real, GZA, Killah Priest e Sick Jacken.

Como nas outras colaborações, Muggs está mais uma vez bastante sólido nos seus beats. Autor de alguns clássicos da história do rap, ele oferece a Planet Asia uma coleção de beats pesados, sem firulas, para o emcee cuspir seus versos. A estética de Pain Language é bem definida: bateria reta, turva, com loops bastante proeminentes, e forte influência do trabalho inicial do Wu-Tang, o que é compreensível: além de Muggs com GZA, Planet Asia tem um estilo reminiscente da escola dos generais do Clan: rimas cheias de referências islâmicas e à seita dos 5%, além de temáticas espirituais misturadas a battle raps. Não à toa, Pain Language poderia soar, forçando um pouco a barra, como o disco solo de algum membro esquecido do Clan, lançado em meados dos anos 90 - até o alter-ego de Asia lembra o de um Wu-Gambino: King Medallions.

Sleeper Cell, a faixa de abertura, é uma das melhores músicas do ano e resume bem o espírito do disco: sobre metais triunfantes e bateria fortíssima, Planet Asia fala sobre Allah, palestinos, vingança contra queimas de mesquitas, África, diz "usar a matemática para formar minha consciência" (típica idéia dos 5%), se auto-proclama um terrorista nato e ainda tempo para filosofar: "o tempo é uma ilusão, a realidade um pensamento/vocês estão fora do curso/hora de voltar para a fonte".

Mas este não é o único destaque do disco: 9mm tem uma batida quebrada e um riff de guitarra pontual, além da participação de B-Real, que também aparece na uptempo Lions In The Forrest, guiada por uma bateria acelerada e um loop de metais dominante. Na parte mais sombria do álbum, a metade biografia, metade auto-exaltação All Hail The King tem caixas quebradas e um sample que parece saído de um filme sobre a época medieval, enquanto Black Angels conta com piano sinistro e um clima ainda mais turvo. Por fim, GZA aparece na última faixa do disco, Triple Threat, com um sample vocal como loop principal.

Eu confesso que demorei para ouvir este disco, já lançado a uns meses. A princípio, foi Sleeper Cell quem chamou a atenção, mas o álbum todo tem qualidade. Planet Asia é um emcee bem subestimado, tem técnica, um flow decente, embora meio irregular, e flexibilidade na estrutura dos versos. DJ Muggs, por sua vez, continua criando trabalhos sólidos. Esta série de colaborações tem mostrado que seu arsenal de clássicos ainda não acabou.

DJ Muggs & Planet Asia - Pain Language
1. Sleeper Cell
2. Pain Language
3. Smoke
4. 9mm (feat. B-Real)
5. That’s What It Is
6. Black Mask Men
7. Lions In The Forest (feat. B-Real)
8. Death Frees Every Soul (feat. Sick Jacken)
9. All Hail The King
10. Black Angels (feat. Killah Priest / Cynic / Scratch)
11. Drama
12. Language
13. Deadly Blades (feat. Prodigal Sunn / Tri State)
14. Hashashins (feat. Turban / Chace Infinite)
15. Shadows Of Hell
16. Triple Threat (feat. Gza / Chace Infinite)

Download

Vídeo da faixa 9mm:


Vídeo da faixa Pain Language:


Vídeo da faixa Lions in the Forest:

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Panacea: A Mind On A Ship Through Time

Depois do ótimo The Scenic Route, lançado ano passado, a dupla Panacea, formada pelo emcee Raw Poetic e o produtor K-Murdock, apresenta seu novo trabalho, num conceito totalmente diferente dos outros álbuns da discografia do grupo. Pegando carona na nova "tendência" do rap, o som mais eletrônico e/ou futurista, A Mind On A Ship Through Time explora essa idéia ao máximo, o que pode ser percebido desde a capa do álbum.

Com pouquíssimos convidados no trabalho, Raw Poetic tem todas as condições necessárias para executar seu lirismo, calcado basicamente no cotidiano, na vida de pessoas comuns, o que torna suas rimas fáceis de se identificar. Além disso, ele ainda apresenta um flow bem trabalhado e bastante versátil, que varia de acordo com os beats providenciados por K-Murdock, que podem exigir tanto uma levada acelerada em Voyagers quanto uma ênfase maior nas palavras em Orange Penicilin.

Aliás, os beats de Murdock são a grande estrela do álbum. Como dito no primeiro parágrafo, o produtor aposta em elementos mais futuristas para construir o clima do disco. Assim, misturando a já tendência ao soul com esta nova abordagem, o resultado é algo que poderia ser definido como um soul futurista. As melodias são muito bem trabalhadas e se integram perfeitamente aos outros elementos dos beats.

Prova disso é a já mencionada Orange Penicilin, que mistura strings a samples eletrônicos de forma exemplar. Em Voyagers, além da voz robótica do início da faixa, o grande destaque fica para o ótimo loop de bateria, um boom-bap de primeira linha. Já em Mudgreen, a estrela é o belíssimo refrão - sampleado ou não, tanto faz -, além da melodia simples e eficaz. Falando em melodias, também é preciso destacar este quesito na tranqüila L.A.V.A. Para finalizar, a faixa-título fecha o disco com chave de ouro, numa mistura de batida no melhor estilo marcha militar e um loop complexo, entremeado por vários samples.

Este já é o terceiro disco da dupla, e eles se consolidam ainda mais como um grande nome no underground americano, mostrando grande versatilidade com a mudança de direção mostrada neste álbum. Com três álbuns no cartel, todos eles diferentes em sonoridade, K-Murdock e Raw Poetic mostram que estão prontos para fazer o som que quiserem, sempre com grande qualidade.

Panacea - A Mind On A Ship Through Time
01. Introlude
02. Voyagers
03. Mudgreen
04. L.A.VA
05. Speak-O-Vision
06. Vandalism
07. Orange Penicilin
08. Sirens
09. Lunar Illusion
10. Chrono Trigger
11. Treasure Hunt
12. Mustard Seed Celebration
13. A Mind on a Ship Through Time

Download

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Comunicado

Bom, gostaria de avisar ao pessoal que freqüenta o blog que agora eu também sou colaborador do Bocada Forte, um dos maiores sites sobre hip hop do Brasil, o que significa que o trabalho feito aqui no Boom Bap durante esse um ano de existência foi reconhecido e valorizado. De qualquer forma, o blog não pára, vou continuar postando conteúdo aqui, que também poderá ser acessado no Bocada. Lá, poderei complementar um pouco algumas coisas que queria usar no blog, mas com toda essa questão de direitos autorais fica meio inviável, como entrevistas exclusivas com grupos gringos, por exemplo. Além disso, pretendo contribuir também com notícias e colunas de temas mais gerais.

Então, já sabem, acessem também o Bocada Forte, que vem passando por uma reformulação, com um novo pessoal na administração e também uma nova equipe. Portanto, podem esperar um novo Bocada com força total!

Bocada Forte

Tradução: Jedi Mind Tricks - Trail of Lies

Diretamente do novo álbum dos caras, talvez a melhor letra do disco...

Jedi Mind Tricks
A History of Violence
Trail of Lies - Trilha de Mentiras

[Intro]
Então, mais um ano, mais um drama
ela desfaleceu em uma boate de Hollywood
ela parecia estar meio...bastante intoxicada

[ Refrão ]
Na terra das oportunidades, acredite, você é minha

[ Vinnie Paz ]
Desligue a televisão, mano
não há nada ali para uma menina ver
eu tenho uma sobrinha e é melhor acreditar que ela significa o mundo para mim
e ela não precisa ver a merda que eles pensam que uma garota deve ser
vadias magrelas de 40 quilos, isso nem é uma garota para mim
essencialmente, esta merda é pensada para te segurar
contando mentiras, tendo visões, controlando você
eles encontram diferentes maneiras de tomar a porra da sua alma de você
um show sobre modelos faz sua auto-estima baixar
tudo isso é falso, acredite em mim, ninguém é tão adorável
eu encontrei um monte de famosos, eles são gordos e feios
e eu não sou melhor que isso, eu só acho que isso é engraçado
isso e pegar uma menininha, e explorá-la por dinheiro
e o que será delas daqui a uns 50 anos?
quando Hannah Montana estiver se transformando em Britney Spears
eles mastigam você e depois te cospem, porque ninguém realmente se importa
e ninguém vai te ajudar quando você estiver realmente assustado
onde estão os pais, mano? Isso é muito ruim
será que essa porra desse manager está realmente lá?
ele está preocupado com a sua filha ou com um papel idiota
isso não vai mudar em nada
eu apenas acho que é bastante triste

[ Refrão ]


[ Vinnie Paz ]
Desligue a televisão, mano
é uma ferramente para eles bloquearem sua mente
conservadorismo, liberalismos, eles dividem a linha
os sentimentos naturais de uma criança devem ser tranquilos
e então eles mostram os marines e decidem que é hora
então eles podem te mandar para uma guerra para encobrir o crime primário deles
e então te mandam para casa e nem te pagam por isso
e as notícias te dizem que os policiais estão no bairro para te proteger
eu vou ser curto e grosso, policiais são maus
pegue aquela série de televisão Cops por exemplo
é aquela merda que eles querem que a América assista e copie
nunca te mostrando o quão sujo eles são realmente
e o que eles escondem por trás de suas insígnias e que eles são uns putos
eu nunca encontrei um policial na minha vida
que eu não queira matar ou esfaquear
yeah, mas este é tópico para outro dia
eu vou te dizer como eles tentam te pegar de outroa maneira
eles dizem que há algo errado com você e que tu precisa das drogas deles
mas não há nada de errado com você, eles estão sendo bandidos
eles vendem drogas nos comerciais na mesma hora
e prendem um otário qualquer pelo mesmo crime

[ Refrão ]

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Nocivo Shomon: Assim que Eu Sigo

Nocivo Shomon é um emcee de São Paulo e parceiro do DJ Caíque, produtor que já trabalhou com alguns nomes importantes do rap alternativo brasileiro. Assim Que Eu Sigo é o primeiro trabalho do Nocivo, produzido em sua maioria pelo DJ Caíque e lançado em 2007. Essa proposta de delegar a produção do álbum a apenas um produtor é bem legal, pois, na maioria das vezes, dá uma consistência ao álbum, uma fluidez melhor. Alguns dos melhores álbuns de rap foram criados assim: um emcee e um produtor.

A química funciona ainda mais se ambos forem talentosos, o que é o caso. Nocivo é uma grata surpresa para mim, não força nem o estereótipo de alguns emcees ditos alternativos, nem chega a ser o bandidão. Está lá, falando de coisas reais, importantes para sua vida, o que imediatamente dá uma credibilidade às suas rimas. Além disso, vai além a esquemas simples de versos: ele usa bastante a rima interna, o que valoriza sua escrita e o diferencia de quase 90% do rap nacional. Ainda assim, não sacrifica a mensagem e permeia todo o álbum com metáforas simples, mas bem sacadas.

Já DJ Caíque mostra grande consistência ao produzir quase todas as faixas do disco - apenas o próprio Nocivo contribuiu com beats além dele. Com um leque de samples bem variado e batidas invariavelmente pesadas, ele ajuda o emcee a encontrar o tom certo de agressividade inerente ao trabalho. O disco é, por si só, um relato sincero da vida de Nocivo, cujo flow agressivo é complementado perfeitamente pela produção do DJ. Até mesmo quando o emcee abaixa o tom na emocionante Peço Perdão, Caíque ajusta seu arsenal de beats, com um sample de piano tímido e onipresente guiando o instrumental.

Outros bons destaques do disco são Infância, outra faixa bem honesta, na qual Nocivo se junta a Ogi para rimas autobiográficas, enquanto o convidado escolhe pintar um retrato mais genérico de um jovem. Lágrimas, também introspectiva, recorre a strings incisivas para os versos nostálgicos de Nocivo. Vale das Sombras mostra a religiosidade do emcee, principalmente no refrão. Por fim, Reggae Rua - embora deslocada em um álbum com mais pianos do que guitarras de reggae - traz o tradicional discurso anti-Babilônia, algo bem recorrente em Nocivo, com uma das melhores performances do emcee no disco, num flow mais calmo e pensado, enfatizando melhor as palavras.

Enfim, este é um álbum bem coeso, e revela um ótimo emcee, com grande potencial. Como dito acima, Nocivo Shomon não se restringe aos dois estereótipos mais comuns no Brasil: escreve rimas sinceras, sofisticadas, bem pensadas. O flow pode ser um pouco acelerado e inflexível demais - quando ele muda um pouco a abordagem o resultado fica ainda melhor, mas, sem dúvidas, é um dos bons nomes desta nova safra. Ganha ainda mais pontos por ter escolhido bem seu produtor, garantindo beats de alto nível durante todo o álbum.

Nocivo Shomon - Assim que eu sigo
01 - Sementes [Prod.DJ Caique]
02 - Vivo Da Arte [Prod.DJ Caique]
03 - Andanças [Prod.DJ Caique]
04 - Persistente [Prod.Nocivo]
05 - Inspiração [Prod.DJ Caique]
06 - Subversivo [Prod.DJ Caique]
07 - Vale Das Sombras [Prod.DJ Caique]
08 - Vivendo [Prod.DJ Caique]
09 - Reggae Rua Part.Jukativa [Prod.DJ Caique]
10 - Interludio [Prod.DJ Caique]
11 - Peço Perdão [Prod;Nocivo]
12 - Infancia Part.Ogi & Bella [Prod.DJ Caique]
13 - Tarde Poética [Prod.DJ Caique]
14 - Quando Anoitece [Prod.Nocivo]
15 - Lagrimas Part.DaCruz [Prod.DJ Caique]

Download

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Jedi Mind Tricks: A History of Violence

Alguns grupos são realmente notáveis por sua capacidade de manter-se consistente ao longo da carreira e nunca deixar de agradar a seus fãs. Mais notável ainda é quando estes grupos conseguem desenvolver uma sonoridade própria, uma identidade. No rap, o maior exemplo disso é o Wu-Tang - na questão do som próprio, é bom destacar. Entretanto, outro grupo já merece há tempos esse reconhecimento: o Jedi Mind Tricks, dos emcees Vinnie Paz e Jus Allah e o produtor Stoupe, um dos mais talentosos beatmakers a usar uma MPC.

Em History of Violence, o sexto álbum do grupo, este som próprio se confirma ainda mais. Estão lá as rimas raivosas de Vinnie Paz, brutais tanto em conteúdo quanto na forma como o emcee as canta. Jus Allah, embora o elo mais fraco do grupo, acaba não sendo muito exposto, graças aos instrumentais surreais de Stoupe. Como nos outros trabalhos, ele incorpora um sem-número de samples das mais variadas fontes, empilhando-os em batidas invariavelmente pesadas, criando praticamente uma orquestra de samples. Quando eu digo que o Jedi tem um som próprio, as pessoas podem ver pelo lado ruim e dizer que é sempre "mais do mesmo". No caso do Jedi, a afirmação não procede. É um mais do mesmo sempre com inovações, mas ainda assim mantendo as raízes, a idéia original. Ou alguém já viu uma música do grupo ou de qualquer outro sampleando uma cantora grega?

Embora os beats de Stoupe sejam a grande estrela do grupo, não se pode subestimar Vinnie Paz. No começo da carreira, ele chamou a atenção pelas rimas extremamente violentas, que falavam até em enforcar o papa com um rosário. Ao longo do tempo, ele foi incorporando novos elementos à sua escrita: escreveu rimas mais introspectivas, tornou-se mais político e até executou conceitos bem criativos, tudo isso sem descuidar da parte técnica, sempre com metáforas inteligentes e rimas multi-silábicas inesperadas. No novo álbum, toda esta evolução pode ser notada: há versos para todos os gostos, desde os já tradicionais battle raps até outros mais pessoais, passando por rimas politizadas.

Entre os destaques, pode-se citar os dois singles. Monolith, a tal faixa que sampleia uma cantora grega, traz rimas de batalha de Paz e Jus Allah em alto nível, com linhas como "você não pode compreender a força que eu trago /eu sou tipo Rocky Marciano quando ele entra no ringue". Godflesh traz em seu gene a tradição Jedi de samples inusitados bem articulados, com um ótimo refrão de Block McCloud e grande verso do convidado King Magnetic. Mas não são só os singles que se destacam. Embora falte aquela faixa que cause frisson entre os fãs, ainda há boas opções, como a engajada Trail of Lies, com Paz conclamando o ouvinte: "Desligue a televisão, mano". Terror, com o já tradicional excerto de música clássica, tem o nome perfeito para as rimas de Paz e Allah. Já Butcher Knife Bloodbath tem um sample que parece saído da trilha sonora incidental de algum filme obscuro, além de um Jus Allah pronto para torcer o pescoço de alguém.

Na verdade, o disco inteiro é muito bom, sem nenhuma falha. Talvez, como já dito, falte aquela faixa clássica que ajuda a aumentar a visibilidade do disco, como aconteceu com os outros álbuns, mas ainda assim é um trabalho sensacional. O grupo continua afiadíssimo, fiel à sua base de fãs, e sempre buscando coisas novas que se encaixem no estilo do Jedi. Rimas perfeitas, instrumentais perfeitos e uma abordagem de trabalho invejável. O Jedi caminha para o rol dos grupos mais importantes da história do rap, não só do underground.

Jedi Mind Tricks - A History of Violence
1. “Intro”
2. “Deathbed Doctrine”
3. “Deadly Melody” (feat. Block McCloud & Demoz)
4. “Monolith”
5. “Those With No Eyes (Interlude)”
6. “Trail of Lies”
7. “Heavy Artillery”
8. “Seance of Shamans” (feat. Outerspace & Doap Nixon)
9. “Geometry in Static (Interlude)”
10. “Godflesh” (feat. King Magnetic & Block McCloud)
11. “Terror” (feat. Demoz)
12. “Butcher Knife Bloodbath”
13. “The Sixth Gate Shines No More (Interlude)”
14. “Death Messiah”

Download
PS: Este é o link com a versão retail, sem aquelas propagandas no meio da música.

PS 2: O Vinnie Paz deu uma entrevista para um site alemão e disse coisas bem interessantes:

- O DVD do grupo, "The Divine Fire DVD", está sendo filmado como se fosse um documentário e contém imagens de 1992 a 2008. "De todas as coisas que eu fiz na minha carreira, sinceramente, este DVD é o que mais me orgulha", disse Paz.

- Jus Allah está no DVD;

- Paz é o produtor-executivo do novo disco do Jus Allah, chamado "The Colossus", e que já está sendo feito. O único artista a participar no disco será o próprio Paz.

- Ao ser perguntando por que Stoupe não produz outros artistas, Paz disse: "Para ser honesto, ele simplesmente não está interessado nisso. Ele é uma pessoa bastante introvertida, praticamente nunca sai de casa. Ele fuma, bebe e faz seus beats. Ele é uma daquelas pessoas que não quer conhecer novas pessoas. Ele não está interessado em trabalhar cm outras pessoas. Nós o obrigamos a fazer um álbum de produtor. Agora, finalmente você irá ouvir pessoas diferentes nos beats dele. O álbum deve sair no final deste ano ou no começo de 2009, e vocês irão ouvir nomes sonantes nos beats dele".

- Quanto ao relacionamento entre Bahamadia, Virtuoso e o coletivo Army of the Pharaohs, Paz disse: "Eles ainda estão no grupo, de longe. Só porque eles não apareceram nas faixas recentes não significa que eles não estão conosco. Apathy não esteve no último disco, mas isso não significa nada. Nós gravamos toneladas de músicas, algumas delas devem ser lançadas mais tarde ou em outros projetos. Kwestion fez o último single e também está para lançar um álbum de produtor no futuro, assim como Stoupe.

- Um novo álbum do Army of the Pharaohs está sendo feito.

- O álbum colaborativo de Ill Bill e Vinnie Paz - chamado "Heavy Metal Kings" será lançado no começo de 2009. Eles já têm beats de DJ Lethal, La Coka Nostra, DJ Muggs, DJ Kwestion e Madlib.