Entrevista com uma das lendas do rap, KRS-One. Aqui ele fala sobre seus novos projetos, como um álbum junto com Buckshot e uma compilação a ser lançada ainda em janeiro; sobre trabalhar com a gravadora Duck Down; a morte de Scott LaRock, nomeação para o Grammy, e o movimento Stop The Violence.
I- Agora que você está na Duck Down, você não vai começar a fumar cigarros de palha e vestir roupas miltares, vai? Bom...eu e Buckshot decidimos fazer um álbum juntos. E no meio do processo de fazer um álbum juntos, isto é o que nós chamando, eu acho que KRS-One está assinando ou andando junto com a Duck Down. É uma espécie de evolução para eles também ter KRS no elenco deles. E eu não me importo. Durante minha carreira, eu estive junto com várias cres: Terror Squad desde sempre, Diggin' In The Cartes desde sempre, obviamente Boogie Down Productions. Mas Duck Down é apenas outra crew à qual eu também sou leal. Então, eu vou fumar cigarros de palha(risos)? Não. Eu vou ser KRS. Na verdade, eu espero adicionar um pouco do estilo KRS ao que eles já tem lá.
II- Estão só para clarificar as coisas, você não está oficialmente contratado como artista solo pela Duck Down? Não, eu não estou oficialmente contratado. Mas, eu diria isso de uma forma bem sutil, porque eu sei que eles estão tentando fazer uma certa promoção, e eu não quero ir contra isso.
III- Este projeto vai ser um projeto solo do KRS ou o projeto KRS/Buckshot do qual você falou?
É um projeto da Duck Down, isso sim. Eu estou indo para ajudá-los. Vai ser eu encontrando com eles para produzir algo que não poderia ser normalmente produzido de outra maneira. Além disso, nós também queremos iniciar uma nova tendência...o que eu e Buckshot estávamos falando era começar uma tendência na qual os artistas trabalham juntos. Muitos de nós conhecem um ao outro, e até mesmo anda junto, por que não fazer colaborações nunca ouvidas, uma espécie de "e se" do Hip Hop. Nós sempre quisemos ouvir um álbum com o Big Daddy Kane e o Rakim juntos. Isso pode ajudá-los a fazerem isso.
Eu penso que o rap está precisando desse tipo de novidade. Então, é isso que trouxe de volta à mesa para estar pronto para trabalhar com o Buckshot. Eu acho que é ele é um emcee em cada sentido da palavra. Ele ama esta arte. O dinheiro não o desviou do caminho. Ele ainda faz umas paradas doidas. E suas músicas são...digo, Beatminerz...digo, toda a Duck Down é algo que tem a ver com KRS-One. É muito fácil para mim trabalhar com eles.
IV- Bom, só para clarificar mais uma coisa, você já tem alguma idéia para o álbum?
Não. Na verdade, eu ainda estou bem no começo deste projeto. Então, não, nós não temos nada planejado ainda. Mas eu posso te dizer uma coisa, com o Nas vindo com o Nigger, nós vamos chegar com um título muito foda!
V- Diamond D também está na Duck Down agora, nós podemos esperar que vocês dois trabalhem juntos novamente?
Com certeza. Eu dei um salve para o Diamond D no BET Hip Hop Awards. Ele estava sentado ali perto e nós nos olhamos. Aí eu falei: "É quente! Tudo certo com o Diamond D?"
VI- Vocês dois não têm trabalhado juntos desde o seu álbum homônimo, certo? Certo. Digo, nós fizemos algumas coisas em compilações nas quais ele estava envolvido. Tipo, você sabe, três emcees numa faixa, e eu cuspi um verso, e aconteceu de ser uma faixa do Diamond D. Mas nada como o que nós fizemos no álbum KRS-One, e/ou mesmo trabalhos anteriores que eu fiz com ele que nunca foram lançados, ou foram lançados em mixtapes e coisas do tipo. Mas, realmente, nós nunca trabalhos juntos do jeito que deveríamos fazer.
VII- Só por curiosidade, nós estamos falando de Duck Down, existe uma faixa chamada "Duck Down" no seu álbum "Sex and Violence", Buckshot já lhe disse se aquilo foi a inspiração para o nome da gravadora? Quer saber? Eu não lembro de ele me dizer isso, mas eu acho que é sim. Conhecendo Buckshot, sabendo de onde ele vem, os tempos antigos e tudo, eu acho que pode ter sido mesmo.
VIII- Sim, eu acho que esta música foi lançada um ano antes do Enta da Stage, então parece ser verdade. Agora, você está na Duck Down, mas também tem outro álbum a ser lançado no fim de Janeiro, chamado "Adventures of Emceein", correto? Eu tenho um álbum novo pronto. As pessoas estão prontas para me ver calar a boca. Mas elas vão dizer, "Por que o KRS está lançando outro álbum?" E eles estão certos de fazer essa pergunta. Mas agora aqui está a resposta, eu venho de um lugar onde, ao menos uma vez por ano, como um emcee, você cria coisas novas. É isso que é Adventures of Emceein. É tipo uma compilação de todas as músicas e idéias que eu gravei e guardei comigo. E elas acumularam até um ponto onde um cara chamado Jeffrey Collins, que comanda a Echo Vista Records, conheço ele há anos, disse: "Por que não lançar esse material? Está na hora, lance agora". E muitas delas não são nem mesmo material de 2007. Muitas delas são material de 2005, 2006, coisas um pouco mais antigas. Então eu disse: "Que seja, vá em frente e lance". Eu amo este trabalho. Eu estou orgulhoso dele. Ele é na verdade para o verdadeiro fã da B.D.P. Para o verdadeiro fã do KRS, este Adventures of Emceein é o que vocês querem bem agora. Ele não é um álbum onde eu provavelmente vou fazer um vídeo para ele. Eu não estou tentando fazer uma turnê para este álbum. Isto é apenas KRS-One se mantendo atual, se mantendo novo, sempre mantendo coisas novas aos olhos do público.
Eu continuo uma pessoa criativa. Na verdade, eu estou gravando um álbum agora que eu nem mesmo sei o dele dele. Eu me conectei com um cara chamado Da Rock, que tem uns beats bons, puxando bem pro lado do R&B, então eu tenho uma chance de explorar minha espiritualidade com algumas das faixas, um álbum mais metafísico. Eu também fiz um álbum com um cara chamado Harold English, um músico de Blues. Ele pegou o violão e nós fizemos um álbum de spoken-word em um fim de semana. Algumas coisas do material apareceram no meu livro Ruminations. O livro veio com um CD, e alguns dos poemas que estão no CD vieram deste álbum que nós fizemos há alguns anos atrás. E só agora eu estou pensando em lançá-lo. É um álbum de blues com spoken-word feito com um violão, mas as letras são demais! As letras estão muito boas lá...então, o que eu estou tentando dizer é, com KRS-One não se precisa lançar um álbum novo, eu tenho cerca de 50 músicas sempre comigo. E às vezes elas são lançadas, elas saem em trilhas sonoras, saem como álbuns, saem talvez só no DVD. Às vezes eu canto as letras em show na televisão ou outros lugares. E, uma vez que eu cantei aquela letra em público, seja na cabine da BET ou então em Sucka Free ou onde for, eu não canto mais aquelas rimas. Aquelas rimas já passaram e eu vou para a próxima. É assim que eu faço. Eu trabalho direto, tenho um bom número de material.
IX- Voltando rapidamente para "Adventures of Emceein", eu li corretamente, Rakim, Nas e Just Blaze contribuíram de algum modo para o projeto?
Eles mandaram um salve. Isso soa como alguém está fazendo propaganda da coisa e eu preciso acabar com isso. Não, eles não estão rimando. Eles chegaram lá e mandaram um salve. Eles apenas me deram um salve. Nas me mandou um salve pelo álbum, assim como Rakim, Kanye, Fat Joe, e outros. A faixa com o Just Blaze é interessante porque ele provavelmente nem mesmo sabe que está neste álbum. Eu estava em Miami e rimei numa faixa de um cara chamado Stevie J, e ele tinha um salve do Just Blaze para ele no começo da música. Eu rimei nela e mantive tudo aquilo. Eu fiz isso há um ano e meio atrás, então quando Just Blaze ouvir a música, ele provavelmente não vai entender nada.
X- Agora eu mencionei Nas e Rakim, junto com Kanye vocês foram nomeados para um Grammy por "BetterThan I've Ever Been". Está é a sua primeira nomeação, certo? Sim. É meio estranho, esta é a minha primeira nomeação direta. Eu estive no Grammy outras duas vezes, com Shabba Ranks e com R.E.M. quando eles concorriam ao Grammy com álbuns com os quais eu contribuí, "Out of Time" do R.E.M. e "Rough & Ready Vol. II" do Shabba Ranks. Mas, no final das contas, não, esta é a minha primeira nomeação direta. Eu nem sei o que fazer, para ser honesto. Eu não sei o que pensar disso.
XI- Vamos lá, seja verdadeiro comigo, a Nike comprou esta nomeação? (risos).
Ei! Você sabe, eu não sei. Eu não vou falar isso, eu não sei. Mas eu não acho que a Nike iria fazer isso, porque a Nike como uma companhia é bem prepotente. Tudo parece estar abaixo da Nike. Eu posso estar redondamente enganado, mas eu acho que isso estaria abaixo deles.
XII- Você manteve contato com eles desde o comercial que você fez há alguns anos trás?
"O basquete é a revolução!" E os caras tentaram crucificar o KRS.
XIII- Sim,KRS e Nike! Primeiro Sprite, e depois Nike.
Merda, eu fui tipo o Senhor Vendido naquele ano.
XIV- (Risos). Mudando dd assunto, eu estou curioso para saber quem vai te interpretar no filme sobre a Juice Crew, The Vapors, que começam a gravar no próximo mês... Hum, provavelmente Cuba Gooding...ou talvez eles nem mesmo me mencionem.
XV- É interessante, as pessoas que recrutaram estão longe de interpretar Roxanne Shante e Mr. Magic, sem mencionar KRS.
Isso, talvez eles não vão nem me mencionar e só vão fazer um filme sobre a criação da Juice Crew. Porque, lembe-se, a original Juice Crew não era MC Shan e Marley Marl e aqueles caras, ela era Mr. Magic e outros 13 caras, que eu acho que incluía Melle Mel e a galera dele. Busy Bee deve saber melhor a história. E aquela era a original Juice Crew. Mr. Magic foi uma parte daquilo, e tipo que estendeu a honra para aqueles caras, de acordo com a lenda. Então, eles poderiam estar fazendo um filme sobre a Juice Crew original do final dos anos 70/começo dos anos 80, não a era de Shante. Talvez isso seja o fim da história deles.
XVI- Sim, eu não tenho certeza. Marley falou contigo sobre tudo isso? Ele está envolvido?
Eu não sei. Ninguém falou comigo sobre isso. Na verdade, isso é novidade para mim agora. Você está me dizendo algo novo agora. Eu não sei nada sobre isso.
XVII- Então vamos voltar a 87, eu tenho de perguntar sobre uma memória desagradável daquele ano, Agosto passado marcou o vigésimo aniversário da morte do Scott LaRock, e eu queria que você falasse qualquer coisa que quisesse sobre isto. Não teve nenhuma cobertura da mídia sobre isso, então...
Você sabe, nós mantemos o nome do Scott vivo dentro da comunidade do Hip Hop através de música e livros e salves e tudo iso, mas realmente isso é...eu não sei o que dizer quando se fala do Scott. É tipo...deixe-me dizer o que estou pensando...nós na verdade crescemos juntos. Tipo, nós ainda estávamos experimentando as mesmas coisas como em 87. Jam Master Jay foi o último. Isso é só questão de tempo, e não digo de forma mórbida, até termos outro caso.
XVIII- Ou rappers matando a si mesmos. A autópsia não está pronta, mas a morte de Pimp C foi provavelmente por causa de drogas. Rappers estão matando a si mesmo, basicamente.
Isso. E falando nisso, com a recente tragédia com o meu filho cometendo suicídio, será que nós evoluímos de homicídio para suicídio?
XIX- Eu não chamaria de evolução, mas...
Vou te falar, o que eu vou dizer sobre Scott é que nós vamos continuar mantendo o nome dele vivo.
XX- Falando no Scott, eu quero te perguntar sobre isso, vocês já estavam trabalhando no movimento Stop the Violence antes de ele ser assassinado, certo?
Ah sim, sem dúvida!
XXI- Porque muitas pessoas pensam que você foi inspirado por aquilo ou que aquilo foi o catalisador.
Não, não, e deixe-me voltar e esclarecer algo também. Não era o movimento Stop The Violence que estava sendo criado, era a música "Stop The Violence", que apareceu no álbum "By All Means Necessary" de 88. Scott estava lidando com a produção daquela música antes de morrer. Era "Stop The Violence", "My Philosophy" e "I'm Still #1", nas quais ele estava trabalhando antes de ser morto. Na "My Philosophy", nós já tínhamos escolhido o beat, aquele sample. Mas voltando a "Stop The Violence", aquela música já estava pronta, escrita pelo menos. Já estava escrita e sendo apresentada em shows em 87.
E depois de By All Means Necessary sair, com esta música no álbum, Anne Carly, que era diretora da Jive Records na época, veio até mim e disse: "eu quero começar um movimento baseado na sua música, Stop The Violence". Então, Anne Carly, uma jovem mulher asiática, abordou KRS para fazer este movimento acontecer.
XXII- E por que, quase depois de 20, o relançamento do movimento está acontecendo?
Bom, eu não acho que vá haver um lançamento oficial, na verdade. Este é um movimento que está acontecendo. De repente você vai começar a ver as expressões deste movimento. Se existe uma data que nós estamos pensando agora é 31 de dezembro de 2007. À meia-noite se torna 32 de dezembro, e nós vamos levar doze horas rezando e meditando. À meia-noite, em qualquer lugar do mundo em que você estiver, nós vamos estar pedindo às pessoas para pegar 5-10 minutos para imaginar a paz no mundo acontecendo. Nós temos um site chamado stvmovement.og e espero que lá você pode me ver meditando e se juntando a nós, seja onde você estiver.
Este é o primeiro lançamento. O segundo vai ser na segunda e terceira semana de Maio. A terceira semana de Maio é a "Hip Hop Appreciation Week". Nestas semanas eu vou estar produzindo a BET. Quando eu fui a Atlanta e aceitei aquele prêmio da BET, "Eu sou o Hip Hop", eu procurei o Stephen Hill e nós começamos a conversar. Cerca de uma semana depois, nós nos encontramos e discutimos a BET e suas besteiras. E nós chegamos a uma conclusão, a BET está cansada da BET. As pessoas que trabalham na BET estão cansadas da BET. É só um emprego para elas. Quando eu tive aquela idéia, que Stephen Hill queria fazer algo, ele sugeriu "Por que nós não vemos o que você está falando, sobre balancear a programação? Por que você não toma conta de algo durante duas semanas em 2008 e programa o Rap City?". Então o movimento Stop the Violence se conecta a isso, porque em duas semanas de Maio eu vou tomar conta do Rap City e mostrar uma versão do Hip Hop que eu gostaria de ver.
XXIII- Então, você só vai voltar a passar programas de 89 ou algo do tipo? (risos)
(Risos). Merda, você resolveu todo o problema. Mas não, o que eu quero fazer é mostrar a artistas como Common e Talb que eles eles deveriam fazer vídeos especiais para estas duas semanas. Eu não vou entrar pelo lado da história, você precisa saber o que é o Hip Hop a partir do passado. Eu vou entrar pelo lado do futuro, está é a possibilidade com a qual nós vamos lidar.